46º Capitulo - Addicted
(n/a: aconselho ir botando pra carregar; It Ends Tonight – All American Rejects)
O relógio na cômoda marcava às duas da manhã. Diego estava adormecido ao meu lado, observei seu rosto angelical e sorri sozinha no escuro do quarto, dentro de algumas horas tudo ficaria bem.
Me levantei indo até o banheiro e encarei minha imagem no espelho, as marcas roxas embaixo dos meus olhos pareciam se intensificar a cada dia. Meus cabelos estavam presos em um coque frouxo e descuidado e meu corpo parecia magro e frágil demais. Talvez Sophia tivesse razão, eu estava mesmo morrendo por dentro e nem me dei conta disso.
Liguei a torneira deixando uma grande quantidade de água se acumular em minhas mãos e depois passei a água em meu rosto numa tentativa frustrada de melhorar minha aparência morta. Nem ousei me olhar novamente no espelho, apenas enxuguei meu rosto e voltei para o quarto acendendo a luz do abajur. As malas no chão já estavam fechadas desde o dia anterior, uma grande e uma menor, além da bagagem de mão. Algumas coisas eu deixei no apartamento, outras ficariam na casa de Soph, havia muitas lembranças que eu não queria levar comigo.
Saí do quarto com cuidado para não acordar Diego e ouvi um choro baixo vindo do quarto ao lado, Sophia. Senti meu coração se estilhaçar, eu estava deixando pra trás algo muito pior que toda uma vida, eu estava deixando pra trás uma pessoa que sempre esteve ao meu lado, tanto nos momentos felizes como nos tristes. A pessoa que mais me apoiou e me deu bronca ao longo dos últimos anos. Deixar ela ali era como deixar uma parte de mim. Uma lágrima desceu livremente por meu rosto e eu respirei fundo caminhando até a porta do outro quarto e dando uma batida leve. O "entre" baixo de Micael atingiu meus ouvidos como um grito ensurdecedor.
Abri a porta com minhas mãos tremendo e paralisei com a imagem de Sophia chorando nos braços de Micael. Saber que eu era a culpada por aquelas lágrimas que ela derramava era como uma faca enfiada em meu estômago. A dor passava longe de ser suportável, mas eu tinha escolhido aquilo. Eu havia sido egoísta o suficiente para pensar que eu seria a única machucada com toda aquela história. Pisquei meus olhos caindo novamente na realidade e encontrei os olhos magoados de Micael me encarando.
'Micael, você pode me ajudar com as malas?' Perguntei sentindo minha voz quebrar na ultima palavra. Ele concordou com um aceno de cabeça, deu um beijo na testa de Soph e se levantou deixando a namorada encolhida na cama passando por mim sem nem me olhar.
Outro soluço de Sophia estilhaçou novamente meu coração. Uma lágrima salgada chegou até meus lábios e só então percebi que estava chorando também.
Passei a mão por meu rosto o enxugando e caminhei até a cama hesitando antes de sentar na beirada. Sophia se encolheu ainda mais quando estendi minha mão e toquei seu braço. Ela segurou minha mão com força e fungou fortemente me fazendo levar a mão até a boca para controlar um soluço alto. Me aproximei de Soph com cuidado e ela levantou a cabeça fazendo com que todo o ar em meus pulmões sumissem ao encontrar a dor estampada em seus olhos. A abracei com força afundando meu rosto na curva de seu pescoço e ela fez o mesmo comigo.
Sophia não falou nenhuma palavra durante todos os quase cinco minutos em que ficamos abraçadas, nós apenas compartilhamos uma dor que ninguém poderia imaginar a dimensão. Ela sabia que não iria adiantar falar qualquer coisa, que nenhuma palavra, nenhum argumento seu me faria voltar atrás. Durante todos os dias desde que decidir ir embora ela tentara em vão me fazer mudar de idéia e ficar em Londres, mas eu sabia o que tinha que fazer. Eu precisava sair dali, dar uma chance a mim mesma de esquecer tudo e tentar recomeçar minha vida longe daquela cidade, daquele país, e principalmente... daquelas lembranças.
Funguei passando a mão por meu rosto molhado e vi Sophia fazer o mesmo. Um barulho vindo da porta do quarto chamou nossa atenção e quando me virei pra olhar, vi Micael passando a mão sem jeito pelo cabelo.
'As malas já estão perto da porta, e eu já chamei o táxi.' Ele sorriu sem vontade e eu acenei com a cabeça agradecendo.
'É melhor eu ir, tá chovendo e eu não quero correr o risco de me atrasar.' Falei baixo e me virei novamente pra Soph. Ela segurou minha mão por alguns segundos e depois se levantou me puxando junto. Fomos em silêncio até o quarto em que Diego estava e eu o observei adormecido sem coragem de acordá-lo. Me aproximei lentamente da cama e me agachei ao lado dele tomando cuidado para não soluçar alto. Passei a mão por seus cabelos enquanto ouvia sua respiração tranqüila. Respirei fundo antes de pegá-lo em meu colo vendo-o despertar sem vontade.
'Mãe?' Sua voz saiu num sussurro e eu beijei sua testa.
'Volta a dormir, meu amor. Tá tudo bem!' O ajeitei em meu colo deitando sua cabeça em meu ombro e esperei alguns instantes para que ele voltasse a dormir.
'O táxi já chegou.' Micael avisou chegando na porta do quarto.
Olhei pra Soph vendo-a apertar os lábios para controlar o choro e me aproximei dela pegando em sua mão e apertando-a carinhosamente. Caminhamos até a sala que só estava sendo iluminada pela luz fraca do abajur ao lado do sofá e Micael abriu a porta saindo para chamar o elevador. Abracei Sophia com cuidado para não acordar Diego.
'Desculpa.' Minha voz saiu falha e ela me apertou mais no abraço. 'Não esquece nunca que você é uma das pessoas mais importantes da minha vida e que eu não sou nada sem você!' Sussurrei tentando manter minha voz estável. 'Eu amo você.' Beijei sua testa e ela sorriu fraco.
'Também amo você. E eu vou tá sempre aqui torcendo por você e rezando pra você voltar logo!' Ela beijou minha mão e eu sorri. 'Tchau.' Ela sussurrou e eu me afastei de costas até a porta enquanto ela permaneceu parada onde estava. Se eu bem a conhecia, um passo ali e ela desabaria. Quando a porta se fechou e eu levei minha mão até o peito sentindo a dor ficar ainda mais insuportável.
Micael me observava em silêncio segurando a porta do elevador, senti pena dele quando imaginei o estado em que Sophia estaria quando ele voltasse pro apartamento. Diego se mexeu desconfortável em meu colo enquanto eu entrava no elevador e eu me abalancei calmamente para tranqüilizá-lo.
Quando chegamos ao hall vi que a chuva parecia ter ficado ainda mais forte. O porteiro ajudou Micael com as malas e eles as levaram até o táxi.
'Sabe que eu não me importaria de te levar até o aeroporto, né?' Micael falou caminhando até mim e eu concordei com um sorriso.
'Eu não iria agüentar.' Balancei a cabeça respirando fundo. 'Brigada, Micael, por tudo!' O abracei pela cintura e senti seus longos braços me apertarem contra si. 'Durante todos esses anos você sempre foi como um irmão, e eu nunca teria palavras suficientes pra explicar o quanto você significa pra mim.' Sorri mesmo sem ele ver e senti ele depositar um beijo no topo de minha cabeça.
'É bom saber que o que eu sento é recíproco!' Ele se afastou sorrindo e eu percebi que havia lágrimas acumuladas em seus olhos. 'A gente vai tá sempre aqui esperando vocês voltarem.' Ele apontou pra Diego e depois esfregou um olho.
'Não esqueçam de me mandar o convite do casamento, e eu exijo ser madrinha!' Falei brincando e ele riu.
'Acho que isso não vai demorar muito pra acontecer.' Ele admitiu sem graça e eu abri um sorriso enorme e sincero.
'Vocês vão ser sempre minha segunda família.' Segurei forte em sua mão. 'Eu amo você, Micael, muito mesmo!' Uma lágrima escapou de seus olhos e eu passei a mão por seu rosto.
'Amo você também, irmã!' Ele beijou a palma da minha mão. 'Agora vai lá antes que o taxista te deixe aqui!' Ele apontou para a rua escura do lado de fora e eu concordei.
O olhei uma ultima vez antes de me afastar e sorrir em agradecimento para o porteiro que me esperava com um guarda chuva. Caminhamos até o táxi e antes de fechar a porta pra mim ele desejou uma boa viagem.
A chuva batia no carro fortemente fazendo barulho enquanto eu tentava me distrair observando as gotas escorrerem pelo vidro rapidamente. Diego estava adormecido em meu colo, sua cabeça encostada em meu ombro, a boca entreaberta e o peito subindo e descendo em movimentos calmos como sua respiração. As poucas luzes da cidade iam passando e eu as observava tentando ter minhas ultimas lembranças daquela cidade, daquele país. ( n/a:botem a música pra tocar )
Your subtleties they strangle me
( Suas sutilezas enforcam-me )
I can't explain myself at all
( Eu não posso me explicar )
And all that wants and all that needs
( E tudo que quer e tudo que precisa )
All I don't want to need at all
( Tudo que eu não quero precisar )
The walls start breathing my minds unweaving
( As paredes começam a respirar minha mente se desembaraça )
Maybe it's best you leave me alone
( Talvez seja melhor você me deixar sozinho )
A weight is lifted on this evening
( Um peso é levantado nesta noite )
I give the final blow
( Eu dou o último golpe )
When darkness turns to light,
( Quando a escuridão se tornar luz )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso terá fim hoje à noite )
O celular vibrou dentro da minha bolsa e eu o peguei estranhando alguém me ligar àquela hora. Olhei o visor e vi que era uma mensagem do celular de Chay.
"Vamos sentir sua falta, manda noticias e volta logo!
Te amamos!
Chay e Mel xx"
Sorri sentindo novamente as lágrimas encherem meus olhos e funguei para controlá-las. Eu mal tivera tempo de me despedir dos meus amigos, ou talvez eu não quisesse realmente me despedir deles. Não eram as ultimas imagens que eu queria ter deles, as do aniversário de namoro do Chay e da Mel eram melhores, eles estavam felizes e eu estava feliz por eles. Tentei me lembrar claramente do sorriso de cada um deles, tinha medo que um dia essas imagens se apagassem da minha memória. Fechei os olhos encostando minha cabeça no banco e tentei disfarçar a dor que latejava em meu peito.
A falling star least I fall alone
( Uma estrela cadente pelo menos eu caio sozinho )
I can't explain what you can't explain
( Eu não posso explicar o que você não pode explicar )
Your finding things that you didn't know
( Você achou coisas que você não sabia )
I look at you with such disdain
( Eu olho pra você com tanto desprezo )
The walls start breathing my minds unweaving
( As paredes começam a respirar minha mente se desembaraça )
Maybe it's best you leave me alone
( Talvez seja melhor você me deixar sozinho )
A weight is lifted on this evening
( Um peso é levantado nesta noite )
I give the final blow
( Eu dou o último golpe)
Flashback on. Antes do assidente
'Ah, e a culpa agora é minha?' Gritei o encarando.
'Claro que é, de quem mais seria?' Ele falou no mesmo tom sem desviar o olhar das ruas.
'Você é tão egocêntrico que não consegue ver o que tá na sua frente! Pra você a errada sempre sou eu, você é sempre o certinho. Eu cansei das suas burradas, Arthur!'
'Egocêntrico? Não fale o que você não sabe, Lua! Por milhares de vezes eu tentei salvar a nossa relação, mas você é sempre insegura demais. Eu cansei de te ver chorando pelos cantos e de me sentir culpado por isso quando muitas vezes a culpa na verdade nem era minha!' Ele me olhou com raiva.
'Eu não sou a única insegura aqui, Arthur! Você sabe bem disso!' Cruzei meus braços respirando fundo.
'E hoje a noite foi o quê? Seu ataquezinho de insegurança estragou tudo mais uma vez!' Ele deu um soco no volante.
'Aquilo não foi um ataque de insegurança!' Falei indignada.
'E foi o quê? Ciúmes?'
'Aquilo foi raiva, Arthur! Muita raiva! Raiva por você sempre fingir que não está acontecendo nada, raiva por você sempre me deixar em segundo plano, raiva por você nunca ter amadurecido o suficiente pra encarar tudo que aconteceu entre a gente e nunca ter admitido o que sentia por mim.' Senti as lágrimas que eu estava tentando controlar descerem por meu rosto.
'Você não sabe o que eu ia fazer hoje à noite! Não venha me dizer que eu não amadureci o suficiente. Eu sempre deixei claro o que eu sentia por você!'
'Eu sei exatamente o que você ia fazer hoje à noite.' Falei num tom mais controlado e ele me olhou.
'Se você sabia, porque porra fez aquele teatro todo, Lua?' Seus olhos estavam cheios de raiva, mas eu me recusava a me encolher e aceitar tudo aquilo. 'Você diz que eu sou imaturo e não admito meus sentimentos, e não olha pra você mesma!! Você é muito pior que eu, a única egoísta daqui é você...'
'Arthur!' Falei vendo o carro passar para a outra pista, na contra mão.
'Deixa eu falar, porque agora você vai ter que aceitar a verdade...'
'O CARRO!!!' Falei desesperada apontando para as luzes que vinham contra o nosso carro e ele olhou rapidamente para frente, apenas a tempo de desviar o carro numa freada brusca fazendo o outro carro bater na traseira do nosso. O carro girou algumas vezes.
Flashback off
When darkness turns to light
( Quando a escuridão se tornar luz )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso terá fim hoje à noite )
Just a little insight will make this right
( Só um pouco de perspicácia faria isso certo )
It's too late to fight
( É muito tarde para lutar )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso terá fim hoje à noite )
'Senhora!' Abri os olhos assustada e vi o motorista do táxi me olhando estranho. 'Já chegamos!' Ele apontou para fora da janela e eu vi que estávamos parados no desembarque do aeroporto.
'Ah sim, desculpe!' Falei sem graça ainda sentindo meu peito subir e descer rapidamente.
'Vou pegar as malas.' Ele saiu do carro e eu inspirei o máximo de ar possível expirando-o lentamente depois. Repeti isso três vezes até ter certeza de que meu coração não ia sair pela boca a qualquer momento e peguei o dinheiro separado na carteira.
Saí do carro enquanto Diego despertava em meu colo e entreguei o dinheiro ao motorista sorrindo agradecida. As malas já estavam no carrinho, a luz forte que vinha de dentro do aeroporto ainda incomodava um pouco minha vista.
'Mãe?' Diego esfregou os olhos e eu o botei no chão me agachando em sua frente. 'Onde a gente tá?' Ele olhou para o aeroporto.
'A gente tá no aeroporto, meu amor. Lembra que a mamãe te falou daquela viagem?' Ele concordou com um aceno de cabeça.
'E o papai?' Fechei os olhos suspirando.
'O papai... vai encontrar com a gente depois.' Sorri acariciando seu rosto. 'Vamos?' O peguei pela mão, e com a outra empurrei o carrinho com as malas.
Now I'm on my own side
( Agora eu estou do meu próprio lado )
It's better than being on your side
( É melhor do que estar do seu lado )
It's my fault when you're blind
( É minha culpa quando você está cego )
It's better that I see it through your eyes
( É melhor que eu veja através dos seus olhos )
All these thoughts locked inside
( Todas essas verdades trancadas aqui dentro )
Now you're the first to know
( Agora você é o primeiro a saber )
When darkness turns to light
( Quando a escuridão se tornar luz )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso terá fim hoje à noite )
Just a little insight will make this right
( Só um pouco de perspicácia faria isso certo )
It's too late to fight
( É muito tarde para lutar )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso teráfim hoje à noite )
O relógio na cômoda marcava às duas da manhã. Diego estava adormecido ao meu lado, observei seu rosto angelical e sorri sozinha no escuro do quarto, dentro de algumas horas tudo ficaria bem.
Me levantei indo até o banheiro e encarei minha imagem no espelho, as marcas roxas embaixo dos meus olhos pareciam se intensificar a cada dia. Meus cabelos estavam presos em um coque frouxo e descuidado e meu corpo parecia magro e frágil demais. Talvez Sophia tivesse razão, eu estava mesmo morrendo por dentro e nem me dei conta disso.
Liguei a torneira deixando uma grande quantidade de água se acumular em minhas mãos e depois passei a água em meu rosto numa tentativa frustrada de melhorar minha aparência morta. Nem ousei me olhar novamente no espelho, apenas enxuguei meu rosto e voltei para o quarto acendendo a luz do abajur. As malas no chão já estavam fechadas desde o dia anterior, uma grande e uma menor, além da bagagem de mão. Algumas coisas eu deixei no apartamento, outras ficariam na casa de Soph, havia muitas lembranças que eu não queria levar comigo.
Saí do quarto com cuidado para não acordar Diego e ouvi um choro baixo vindo do quarto ao lado, Sophia. Senti meu coração se estilhaçar, eu estava deixando pra trás algo muito pior que toda uma vida, eu estava deixando pra trás uma pessoa que sempre esteve ao meu lado, tanto nos momentos felizes como nos tristes. A pessoa que mais me apoiou e me deu bronca ao longo dos últimos anos. Deixar ela ali era como deixar uma parte de mim. Uma lágrima desceu livremente por meu rosto e eu respirei fundo caminhando até a porta do outro quarto e dando uma batida leve. O "entre" baixo de Micael atingiu meus ouvidos como um grito ensurdecedor.
Abri a porta com minhas mãos tremendo e paralisei com a imagem de Sophia chorando nos braços de Micael. Saber que eu era a culpada por aquelas lágrimas que ela derramava era como uma faca enfiada em meu estômago. A dor passava longe de ser suportável, mas eu tinha escolhido aquilo. Eu havia sido egoísta o suficiente para pensar que eu seria a única machucada com toda aquela história. Pisquei meus olhos caindo novamente na realidade e encontrei os olhos magoados de Micael me encarando.
'Micael, você pode me ajudar com as malas?' Perguntei sentindo minha voz quebrar na ultima palavra. Ele concordou com um aceno de cabeça, deu um beijo na testa de Soph e se levantou deixando a namorada encolhida na cama passando por mim sem nem me olhar.
Outro soluço de Sophia estilhaçou novamente meu coração. Uma lágrima salgada chegou até meus lábios e só então percebi que estava chorando também.
Passei a mão por meu rosto o enxugando e caminhei até a cama hesitando antes de sentar na beirada. Sophia se encolheu ainda mais quando estendi minha mão e toquei seu braço. Ela segurou minha mão com força e fungou fortemente me fazendo levar a mão até a boca para controlar um soluço alto. Me aproximei de Soph com cuidado e ela levantou a cabeça fazendo com que todo o ar em meus pulmões sumissem ao encontrar a dor estampada em seus olhos. A abracei com força afundando meu rosto na curva de seu pescoço e ela fez o mesmo comigo.
Sophia não falou nenhuma palavra durante todos os quase cinco minutos em que ficamos abraçadas, nós apenas compartilhamos uma dor que ninguém poderia imaginar a dimensão. Ela sabia que não iria adiantar falar qualquer coisa, que nenhuma palavra, nenhum argumento seu me faria voltar atrás. Durante todos os dias desde que decidir ir embora ela tentara em vão me fazer mudar de idéia e ficar em Londres, mas eu sabia o que tinha que fazer. Eu precisava sair dali, dar uma chance a mim mesma de esquecer tudo e tentar recomeçar minha vida longe daquela cidade, daquele país, e principalmente... daquelas lembranças.
Funguei passando a mão por meu rosto molhado e vi Sophia fazer o mesmo. Um barulho vindo da porta do quarto chamou nossa atenção e quando me virei pra olhar, vi Micael passando a mão sem jeito pelo cabelo.
'As malas já estão perto da porta, e eu já chamei o táxi.' Ele sorriu sem vontade e eu acenei com a cabeça agradecendo.
'É melhor eu ir, tá chovendo e eu não quero correr o risco de me atrasar.' Falei baixo e me virei novamente pra Soph. Ela segurou minha mão por alguns segundos e depois se levantou me puxando junto. Fomos em silêncio até o quarto em que Diego estava e eu o observei adormecido sem coragem de acordá-lo. Me aproximei lentamente da cama e me agachei ao lado dele tomando cuidado para não soluçar alto. Passei a mão por seus cabelos enquanto ouvia sua respiração tranqüila. Respirei fundo antes de pegá-lo em meu colo vendo-o despertar sem vontade.
'Mãe?' Sua voz saiu num sussurro e eu beijei sua testa.
'Volta a dormir, meu amor. Tá tudo bem!' O ajeitei em meu colo deitando sua cabeça em meu ombro e esperei alguns instantes para que ele voltasse a dormir.
'O táxi já chegou.' Micael avisou chegando na porta do quarto.
Olhei pra Soph vendo-a apertar os lábios para controlar o choro e me aproximei dela pegando em sua mão e apertando-a carinhosamente. Caminhamos até a sala que só estava sendo iluminada pela luz fraca do abajur ao lado do sofá e Micael abriu a porta saindo para chamar o elevador. Abracei Sophia com cuidado para não acordar Diego.
'Desculpa.' Minha voz saiu falha e ela me apertou mais no abraço. 'Não esquece nunca que você é uma das pessoas mais importantes da minha vida e que eu não sou nada sem você!' Sussurrei tentando manter minha voz estável. 'Eu amo você.' Beijei sua testa e ela sorriu fraco.
'Também amo você. E eu vou tá sempre aqui torcendo por você e rezando pra você voltar logo!' Ela beijou minha mão e eu sorri. 'Tchau.' Ela sussurrou e eu me afastei de costas até a porta enquanto ela permaneceu parada onde estava. Se eu bem a conhecia, um passo ali e ela desabaria. Quando a porta se fechou e eu levei minha mão até o peito sentindo a dor ficar ainda mais insuportável.
Micael me observava em silêncio segurando a porta do elevador, senti pena dele quando imaginei o estado em que Sophia estaria quando ele voltasse pro apartamento. Diego se mexeu desconfortável em meu colo enquanto eu entrava no elevador e eu me abalancei calmamente para tranqüilizá-lo.
Quando chegamos ao hall vi que a chuva parecia ter ficado ainda mais forte. O porteiro ajudou Micael com as malas e eles as levaram até o táxi.
'Sabe que eu não me importaria de te levar até o aeroporto, né?' Micael falou caminhando até mim e eu concordei com um sorriso.
'Eu não iria agüentar.' Balancei a cabeça respirando fundo. 'Brigada, Micael, por tudo!' O abracei pela cintura e senti seus longos braços me apertarem contra si. 'Durante todos esses anos você sempre foi como um irmão, e eu nunca teria palavras suficientes pra explicar o quanto você significa pra mim.' Sorri mesmo sem ele ver e senti ele depositar um beijo no topo de minha cabeça.
'É bom saber que o que eu sento é recíproco!' Ele se afastou sorrindo e eu percebi que havia lágrimas acumuladas em seus olhos. 'A gente vai tá sempre aqui esperando vocês voltarem.' Ele apontou pra Diego e depois esfregou um olho.
'Não esqueçam de me mandar o convite do casamento, e eu exijo ser madrinha!' Falei brincando e ele riu.
'Acho que isso não vai demorar muito pra acontecer.' Ele admitiu sem graça e eu abri um sorriso enorme e sincero.
'Vocês vão ser sempre minha segunda família.' Segurei forte em sua mão. 'Eu amo você, Micael, muito mesmo!' Uma lágrima escapou de seus olhos e eu passei a mão por seu rosto.
'Amo você também, irmã!' Ele beijou a palma da minha mão. 'Agora vai lá antes que o taxista te deixe aqui!' Ele apontou para a rua escura do lado de fora e eu concordei.
O olhei uma ultima vez antes de me afastar e sorrir em agradecimento para o porteiro que me esperava com um guarda chuva. Caminhamos até o táxi e antes de fechar a porta pra mim ele desejou uma boa viagem.
A chuva batia no carro fortemente fazendo barulho enquanto eu tentava me distrair observando as gotas escorrerem pelo vidro rapidamente. Diego estava adormecido em meu colo, sua cabeça encostada em meu ombro, a boca entreaberta e o peito subindo e descendo em movimentos calmos como sua respiração. As poucas luzes da cidade iam passando e eu as observava tentando ter minhas ultimas lembranças daquela cidade, daquele país. ( n/a:botem a música pra tocar )
Your subtleties they strangle me
( Suas sutilezas enforcam-me )
I can't explain myself at all
( Eu não posso me explicar )
And all that wants and all that needs
( E tudo que quer e tudo que precisa )
All I don't want to need at all
( Tudo que eu não quero precisar )
The walls start breathing my minds unweaving
( As paredes começam a respirar minha mente se desembaraça )
Maybe it's best you leave me alone
( Talvez seja melhor você me deixar sozinho )
A weight is lifted on this evening
( Um peso é levantado nesta noite )
I give the final blow
( Eu dou o último golpe )
When darkness turns to light,
( Quando a escuridão se tornar luz )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso terá fim hoje à noite )
O celular vibrou dentro da minha bolsa e eu o peguei estranhando alguém me ligar àquela hora. Olhei o visor e vi que era uma mensagem do celular de Chay.
"Vamos sentir sua falta, manda noticias e volta logo!
Te amamos!
Chay e Mel xx"
Sorri sentindo novamente as lágrimas encherem meus olhos e funguei para controlá-las. Eu mal tivera tempo de me despedir dos meus amigos, ou talvez eu não quisesse realmente me despedir deles. Não eram as ultimas imagens que eu queria ter deles, as do aniversário de namoro do Chay e da Mel eram melhores, eles estavam felizes e eu estava feliz por eles. Tentei me lembrar claramente do sorriso de cada um deles, tinha medo que um dia essas imagens se apagassem da minha memória. Fechei os olhos encostando minha cabeça no banco e tentei disfarçar a dor que latejava em meu peito.
A falling star least I fall alone
( Uma estrela cadente pelo menos eu caio sozinho )
I can't explain what you can't explain
( Eu não posso explicar o que você não pode explicar )
Your finding things that you didn't know
( Você achou coisas que você não sabia )
I look at you with such disdain
( Eu olho pra você com tanto desprezo )
The walls start breathing my minds unweaving
( As paredes começam a respirar minha mente se desembaraça )
Maybe it's best you leave me alone
( Talvez seja melhor você me deixar sozinho )
A weight is lifted on this evening
( Um peso é levantado nesta noite )
I give the final blow
( Eu dou o último golpe)
Flashback on. Antes do assidente
'Ah, e a culpa agora é minha?' Gritei o encarando.
'Claro que é, de quem mais seria?' Ele falou no mesmo tom sem desviar o olhar das ruas.
'Você é tão egocêntrico que não consegue ver o que tá na sua frente! Pra você a errada sempre sou eu, você é sempre o certinho. Eu cansei das suas burradas, Arthur!'
'Egocêntrico? Não fale o que você não sabe, Lua! Por milhares de vezes eu tentei salvar a nossa relação, mas você é sempre insegura demais. Eu cansei de te ver chorando pelos cantos e de me sentir culpado por isso quando muitas vezes a culpa na verdade nem era minha!' Ele me olhou com raiva.
'Eu não sou a única insegura aqui, Arthur! Você sabe bem disso!' Cruzei meus braços respirando fundo.
'E hoje a noite foi o quê? Seu ataquezinho de insegurança estragou tudo mais uma vez!' Ele deu um soco no volante.
'Aquilo não foi um ataque de insegurança!' Falei indignada.
'E foi o quê? Ciúmes?'
'Aquilo foi raiva, Arthur! Muita raiva! Raiva por você sempre fingir que não está acontecendo nada, raiva por você sempre me deixar em segundo plano, raiva por você nunca ter amadurecido o suficiente pra encarar tudo que aconteceu entre a gente e nunca ter admitido o que sentia por mim.' Senti as lágrimas que eu estava tentando controlar descerem por meu rosto.
'Você não sabe o que eu ia fazer hoje à noite! Não venha me dizer que eu não amadureci o suficiente. Eu sempre deixei claro o que eu sentia por você!'
'Eu sei exatamente o que você ia fazer hoje à noite.' Falei num tom mais controlado e ele me olhou.
'Se você sabia, porque porra fez aquele teatro todo, Lua?' Seus olhos estavam cheios de raiva, mas eu me recusava a me encolher e aceitar tudo aquilo. 'Você diz que eu sou imaturo e não admito meus sentimentos, e não olha pra você mesma!! Você é muito pior que eu, a única egoísta daqui é você...'
'Arthur!' Falei vendo o carro passar para a outra pista, na contra mão.
'Deixa eu falar, porque agora você vai ter que aceitar a verdade...'
'O CARRO!!!' Falei desesperada apontando para as luzes que vinham contra o nosso carro e ele olhou rapidamente para frente, apenas a tempo de desviar o carro numa freada brusca fazendo o outro carro bater na traseira do nosso. O carro girou algumas vezes.
Flashback off
When darkness turns to light
( Quando a escuridão se tornar luz )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso terá fim hoje à noite )
Just a little insight will make this right
( Só um pouco de perspicácia faria isso certo )
It's too late to fight
( É muito tarde para lutar )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso terá fim hoje à noite )
'Senhora!' Abri os olhos assustada e vi o motorista do táxi me olhando estranho. 'Já chegamos!' Ele apontou para fora da janela e eu vi que estávamos parados no desembarque do aeroporto.
'Ah sim, desculpe!' Falei sem graça ainda sentindo meu peito subir e descer rapidamente.
'Vou pegar as malas.' Ele saiu do carro e eu inspirei o máximo de ar possível expirando-o lentamente depois. Repeti isso três vezes até ter certeza de que meu coração não ia sair pela boca a qualquer momento e peguei o dinheiro separado na carteira.
Saí do carro enquanto Diego despertava em meu colo e entreguei o dinheiro ao motorista sorrindo agradecida. As malas já estavam no carrinho, a luz forte que vinha de dentro do aeroporto ainda incomodava um pouco minha vista.
'Mãe?' Diego esfregou os olhos e eu o botei no chão me agachando em sua frente. 'Onde a gente tá?' Ele olhou para o aeroporto.
'A gente tá no aeroporto, meu amor. Lembra que a mamãe te falou daquela viagem?' Ele concordou com um aceno de cabeça.
'E o papai?' Fechei os olhos suspirando.
'O papai... vai encontrar com a gente depois.' Sorri acariciando seu rosto. 'Vamos?' O peguei pela mão, e com a outra empurrei o carrinho com as malas.
Now I'm on my own side
( Agora eu estou do meu próprio lado )
It's better than being on your side
( É melhor do que estar do seu lado )
It's my fault when you're blind
( É minha culpa quando você está cego )
It's better that I see it through your eyes
( É melhor que eu veja através dos seus olhos )
All these thoughts locked inside
( Todas essas verdades trancadas aqui dentro )
Now you're the first to know
( Agora você é o primeiro a saber )
When darkness turns to light
( Quando a escuridão se tornar luz )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso terá fim hoje à noite )
Just a little insight will make this right
( Só um pouco de perspicácia faria isso certo )
It's too late to fight
( É muito tarde para lutar )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso teráfim hoje à noite )
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