25º Capitulo - Addicted
O final de seana chegou mais rápido que o esperado, eu ainda estava em duvida se ia ou não na festa, já que eu mal fui convidada. Se Sophia não tivesse comentado sobre ela na presença do Arthur aposto que ele nem teria tocado no assunto e muito menos falado “você vai, Lu?” com um sorriso forçado no rosto. Ainda bem que eu já tinha desistido de tentar entender o que se passava na cabeça dele.
‘Ainda não tá pronta?’ Sophia me olhou de cima a baixo quando eu atendi a porta. Faltava menos de uma hora pra festa começar, os meninos já tinham ido desde cedo para passar o som e ajeitar os últimos detalhes.
‘Eu não sei bem se vou.’ Falei fazendo cara de criança e ela gritou.
‘CLARO QUE VAI!!’ Sophia entrou em casa batendo a porta e me puxou pro quarto. ‘Lua Blanco, vá tomar banho enquanto eu separo uma roupa. AGORA!’ Ela gritou e eu arregalei os olhos, mais um pouco e ela me engolia viva!
‘Ok, to indo, to indo!’ Dei uma risadinha sem graça e entrei no banheiro correndo. Sophia me dá medo, fato. Nem demorei muito no banho, sabia que a qualquer momento Soph podia esmurrar a porta e me tirar de lá pelos cabelos.
‘Escolhi essa roupa, vê se você gosta.’ Ela falou num tom completamente calmo quando eu saí do banheiro. A olhei estranhando e percebi que ela estava um pouco nervosa.
‘O que houve?’ Perguntei vestindo a calça preta justinha que ela tinha separado. Ela mexeu a cabeça negativamente sem me olhar e então tive certeza que estava acontecendo alguma coisa. ‘Sophia, o que aconteceu?’ Sentei cruzando as pernas de frente pra ela na cama.
‘Lu, eu... eu preciso te contar uma coisa.’ Ela suspirou e eu senti meu corpo inteiro gelar. ‘Espera.’ Ela se levantou e foi até a porta, fechando-a. Ela voltou a se sentar em minha frente e eu já estava até tremendo. ‘Você tá calma?’ Ela perguntou meio em duvida.
‘Sophia, fala logo antes que eu perca o resto de calma que ainda tenho.’ Falei baixo respirando pausadamente.
‘É sobre a Perola.’ Ela mordeu o lábio me olhando e eu arqueei a sobrancelha. Como assim sobre a Perola? Ela disse que nem a conhecia.
‘O que tem a tal Perola?’ A olhei franzindo a testa e Sophia respirou fundo olhando pras próprias mãos.
‘A Perola, bem, erm...’ Ela parecia medir as palavras e eu sentia meu coração ir congelando aos poucos. ‘Ela e o Arthur estão ficando.’ Senti meu coração congelar completamente, era como se todos os meus órgãos tivessem parado de funcionar e eu não conseguisse sentir nada. ‘Lu, desculpa! Eu não queria ter que te falar isso, desculpa.’ Sophia falou baixo me abraçando e eu nem me mexi, a única coisa que consegui sentir naquele momento foram as lágrimas caindo insistentemente dos meus olhos. ‘Lu, fala alguma coisa, pelo amor de Deus!’ Soph pediu baixo segurando meu rosto. Eu apenas balancei a cabeça e cobri meu rosto com as mãos evitando que o som do meu choro ganhasse o quarto.
Sophia me abraçou mais uma vez e ficou passando as mãos por minha cabeça como se eu fosse uma criança com medo do escuro.
‘Soph...’ A chamei baixinho minutos depois. Eu estava com a cabeça em seu colo e ela brincava com meus cabelos.
‘Oi.’ Ela sorriu fraco me olhando e eu me sentei novamente de frente pra ela.
‘Você sabia disso desde aquela vez que eu comentei sobre a ligação da Perola?’ Perguntei já sabendo a resposta. Sophia confirmou balançando a cabeça.
‘Desculpa, Lu. Eu não sabia como te contar isso!’ Ela pegou minhas mãos e me olhou séria. ‘Eu ouvi sem querer uma conversa do Arthur e do Micael.’
‘Tem muito tempo... que eles tão ficando?’ Engoli seco com medo da resposta.
‘Parece que tem quase um mês.’ Ela respondeu em meio a um suspiro e eu senti uma pontada no peito.
‘Lu?’ A voz de Arthur surgiu do outro lado da porta e eu olhei assustada pra Sophia, que retribuiu o olhar da mesma forma. Peguei a blusa que estava em cima da cama e corri pro banheiro encostando a porta. Ouvi Arthur entrando no quarto e me olhei no espelho percebendo meus olhos completamente vermelhos e meu rosto inchado.
‘Ela tá no banheiro!’ Soph falou enquanto eu passava uma água pelo meu rosto tentando amenizar a situação.
‘Ah, ok! Eu vim só pegar uma coisa que eu esqueci.’ Silêncio por alguns minutos. ‘Bom, tenho que voltar, daqui a pouco a festa começa. Vocês querem carona?’ Abri a porta do banheiro e vi que Sophia estava abrindo a boca pra falar alguma coisa.
‘Não precisa.’ Sorri o mais falsamente que pude e Arthur me olhou estranho. ‘Eu só vou terminar de me arrumar e nós vamos, né Soph?’ A olhei e percebi sua cara de espanto, mas mesmo assim ela concordou balançando a cabeça.
‘Ahn, ok.’ Arthur respondeu passando a mão pelo cabelo ainda com cara de quem não estava entendendo nada. ‘Até mais.’ Ele sorriu fraco e eu continuei com meu sorriso falso.
‘Não entendi nada!’ Sophia riu.
‘Eu não vou me render fácil assim, Soph. Não vou!’ Falei decidida entrando no banheiro e pegando meu kit de maquiagem. ‘Não vai ser umazinha qualquer que vai entrar no meio do meu relacionamento de mais de dois anos, não vai ser uma tal de Perola que vai roubar o cara que eu amo de mim!’ Comecei a me maquiar com uma certa raiva e ouvi as palmas de Sophia.
‘Gostei, finalmente né, tapada? Precisou ele pegar outra pra sua ficha cair!’ Ela se encostou na porta do banheiro e eu sorri.
‘Preparada?’ Sophia me olhou sorrindo quando estávamos paradas em frente à casa onde seria a festa. Eu balancei a cabeça confirmando e caminhamos pelo jardim entrando pela lateral da casa que já estava cheia.
‘Yay!’ Micael sorriu caminhando até nós duas. ‘Pensei que não viessem mais!’ Ele deu um beijo em minha testa e depois um selinho em Sophia.
‘Ná, só um pequeno atraso pra vocês sentirem nossa falta!’ Brinquei e Micael riu alto. ‘Então, que horas vocês vão tocar?’ Falei percorrendo os olhos pela casa. Meu coração estava completamente acelerado, ao mesmo tempo em que eu desejava ver Arthur por ali, tinha medo de vê-lo com a tal Perola.
‘Daqui a uma hora mais ou menos. Vocês querem ir lá pros fundos? Os meninos estão lá, eu só vim pegar bebida!’ Ele levantou uma garrafa de cerveja e nós rimos.
‘Vamos!’ Soph pegou na mão de Micael e entrelaçou o braço no meu sorrindo. Respirei fundo enquanto caminhávamos passando pela sala e pela cozinha da casa.
‘MULHERES!!’ Micael gritou quando chegamos ao jardim.
Olhei pra mesa e percebi que não tinha nenhuma garota por perto, apenas Arthur, Pedro, Chay e mais dois meninos.
‘Dudes, essa é a Sophia, minha namorada, e essa é a Lu!’ Ele nos apresentou para os dois garotos que sorriram. ‘Meninas, esses são James e Charlie.’ Micael apontou primeiro para um garoto de cabelos claros e um dos sorrisos mais lindos que eu já tinha visto, e depois para um de cabelo espetadinho.
Nos sentamos e ficamos observando os meninos conversarem animados sobre alguma musica que eles estavam escrevendo. Olhei rapidamente pra Arthur que por coincidência, ou não, me olhou na mesma hora. Ele sorriu fofo e eu pra variar sorri também, odeio nunca resistir ao sorriso dele.
‘Hm, parece que o tal James gamou em você!’ Sophia me olhou sorrindo e eu olhei sem entender. Ela discretamente indicou com a cabeça para o garoto que estava logo na minha frente e eu vi que ele sorria pra mim. Senti meu rosto queimar e sorri fraco completamente sem graça.
‘Vamos pegar alguma coisa pra beber?’ Me virei pra Sophia e ela concordou.
‘Tá fugindo do bonitinho é?’ Sophia me cutucou quando entramos na cozinha.
‘Pra quê eu iria fugir? Seria mais prático eu dar mole pra ele e ver se o Arthur fica com ciúme.’ Dei de ombros.
‘Claro que fica. Ele te ama!’ Soph falou pegando duas cervejas no freezer.
‘Ah sim, ama tanto que tá ficando com outra. Que singela essa forma de demonstrar que me ama!’ Fiz uma cara idiota e ela riu. ‘Por sinal, de quem é essa festa?’ Perguntei percebendo que estava na casa de um completo estranho e nem sabia quem estava dando a festa.
‘Do irmão da Perola.’ Sophia sorriu sem graça e eu engasguei com a cerveja. Ela correu pra bater em minhas costas e eu senti meu olho arder.
‘Como assim eu to na festa do irmão da minha suposta concorrente?’ Eu praticamente gritei recebendo olhares estranhos de algumas poucas pessoas que estavam por ali.
‘Sh, cala boca, demente!’ Sophia me deu um pedala. ‘Eu só soube disso hoje também. Que seja, vamos voltar pra mesa.’ Ela me puxou pelo braço antes que eu conseguisse dizer mais alguma coisa.
Quando estávamos nos aproximando da mesa eu puxei o braço de Sophia com força e ela me olhou sem entender. Apontei discretamente pra mesa onde uma garota de cabelos escuros conversava com Arthur, os dois sorriam e pareciam estar alheios a conversa que os outros meninos estavam tendo na mesa.
‘Eu não sei se consigo.’ Falei baixo sem desviar os olhos dos dois e Soph pegou minha mão.
‘Claro que você consegue. Com quem o Arthur tem um filho, Lu?’ Ela me olhou séria e eu fiquei calada. ‘Com quem, Lua?’ Ela perguntou de novo.
‘Comigo.’ Falei baixo.
‘Quem é a garota que ele diz ser a mamãe mais linda?’
‘Eu.’ Abri um pequeno sorriso no canto da boca.
‘Pra quem ele deu um urso enorme segurando um coração?’
‘Pra mim.’ Sorri fraco e Sophia apertou minha mão.
‘Ops, três à zero pra você, acho que essa Perola já era!’ Ela piscou e saiu andando de volta pra mesa me deixando lá sorrindo que nem uma idiota.
Respirei fundo e caminhei até a mesa ainda sorrindo. Quando sentei percebi o olhar dos meninos em mim, não o do James e o Charlie porque eles nem deviam saber da historia toda, mas Micael, Chay, Pedro e principalmente Arthur me olhavam nervosos. A supostaPerola nos olhou sorrindo e eu forcei um sorriso, assim como Sophia.
‘Hey!’ Ela falou simpática e eu tive que me controlar pra não mandá-la pra um lugar feio.
‘Erm... Perola ’ Micael a chamou e ela desviou a atenção pra ele. ‘Essa é a Soph, minha namorada, e essa é a Lu!’ Mãe do filho do Arthur, fiquei com vontade de dizer, mas em boca fechada não entra mosca.
‘Ah, prazer conhecer vocês!’ Ela estendeu a mão e eu me vi obrigada a cumprimentá-la. ‘Eu sou Perola, irmã do aniversariante.’ Ela sorriu.
‘Prazer, Perola .’ Sophia sorriu. Um dia vou aprender a dar um sorriso falso tão convincente quanto o dela.
Depois da apresentação ela se virou novamente pra Arthur e voltou a conversar animadamente com ele. Vez ou outra eu os observava de canto de olho e via que Arthur fazia o mesmo comigo.
Poucos minutos depois os dois de levantaram sem falar nada e foram pra dentro da casa. Acompanhei os dois caminharem pelo jardim e cada passo que eles davam era como se eu recebesse uma pontada no peito. Olhei pra Soph e Micael e os dois me olhavam como se entendessem perfeitamente o que eu estava sentindo, eu sorri fraco e dei um gole na cerveja que praticamente esvaziou a garrafa.
‘Lu, pára de descontar as frustrações na bebida!’ Sophia falou tirando a quarta ou quinta garrafa de cerveja da minha mão.
‘Me deixa, Sophia.’ Falei cruzando os braços e fazendo bico como uma criança. Eu já podia ser considerada como bêbada, fato.
‘Bom, tá na hora do show!’ Micael se levantou animado e eu e Soph fizemos o mesmo. “Wow!’ Micael riu quando eu desequilibrei e ele teve que me segurar.
‘Eu to bem!’ Sorri sem graça ajeitando a blusa, mas o principio de tontura me dizia o contrario. Micael pegou Sophia pela mão e os dois foram na frente. Eu tive que me agarrar no braço do Chay, caso contrario iria parar no mínimo na casa do vizinho.
‘Chay!’ Falei um pouco animada demais e ele riu. ‘Cadê a Mel?’ Voltei ao meu tom de voz normal.
‘Ela teve que ir até Manchester, parece que teve algum problema com o irmão dela, não sei direito.’ Ele deu de ombros e eu concordei silenciosamente.
Quando entramos na casa eu vi Arthur já perto do palco conversando com um casal ePerola ao seu lado. Ele mantinha um dos seus braços a abraçando pelos ombros e ela o abraçava pela cintura. Respirei fundo sentindo os olhos já arderem por causa das lágrimas e apenas desviei o olhar para um canto qualquer da casa. Chay, Pedro e Micael me deram beijos na testa e eu os desejei boa sorte.
‘Soph, eu vou ao banheiro rapidinho.’ Sorri e ela me olhou preocupada.
‘Quer que eu vá com você?’
‘Não, não precisa, é rápido!’ Nem esperei ela falar nada e corri pra procurar algum banheiro na casa. Acabei achando um no segundo andar, após abrir umas três portas.
Me encostei na porta e escorreguei até ficar sentada no chão, as coisas ao meu redor estavam girando e eu estava começando a ficar enjoada. Ouvi alguns gritos no andar de baixo e supus que o show já ia começar.
Levantei respirando fundo e me apoiei na bancada fechando os olhos na tentativa de fazer a tontura passar. Prendi meu cabelo em um nó frouxo e abri a torneira molhando uma mão com a água gelada que jorrava. Molhei um pouco meu pescoço sentindo os cabelos da nuca arrepiarem por causa da temperatura. Fiquei alguns segundos na mesma posição sentindo algumas gotas escorrerem por minhas costas enquanto a tontura ia passando aos poucos.
‘Lu?’ Ouvi uma voz do lado de fora e abri a porta me assustando ao ver Arthur ali. ‘Tá tudo bem?’ Ele perguntou com um ar preocupado e as mãos no bolso.
‘Tá sim!’ Sorri fraco passando a mão pelo cabelo e soltando o nó para tentar melhorar minha aparência de chifruda bêbada.
‘A Sophia falou que você não parecia muito bem e que exagerou na bebida.’ Ele sorriu fraco.
‘Ah, ela que exagerou na preocupação.’ Respondi pensando em várias formas de tortura pra Soph, como ela falava pro Arthur que eu tinha bebido demais? Vaca. ‘Você não tem um show agora?’ Quebrei o silêncio que provavelmente se instalaria por ali.
‘Erm... tenho!’ Ele sorriu e adivinha só? Eu sorri também. ‘Mas eu precisava vim ver se tava tudo bem com você!’ Nessa hora eu quase esqueci de qualquer briga, Perola ou qualquer outra coisa entre a gente e me joguei nos braços dele.
‘Tá tudo bem, Arthur.’ Ele me olhou desconfiado. ‘É sério! Vai lá pro seu show.’ Apontei as escadas com a cabeça.
‘Ok, você vem né?’ Confirmei com um sorriso fraco e ele me abraçou.
‘Boa sorte.’ Falei baixo sentindo aquele perfume intoxicante me deixar mais tonta do que já estava.
‘Brigada!’ Ele me deu um beijo na testa e sorriu correndo pelas escadas até sumir da minha vista.
Quando finalmente resolvi descer o show já tinha começado, caminhei entre as pessoas animadas, ou bêbadas, como preferirem, até avistar Sophia ao lado de James e Charlie.
‘Hey, já ia subir pra ver se você ainda tava viva.’ Ela me olhou preocupada.
‘Não basta mandar o Arthur atrás de mim?’ Falei séria.
‘Ei, eu não mandei ele atrás de você, ok? Ele que perguntou onde você estava, eu apenas falei a verdade!’ Ela deu de ombros ofendida. Pra que droga Arthur queria saber onde eu estava? Ele que ficasse atrás da Perola . Não respondi nada a Sophia, apenas fiquei prestando atenção no show.
Depois de cantarem quatro musicas deles mesmo, os meninos resolveram fazer covers de musicas antigas. Quando eles começaram a tocar Beatles vários casais começaram a dançar improvisando uma pista de dança bem na frente do pequeno palco também improvisado. ( I Wanna Hold Your Hand - McFLY )
“Oh yeah, I'll tell you something,
( É, eu vou lhe dizer uma coisa )
I think you'll understand
( Acho que você vai entender )
When I'll say that something
( Quando eu disser o que é )
I wanna hold your hand
( Eu quero segurar sua mão )”
‘Quer dançar?’ Ouvi uma voz atrás de mim e quando me virei dei de cara com um James sorridente. Aliás, alguém precisa avisar que caras com sorriso extremamente lindo não deveriam sair por aí matando as outras pessoas.
‘Hm, porque não?’ Como se tivesse como resistir ao sorriso dele. Ok, acho que o alcool ainda estava circulando em alta pelo meu sangue.
James pegou minha mão e fomos pro meio da pista onde vários casais dançavam animadamente.
Começamos um pouco tímidos, mas quando dei por mim já estava rodopiando sem nem me importar com as pessoas ao meu redor.
“And when I touch you I feel happy inside
( E quando eu te toco me sinto feliz por dentro )
It's such a feeling that my love
( É um sentimento tão forte que, meu amor, )
I can't hide, I can't hide, I can't hide
( Eu não consigo esconder, eu não consigo esconder, eu não consigo esconder )”
‘Se eu soubesse que você dançava tão bem teria te tirado pra dançar bem antes?’ James falou no meu ouvido e eu confesso que arrepiei até o ultimo fio de cabelo. O olhei sorrindo um pouco sem graça.
‘Não costumo.’ Ele também sorriu.
“Yeah, you've got that something,
( Você tem aquela coisa especial )
I think you'll understand.
( Acho que você vai entender )When I say that something
( Quando eu digo aquela coisa especial )
I wanna hold your hand...
( Eu quero segurar a sua mão )”
Eu nem me importava mais com os vários olhares que a minha dança com o James estava causando, pela primeira vez naquela noite eu tinha conseguido esquecer do Arthur e daPerola , eu me senti de volta a minha adolescência sem problemas e sem filho.
‘Ai, preciso beber alguma coisa!’ Falei sorrindo idiotamente quando a musica acabou.
‘Hm, vamos lá na cozinha!’ James me pegou pela mão. Quando passei por Sophia, vi seu olhar de interrogação, mas só sorri e continuei caminhando de mãos dadas com James. Acho que nem eu mesma sabia o que estava fazendo.
Pegamos duas cervejas e fomos nos sentar em um banco no jardim que estava praticamente deserto, já que todos estavam dentro da casa assistindo o show dos meninos.
‘Então...’ Falei cortando o incomodo silêncio que tinha se instalado entre a gente.
‘Então...’ Ele repetiu o que eu disse e começamos a rir.
Senti James se aproximar lentamente de mim e virei meu rosto para encará-lo. Ele botou uma mexa do meu cabelo atrás da orelha e deslizou a mão pra minha nuca. Quando senti sua respiração fraca bater em minha boca, a imagem de Arthur surgiu em minha mente me trazendo de volta à realidade.
‘James, não... eu não posso! O Arthur...’ Falei rápido e ele me olhou confuso.
‘O que tem o Arthur?’ Ele passou a mão a mão pelo cabelo, bagunçando-o.
‘Na-nada.’ Gaguejei sorrindo sem graça. ‘Eu preciso ir, James! Desculpa.’ Me levantei sem nem esperar resposta e entrei na casa procurando por Sophia.
Só depois de alguns segundos procurando por ela, me dei conta que o show já tinha terminado, ouvi a risada alta do Micael e me virei conseguindo enxergar Soph no meio de Chay, Micael e Charlie. Enquanto caminhava até eles, olhei pro palco e vi Arthur de costas, pensei em ir até lá falar com ele, mas antes que movesse um músculo se quer, vi que Perolaestava na frente dele, encostada no palco. Corri até onde Sophia estava e ela me olhou assustada.
‘Soph, me leva embora daqui?’ Pedi com os olhos cheios de lágrimas e ela me abraçou.
‘Vamos!’ Ela pegou em minha mão e falou qualquer coisa no ouvido de Micael que concordou silenciosamente e me deu um beijo na testa. Saímos de lá sob o olhar atento dos três garotos. ‘O que aconteceu?’ Ela me perguntou enquanto caminhávamos até o carro.
‘Nada.’ Dei de ombros e ela me olhou com a sobrancelha arqueada. ‘Depois te conto, vamos pra casa, é só isso que eu preciso.’ Ela concordou silenciosamente e entramos no carro.
‘Quer que eu fique com você?’ Ela perguntou enquanto dirigia meu carro, já que eu mesma não tinha condições.
‘Quero.’ Sorri fraco e ela concordou balançando a cabeça.
Quando chegamos em casa eu fui no quarto do Diego rápido e quando voltei pra meu quarto Sophia já tinha arrumado a cama e separado uma roupa pra mim.
‘Brigada!’ Sorri fraco e ela beijou minha testa.
‘Vamos dormir, vai.’ Sophia me empurrou para o banheiro para que eu trocasse de roupa.
‘Soph, a Perola é melhor que eu?’ Perguntei chorosa quando já estávamos deitadas na cama. Eu encarava o teto e Sophia estava de costas pra mim.
‘Mesmo que fosse, Lu, não é ela que o Arthur ama.’ Ela falou séria e eu entendi que ela não queria estender o assunto.
Fechei os olhos, mas imagens de Arthur, Perola e James ficaram circulando na minha cabeça, até o sono conseguir vencer todas elas, apagando-as da minha mente, pelo menos durante aquela noite.
‘Ainda não tá pronta?’ Sophia me olhou de cima a baixo quando eu atendi a porta. Faltava menos de uma hora pra festa começar, os meninos já tinham ido desde cedo para passar o som e ajeitar os últimos detalhes.
‘Eu não sei bem se vou.’ Falei fazendo cara de criança e ela gritou.
‘CLARO QUE VAI!!’ Sophia entrou em casa batendo a porta e me puxou pro quarto. ‘Lua Blanco, vá tomar banho enquanto eu separo uma roupa. AGORA!’ Ela gritou e eu arregalei os olhos, mais um pouco e ela me engolia viva!
‘Ok, to indo, to indo!’ Dei uma risadinha sem graça e entrei no banheiro correndo. Sophia me dá medo, fato. Nem demorei muito no banho, sabia que a qualquer momento Soph podia esmurrar a porta e me tirar de lá pelos cabelos.
‘Escolhi essa roupa, vê se você gosta.’ Ela falou num tom completamente calmo quando eu saí do banheiro. A olhei estranhando e percebi que ela estava um pouco nervosa.
‘O que houve?’ Perguntei vestindo a calça preta justinha que ela tinha separado. Ela mexeu a cabeça negativamente sem me olhar e então tive certeza que estava acontecendo alguma coisa. ‘Sophia, o que aconteceu?’ Sentei cruzando as pernas de frente pra ela na cama.
‘Lu, eu... eu preciso te contar uma coisa.’ Ela suspirou e eu senti meu corpo inteiro gelar. ‘Espera.’ Ela se levantou e foi até a porta, fechando-a. Ela voltou a se sentar em minha frente e eu já estava até tremendo. ‘Você tá calma?’ Ela perguntou meio em duvida.
‘Sophia, fala logo antes que eu perca o resto de calma que ainda tenho.’ Falei baixo respirando pausadamente.
‘É sobre a Perola.’ Ela mordeu o lábio me olhando e eu arqueei a sobrancelha. Como assim sobre a Perola? Ela disse que nem a conhecia.
‘O que tem a tal Perola?’ A olhei franzindo a testa e Sophia respirou fundo olhando pras próprias mãos.
‘A Perola, bem, erm...’ Ela parecia medir as palavras e eu sentia meu coração ir congelando aos poucos. ‘Ela e o Arthur estão ficando.’ Senti meu coração congelar completamente, era como se todos os meus órgãos tivessem parado de funcionar e eu não conseguisse sentir nada. ‘Lu, desculpa! Eu não queria ter que te falar isso, desculpa.’ Sophia falou baixo me abraçando e eu nem me mexi, a única coisa que consegui sentir naquele momento foram as lágrimas caindo insistentemente dos meus olhos. ‘Lu, fala alguma coisa, pelo amor de Deus!’ Soph pediu baixo segurando meu rosto. Eu apenas balancei a cabeça e cobri meu rosto com as mãos evitando que o som do meu choro ganhasse o quarto.
Sophia me abraçou mais uma vez e ficou passando as mãos por minha cabeça como se eu fosse uma criança com medo do escuro.
‘Soph...’ A chamei baixinho minutos depois. Eu estava com a cabeça em seu colo e ela brincava com meus cabelos.
‘Oi.’ Ela sorriu fraco me olhando e eu me sentei novamente de frente pra ela.
‘Você sabia disso desde aquela vez que eu comentei sobre a ligação da Perola?’ Perguntei já sabendo a resposta. Sophia confirmou balançando a cabeça.
‘Desculpa, Lu. Eu não sabia como te contar isso!’ Ela pegou minhas mãos e me olhou séria. ‘Eu ouvi sem querer uma conversa do Arthur e do Micael.’
‘Tem muito tempo... que eles tão ficando?’ Engoli seco com medo da resposta.
‘Parece que tem quase um mês.’ Ela respondeu em meio a um suspiro e eu senti uma pontada no peito.
‘Lu?’ A voz de Arthur surgiu do outro lado da porta e eu olhei assustada pra Sophia, que retribuiu o olhar da mesma forma. Peguei a blusa que estava em cima da cama e corri pro banheiro encostando a porta. Ouvi Arthur entrando no quarto e me olhei no espelho percebendo meus olhos completamente vermelhos e meu rosto inchado.
‘Ela tá no banheiro!’ Soph falou enquanto eu passava uma água pelo meu rosto tentando amenizar a situação.
‘Ah, ok! Eu vim só pegar uma coisa que eu esqueci.’ Silêncio por alguns minutos. ‘Bom, tenho que voltar, daqui a pouco a festa começa. Vocês querem carona?’ Abri a porta do banheiro e vi que Sophia estava abrindo a boca pra falar alguma coisa.
‘Não precisa.’ Sorri o mais falsamente que pude e Arthur me olhou estranho. ‘Eu só vou terminar de me arrumar e nós vamos, né Soph?’ A olhei e percebi sua cara de espanto, mas mesmo assim ela concordou balançando a cabeça.
‘Ahn, ok.’ Arthur respondeu passando a mão pelo cabelo ainda com cara de quem não estava entendendo nada. ‘Até mais.’ Ele sorriu fraco e eu continuei com meu sorriso falso.
‘Não entendi nada!’ Sophia riu.
‘Eu não vou me render fácil assim, Soph. Não vou!’ Falei decidida entrando no banheiro e pegando meu kit de maquiagem. ‘Não vai ser umazinha qualquer que vai entrar no meio do meu relacionamento de mais de dois anos, não vai ser uma tal de Perola que vai roubar o cara que eu amo de mim!’ Comecei a me maquiar com uma certa raiva e ouvi as palmas de Sophia.
‘Gostei, finalmente né, tapada? Precisou ele pegar outra pra sua ficha cair!’ Ela se encostou na porta do banheiro e eu sorri.
‘Preparada?’ Sophia me olhou sorrindo quando estávamos paradas em frente à casa onde seria a festa. Eu balancei a cabeça confirmando e caminhamos pelo jardim entrando pela lateral da casa que já estava cheia.
‘Yay!’ Micael sorriu caminhando até nós duas. ‘Pensei que não viessem mais!’ Ele deu um beijo em minha testa e depois um selinho em Sophia.
‘Ná, só um pequeno atraso pra vocês sentirem nossa falta!’ Brinquei e Micael riu alto. ‘Então, que horas vocês vão tocar?’ Falei percorrendo os olhos pela casa. Meu coração estava completamente acelerado, ao mesmo tempo em que eu desejava ver Arthur por ali, tinha medo de vê-lo com a tal Perola.
‘Daqui a uma hora mais ou menos. Vocês querem ir lá pros fundos? Os meninos estão lá, eu só vim pegar bebida!’ Ele levantou uma garrafa de cerveja e nós rimos.
‘Vamos!’ Soph pegou na mão de Micael e entrelaçou o braço no meu sorrindo. Respirei fundo enquanto caminhávamos passando pela sala e pela cozinha da casa.
‘MULHERES!!’ Micael gritou quando chegamos ao jardim.
Olhei pra mesa e percebi que não tinha nenhuma garota por perto, apenas Arthur, Pedro, Chay e mais dois meninos.
‘Dudes, essa é a Sophia, minha namorada, e essa é a Lu!’ Ele nos apresentou para os dois garotos que sorriram. ‘Meninas, esses são James e Charlie.’ Micael apontou primeiro para um garoto de cabelos claros e um dos sorrisos mais lindos que eu já tinha visto, e depois para um de cabelo espetadinho.
Nos sentamos e ficamos observando os meninos conversarem animados sobre alguma musica que eles estavam escrevendo. Olhei rapidamente pra Arthur que por coincidência, ou não, me olhou na mesma hora. Ele sorriu fofo e eu pra variar sorri também, odeio nunca resistir ao sorriso dele.
‘Hm, parece que o tal James gamou em você!’ Sophia me olhou sorrindo e eu olhei sem entender. Ela discretamente indicou com a cabeça para o garoto que estava logo na minha frente e eu vi que ele sorria pra mim. Senti meu rosto queimar e sorri fraco completamente sem graça.
‘Vamos pegar alguma coisa pra beber?’ Me virei pra Sophia e ela concordou.
‘Tá fugindo do bonitinho é?’ Sophia me cutucou quando entramos na cozinha.
‘Pra quê eu iria fugir? Seria mais prático eu dar mole pra ele e ver se o Arthur fica com ciúme.’ Dei de ombros.
‘Claro que fica. Ele te ama!’ Soph falou pegando duas cervejas no freezer.
‘Ah sim, ama tanto que tá ficando com outra. Que singela essa forma de demonstrar que me ama!’ Fiz uma cara idiota e ela riu. ‘Por sinal, de quem é essa festa?’ Perguntei percebendo que estava na casa de um completo estranho e nem sabia quem estava dando a festa.
‘Do irmão da Perola.’ Sophia sorriu sem graça e eu engasguei com a cerveja. Ela correu pra bater em minhas costas e eu senti meu olho arder.
‘Como assim eu to na festa do irmão da minha suposta concorrente?’ Eu praticamente gritei recebendo olhares estranhos de algumas poucas pessoas que estavam por ali.
‘Sh, cala boca, demente!’ Sophia me deu um pedala. ‘Eu só soube disso hoje também. Que seja, vamos voltar pra mesa.’ Ela me puxou pelo braço antes que eu conseguisse dizer mais alguma coisa.
Quando estávamos nos aproximando da mesa eu puxei o braço de Sophia com força e ela me olhou sem entender. Apontei discretamente pra mesa onde uma garota de cabelos escuros conversava com Arthur, os dois sorriam e pareciam estar alheios a conversa que os outros meninos estavam tendo na mesa.
‘Eu não sei se consigo.’ Falei baixo sem desviar os olhos dos dois e Soph pegou minha mão.
‘Claro que você consegue. Com quem o Arthur tem um filho, Lu?’ Ela me olhou séria e eu fiquei calada. ‘Com quem, Lua?’ Ela perguntou de novo.
‘Comigo.’ Falei baixo.
‘Quem é a garota que ele diz ser a mamãe mais linda?’
‘Eu.’ Abri um pequeno sorriso no canto da boca.
‘Pra quem ele deu um urso enorme segurando um coração?’
‘Pra mim.’ Sorri fraco e Sophia apertou minha mão.
‘Ops, três à zero pra você, acho que essa Perola já era!’ Ela piscou e saiu andando de volta pra mesa me deixando lá sorrindo que nem uma idiota.
Respirei fundo e caminhei até a mesa ainda sorrindo. Quando sentei percebi o olhar dos meninos em mim, não o do James e o Charlie porque eles nem deviam saber da historia toda, mas Micael, Chay, Pedro e principalmente Arthur me olhavam nervosos. A supostaPerola nos olhou sorrindo e eu forcei um sorriso, assim como Sophia.
‘Hey!’ Ela falou simpática e eu tive que me controlar pra não mandá-la pra um lugar feio.
‘Erm... Perola ’ Micael a chamou e ela desviou a atenção pra ele. ‘Essa é a Soph, minha namorada, e essa é a Lu!’ Mãe do filho do Arthur, fiquei com vontade de dizer, mas em boca fechada não entra mosca.
‘Ah, prazer conhecer vocês!’ Ela estendeu a mão e eu me vi obrigada a cumprimentá-la. ‘Eu sou Perola, irmã do aniversariante.’ Ela sorriu.
‘Prazer, Perola .’ Sophia sorriu. Um dia vou aprender a dar um sorriso falso tão convincente quanto o dela.
Depois da apresentação ela se virou novamente pra Arthur e voltou a conversar animadamente com ele. Vez ou outra eu os observava de canto de olho e via que Arthur fazia o mesmo comigo.
Poucos minutos depois os dois de levantaram sem falar nada e foram pra dentro da casa. Acompanhei os dois caminharem pelo jardim e cada passo que eles davam era como se eu recebesse uma pontada no peito. Olhei pra Soph e Micael e os dois me olhavam como se entendessem perfeitamente o que eu estava sentindo, eu sorri fraco e dei um gole na cerveja que praticamente esvaziou a garrafa.
‘Lu, pára de descontar as frustrações na bebida!’ Sophia falou tirando a quarta ou quinta garrafa de cerveja da minha mão.
‘Me deixa, Sophia.’ Falei cruzando os braços e fazendo bico como uma criança. Eu já podia ser considerada como bêbada, fato.
‘Bom, tá na hora do show!’ Micael se levantou animado e eu e Soph fizemos o mesmo. “Wow!’ Micael riu quando eu desequilibrei e ele teve que me segurar.
‘Eu to bem!’ Sorri sem graça ajeitando a blusa, mas o principio de tontura me dizia o contrario. Micael pegou Sophia pela mão e os dois foram na frente. Eu tive que me agarrar no braço do Chay, caso contrario iria parar no mínimo na casa do vizinho.
‘Chay!’ Falei um pouco animada demais e ele riu. ‘Cadê a Mel?’ Voltei ao meu tom de voz normal.
‘Ela teve que ir até Manchester, parece que teve algum problema com o irmão dela, não sei direito.’ Ele deu de ombros e eu concordei silenciosamente.
Quando entramos na casa eu vi Arthur já perto do palco conversando com um casal ePerola ao seu lado. Ele mantinha um dos seus braços a abraçando pelos ombros e ela o abraçava pela cintura. Respirei fundo sentindo os olhos já arderem por causa das lágrimas e apenas desviei o olhar para um canto qualquer da casa. Chay, Pedro e Micael me deram beijos na testa e eu os desejei boa sorte.
‘Soph, eu vou ao banheiro rapidinho.’ Sorri e ela me olhou preocupada.
‘Quer que eu vá com você?’
‘Não, não precisa, é rápido!’ Nem esperei ela falar nada e corri pra procurar algum banheiro na casa. Acabei achando um no segundo andar, após abrir umas três portas.
Me encostei na porta e escorreguei até ficar sentada no chão, as coisas ao meu redor estavam girando e eu estava começando a ficar enjoada. Ouvi alguns gritos no andar de baixo e supus que o show já ia começar.
Levantei respirando fundo e me apoiei na bancada fechando os olhos na tentativa de fazer a tontura passar. Prendi meu cabelo em um nó frouxo e abri a torneira molhando uma mão com a água gelada que jorrava. Molhei um pouco meu pescoço sentindo os cabelos da nuca arrepiarem por causa da temperatura. Fiquei alguns segundos na mesma posição sentindo algumas gotas escorrerem por minhas costas enquanto a tontura ia passando aos poucos.
‘Lu?’ Ouvi uma voz do lado de fora e abri a porta me assustando ao ver Arthur ali. ‘Tá tudo bem?’ Ele perguntou com um ar preocupado e as mãos no bolso.
‘Tá sim!’ Sorri fraco passando a mão pelo cabelo e soltando o nó para tentar melhorar minha aparência de chifruda bêbada.
‘A Sophia falou que você não parecia muito bem e que exagerou na bebida.’ Ele sorriu fraco.
‘Ah, ela que exagerou na preocupação.’ Respondi pensando em várias formas de tortura pra Soph, como ela falava pro Arthur que eu tinha bebido demais? Vaca. ‘Você não tem um show agora?’ Quebrei o silêncio que provavelmente se instalaria por ali.
‘Erm... tenho!’ Ele sorriu e adivinha só? Eu sorri também. ‘Mas eu precisava vim ver se tava tudo bem com você!’ Nessa hora eu quase esqueci de qualquer briga, Perola ou qualquer outra coisa entre a gente e me joguei nos braços dele.
‘Tá tudo bem, Arthur.’ Ele me olhou desconfiado. ‘É sério! Vai lá pro seu show.’ Apontei as escadas com a cabeça.
‘Ok, você vem né?’ Confirmei com um sorriso fraco e ele me abraçou.
‘Boa sorte.’ Falei baixo sentindo aquele perfume intoxicante me deixar mais tonta do que já estava.
‘Brigada!’ Ele me deu um beijo na testa e sorriu correndo pelas escadas até sumir da minha vista.
Quando finalmente resolvi descer o show já tinha começado, caminhei entre as pessoas animadas, ou bêbadas, como preferirem, até avistar Sophia ao lado de James e Charlie.
‘Hey, já ia subir pra ver se você ainda tava viva.’ Ela me olhou preocupada.
‘Não basta mandar o Arthur atrás de mim?’ Falei séria.
‘Ei, eu não mandei ele atrás de você, ok? Ele que perguntou onde você estava, eu apenas falei a verdade!’ Ela deu de ombros ofendida. Pra que droga Arthur queria saber onde eu estava? Ele que ficasse atrás da Perola . Não respondi nada a Sophia, apenas fiquei prestando atenção no show.
Depois de cantarem quatro musicas deles mesmo, os meninos resolveram fazer covers de musicas antigas. Quando eles começaram a tocar Beatles vários casais começaram a dançar improvisando uma pista de dança bem na frente do pequeno palco também improvisado. ( I Wanna Hold Your Hand - McFLY )
“Oh yeah, I'll tell you something,
( É, eu vou lhe dizer uma coisa )
I think you'll understand
( Acho que você vai entender )
When I'll say that something
( Quando eu disser o que é )
I wanna hold your hand
( Eu quero segurar sua mão )”
‘Quer dançar?’ Ouvi uma voz atrás de mim e quando me virei dei de cara com um James sorridente. Aliás, alguém precisa avisar que caras com sorriso extremamente lindo não deveriam sair por aí matando as outras pessoas.
‘Hm, porque não?’ Como se tivesse como resistir ao sorriso dele. Ok, acho que o alcool ainda estava circulando em alta pelo meu sangue.
James pegou minha mão e fomos pro meio da pista onde vários casais dançavam animadamente.
Começamos um pouco tímidos, mas quando dei por mim já estava rodopiando sem nem me importar com as pessoas ao meu redor.
“And when I touch you I feel happy inside
( E quando eu te toco me sinto feliz por dentro )
It's such a feeling that my love
( É um sentimento tão forte que, meu amor, )
I can't hide, I can't hide, I can't hide
( Eu não consigo esconder, eu não consigo esconder, eu não consigo esconder )”
‘Se eu soubesse que você dançava tão bem teria te tirado pra dançar bem antes?’ James falou no meu ouvido e eu confesso que arrepiei até o ultimo fio de cabelo. O olhei sorrindo um pouco sem graça.
‘Não costumo.’ Ele também sorriu.
“Yeah, you've got that something,
( Você tem aquela coisa especial )
I think you'll understand.
( Acho que você vai entender )When I say that something
( Quando eu digo aquela coisa especial )
I wanna hold your hand...
( Eu quero segurar a sua mão )”
Eu nem me importava mais com os vários olhares que a minha dança com o James estava causando, pela primeira vez naquela noite eu tinha conseguido esquecer do Arthur e daPerola , eu me senti de volta a minha adolescência sem problemas e sem filho.
‘Ai, preciso beber alguma coisa!’ Falei sorrindo idiotamente quando a musica acabou.
‘Hm, vamos lá na cozinha!’ James me pegou pela mão. Quando passei por Sophia, vi seu olhar de interrogação, mas só sorri e continuei caminhando de mãos dadas com James. Acho que nem eu mesma sabia o que estava fazendo.
Pegamos duas cervejas e fomos nos sentar em um banco no jardim que estava praticamente deserto, já que todos estavam dentro da casa assistindo o show dos meninos.
‘Então...’ Falei cortando o incomodo silêncio que tinha se instalado entre a gente.
‘Então...’ Ele repetiu o que eu disse e começamos a rir.
Senti James se aproximar lentamente de mim e virei meu rosto para encará-lo. Ele botou uma mexa do meu cabelo atrás da orelha e deslizou a mão pra minha nuca. Quando senti sua respiração fraca bater em minha boca, a imagem de Arthur surgiu em minha mente me trazendo de volta à realidade.
‘James, não... eu não posso! O Arthur...’ Falei rápido e ele me olhou confuso.
‘O que tem o Arthur?’ Ele passou a mão a mão pelo cabelo, bagunçando-o.
‘Na-nada.’ Gaguejei sorrindo sem graça. ‘Eu preciso ir, James! Desculpa.’ Me levantei sem nem esperar resposta e entrei na casa procurando por Sophia.
Só depois de alguns segundos procurando por ela, me dei conta que o show já tinha terminado, ouvi a risada alta do Micael e me virei conseguindo enxergar Soph no meio de Chay, Micael e Charlie. Enquanto caminhava até eles, olhei pro palco e vi Arthur de costas, pensei em ir até lá falar com ele, mas antes que movesse um músculo se quer, vi que Perolaestava na frente dele, encostada no palco. Corri até onde Sophia estava e ela me olhou assustada.
‘Soph, me leva embora daqui?’ Pedi com os olhos cheios de lágrimas e ela me abraçou.
‘Vamos!’ Ela pegou em minha mão e falou qualquer coisa no ouvido de Micael que concordou silenciosamente e me deu um beijo na testa. Saímos de lá sob o olhar atento dos três garotos. ‘O que aconteceu?’ Ela me perguntou enquanto caminhávamos até o carro.
‘Nada.’ Dei de ombros e ela me olhou com a sobrancelha arqueada. ‘Depois te conto, vamos pra casa, é só isso que eu preciso.’ Ela concordou silenciosamente e entramos no carro.
‘Quer que eu fique com você?’ Ela perguntou enquanto dirigia meu carro, já que eu mesma não tinha condições.
‘Quero.’ Sorri fraco e ela concordou balançando a cabeça.
Quando chegamos em casa eu fui no quarto do Diego rápido e quando voltei pra meu quarto Sophia já tinha arrumado a cama e separado uma roupa pra mim.
‘Brigada!’ Sorri fraco e ela beijou minha testa.
‘Vamos dormir, vai.’ Sophia me empurrou para o banheiro para que eu trocasse de roupa.
‘Soph, a Perola é melhor que eu?’ Perguntei chorosa quando já estávamos deitadas na cama. Eu encarava o teto e Sophia estava de costas pra mim.
‘Mesmo que fosse, Lu, não é ela que o Arthur ama.’ Ela falou séria e eu entendi que ela não queria estender o assunto.
Fechei os olhos, mas imagens de Arthur, Perola e James ficaram circulando na minha cabeça, até o sono conseguir vencer todas elas, apagando-as da minha mente, pelo menos durante aquela noite.
26° Capitulo
Acordei ouvindo o barulho da chuva batendo fortemente na janela e me encolhi embaixo do cobertor, o quarto estava todo fechado e ainda assim o frio era congelante. Fechei os olhos tentando dormir de novo, até lembrar que Sophia tinha dormido ali comigo. Me sentei percebendo que o lado em que Sophia dormira agora estava vazio e esfreguei meus olhos numa tentativa de despertar completamente. Fui até o banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes, depois vesti uma calça de moletom e um casaco enorme de Arthur que estava impregnado com o perfume intoxicante dele.
Ouvi um barulho vindo do quarto de Diego e fui até lá encontrando ele e Kat brincando no chão.
‘Bom dia, Kat!’ Sorri educadamente e ela retribuiu. ‘Hey, bom dia meu príncipe!’ Peguei Diego no colo beijando sua bochecha.
‘Bom dia, mãe!’ Ele sorriu com as mãos em minha bochecha e eu ri.
‘Kat, brigada por ter passado a noite aqui com o Diego. Hoje eu vou ficar em casa, então você pode ir!’
‘Brigada, Lu!’ Ela sorriu e saiu do quarto.
Fiquei algum tempo brincando com Diego, mas senti meu estomago roncar e resolvi ir até a cozinha comer alguma coisa. Quando passei pelo quarto de hospedes vi que a porta estava aberta e Arthur não estava lá. Caminhei lentamente até a cozinha e o encontrei tomando café com o olhar completamente perdido.
‘Yey! Bom dia!’ Falei sorrindo fraco e ele me olhou ainda um pouco perdido. Ele devia estar em outra galáxia, só pode.
‘Boa tarde.’ Ele também sorriu apontando o relógio que já passava do meio dia.
Botei um pouco de café na xícara e me sentei ao seu lado na mesa da cozinha.
‘A Sophia saiu um pouco antes de você acordar.’ Ele cortou o silencio e eu concordei balançando a cabeça. ‘O que aconteceu... ontem?’ Ele perguntou um pouco receoso e eu lembrei de James.
‘Nada.’ Falei baixo. ‘Só não tava me sentindo muito bem.’ Encarei seus olhos que tinham um pouco de preocupação e sorri.
‘Preciso te ensinar a beber, Lu!’ Arthur fez uma cara convencida e eu dei língua.
‘Há-há, palhaço!’ Ri. ‘Vai sair hoje?’ Desviei o assunto.
‘Nop, to cansado.’ Ele deu de ombros e eu concordei silenciosamente.
Diego apareceu na cozinha e Arthur o carregou colocando-o em cima da bancada.
‘Tá com fome, campeão?’ Diego concordou freneticamente e eu ri.
‘Esfomeado igual ao pai.’ Falei baixo.
‘Eu ouvi isso, Lua!’ Arthur falou num tom ameaçador me fazendo rir alto. Ele voltou a sentar ao meu lado, dessa vez com Diego no colo e o ajudou a comer um sanduíche. ‘E você, vai sair hoje?’ Ele me olhou e eu neguei com a cabeça.
‘Não to com muito saco.’ Dei de ombros.
‘Quer fazer alguma coisa?’ Ele sorriu e eu tive que me controlar pra não escancarar um sorriso maior que a minha cara.
‘Defina alguma coisa!’ Falei rindo.
‘Hm, ver filmes idiotas e comer a tarde toda!’ Ele fez uma cara de criança e eu balancei a cabeça sorrindo.
‘Ai céus, eu convivo com duas crianças.’ Ele deu língua. ‘Besteirol americano com pipoca e chocolate?’ Falei sugestiva e Arthur abriu um sorriso imenso.
‘Isso!’ Ele bateu a mão na mesa e eu ri.
‘A gente tem que ir na locadora.’ Falei vagamente e ele concordou. ‘Vou tomar banho.’ Mandei beijos no ar e corri pro quarto.
Tomei um banho rápido e quando voltei pro quarto Arthur e Diego estavam brincando em cima da cama.
‘Yey, demorei demais foi?’ Perguntei olhando o relógio e Arthur sorriu.
‘Nop, eu já tinha tomado banho, só vesti uma roupa!’
‘Ok, deixa eu pegar o moletom.’ Falei pegando novamente o moletom grande de Arthur e vestindo.
‘O meu moletom por sinal!’ Ele sorriu convencido e eu dei língua.
‘Ele é grande e quentinho!’ Fiz uma voz boba.
‘E tem meu perfume.’ Ele piscou e eu quis enfiar minha cabeça em algum buraco.
‘Besta.’ Dei língua sentindo meu rosto queimar e imaginando o quão vermelha eu estava.
‘Adoro te deixar sem graça.’ Ele deu um risadinha e eu mandei o dedo do meio.
‘Você se acha muito, Arthur Aguiar. Sua moral não tá tão alta assim!’ Falei já no hall do lado de fora do apartamento e ele arqueou a sobrancelha. ‘Pois é!’ Falei dando de ombros, mas sorri.
‘Então tá, Lu. Você finge que me engana e eu finjo que acredito.’ Ele sorriu.
‘Ah, vai pra merda, Arthur!’ Dei um soquinho em seu braço e ele riu alto.
Fomos o curto caminho até a locadora em silêncio, só se ouvia o barulho da chuva forte batendo no carro.
‘Preparada pra tomar chuva?’ Arthur sorriu e eu olhei em duvida pra Diego. ‘Vamos tomar chuva?’ Ele também olhou pra Diego que sorriu.
Arthur parou o carro o mais próximo possível da porta da locadora. Ele pegou Diego no colo e contou até três pra sairmos do carro correndo.
‘Chuva!’ Diego falou sorrindo quando entramos na loja.
Os poucos segundos que tomamos chuva foram suficientes pra molhar completamente nossos cabelos. Arthur chegou perto de mim e sacudiu a cabeça.
‘AAAI, idiota!’ Comecei a dar tapinhas no braço dele que se defendia rindo com Diego no colo. ‘Vai ter troco!’ Falei tentando ficar séria e ele me deu um pedala fraco.
‘Vamos logo pegar o filme!’ Ele botou Diego no chão que correu pra um pequeno espaço que era reservado pra crianças. Arthur passou um braço por meus ombros e me puxou até a parte de filmes de comédia. ‘American Pie?’ Ele pegou um dvd e eu fiz careta.
‘Nop, já enjoou.’
‘É, também acho.’ Ele sorriu e botou novamente o dvd na estante. Ficamos olhando a imensidão de filmes na nossa frente por alguns instantes. ‘Procurando Nemo!’ Arthur quase gritou.
‘Como se não bastasse suas Tartarugas Ninjas, né?’ Falei rindo.
‘Ah, nem vem, Lu. Eu sei que você também adora as Tartarugas Ninjas!’ Ele sorriu bobo e eu dei língua.
‘Ok, só porque eu gosto da Dorie!’ Falei pegando o dvd da mão dele. ‘Agora escolhe outro que não seja desenho animado.’ Falei com uma cara pensativa.
‘Opa, já sei!’ Arthur deu um risinho safado e quando olhei ele estava indo pra uma parte reservada com uma plaquinha “Proibida entrada de menores de 18 anos”.
‘Arthur, não!’ Falei baixo controlando meu riso. Ele sorriu pra mim e entrou na área de filmes pornográficos. ‘Arthur Aguiar, sai daí!’ Falei num tom ameaçador sem entrar na área reservada. Ele fingiu que não me ouviu e continuou olhando os filmes fazendo caras e bocas.
‘Olha esse!’ Ele deu um sorriso safado e me mostrou um dvd com duas mulheres nuas se beijando.
‘Aguiar!’ Fiz careta e tentei o puxar pra fora daquela área.
‘Uuuh, esse aqui é melhor!’ Dessa vez ele mostrou um com três mulheres e um homem na cama, todos pelados.
‘Arthur, seu idiota!’ Afastei o braço dele e fechei os olhos. ‘Larga de ser pervertido!!’ Dei um soquinho no braço dele que ria da minha cara. ‘Cara, se alguém me vir aqui, eu juro que te mato!’ Falei olhando em volta, mas a locadora estava vazia.
‘Qual o problema? Somos um casal em busca de novas aventuras!’ Ele deu de ombros.
‘Só se for você em busca de baixarias né? Eu não estou nem um pouco interessada nessas pornografias.’ Balancei a cabeça e ele riu. Cruzei os braços e fiquei o observando olhar algumas capas de dvd’s e rir.
‘Pronto?’ Perguntei quando ele me olhou, já fazia uns 10 minutos que estávamos ali.
‘Ok, ok, você venceu!’ Ele caminhou até mim. ‘Duuuude, como você é chata!’ Ele me abraçou forte fazendo com que meu rosto ficasse encostado em seu peito.
‘Cara, porque eu tinha que arranjar um pai pervertido pro meu filho?’ Falei rindo o olhando enquanto ele ainda me abraçava forte e caminhava novamente para a parte de filmes de comédia, me fazendo andar de costas.
‘Você preferia um nerd que fala 10 línguas diferentes, passa o dia lendo livros e fazendo experiências medonhas num laboratório?’ Ele arqueou a sobrancelha me fazendo rir.
‘Ew, não!’ Me soltei dele fazendo careta.
‘Então não reclama.’ Dei língua e ele sorriu.
‘Qual vai ser?’ Perguntei parada em frente e uma estante cheia de dvd’s. Ele suspirou e me abraçou por trás colocando as mãos dentro do bolso do meu casaco.
‘Hm, vejamos...’ Ele olhava atentamente e eu sentia sua respiração bater em meu ouvido fazendo minhas pernas ficarem moles. ‘Todo Mundo em Pânico já encheu o saco. Entrando Numa Fria?’ Ele me olhou em meio a uma careta e eu neguei balançando a cabeça.
‘Tá Todo Mundo Louco!’ Falei alto pegando o dvd. ‘Nossa, eu amo esse filme. É com Mr. Bean!’ Olhei sorrindo pra Arthur.
‘Você já assistiu mais de três vezes?’ Ele perguntou olhando a capa.
‘Mais de dez.’ Fiz uma cara sapeca e ele riu.
‘Tem certeza que quer ver de novo?’
‘Se você quiser, eu vejo.’ Dei de ombros sorrindo.
‘Ok! Pela sua animação ele deve ser bom!’ Eu confirmei sorrindo.
‘Mãããe, Bob Esponja.’ Diego levantou a mão com o dvd do Bob Esponja. ‘Quero ver!’ Ele sorriu e eu peguei o dvd.
‘Oba! Bob Esponja!’ Arthur olhou o dvd sorrindo eu bufei dando risada. Às vezes Arthur consegue ser pior que o Diego. ‘Vamos?’ Ele pegou os dvd’s da minha mão, eu sorri confirmando e peguei Diego no colo.
‘A chuva tá fraca agora!’ Falei olhando pra fora da loja.
As ruas estavam um pouco engarrafadas então demoramos um pouco para chegar novamente em casa. Diego correu pra ligar a televisão e falou que queria ver Bob Esponja logo.
‘Arthur, coloca pra ele enquanto eu troco de roupa!’ Ele confirmou e eu sorri agradecida. Fui para o quarto e troquei a calça jeans pela mesma calça de moletom que eu vestia antes de sair. Apesar de a chuva estar fraca, o frio ainda era cortante. ‘Alguém quer pipoca?’ Falei indo em direção a cozinha e os dois levantaram o braço sem tirar os olhos da tv.
Fiquei sentada no sofá observando a empolgação de Diego e Arthur com o filme, às vezes parecia que eles iam entrar na tela. Eu assisti apenas algumas partes, alternava minha atenção entre uma revista e a televisão.
‘Acabou!’ Diego falou fazendo bico e eu o puxei mordendo sua bochecha e fazendo cócegas. ‘Páára, mãe!’ Ele riu.
‘Quer ver filme com a mamãe e o papai?’ Perguntei parando de fazer cócegas e ele mexeu a cabeça confirmando. ‘Vamos ver Nemo!’ Sorri pra Arthur e ele concordou botando o filme.
Diego sentou entre mim e Arthur, e pra variar no meio do filme senti um peso no meu braço, quando virei minha cabeça vi Diego dormindo profundamente.
‘Arthur!’ O chamei rindo e apontei Diego praticamente babando em meu braço. Ele riu e deu pause no filme.
‘Vou levar ele pro quarto!’ Arthur se levantou e pegou Diego cuidadosamente no colo. Minutos depois ele voltou e sentou ao meu lado no sofá.
‘Ele sempre dorme no meio dos filmes.’ Falei rindo.
‘Não quero mais ver Nemo!’ Ele me olhou e eu rolei os olhos. ‘Quer fazer mais pipoca?’ Ele sorriu.
‘Ai céus, você me dá mais trabalho que o Diego!’ Me levantei e fui até a cozinha enquanto ele ria. Peguei mais um saco de pipoca e botei no microondas, enquanto esperava separei algumas barrinhas de Kit Kat e peguei duas latas de Coca.
‘Kit Kat!’ Os olhos de Arthur brilharam quando ele entrou na cozinha.
‘São meus!’ Peguei as barrinhas que estava em cima da mesa e as abracei. Olhei pra Arthur que estava fazendo bico, confesso que quase derreti quando ele fez aquela carinha de menor abandonado pedindo esmola na rua. ‘Tá, te dou uma!’ Estendi uma barrinha pra ele.
‘Só uma? Que egoísta!’ Ele pegou a barrinha da minha mão reclamando. Arthur fez menção de se aproximar pra pegar as outras barrinhas da minha mão e eu me afastei. ‘É melhor começar a correr!’ Ele deu um risinho.
‘NÃO! De novo não, nem vem!’ Falei alto rindo e ele arqueou a sobrancelha. ‘Por favooor!’ Fiz voz de criança e ele balançou a cabeça negando. ‘Ai, merda!’ Falei antes de começar a correr e ele vir atrás.
Contornei o sofá da sala e voltei pra cozinha. Eu mal enxergava as coisas na minha frente de tanto que eu ria, enquanto Arthur falava coisas ameaçadoras como “vou comer todos” ou“você vai perder”.
‘Há!’ Ele conseguiu me agarrar pela cintura e me levantou no ar.
‘Arthur, me solta! Deixa meus chocolates em paz!’ Falei rindo fazendo-o rir também. Ele me abraçou por trás tentando pegar os chocolates enquanto eu me encolhia fugindo das mãos dele. ‘São meeeus!’ Eu ria mais do que falava, meus olhos já estavam cheios de lágrimas.
‘Já sei!’ Ele gritou e na mesma hora me deu uma rasteira me derrubando no chão e caindo em cima de mim, por sorte eu consegui cair de joelhos, senão teria esmagado todos os chocolates.
‘Não vai pegar!’ Falei tentando morder seu braço que ainda tentavam alcançar os chocolates.
‘Aaaai!’ Ele gritou rindo quando sentiu meus dentes em sua pele. ‘Agora vai ter troco!’ Num movimento rápido ele conseguiu pegar quase todos os chocolates de minha mão.
‘Te odeio, Aguiar!’ Falei deitando no chão ainda tentando parar de rir.
‘Há, eu sou foda!’ Ele levantou as mãos com chocolates e eu dei língua. ‘A pipoca!’ Ele se levantou rápido e correu pra cozinha.
Eu continuei deitada no chão observando o teto com minha respiração descompassada.
‘Lu, me ajuda aqui!’ Arthur gritou da cozinha e eu me levantei para ajudá-lo.
Minutos depois já estávamos os dois sentados no chão da sala com um imenso balde de pipoca e chocolates espalhados pelo chão.
Arthur toda hora tinha uma crise de risos com o filme, e eu apesar de já ter visto incontáveis vezes também acaba rindo, às vezes mais por causa da risada dele, do que pelo que acontecia no filme.
‘Minha barriga tá doendo de tanto rir!’ Ele falou já quase no final do filme.
‘Sua barriga tá doendo é de tanto comer, Arthur!’ Ri da careta que ele fez.
Voltei a prestar atenção no filme, até uma pipoca voar em minha direção. Dei um risinho e joguei uma pipoca em Arthur também. Ele riu baixo e de novo jogou outra pipoca em mim. Parecíamos duas crianças.
‘Pára, bestão!’ Falei rindo. Ele ao invés de parar encheu a mão de pipoca e jogou na minha cabeça. ‘Aguiar! Não acredito que você fez isso!’ O olhei boquiaberta e ele riu alto.
‘Agora seu cabelo vai ficar com um cheirinho bom de pipoca e manteiga!’ Ele ria descontroladamente e eu comecei a dar tapas nele em todos os lugares que eu podia.
‘Te odeio! Te odeio! Te odeio!’ Eu falava e dava tapas nele que já estava todo encolhido e ainda assim ria. Peguei o braço dele e mordi com força.
‘AAAAAAAAI! Cara, sua mordida dói!’ Ele passou a mão pelo braço.
‘É a intenção!’ Falei dando língua. ‘O filme acabou!’ Apontei pra tv que estava passando os créditos.
‘Você me fez perder o final!’ Ele fez uma voz de criança e eu dei de ombros me levantando.
‘Bem feito!’ Ri e fui pra cozinha levando a bacia de pipoca vazia e os papéis de chocolate. ‘Me ajuda aí, ô inútil! Trás as latinhas!’ Falei alto e ele entrou na cozinha.
‘Você vai ver quem é o inútil!’ Ele falou rindo num tom ameaçador.
‘Ah, não! Nem vem com essa de correr atrás de mim!’ Ri e ele me deu um pedala.
Enquanto eu lavava algumas coisas que estavam na pia ele sentou na bancada e ficou me olhando.
‘Que é?’ Arqueei a sobrancelha já sentindo meu rosto arder.
‘Nada!’ Ele sorriu fofo e continuou me olhando.
‘Pára! Não gosto que fiquem me olhando!’ Falei sem graça e ele riu. ‘É sério!’ Joguei um pouco de espuma nele e acabou voando mais do que eu esperava.
‘Lua, não acredito!’ Ele desceu da bancada com espuma até no cabelo e eu comecei a rir. ‘Vai rindo, vai!’ Ele chegou perto de mim e passou espuma no meu nariz. Eu nem consegui xinga-lo de tanto que ria. Arthur pegou mais um monte de espuma e passou pelas minhas bochechas.
‘Não, Arthur!’ Afastei meu rosto rindo. Me encostei na bancada com a mão cheia de espuma tentando inutilmente limpar meu rosto. ‘Sai, não me suja mais!’ Falei me encolhendo quando Arthur chegou perto de mim.
‘Vem cá, bestona!’ Ele pegou meu rosto delicadamente e começou a passar um pano limpando.
‘Brigada!’ Falei sorrindo fraco.
Eu sentia ele passar o pano carinhosamente por meu rosto enquanto sua outra mão segurava em meu queixo me fazendo ficar com o rosto erguido e encarar seus olhos. Tive a impressão de sentir seu rosto cada vez mais próximo ao meu, e só consegui confirmar quando senti seu nariz tocar o meu.
Respirei fundo fechando os olhos e segundos depois senti sua boca encostar na minha. Botei minhas mãos cuidadosamente em volta de seu pescoço, enquanto ele me abraçava pela cintura me prensando mais contra a bancada. Sua língua passou pela minha boca pedindo permissão e eu a abri devagar sentindo novamente o gosto dele fazendo com que o velho formigamento percorresse meu corpo.
Arthur levantou um pouco o meu moletom e acariciou minhas costas me fazendo soltar um gemido baixinho. Eu brincava com seus cabelos ao mesmo tempo em que acariciava sua nuca e percebia ele sorrir.
Ficamos nos beijando por minutos e mais minutos, e em momento nenhum passamos disso, estávamos fazendo tudo devagar, sabíamos o que sentíamos um pelo outro e acima de tudo havia respeito entre a gente.
Me afastei lentamente sentindo ele morder levemente meu lábio inferior e sorri quando ele voltou a me beijar me impedindo de quebrar o beijo. Arthur levou uma das mãos até meu rosto e acariciou minha bochecha com o polegar, eu o puxei pelo cós da bermuda fazendo com que nossos corpos ficassem ainda mais colados, o que antes me parecia impossível.
Ele novamente mordeu em meu lábio, depois me deu um selinho e foi beijando minha bochecha até chegar um meu ouvido e dar uma mordidinha fraca. Eu o abracei forte e ele encostou a testa em meu ombro.
‘Senti sua falta.’ Falei sincera e ele suspirou. Acariciei seu cabelo até ele levantar o rosto e me olhar sorrindo fraco.
‘Você é linda!’ Ele falou botando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha me fazendo sorrir boba.
‘Você que é o cara mais incrível do mundo. Eu devo ter feito alguma coisa muito boa pra merecer você, se é que eu realmente mereço.’ Abaixei um pouco minha cabeça e ele riu baixinho. ‘Você faz minha vida valer a pena, Arthur. Você e o Diego!’ Mordi o lábio olhando em seus olhos e ele sorriu.
Os olhos dele brilhavam de um jeito diferente que me vez ficar os encarando e não querer nunca mais parar.
‘Brigada por ter entrado na minha vida, e não ter nunca desistido de mim!’ Ele segurou meu rosto com as duas mãos e eu sorri. ‘Você é a melhor coisa que já me aconteceu!’ Ele me deu um selinho demorado e nós ficamos nos encarando durante longos minutos.
Olhar nos olhos dele era como entrar em outra dimensão, era como descansar em um lugar calmo e tranqüilo onde a gente era feliz e nada mais importava. Eu me sentia presa e ao mesmo tempo segura quando encarava seus olhos, mesmo que eu nunca soubesse o que Arthur estava pensando, eu sentia uma onda de sentimentos me invadir, eu percebia que era ali o lugar que eu pertencia e que nada nem ninguém mudaria aquilo. Ele sorriu fraco como se estivesse lendo meus pensamentos e eu acordei dos meus devaneios percorrendo meus olhos por todo seu rosto.
Arthur passou o nariz no meu e depois por minha bochecha me fazendo rir baixinho. Eu tentava entender os sentimentos de dele por mim através de seus gestos e suas palavras, e por mais que eu tentasse encontrar alguma palavra que pudesse definir tudo aquilo, apenas uma martelava em minha cabeça: amor.
Ele afastou o rosto do meu e me analisou por alguns segundos, foi exatamente como se ele soubesse o que eu tinha pensando. "Será que eu pensei alto demais?" pensei sentindo meu coração gelar.
'Eu queria saber o que você pensa quando fica assim calada demais.' Arthur falou rindo e eu senti um alivio percorrer meu corpo.
'Nada demais.' Dei de ombros desviando de seu olhar, eu me sentia tão vulnerável à ele que ficava com medo dele conseguir adivinhar meus pensamentos só olhando em meus olhos. 'Só tentando entender.' Falei mais baixo e ele arqueou a sobrancelha.
'Entender o quê?'
'Eu mesma.' O olhei novamente. 'E você também, e tudo isso.' Arthur me encarou por um breve momento e depois desviou o olhar para um ponto qualquer na parede da cozinha.
O abracei pela cintura como se tivesse medo que a qualquer momento ele fugisse e senti seus braços em volta de mim também. Ele suspirou fraco, mas não respondeu nada, senti vontade de perguntar o que ele estava pensando, mas mordi meu lábio pra controlar minha ansiedade.
'Sabe...' Ele me olhou e pensou por alguns segundos. 'Eu acho que já desisti de entender faz tempo.' Sua voz saiu baixa e eu nem tive tempo pra pensar no que ele tinha acabado de dizer, seus lábios já estavam novamente colados nos meus enquanto seus braços me apertavam contra si.
Senti Arthur me puxar fazendo com que eu e desencostasse da bancada e calmamente ele foi me empurrando pra fora da cozinha. Quando nós encostamos no sofá, ele fez com que eu deitasse me segurando pela cintura e depois deitou por cima de mim voltando a me beijar. De tempos em tempos sentia seus dentes puxarem levemente meu lábio inferior me fazendo soltar um gemido baixo.
Eu sabia que Diego poderia aparecer por ali a qualquer momento, mas meu corpo implorava pelo dele. Arthur encaixou uma de suas pernas entre as minhas e segurou forte em minha coxa descendo os beijos pra meu pescoço enquanto minhas mãos desceram até a barra de sua camisa e eu a puxei desajeitadamente pra cima jogando-a em um canto qualquer da sala. Menos de trinta segundos depois a minha camisa também foi jogada em algum canto da sala. Suas mãos passearam livremente por meu corpo e eu o puxei levemente pelo cabelo fazendo com que nossos lábios se encontrassem novamente.
Minha calça de moletom provavelmente seria a próxima peça a voar pela sala, se o barulho do telefone não tivesse preenchido o silêncio. Arthur não pareceu se importar já que continuou me beijando. Um toque. Dois toques. Três toques. Quatro toques. Cinco toques. Seis toques. Secretária eletrônica.
"Arthur, seu merda, celular existe pra quê? Larga de ser inútil e responde minhas ligações, eu preciso falar com você, me liga quando puder!"
A voz de Micael ecoou pela sala e Arthur encostou a testa em meu ombro com a respiração ofegante.
'Merda.' Ele reclamou e eu bufei xingando até a milésima geração do Micael.
'Vai logo, Arthur.' Falei irritada o empurrando pelo peito e ele me olhou por alguns segundos.
'Maldito Micael.' Ele me deu um selinho rápido e se levantou pegando o telefone e indo pro quarto de hóspede.
Fiquei alguns minutos na mesma posição tentando fazer minha respiração voltar ao normal e quando consegui me levantei vestindo minha blusa e peguei a de Arthur que tinha ido parar em cima da televisão.
Quando cheguei na porta do quarto dele o observei caminhar de um lado para o outro enquanto escutava Micael falar qualquer coisa, joguei a camisa pra ele que afastou um pouco o telefone do ouvido e sussurrou um "desculpe" seguido de mais um dos seus sorrisos fofos. Sorri fraco e me virei em direção ao meu quarto imaginando se aquele telefonema de Micael não tinha realmente evitado que eu fizesse uma besteira.
'Maldita Perola.' Bufei fazendo careta e fechei a porta do quarto me jogando na cama em seguida.
Ouvi um barulho vindo do quarto de Diego e fui até lá encontrando ele e Kat brincando no chão.
‘Bom dia, Kat!’ Sorri educadamente e ela retribuiu. ‘Hey, bom dia meu príncipe!’ Peguei Diego no colo beijando sua bochecha.
‘Bom dia, mãe!’ Ele sorriu com as mãos em minha bochecha e eu ri.
‘Kat, brigada por ter passado a noite aqui com o Diego. Hoje eu vou ficar em casa, então você pode ir!’
‘Brigada, Lu!’ Ela sorriu e saiu do quarto.
Fiquei algum tempo brincando com Diego, mas senti meu estomago roncar e resolvi ir até a cozinha comer alguma coisa. Quando passei pelo quarto de hospedes vi que a porta estava aberta e Arthur não estava lá. Caminhei lentamente até a cozinha e o encontrei tomando café com o olhar completamente perdido.
‘Yey! Bom dia!’ Falei sorrindo fraco e ele me olhou ainda um pouco perdido. Ele devia estar em outra galáxia, só pode.
‘Boa tarde.’ Ele também sorriu apontando o relógio que já passava do meio dia.
Botei um pouco de café na xícara e me sentei ao seu lado na mesa da cozinha.
‘A Sophia saiu um pouco antes de você acordar.’ Ele cortou o silencio e eu concordei balançando a cabeça. ‘O que aconteceu... ontem?’ Ele perguntou um pouco receoso e eu lembrei de James.
‘Nada.’ Falei baixo. ‘Só não tava me sentindo muito bem.’ Encarei seus olhos que tinham um pouco de preocupação e sorri.
‘Preciso te ensinar a beber, Lu!’ Arthur fez uma cara convencida e eu dei língua.
‘Há-há, palhaço!’ Ri. ‘Vai sair hoje?’ Desviei o assunto.
‘Nop, to cansado.’ Ele deu de ombros e eu concordei silenciosamente.
Diego apareceu na cozinha e Arthur o carregou colocando-o em cima da bancada.
‘Tá com fome, campeão?’ Diego concordou freneticamente e eu ri.
‘Esfomeado igual ao pai.’ Falei baixo.
‘Eu ouvi isso, Lua!’ Arthur falou num tom ameaçador me fazendo rir alto. Ele voltou a sentar ao meu lado, dessa vez com Diego no colo e o ajudou a comer um sanduíche. ‘E você, vai sair hoje?’ Ele me olhou e eu neguei com a cabeça.
‘Não to com muito saco.’ Dei de ombros.
‘Quer fazer alguma coisa?’ Ele sorriu e eu tive que me controlar pra não escancarar um sorriso maior que a minha cara.
‘Defina alguma coisa!’ Falei rindo.
‘Hm, ver filmes idiotas e comer a tarde toda!’ Ele fez uma cara de criança e eu balancei a cabeça sorrindo.
‘Ai céus, eu convivo com duas crianças.’ Ele deu língua. ‘Besteirol americano com pipoca e chocolate?’ Falei sugestiva e Arthur abriu um sorriso imenso.
‘Isso!’ Ele bateu a mão na mesa e eu ri.
‘A gente tem que ir na locadora.’ Falei vagamente e ele concordou. ‘Vou tomar banho.’ Mandei beijos no ar e corri pro quarto.
Tomei um banho rápido e quando voltei pro quarto Arthur e Diego estavam brincando em cima da cama.
‘Yey, demorei demais foi?’ Perguntei olhando o relógio e Arthur sorriu.
‘Nop, eu já tinha tomado banho, só vesti uma roupa!’
‘Ok, deixa eu pegar o moletom.’ Falei pegando novamente o moletom grande de Arthur e vestindo.
‘O meu moletom por sinal!’ Ele sorriu convencido e eu dei língua.
‘Ele é grande e quentinho!’ Fiz uma voz boba.
‘E tem meu perfume.’ Ele piscou e eu quis enfiar minha cabeça em algum buraco.
‘Besta.’ Dei língua sentindo meu rosto queimar e imaginando o quão vermelha eu estava.
‘Adoro te deixar sem graça.’ Ele deu um risadinha e eu mandei o dedo do meio.
‘Você se acha muito, Arthur Aguiar. Sua moral não tá tão alta assim!’ Falei já no hall do lado de fora do apartamento e ele arqueou a sobrancelha. ‘Pois é!’ Falei dando de ombros, mas sorri.
‘Então tá, Lu. Você finge que me engana e eu finjo que acredito.’ Ele sorriu.
‘Ah, vai pra merda, Arthur!’ Dei um soquinho em seu braço e ele riu alto.
Fomos o curto caminho até a locadora em silêncio, só se ouvia o barulho da chuva forte batendo no carro.
‘Preparada pra tomar chuva?’ Arthur sorriu e eu olhei em duvida pra Diego. ‘Vamos tomar chuva?’ Ele também olhou pra Diego que sorriu.
Arthur parou o carro o mais próximo possível da porta da locadora. Ele pegou Diego no colo e contou até três pra sairmos do carro correndo.
‘Chuva!’ Diego falou sorrindo quando entramos na loja.
Os poucos segundos que tomamos chuva foram suficientes pra molhar completamente nossos cabelos. Arthur chegou perto de mim e sacudiu a cabeça.
‘AAAI, idiota!’ Comecei a dar tapinhas no braço dele que se defendia rindo com Diego no colo. ‘Vai ter troco!’ Falei tentando ficar séria e ele me deu um pedala fraco.
‘Vamos logo pegar o filme!’ Ele botou Diego no chão que correu pra um pequeno espaço que era reservado pra crianças. Arthur passou um braço por meus ombros e me puxou até a parte de filmes de comédia. ‘American Pie?’ Ele pegou um dvd e eu fiz careta.
‘Nop, já enjoou.’
‘É, também acho.’ Ele sorriu e botou novamente o dvd na estante. Ficamos olhando a imensidão de filmes na nossa frente por alguns instantes. ‘Procurando Nemo!’ Arthur quase gritou.
‘Como se não bastasse suas Tartarugas Ninjas, né?’ Falei rindo.
‘Ah, nem vem, Lu. Eu sei que você também adora as Tartarugas Ninjas!’ Ele sorriu bobo e eu dei língua.
‘Ok, só porque eu gosto da Dorie!’ Falei pegando o dvd da mão dele. ‘Agora escolhe outro que não seja desenho animado.’ Falei com uma cara pensativa.
‘Opa, já sei!’ Arthur deu um risinho safado e quando olhei ele estava indo pra uma parte reservada com uma plaquinha “Proibida entrada de menores de 18 anos”.
‘Arthur, não!’ Falei baixo controlando meu riso. Ele sorriu pra mim e entrou na área de filmes pornográficos. ‘Arthur Aguiar, sai daí!’ Falei num tom ameaçador sem entrar na área reservada. Ele fingiu que não me ouviu e continuou olhando os filmes fazendo caras e bocas.
‘Olha esse!’ Ele deu um sorriso safado e me mostrou um dvd com duas mulheres nuas se beijando.
‘Aguiar!’ Fiz careta e tentei o puxar pra fora daquela área.
‘Uuuh, esse aqui é melhor!’ Dessa vez ele mostrou um com três mulheres e um homem na cama, todos pelados.
‘Arthur, seu idiota!’ Afastei o braço dele e fechei os olhos. ‘Larga de ser pervertido!!’ Dei um soquinho no braço dele que ria da minha cara. ‘Cara, se alguém me vir aqui, eu juro que te mato!’ Falei olhando em volta, mas a locadora estava vazia.
‘Qual o problema? Somos um casal em busca de novas aventuras!’ Ele deu de ombros.
‘Só se for você em busca de baixarias né? Eu não estou nem um pouco interessada nessas pornografias.’ Balancei a cabeça e ele riu. Cruzei os braços e fiquei o observando olhar algumas capas de dvd’s e rir.
‘Pronto?’ Perguntei quando ele me olhou, já fazia uns 10 minutos que estávamos ali.
‘Ok, ok, você venceu!’ Ele caminhou até mim. ‘Duuuude, como você é chata!’ Ele me abraçou forte fazendo com que meu rosto ficasse encostado em seu peito.
‘Cara, porque eu tinha que arranjar um pai pervertido pro meu filho?’ Falei rindo o olhando enquanto ele ainda me abraçava forte e caminhava novamente para a parte de filmes de comédia, me fazendo andar de costas.
‘Você preferia um nerd que fala 10 línguas diferentes, passa o dia lendo livros e fazendo experiências medonhas num laboratório?’ Ele arqueou a sobrancelha me fazendo rir.
‘Ew, não!’ Me soltei dele fazendo careta.
‘Então não reclama.’ Dei língua e ele sorriu.
‘Qual vai ser?’ Perguntei parada em frente e uma estante cheia de dvd’s. Ele suspirou e me abraçou por trás colocando as mãos dentro do bolso do meu casaco.
‘Hm, vejamos...’ Ele olhava atentamente e eu sentia sua respiração bater em meu ouvido fazendo minhas pernas ficarem moles. ‘Todo Mundo em Pânico já encheu o saco. Entrando Numa Fria?’ Ele me olhou em meio a uma careta e eu neguei balançando a cabeça.
‘Tá Todo Mundo Louco!’ Falei alto pegando o dvd. ‘Nossa, eu amo esse filme. É com Mr. Bean!’ Olhei sorrindo pra Arthur.
‘Você já assistiu mais de três vezes?’ Ele perguntou olhando a capa.
‘Mais de dez.’ Fiz uma cara sapeca e ele riu.
‘Tem certeza que quer ver de novo?’
‘Se você quiser, eu vejo.’ Dei de ombros sorrindo.
‘Ok! Pela sua animação ele deve ser bom!’ Eu confirmei sorrindo.
‘Mãããe, Bob Esponja.’ Diego levantou a mão com o dvd do Bob Esponja. ‘Quero ver!’ Ele sorriu e eu peguei o dvd.
‘Oba! Bob Esponja!’ Arthur olhou o dvd sorrindo eu bufei dando risada. Às vezes Arthur consegue ser pior que o Diego. ‘Vamos?’ Ele pegou os dvd’s da minha mão, eu sorri confirmando e peguei Diego no colo.
‘A chuva tá fraca agora!’ Falei olhando pra fora da loja.
As ruas estavam um pouco engarrafadas então demoramos um pouco para chegar novamente em casa. Diego correu pra ligar a televisão e falou que queria ver Bob Esponja logo.
‘Arthur, coloca pra ele enquanto eu troco de roupa!’ Ele confirmou e eu sorri agradecida. Fui para o quarto e troquei a calça jeans pela mesma calça de moletom que eu vestia antes de sair. Apesar de a chuva estar fraca, o frio ainda era cortante. ‘Alguém quer pipoca?’ Falei indo em direção a cozinha e os dois levantaram o braço sem tirar os olhos da tv.
Fiquei sentada no sofá observando a empolgação de Diego e Arthur com o filme, às vezes parecia que eles iam entrar na tela. Eu assisti apenas algumas partes, alternava minha atenção entre uma revista e a televisão.
‘Acabou!’ Diego falou fazendo bico e eu o puxei mordendo sua bochecha e fazendo cócegas. ‘Páára, mãe!’ Ele riu.
‘Quer ver filme com a mamãe e o papai?’ Perguntei parando de fazer cócegas e ele mexeu a cabeça confirmando. ‘Vamos ver Nemo!’ Sorri pra Arthur e ele concordou botando o filme.
Diego sentou entre mim e Arthur, e pra variar no meio do filme senti um peso no meu braço, quando virei minha cabeça vi Diego dormindo profundamente.
‘Arthur!’ O chamei rindo e apontei Diego praticamente babando em meu braço. Ele riu e deu pause no filme.
‘Vou levar ele pro quarto!’ Arthur se levantou e pegou Diego cuidadosamente no colo. Minutos depois ele voltou e sentou ao meu lado no sofá.
‘Ele sempre dorme no meio dos filmes.’ Falei rindo.
‘Não quero mais ver Nemo!’ Ele me olhou e eu rolei os olhos. ‘Quer fazer mais pipoca?’ Ele sorriu.
‘Ai céus, você me dá mais trabalho que o Diego!’ Me levantei e fui até a cozinha enquanto ele ria. Peguei mais um saco de pipoca e botei no microondas, enquanto esperava separei algumas barrinhas de Kit Kat e peguei duas latas de Coca.
‘Kit Kat!’ Os olhos de Arthur brilharam quando ele entrou na cozinha.
‘São meus!’ Peguei as barrinhas que estava em cima da mesa e as abracei. Olhei pra Arthur que estava fazendo bico, confesso que quase derreti quando ele fez aquela carinha de menor abandonado pedindo esmola na rua. ‘Tá, te dou uma!’ Estendi uma barrinha pra ele.
‘Só uma? Que egoísta!’ Ele pegou a barrinha da minha mão reclamando. Arthur fez menção de se aproximar pra pegar as outras barrinhas da minha mão e eu me afastei. ‘É melhor começar a correr!’ Ele deu um risinho.
‘NÃO! De novo não, nem vem!’ Falei alto rindo e ele arqueou a sobrancelha. ‘Por favooor!’ Fiz voz de criança e ele balançou a cabeça negando. ‘Ai, merda!’ Falei antes de começar a correr e ele vir atrás.
Contornei o sofá da sala e voltei pra cozinha. Eu mal enxergava as coisas na minha frente de tanto que eu ria, enquanto Arthur falava coisas ameaçadoras como “vou comer todos” ou“você vai perder”.
‘Há!’ Ele conseguiu me agarrar pela cintura e me levantou no ar.
‘Arthur, me solta! Deixa meus chocolates em paz!’ Falei rindo fazendo-o rir também. Ele me abraçou por trás tentando pegar os chocolates enquanto eu me encolhia fugindo das mãos dele. ‘São meeeus!’ Eu ria mais do que falava, meus olhos já estavam cheios de lágrimas.
‘Já sei!’ Ele gritou e na mesma hora me deu uma rasteira me derrubando no chão e caindo em cima de mim, por sorte eu consegui cair de joelhos, senão teria esmagado todos os chocolates.
‘Não vai pegar!’ Falei tentando morder seu braço que ainda tentavam alcançar os chocolates.
‘Aaaai!’ Ele gritou rindo quando sentiu meus dentes em sua pele. ‘Agora vai ter troco!’ Num movimento rápido ele conseguiu pegar quase todos os chocolates de minha mão.
‘Te odeio, Aguiar!’ Falei deitando no chão ainda tentando parar de rir.
‘Há, eu sou foda!’ Ele levantou as mãos com chocolates e eu dei língua. ‘A pipoca!’ Ele se levantou rápido e correu pra cozinha.
Eu continuei deitada no chão observando o teto com minha respiração descompassada.
‘Lu, me ajuda aqui!’ Arthur gritou da cozinha e eu me levantei para ajudá-lo.
Minutos depois já estávamos os dois sentados no chão da sala com um imenso balde de pipoca e chocolates espalhados pelo chão.
Arthur toda hora tinha uma crise de risos com o filme, e eu apesar de já ter visto incontáveis vezes também acaba rindo, às vezes mais por causa da risada dele, do que pelo que acontecia no filme.
‘Minha barriga tá doendo de tanto rir!’ Ele falou já quase no final do filme.
‘Sua barriga tá doendo é de tanto comer, Arthur!’ Ri da careta que ele fez.
Voltei a prestar atenção no filme, até uma pipoca voar em minha direção. Dei um risinho e joguei uma pipoca em Arthur também. Ele riu baixo e de novo jogou outra pipoca em mim. Parecíamos duas crianças.
‘Pára, bestão!’ Falei rindo. Ele ao invés de parar encheu a mão de pipoca e jogou na minha cabeça. ‘Aguiar! Não acredito que você fez isso!’ O olhei boquiaberta e ele riu alto.
‘Agora seu cabelo vai ficar com um cheirinho bom de pipoca e manteiga!’ Ele ria descontroladamente e eu comecei a dar tapas nele em todos os lugares que eu podia.
‘Te odeio! Te odeio! Te odeio!’ Eu falava e dava tapas nele que já estava todo encolhido e ainda assim ria. Peguei o braço dele e mordi com força.
‘AAAAAAAAI! Cara, sua mordida dói!’ Ele passou a mão pelo braço.
‘É a intenção!’ Falei dando língua. ‘O filme acabou!’ Apontei pra tv que estava passando os créditos.
‘Você me fez perder o final!’ Ele fez uma voz de criança e eu dei de ombros me levantando.
‘Bem feito!’ Ri e fui pra cozinha levando a bacia de pipoca vazia e os papéis de chocolate. ‘Me ajuda aí, ô inútil! Trás as latinhas!’ Falei alto e ele entrou na cozinha.
‘Você vai ver quem é o inútil!’ Ele falou rindo num tom ameaçador.
‘Ah, não! Nem vem com essa de correr atrás de mim!’ Ri e ele me deu um pedala.
Enquanto eu lavava algumas coisas que estavam na pia ele sentou na bancada e ficou me olhando.
‘Que é?’ Arqueei a sobrancelha já sentindo meu rosto arder.
‘Nada!’ Ele sorriu fofo e continuou me olhando.
‘Pára! Não gosto que fiquem me olhando!’ Falei sem graça e ele riu. ‘É sério!’ Joguei um pouco de espuma nele e acabou voando mais do que eu esperava.
‘Lua, não acredito!’ Ele desceu da bancada com espuma até no cabelo e eu comecei a rir. ‘Vai rindo, vai!’ Ele chegou perto de mim e passou espuma no meu nariz. Eu nem consegui xinga-lo de tanto que ria. Arthur pegou mais um monte de espuma e passou pelas minhas bochechas.
‘Não, Arthur!’ Afastei meu rosto rindo. Me encostei na bancada com a mão cheia de espuma tentando inutilmente limpar meu rosto. ‘Sai, não me suja mais!’ Falei me encolhendo quando Arthur chegou perto de mim.
‘Vem cá, bestona!’ Ele pegou meu rosto delicadamente e começou a passar um pano limpando.
‘Brigada!’ Falei sorrindo fraco.
Eu sentia ele passar o pano carinhosamente por meu rosto enquanto sua outra mão segurava em meu queixo me fazendo ficar com o rosto erguido e encarar seus olhos. Tive a impressão de sentir seu rosto cada vez mais próximo ao meu, e só consegui confirmar quando senti seu nariz tocar o meu.
Respirei fundo fechando os olhos e segundos depois senti sua boca encostar na minha. Botei minhas mãos cuidadosamente em volta de seu pescoço, enquanto ele me abraçava pela cintura me prensando mais contra a bancada. Sua língua passou pela minha boca pedindo permissão e eu a abri devagar sentindo novamente o gosto dele fazendo com que o velho formigamento percorresse meu corpo.
Arthur levantou um pouco o meu moletom e acariciou minhas costas me fazendo soltar um gemido baixinho. Eu brincava com seus cabelos ao mesmo tempo em que acariciava sua nuca e percebia ele sorrir.
Ficamos nos beijando por minutos e mais minutos, e em momento nenhum passamos disso, estávamos fazendo tudo devagar, sabíamos o que sentíamos um pelo outro e acima de tudo havia respeito entre a gente.
Me afastei lentamente sentindo ele morder levemente meu lábio inferior e sorri quando ele voltou a me beijar me impedindo de quebrar o beijo. Arthur levou uma das mãos até meu rosto e acariciou minha bochecha com o polegar, eu o puxei pelo cós da bermuda fazendo com que nossos corpos ficassem ainda mais colados, o que antes me parecia impossível.
Ele novamente mordeu em meu lábio, depois me deu um selinho e foi beijando minha bochecha até chegar um meu ouvido e dar uma mordidinha fraca. Eu o abracei forte e ele encostou a testa em meu ombro.
‘Senti sua falta.’ Falei sincera e ele suspirou. Acariciei seu cabelo até ele levantar o rosto e me olhar sorrindo fraco.
‘Você é linda!’ Ele falou botando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha me fazendo sorrir boba.
‘Você que é o cara mais incrível do mundo. Eu devo ter feito alguma coisa muito boa pra merecer você, se é que eu realmente mereço.’ Abaixei um pouco minha cabeça e ele riu baixinho. ‘Você faz minha vida valer a pena, Arthur. Você e o Diego!’ Mordi o lábio olhando em seus olhos e ele sorriu.
Os olhos dele brilhavam de um jeito diferente que me vez ficar os encarando e não querer nunca mais parar.
‘Brigada por ter entrado na minha vida, e não ter nunca desistido de mim!’ Ele segurou meu rosto com as duas mãos e eu sorri. ‘Você é a melhor coisa que já me aconteceu!’ Ele me deu um selinho demorado e nós ficamos nos encarando durante longos minutos.
Olhar nos olhos dele era como entrar em outra dimensão, era como descansar em um lugar calmo e tranqüilo onde a gente era feliz e nada mais importava. Eu me sentia presa e ao mesmo tempo segura quando encarava seus olhos, mesmo que eu nunca soubesse o que Arthur estava pensando, eu sentia uma onda de sentimentos me invadir, eu percebia que era ali o lugar que eu pertencia e que nada nem ninguém mudaria aquilo. Ele sorriu fraco como se estivesse lendo meus pensamentos e eu acordei dos meus devaneios percorrendo meus olhos por todo seu rosto.
Arthur passou o nariz no meu e depois por minha bochecha me fazendo rir baixinho. Eu tentava entender os sentimentos de dele por mim através de seus gestos e suas palavras, e por mais que eu tentasse encontrar alguma palavra que pudesse definir tudo aquilo, apenas uma martelava em minha cabeça: amor.
Ele afastou o rosto do meu e me analisou por alguns segundos, foi exatamente como se ele soubesse o que eu tinha pensando. "Será que eu pensei alto demais?" pensei sentindo meu coração gelar.
'Eu queria saber o que você pensa quando fica assim calada demais.' Arthur falou rindo e eu senti um alivio percorrer meu corpo.
'Nada demais.' Dei de ombros desviando de seu olhar, eu me sentia tão vulnerável à ele que ficava com medo dele conseguir adivinhar meus pensamentos só olhando em meus olhos. 'Só tentando entender.' Falei mais baixo e ele arqueou a sobrancelha.
'Entender o quê?'
'Eu mesma.' O olhei novamente. 'E você também, e tudo isso.' Arthur me encarou por um breve momento e depois desviou o olhar para um ponto qualquer na parede da cozinha.
O abracei pela cintura como se tivesse medo que a qualquer momento ele fugisse e senti seus braços em volta de mim também. Ele suspirou fraco, mas não respondeu nada, senti vontade de perguntar o que ele estava pensando, mas mordi meu lábio pra controlar minha ansiedade.
'Sabe...' Ele me olhou e pensou por alguns segundos. 'Eu acho que já desisti de entender faz tempo.' Sua voz saiu baixa e eu nem tive tempo pra pensar no que ele tinha acabado de dizer, seus lábios já estavam novamente colados nos meus enquanto seus braços me apertavam contra si.
Senti Arthur me puxar fazendo com que eu e desencostasse da bancada e calmamente ele foi me empurrando pra fora da cozinha. Quando nós encostamos no sofá, ele fez com que eu deitasse me segurando pela cintura e depois deitou por cima de mim voltando a me beijar. De tempos em tempos sentia seus dentes puxarem levemente meu lábio inferior me fazendo soltar um gemido baixo.
Eu sabia que Diego poderia aparecer por ali a qualquer momento, mas meu corpo implorava pelo dele. Arthur encaixou uma de suas pernas entre as minhas e segurou forte em minha coxa descendo os beijos pra meu pescoço enquanto minhas mãos desceram até a barra de sua camisa e eu a puxei desajeitadamente pra cima jogando-a em um canto qualquer da sala. Menos de trinta segundos depois a minha camisa também foi jogada em algum canto da sala. Suas mãos passearam livremente por meu corpo e eu o puxei levemente pelo cabelo fazendo com que nossos lábios se encontrassem novamente.
Minha calça de moletom provavelmente seria a próxima peça a voar pela sala, se o barulho do telefone não tivesse preenchido o silêncio. Arthur não pareceu se importar já que continuou me beijando. Um toque. Dois toques. Três toques. Quatro toques. Cinco toques. Seis toques. Secretária eletrônica.
"Arthur, seu merda, celular existe pra quê? Larga de ser inútil e responde minhas ligações, eu preciso falar com você, me liga quando puder!"
A voz de Micael ecoou pela sala e Arthur encostou a testa em meu ombro com a respiração ofegante.
'Merda.' Ele reclamou e eu bufei xingando até a milésima geração do Micael.
'Vai logo, Arthur.' Falei irritada o empurrando pelo peito e ele me olhou por alguns segundos.
'Maldito Micael.' Ele me deu um selinho rápido e se levantou pegando o telefone e indo pro quarto de hóspede.
Fiquei alguns minutos na mesma posição tentando fazer minha respiração voltar ao normal e quando consegui me levantei vestindo minha blusa e peguei a de Arthur que tinha ido parar em cima da televisão.
Quando cheguei na porta do quarto dele o observei caminhar de um lado para o outro enquanto escutava Micael falar qualquer coisa, joguei a camisa pra ele que afastou um pouco o telefone do ouvido e sussurrou um "desculpe" seguido de mais um dos seus sorrisos fofos. Sorri fraco e me virei em direção ao meu quarto imaginando se aquele telefonema de Micael não tinha realmente evitado que eu fizesse uma besteira.
'Maldita Perola.' Bufei fazendo careta e fechei a porta do quarto me jogando na cama em seguida.
27º Capitulo - Addicted
Acordei na manhã seguinte, sentindo uma respiração bater pesadamente em meu pescoço. Abri os olhos sem me mexer, e então senti um peso em minha cintura, olhei cuidadosamente pra baixo e vi a mão de Arthur entrelaçada na minha. Me virei um pouco ficando de barriga pra cima de modo que pudesse encarar o teto, Arthur não fez nenhuma menção de ter acordado, eu sorri sozinha e pousei minha mão livre delicadamente em sua nuca e fiquei acariciando seu cabelo.
A única coisa que se ouvia era o tic tac do relógio na cômoda, imaginei que devia ser cedo, já que Diego ainda não tinha acordado. Fiquei alguns instantes lembrando da noite anterior, e todos os meus pensamentos me levaram apenas pra uma pessoa... Anne.
Afinal, ela e Arthur estavam ficando e ainda assim ele falou aquilo tudo pra mim. Suspirei baixinho tentando adivinhar o que viria a seguir. Eu sabia que Arthur não tinha falado com ela no dia anterior, pelo menos não depois de eu estar acordada. Será que eles tinham brigado na festa ou alguma coisa do tipo? Resolvi não me animar demais, eu pude ver na festa que Arthur parecia realmente gostar dela, mesmo que fosse pouco comparado ao que ele sentia por mim (ou não), ele gostava dela, e eu sabia que ele a respeitaria.
Ouvi um risinho baixo e quando virei meu rosto vi Arthur me encarando com uma expressão engraçada.
‘Que foi?’ Perguntei um pouco sem graça.
‘Você estava tão absorta em pensamentos que eu parei pra admirar.’ Ele deu de ombros. Eu abri a boca pra falar alguma coisa, mas não emiti som algum. Voltei a encarar o teto enquanto sentia o polegar de Arthur passeando pelas costas da minha mão.
‘Eu senti falta de dormir sentindo o perfume do seu cabelo.’ Ele admitiu antes mesmo que eu pudesse perguntar. Eu reprimi um sorriso e apenas continuei encarando o teto.
‘Você sabe o que está fazendo, certo?’ Virei um pouco meu rosto podendo encarar seus olhos que expressavam duvida. ‘Digo, falando essas coisas pra mim.’ Ele abriu um pequeno sorriso no canto da boca e eu continuei o encarando séria.
‘Espero que sim.’ Ele falou baixo e eu concordei balançando a cabeça.
Os minutos que permanecemos em silêncio pareceram horas sem fim. Agora além do tic tac do relógio, eu podia ouvir sua respiração batendo constantemente em meu ouvido. Pensei em citar delicadamente alguma coisa sobre a Anne, mas nenhuma desculpa convincente surgiu em minha cabeça.
‘Hoje é domingo.’ Ele falou num tom de voz calmo e ao mesmo tempo deixando transparecer seu incomodo por causa do silêncio. Eu concordei balançando a cabeça sem olhá-lo. ‘Quer sair, fazer alguma coisa?’ Ele manteve a voz calma e eu suspirei.
‘Talvez.’ Dei de ombros, um pouco mais indiferente do que eu realmente estava. Senti seu olhar em meu rosto, me analisando atentamente e não ousei virar para encará-lo. De alguma forma, eu sentia o impacto das palavras que trocamos no dia anterior, e aquilo me deixava sem reação.
‘Você já pensou em ter dividir alguém que você ama muito, com outra pessoa?’ Falei me assustando com a naturalidade com que minhas palavras saíram. Eu estava me referindo à Anne, mas tinha certeza que ele não iria entender tão rápido.
‘Hm.’ Ele pareceu pensar por alguns instantes. ‘Provavelmente não.’ Respondeu num sussurro. Eu me virei pra encará-lo, mas seu rosto estava um pouco abaixado e ele parecia encarar nossas mãos ainda entrelaçadas.
‘Dói só de pensar.’ Eu admiti falando tão baixo quanto ele. Ele levantou os olhos encontrando os meus e ficamos nos encarando em silêncio.
Eu amava encarar os olhos de Arthur, apesar de eu raramente conseguir saber o que ele estava pensando ou sentindo, eu sempre podia ver sua inocência quando os encarava. Apesar de seus quase vinte e um anos, e de todas as indecências que ele vê, pensa e faz, é só olhar nos olhos dele para perceber que ele ainda é como uma criança. É como se eu pudesse ver o Diego através de seus olhos.
‘Não é como se a culpa fosse só minha.’ Ele finalmente falou num tom de defesa e eu imaginei se ele tinha entendido sobre o que eu estava falando.
‘Eu sei.’ Mordi meu lábio virando meu rosto para o outro lado já um pouco perturbada com os olhos de Arthur. O ouvi suspirar pesadamente e soltar delicadamente minha mão. Encarei isso como uma indireta para que encerrássemos o assunto permaneci calada encarando a parede ao meu lado.
‘O silêncio é um barulho assustador.’ Ele falou quando o silêncio já tinha se tornado mais aterrorizante que qualquer barulho estrondoso.
Eu ri levemente e me levantei sentindo minha cabeça pesar um pouco. Sentei na beirada da cama e abracei minhas pernas encostando minha testa em meus joelhos. Suspirei tentando fazer com que o maldito perfume de Arthur parasse de me intoxicar, mas acabei levantando quando percebi que não estava dando resultado.
Entrei no banheiro fechando a porta atrás de mim e encarei meu reflexo no espelho. Meus cabelos estavam um pouco bagunçados, mas pelo menos não havia olheiras ou qualquer sinal de cansaço em meu rosto. Penteei meus cabelos, prendendo-os num rabo de cavalo alto e escovei meus dentes lavando o rosto em seguida. Quando saí do quarto Arthur não estava mais lá, parei encarando a cama vazia e imaginei se ele já fazia alguma idéia de que eu sabia sobre Anne.
‘Bom dia, mamãe!’ Diego entrou no quarto sorrindo afastando meus pensamentos.
‘Bom dia, meu amor!’ O carreguei beijando sua bochecha.
‘Papai tá triste.’ Ele falou inocentemente pegando em meu rosto.
‘É? E porque você acha que o papai tá triste?’ Sentei na cama com ele em meu colo. Diego ficou algum tempo calado e depois voltou a me olhar.
‘Não sei, parece que tá triste.’ Ele fez bico e eu sorri fraco.
‘Então porque você não vai lá e dá um abração no papai, pra ele ficar feliz?’ O botei no chão enquanto ele concordava freneticamente, segundos dele ele saiu correndo do quarto. Suspirei pesadamente antes de me levantar e seguir o mesmo caminho que Diego.
Quando passei pelo quarto de Arthur, ele estava sentado na cama de costas pra porta com Diego em seu colo. Os dois riam enquanto Arthur parecia contar uma história boba pra ele fazendo sons engraçados com a boca. Encostei no batente da porta observando aquela cena, sem que eu percebesse o sorriso já estava estampado em meu rosto. Diego olhou pra mim e sorriu, chamando a atenção de Arthur, que olhou pra trás e me encarou sem sorrir. Nos olhamos por alguns segundos, então eu sorri fraco e saí do quarto ouvindo ele voltar a falar com o filho.
Caminhei lentamente até a sala e me sentei no sofá encarando a televisão desligada. Os dvd’s ainda estavam pelo sofá me fazendo novamente lembrar da noite anterior, um frio percorreu meu corpo quando eu lembrei das palavras de Arthur. Abracei minhas pernas e fechei os olhos inspirando ar gelado a minha volta.
‘Ei, não vale dormir de novo!’ Arthur apareceu na sala e eu o olhei, apesar de seu tom brincalhão, ele não sorria.
‘Não vou.’ Falei sorrindo fraco e só então ele sorriu da mesma maneira.
‘Quer tomar café?’ Ele perguntou já na cozinha.
‘Eu quero!’ Diego falou alto e nós rimos. Me levantei indo até a cozinha e sentei ao lado da cadeirinha de Diego.
‘Sanduíche ou torradas?’ Arthur perguntou botando algumas coisas na bancada.
‘Torradas!’ Eu e Diego respondemos juntos e sorrimos.
Arthur preparou algumas torradas e depois nós 3 comemos em silêncio. Eu não tinha muita coragem de olhar pro Arthur, e acho que o mesmo acontecia com ele, já que eu não sentia nenhum par de olhos me encarando.
‘Alguém quer ir ao shopping?’ Ele falou tão de repente que eu não consegui evitar um pequeno sobressalto. ‘Assustei tanto?’ Ele falou meio sem graça e eu sorri fraco colocando a mão no peito.
‘Shópi!!’ Diego animado como sempre começou a bater palminhas. Arthur me olhou como se questionasse a minha animação também, ou a falta dela.
‘Claro, shopping é sempre bom num domingo tedioso!’ Falei olhando para minha torrada, evitando o olhar de Arthur.
‘Arthur, amarra aqui atrás pra mim, por favor?’ Pedi segurando os cordões da blusa frente única preta que tinha vestido. Ele sorriu fraco e eu me virei de costas, quando ele segurou os cordões prendi meu cabelo num coque frouxo para que não o atrapalhasse.
Senti a respiração dele batendo em meu pescoço, enquanto suas mãos lentamente amarravam a blusa e tocavam minha pele me fazendo fechar os olhos.
Talvez fosse a falta de prática dele, mas nunca amarrar uma blusa demorou tanto, eu já sentia minhas pernas moles e minha respiração começava a ficar pesada. Quando ele finalmente pareceu terminar sua mão desceu calmamente por minhas costas, enquanto a outra segurou firme em minha cintura. Sua respiração pareceu bater com maior força em meu pescoço, e só então em senti seu nariz passeando calmamente por meu ombro, até seus lábios alcançarem meu pescoço.
Se minhas pernas já estavam moles antes, agora eu mal me agüentava em pé, mas suas duas mãos seguravam firmemente em minha cintura, mantendo meu equilíbrio. A boca dele roçava em meu pescoço e em minha nuca e eu sabia aonde aquilo ia dar, mas eu continuava imóvel, tentando manter minha sanidade e minha estabilidade. Arthur começou a beijar calmamente meu pescoço, até bem perto do meu ouvido.
‘MÃE!’ A voz de Diego vez com que nós dois pulássemos com a respiração completamente descompassada. Eu vi de relance Arthur passar a mão pelo cabelo fazendo uma careta e respirei fundo saindo do quarto.
‘Diga, meu amor!’ Falei com um sorriso fraco entrando no quarto de Diego.
‘Eu quero!’ Ele apontou uma miniatura das tartarugas ninjas que estava fora de seu alcance. Peguei o boneco e o entreguei.
‘Agora vai ficar lá no quarto enquanto a mamãe termina de se arrumar!’ O peguei pela mão enquanto ela ia brincando com a tartaruga ninja.
Deixei Diego brincando em minha cama, já arrumado e fui para meu banheiro. Prendi novamente meu cabelo em um rabo alto, passei uma maquiagem básica e clara e em menos de dez minutos já estava no sofá com Diego, esperando por Arthur.
‘To pronto!’ Ele apareceu com um sorriso um tanto quanto fofo na sala. Diego se levantou rápido e foi logo pra porta. Me levantei observando a roupa de Arthur; uma camisa pólo listrada, uma bermuda preta larga e um tênis branco. Sorri quase que inconscientemente.
‘Sua gola!’ Eu falei me aproximando e arrumando a gola da camisa que estava levantada. Ele sorriu quando eu terminei.
‘Vamos agora?’ Ele olhou de mim pra Diego que concordou freneticamente.
Saímos de casa em silêncio e assim seguimos até o shopping. Diego parecia que nunca tinha saído de casa, quase saiu correndo pela garagem do shopping, se Arthur não tivesse corrido e o segurado eu prefiro nem imaginar alguma tragédia que podia ter acontecido.
‘Diego, que maluquice é essa agora, filho?’ Falei com uma cara zangada e ele fez bico. ‘Não sai correndo assim tá?’ Dei um beijo em sua testa e ele concordou.
‘O que a gente veio fazer aqui mesmo?’ Arthur me olhou sorrindo de lado quando já estávamos caminhando pelo shopping.
‘Nem me olha com essa cara. A idéia foi sua, meu bem!’ Dei de ombros e ele riu.
‘Ok, vamos passear então!’ Ele pegou em minha mão enquanto com a outra ele segurava a mão de Diego.
‘Binquedo!’ Diego sorriu apontando pra uma enorme loja cheia de brinquedos.
‘Você entra e eu fico aqui fora esperando!’ Arthur riu e eu quase mandei dedo.
‘No way, Aguiar! Arque com as conseqüências agora!’ Falei empurrando ele pra dentro da loja.
‘Tigre!’ Diego apontou pra um enorme tigre de pelúcia e correu até a estante esticando o braço.
‘Aqui, príncipe!’ Sorri lhe entregando o tigre que era quase maior do que ele.
‘Será que aqui tem controle pro Xbox? O meu tá meio ruim!’ Arthur falou olhando em volta.
‘Eu acho que essas coisas tem no andar de cima.’ Falei apontando pra uma escada rolante.
‘Ok, vou lá ver!’ Ele sorriu e se afastou. Me agachei pra ficar do tamanho de Diego enquanto ele brincava com o tigre.
‘Bigode!’ Ele falou pegando no bigode do tigre de pelúcia e eu sorri. ‘Urso!’ Diego apontou pra um urso um pouco menor que o tigre e eu me levantei pra pegar.
‘Opa, desculpa!’ Falei quando me bati em alguém e me virei pra me desculpar.
‘Não tem problema!’ Uma morena falou simpática. ‘Lu?’ Ela me olhou em duvida e eu prendi a respiração por alguns segundos.
‘Hey, Anne!’ Tentei parecer um pouco animada, mas foi uma tentativa completamente frustrada já que minha voz saiu fraca e desanimada.
‘Que coincidência te encontrar aqui!’ Ela falou dando beijinhos em minhas bochechas. ‘Tudo bem?’ Ela sorriu e eu forcei um risinho.
‘Tudo bem sim!’ Falei e senti Diego puxar o urso que estava em minha mão.
‘Mãe, me dá!’ Ele falou me olhando e eu sorri lhe entregando o urso.
‘Esse é o Diego?’ Anne falou sorrindo. Pelo visto ela sabia mais do que eu imaginava sobre o Arthur.
‘É sim!’ Passei a mão na cabeça de Diego e ele olhou sorrindo pra Anne.
‘Tudo bem, Diego?’ Ela se agachou pra falar com ele enquanto eu sentia meu coração acelerar só de pensar que o Diego podia achar ela legal.
‘Lu, achei esse controle aqui...’ Arthur apareceu sorrindo e olhou assustado enquanto Anne se levantava sorrindo. ‘Anne?’
‘Hey, Arthur!’ Ela sorriu abertamente e eu tive que olhar pra algum canto da loja e contar até dez pelo menos. ‘Esbarrei sem querer na Lu!’ Ela falou animada. ‘E ainda conheci o Diego! Ele é lindo!’ Ela bagunçou os cabelos de Diego.
‘Claro, é meu filho!’ Arthur falou pretensioso e ela lhe deu um tapinha no braço.
‘Erm... eu vou lá olhar o brinquedo que o Diego queria ver.’ Sorri sem graça e peguei Diego no colo sem nem olhar pra cara de Arthur.
Andei apressada pela loja até estar suficientemente distante dos dois, botei Diego no chão e dei um longo suspiro tentando me acalmar. Quando olhei pra baixo vi Diego me olhando sem entender nada, eu sorri fraco e o peguei pela mão.
‘Vamos dar uma passeada na loja, meu amor!’ Ele sorriu concordando e fomos andando devagar enquanto ele observava as prateleiras cheias de brinquedos e bonecos.
Eu estava perdida em pensamentos quando senti Diego puxar minha mão e apontar pra um enorme urso que segurava um coração, igual ao que Arthur tinha me dado de aniversário. Eu sorri sem acreditar que logo naquela hora eu tinha que encontrar aquele urso. Ele ainda ficava em cima da minha cama e eu perdi a conta de quantas vezes dormi abraçada com ele, o cheiro de Arthur já tinha praticamente sumido, mas ainda assim eu conseguia senti-lo.
Lembrei do dia do meu aniversário e a musica que eu e Arthur dançamos começou a tocar na minha cabeça e as imagens ficavam cada vez mais claras. Eu não sabia se Arthur ainda se sentia da mesma forma por mim, eu queria que ele tentasse novamente, queria ter outra chance. Mas será que se eu tivesse, eu finalmente diria a ele o quanto eu o amo? Ou novamente iria fugir e dar uma desculpa esfarrapada qualquer pra não ouvir dele o que eu sempre quis, aquelas três palavras que eu nunca tinha ouvido sair da boca dele.
Senti uma lágrima descer por meu rosto e só então percebi que ainda estava parada observando o enorme urso no alto da prateleira. Passei rapidamente a mão pelo rosto e reparei que Diego não estava mais ao meu lado, quando olhei pra frente meus olhos encontraram com os de Arthur que me encarava com o rosto sério e sem reação. Meus olhos arderam por causa das lágrimas que estavam se acumulando e minha única reação foi virar e sair depressa da loja. Arthur não correu atrás de mim, e nem chamou meu nome. Eu caminhei depressa até um banco um pouco afastado da loja e sentei respirando fundo para que as lágrimas não caíssem. Algumas pessoas passaram me encarando, mas eu apenas abaixei a cabeça e fiquei respirando calmamente, até a vontade de chorar passar por completo.
Fiquei algum tempo encarando o chão do shopping, até sentir alguém sentar do meu lado e aquele perfume intoxicante chegar até mim. Nem precisei olhar pro lado pra saber que era Arthur, e ele também não falou uma palavra. Diego esticou os braços para que eu o pegasse no colo e eu sorri beijando o topo de sua cabeça.
‘Você tá triste?’ Diego perguntou depois de alguns minutos. Incrível como ele parecia saber exatamente o que estava havendo ali. Eu sorri fraco balançando a cabeça.
‘Não, meu amor, a mamãe não tá triste!’ Ele passou a mão pelo meu rosto e sorriu.
‘Quero ir pra casa!’ Eu ri baixinho por causa do bico que ele fez.
‘Seu pedido é uma ordem, meu príncipe! Vamos pra casa!’ Falei me levantando. Arthur fez o mesmo, mas continuou calado e apenas seguiu ao meu lado.
O silencio no carro já tinha se tornado assustador e às vezes eu tinha a impressão de conseguir ouvir meu próprio coração. Já estava quase roendo as unhas e não agüentava mais olhar pra fora da janela.
‘Ela sabe sobre a gente?’ Quebrei o silencio e ouvi Arthur suspirar calmamente. Ele demorou algum tempo pra responder.
‘Sabe.’ Falou baixo sem desviar a atenção do transito.
‘Quanto ela sabe?’ Continuei perguntando sem encará-lo.
‘Quase nada. Só o básico.’ Ele respondia sempre no mesmo tom que eu.
‘Ela sabe do acidente?’ O olhei de relance e vi que ele balançou a cabeça positivamente.
‘Sabe.’ Ele respondeu simplesmente.
‘Ela não sente ciúmes?’ Perguntei instantes depois. Pareceu uma eternidade até Arthur finalmente responder.
‘Se ela soubesse o que eu sinto por você, ela sentiria.’ Não consegui responder nada, voltei a encarar a rua e dessa vez realmente fiquei com medo que ele escutasse meu coração que parecia que gritava.
O silencio caiu novamente no carro e assim permaneceu até chegarmos em casa. Fui direto pro quarto enquanto Arthur ficou vendo tv na sala com Diego. Deitei na cama e fiquei encarando o teto sentindo meu coração acelerar toda hora que eu lembrava o que Arthur havia dito. Tentei imaginar como nós dois estaríamos se eu não tivesse feito a burrada em meu aniversário, mas a imagem de Anne e Arthur juntos sempre invadia minha mente, me fazendo esquecer de outras imagens felizes. Lembrei que teria uma prova na quarta e resolvi deixar minhas ilusões de lado e estudar.
Fiquei horas lendo e resumindo vários textos, até sentir meu estomago implorar por comida, olhei no relógio e vi que já estava no meio da tarde. Levantei me espreguiçando e fui até a cozinha. Quando cheguei na sala vi Arthur e Diego dormindo no sofá com a tv ligada. Sorri sozinha e desliguei a tv tomando cuidado para não acorda-los. Entrei na cozinha e peguei um pacote de biscoito, algumas barrinhas de chocolate e uma latinha de coca e voltei pro quarto em silêncio.
‘Mãe!’ Diego entrou no quarto algum tempo depois.
‘Yay, você acordou, minha criança!’ Falei sorrindo e o coloquei em meu colo.
‘Quero comer.’ Ele fez bico e eu ri.
‘Vamos lá na cozinha pra eu preparar alguma coisa pra você!’ Falei me levantando e senti minhas pernas fraquejarem por ter ficado tanto tempo sentada.
Passei pelo quarto de Arthur e a porta estava encostada.
‘Hm, vamos ver o que tem por aqui.’ Abri o armário enquanto Diego me olhava. ‘Sopa!’ Mostrei um pacotinho de sopa de letrinhas e ele fez cara feia. ‘Pipoca?’ Falei em duvida e ele negou balançando a cabeça.
‘Pizza!’ Ele sorriu e eu o olhei.
‘Não tem pizza aqui, meu amor. Só se a gente pedir.’ Ele concordo freneticamente e eu ri. ‘Ai, que trabalho que você me dá, Diego!’ Falei rindo e fui até o telefone. Pedi metade calabresa e metade mussarela já que sabia que Arthur também ia querer.
Desliguei o telefone e sentei no sofá pra ver tv, enquanto Diego brincava no chão com alguns carrinhos. Minutos depois Arthur apareceu na sala apenas de boxer e com os cabelos molhados, se jogou, literalmente, no sofá e deitou a cabeça em meu colo.
‘Lu, to com fome.’ Ele falou se virando pra tv e eu ri baixinho.
‘Pedi pizza.’ Falei observando a tv.
‘Calabresa?’ Ele me olhou sorrindo.
‘Metade de cada.’ Sorri ainda observando a tv, ele concordou balançando a cabeça e se virou novamente. Arthur pegou minha mão e colocou em seu cabelo molhado. Eu ri e comecei a fazer carinho em sua cabeça.
Observei os clarões formarem desenhos assustadores na parede enquanto a chuva batia fortemente na janela. Me encolhi embaixo do cobertor grosso, mas ainda assim estava morrendo de frio. Fiquei algum tempo enrolando na cama sem conseguir dormir, até me levantar e pegar um enorme moletom de Arthur e vesti-lo por cima da blusa de manga comprida que eu usava.
Fui até o corredor e observei a porta entreaberta do quarto de hospedes que estava com uma luz fraca acesa. Minha vontade era olhar o que Arthur estava fazendo, mas resolvi ir até o quarto de Diego. O observei respirar calmamente sem se importar com o barulho da chuva ou os clarões provocados pelos trovões. Olhei o relógio e vi que já eram meia noite e meia.
Voltei pro corredor escuro e me encostei no batente da porta de Arthur, onde pude ver que ele estava sentado na cama com um caderno no colo, vez ou outra ele fazia alguma anotação e parecia falar algumas coisas baixinho.
Ele deu um longo suspiro e fechou o caderno colocando-o no criado mudo.
‘Cara, não me mata de susto!’ Ele falou colocando a mão no peito e me olhando.
‘Desculpa, não queria atrapalhar.’ Sorri fraco.
‘Não consegue dormir?’
‘Nop. Odeio esses trovões que ficam fazendo desenhos medonhos na parede.’ Falei dando de ombros e ele riu.
‘Vem cá.’ Ele chegou pro lado e deixou um espaço vazio na cama de solteiro. Sentei ao seu lado e abracei minhas pernas. ‘Você adora usar meus casacos né?’ Ele riu observando o enorme casaco preto que eu estava vestida.
‘Eles são grandes e quentinhos.’ Falei com voz de criança. ‘Não tá com frio?’ Perguntei percebendo que ele continuava apenas de boxer.
‘Não muito.’ Ele deu de ombros. O barulho de um trovão vez com que eu me encolhesse ainda mais e encostasse minha testa em meus joelhos. ‘Deita aqui.’ Arthur falou levantando o cobertor e eu fiz o que ele pediu. Ele deitou ao meu lado e soltou o cobertor em cima de nós dois.
‘Não vou conseguir dormir.’ Falei me virando de costas pra ele.
‘Claro que vai!’ Ele se esticou e apagou o abajur que ainda iluminava uma parte do quarto.
Senti Arthur passar um braço por minha cintura e me apertar contra o corpo dele. Ele afastou meu cabelo do meu pescoço e encostou levemente o queixo em meu ombro. Os lábios dele encostaram delicadamente em meu pescoço, trilharam lentamente um caminho até meu ouvido e ele começou a cantar baixinho. ( The Sounds – The Morning Light)
"Don't you dare tell me I am the reason we are here,
( Não se atreva a me dizer que eu sou a razão de estarmos aqui, )
I've spent enough sleepless nights in this bed,
( Eu já passei noites suficientes sem dormir nessa cama, )
To know this isn't just all in my head.
( Para saber que isso não está apenas na minha cabeça. )
And don't you say that i'm ruining what we've made,
( E não diga que eu estou arruinando o que criámos, )
We know enough to know we're both to blame
( Nós sabemos o suficiente para saber que ambos temos culpa )
It's like your leaving, but you don't know the way
( É como você partindo, mas não sabe o caminho )
So I say...
( Então eu digo... )"
I can't believe myself,
( Eu não acredito em mim, )
I'm wishing to be anyone else.
( Estou desejando ser qualquer outra pessoa )
And I'm feeling like all this hell,
( E eu sinto que todo este inferno, )
Might shape something good in the end
( Pode formar algo bom no final )
Lentamente meus pensamentos começaram a sumir e eu sentia que o sono ia me vencendo.
And I well I just can't find a reason why,
( E eu só não consigo encontrar uma razão, )
Why you intentionally say, "goodbye."
( Para você dizer intencionalmente, "adeus." )
If this mess were up to me we'd see eye to eye.
( Se essa confusão estivesse ao meu alcance nós iríamos ver olho por olho. )
But you get bored and run from the honest life,
( Mas você fica entediada e foge da verdadeira vida, )
Sometimes I swear you're making me loose my mind!
( Algumas vezes eu juro que você me faz perder a cabeça! )
So I'll keep singing...
( Então continuarei cantando... )
It was the look on your face when I called out your name,
( Foi a expressão na sua cara quando chamei seu nome, )
It was the days waiting for you alone in the rain.
( Foram os dias esperando por você, sozinho, na chuva. )
Take me back to the time when I wished you could stay,
( Me leve de volta para os tempos onde eu desejava que você ficasse, )
Now were here at your front steps where I watch you fade away.
( Agora nós estamos aqui nos degraus de sua casa onde eu assisti você desaparecendo. )
...Oh my god this town it feels like a headache,
( Oh meu Deus essa cidade é uma dor de cabeça )
...I thought you were a safe bet.
( Eu pensava que você era uma aposta segura. )
A única coisa que se ouvia era o tic tac do relógio na cômoda, imaginei que devia ser cedo, já que Diego ainda não tinha acordado. Fiquei alguns instantes lembrando da noite anterior, e todos os meus pensamentos me levaram apenas pra uma pessoa... Anne.
Afinal, ela e Arthur estavam ficando e ainda assim ele falou aquilo tudo pra mim. Suspirei baixinho tentando adivinhar o que viria a seguir. Eu sabia que Arthur não tinha falado com ela no dia anterior, pelo menos não depois de eu estar acordada. Será que eles tinham brigado na festa ou alguma coisa do tipo? Resolvi não me animar demais, eu pude ver na festa que Arthur parecia realmente gostar dela, mesmo que fosse pouco comparado ao que ele sentia por mim (ou não), ele gostava dela, e eu sabia que ele a respeitaria.
Ouvi um risinho baixo e quando virei meu rosto vi Arthur me encarando com uma expressão engraçada.
‘Que foi?’ Perguntei um pouco sem graça.
‘Você estava tão absorta em pensamentos que eu parei pra admirar.’ Ele deu de ombros. Eu abri a boca pra falar alguma coisa, mas não emiti som algum. Voltei a encarar o teto enquanto sentia o polegar de Arthur passeando pelas costas da minha mão.
‘Eu senti falta de dormir sentindo o perfume do seu cabelo.’ Ele admitiu antes mesmo que eu pudesse perguntar. Eu reprimi um sorriso e apenas continuei encarando o teto.
‘Você sabe o que está fazendo, certo?’ Virei um pouco meu rosto podendo encarar seus olhos que expressavam duvida. ‘Digo, falando essas coisas pra mim.’ Ele abriu um pequeno sorriso no canto da boca e eu continuei o encarando séria.
‘Espero que sim.’ Ele falou baixo e eu concordei balançando a cabeça.
Os minutos que permanecemos em silêncio pareceram horas sem fim. Agora além do tic tac do relógio, eu podia ouvir sua respiração batendo constantemente em meu ouvido. Pensei em citar delicadamente alguma coisa sobre a Anne, mas nenhuma desculpa convincente surgiu em minha cabeça.
‘Hoje é domingo.’ Ele falou num tom de voz calmo e ao mesmo tempo deixando transparecer seu incomodo por causa do silêncio. Eu concordei balançando a cabeça sem olhá-lo. ‘Quer sair, fazer alguma coisa?’ Ele manteve a voz calma e eu suspirei.
‘Talvez.’ Dei de ombros, um pouco mais indiferente do que eu realmente estava. Senti seu olhar em meu rosto, me analisando atentamente e não ousei virar para encará-lo. De alguma forma, eu sentia o impacto das palavras que trocamos no dia anterior, e aquilo me deixava sem reação.
‘Você já pensou em ter dividir alguém que você ama muito, com outra pessoa?’ Falei me assustando com a naturalidade com que minhas palavras saíram. Eu estava me referindo à Anne, mas tinha certeza que ele não iria entender tão rápido.
‘Hm.’ Ele pareceu pensar por alguns instantes. ‘Provavelmente não.’ Respondeu num sussurro. Eu me virei pra encará-lo, mas seu rosto estava um pouco abaixado e ele parecia encarar nossas mãos ainda entrelaçadas.
‘Dói só de pensar.’ Eu admiti falando tão baixo quanto ele. Ele levantou os olhos encontrando os meus e ficamos nos encarando em silêncio.
Eu amava encarar os olhos de Arthur, apesar de eu raramente conseguir saber o que ele estava pensando ou sentindo, eu sempre podia ver sua inocência quando os encarava. Apesar de seus quase vinte e um anos, e de todas as indecências que ele vê, pensa e faz, é só olhar nos olhos dele para perceber que ele ainda é como uma criança. É como se eu pudesse ver o Diego através de seus olhos.
‘Não é como se a culpa fosse só minha.’ Ele finalmente falou num tom de defesa e eu imaginei se ele tinha entendido sobre o que eu estava falando.
‘Eu sei.’ Mordi meu lábio virando meu rosto para o outro lado já um pouco perturbada com os olhos de Arthur. O ouvi suspirar pesadamente e soltar delicadamente minha mão. Encarei isso como uma indireta para que encerrássemos o assunto permaneci calada encarando a parede ao meu lado.
‘O silêncio é um barulho assustador.’ Ele falou quando o silêncio já tinha se tornado mais aterrorizante que qualquer barulho estrondoso.
Eu ri levemente e me levantei sentindo minha cabeça pesar um pouco. Sentei na beirada da cama e abracei minhas pernas encostando minha testa em meus joelhos. Suspirei tentando fazer com que o maldito perfume de Arthur parasse de me intoxicar, mas acabei levantando quando percebi que não estava dando resultado.
Entrei no banheiro fechando a porta atrás de mim e encarei meu reflexo no espelho. Meus cabelos estavam um pouco bagunçados, mas pelo menos não havia olheiras ou qualquer sinal de cansaço em meu rosto. Penteei meus cabelos, prendendo-os num rabo de cavalo alto e escovei meus dentes lavando o rosto em seguida. Quando saí do quarto Arthur não estava mais lá, parei encarando a cama vazia e imaginei se ele já fazia alguma idéia de que eu sabia sobre Anne.
‘Bom dia, mamãe!’ Diego entrou no quarto sorrindo afastando meus pensamentos.
‘Bom dia, meu amor!’ O carreguei beijando sua bochecha.
‘Papai tá triste.’ Ele falou inocentemente pegando em meu rosto.
‘É? E porque você acha que o papai tá triste?’ Sentei na cama com ele em meu colo. Diego ficou algum tempo calado e depois voltou a me olhar.
‘Não sei, parece que tá triste.’ Ele fez bico e eu sorri fraco.
‘Então porque você não vai lá e dá um abração no papai, pra ele ficar feliz?’ O botei no chão enquanto ele concordava freneticamente, segundos dele ele saiu correndo do quarto. Suspirei pesadamente antes de me levantar e seguir o mesmo caminho que Diego.
Quando passei pelo quarto de Arthur, ele estava sentado na cama de costas pra porta com Diego em seu colo. Os dois riam enquanto Arthur parecia contar uma história boba pra ele fazendo sons engraçados com a boca. Encostei no batente da porta observando aquela cena, sem que eu percebesse o sorriso já estava estampado em meu rosto. Diego olhou pra mim e sorriu, chamando a atenção de Arthur, que olhou pra trás e me encarou sem sorrir. Nos olhamos por alguns segundos, então eu sorri fraco e saí do quarto ouvindo ele voltar a falar com o filho.
Caminhei lentamente até a sala e me sentei no sofá encarando a televisão desligada. Os dvd’s ainda estavam pelo sofá me fazendo novamente lembrar da noite anterior, um frio percorreu meu corpo quando eu lembrei das palavras de Arthur. Abracei minhas pernas e fechei os olhos inspirando ar gelado a minha volta.
‘Ei, não vale dormir de novo!’ Arthur apareceu na sala e eu o olhei, apesar de seu tom brincalhão, ele não sorria.
‘Não vou.’ Falei sorrindo fraco e só então ele sorriu da mesma maneira.
‘Quer tomar café?’ Ele perguntou já na cozinha.
‘Eu quero!’ Diego falou alto e nós rimos. Me levantei indo até a cozinha e sentei ao lado da cadeirinha de Diego.
‘Sanduíche ou torradas?’ Arthur perguntou botando algumas coisas na bancada.
‘Torradas!’ Eu e Diego respondemos juntos e sorrimos.
Arthur preparou algumas torradas e depois nós 3 comemos em silêncio. Eu não tinha muita coragem de olhar pro Arthur, e acho que o mesmo acontecia com ele, já que eu não sentia nenhum par de olhos me encarando.
‘Alguém quer ir ao shopping?’ Ele falou tão de repente que eu não consegui evitar um pequeno sobressalto. ‘Assustei tanto?’ Ele falou meio sem graça e eu sorri fraco colocando a mão no peito.
‘Shópi!!’ Diego animado como sempre começou a bater palminhas. Arthur me olhou como se questionasse a minha animação também, ou a falta dela.
‘Claro, shopping é sempre bom num domingo tedioso!’ Falei olhando para minha torrada, evitando o olhar de Arthur.
‘Arthur, amarra aqui atrás pra mim, por favor?’ Pedi segurando os cordões da blusa frente única preta que tinha vestido. Ele sorriu fraco e eu me virei de costas, quando ele segurou os cordões prendi meu cabelo num coque frouxo para que não o atrapalhasse.
Senti a respiração dele batendo em meu pescoço, enquanto suas mãos lentamente amarravam a blusa e tocavam minha pele me fazendo fechar os olhos.
Talvez fosse a falta de prática dele, mas nunca amarrar uma blusa demorou tanto, eu já sentia minhas pernas moles e minha respiração começava a ficar pesada. Quando ele finalmente pareceu terminar sua mão desceu calmamente por minhas costas, enquanto a outra segurou firme em minha cintura. Sua respiração pareceu bater com maior força em meu pescoço, e só então em senti seu nariz passeando calmamente por meu ombro, até seus lábios alcançarem meu pescoço.
Se minhas pernas já estavam moles antes, agora eu mal me agüentava em pé, mas suas duas mãos seguravam firmemente em minha cintura, mantendo meu equilíbrio. A boca dele roçava em meu pescoço e em minha nuca e eu sabia aonde aquilo ia dar, mas eu continuava imóvel, tentando manter minha sanidade e minha estabilidade. Arthur começou a beijar calmamente meu pescoço, até bem perto do meu ouvido.
‘MÃE!’ A voz de Diego vez com que nós dois pulássemos com a respiração completamente descompassada. Eu vi de relance Arthur passar a mão pelo cabelo fazendo uma careta e respirei fundo saindo do quarto.
‘Diga, meu amor!’ Falei com um sorriso fraco entrando no quarto de Diego.
‘Eu quero!’ Ele apontou uma miniatura das tartarugas ninjas que estava fora de seu alcance. Peguei o boneco e o entreguei.
‘Agora vai ficar lá no quarto enquanto a mamãe termina de se arrumar!’ O peguei pela mão enquanto ela ia brincando com a tartaruga ninja.
Deixei Diego brincando em minha cama, já arrumado e fui para meu banheiro. Prendi novamente meu cabelo em um rabo alto, passei uma maquiagem básica e clara e em menos de dez minutos já estava no sofá com Diego, esperando por Arthur.
‘To pronto!’ Ele apareceu com um sorriso um tanto quanto fofo na sala. Diego se levantou rápido e foi logo pra porta. Me levantei observando a roupa de Arthur; uma camisa pólo listrada, uma bermuda preta larga e um tênis branco. Sorri quase que inconscientemente.
‘Sua gola!’ Eu falei me aproximando e arrumando a gola da camisa que estava levantada. Ele sorriu quando eu terminei.
‘Vamos agora?’ Ele olhou de mim pra Diego que concordou freneticamente.
Saímos de casa em silêncio e assim seguimos até o shopping. Diego parecia que nunca tinha saído de casa, quase saiu correndo pela garagem do shopping, se Arthur não tivesse corrido e o segurado eu prefiro nem imaginar alguma tragédia que podia ter acontecido.
‘Diego, que maluquice é essa agora, filho?’ Falei com uma cara zangada e ele fez bico. ‘Não sai correndo assim tá?’ Dei um beijo em sua testa e ele concordou.
‘O que a gente veio fazer aqui mesmo?’ Arthur me olhou sorrindo de lado quando já estávamos caminhando pelo shopping.
‘Nem me olha com essa cara. A idéia foi sua, meu bem!’ Dei de ombros e ele riu.
‘Ok, vamos passear então!’ Ele pegou em minha mão enquanto com a outra ele segurava a mão de Diego.
‘Binquedo!’ Diego sorriu apontando pra uma enorme loja cheia de brinquedos.
‘Você entra e eu fico aqui fora esperando!’ Arthur riu e eu quase mandei dedo.
‘No way, Aguiar! Arque com as conseqüências agora!’ Falei empurrando ele pra dentro da loja.
‘Tigre!’ Diego apontou pra um enorme tigre de pelúcia e correu até a estante esticando o braço.
‘Aqui, príncipe!’ Sorri lhe entregando o tigre que era quase maior do que ele.
‘Será que aqui tem controle pro Xbox? O meu tá meio ruim!’ Arthur falou olhando em volta.
‘Eu acho que essas coisas tem no andar de cima.’ Falei apontando pra uma escada rolante.
‘Ok, vou lá ver!’ Ele sorriu e se afastou. Me agachei pra ficar do tamanho de Diego enquanto ele brincava com o tigre.
‘Bigode!’ Ele falou pegando no bigode do tigre de pelúcia e eu sorri. ‘Urso!’ Diego apontou pra um urso um pouco menor que o tigre e eu me levantei pra pegar.
‘Opa, desculpa!’ Falei quando me bati em alguém e me virei pra me desculpar.
‘Não tem problema!’ Uma morena falou simpática. ‘Lu?’ Ela me olhou em duvida e eu prendi a respiração por alguns segundos.
‘Hey, Anne!’ Tentei parecer um pouco animada, mas foi uma tentativa completamente frustrada já que minha voz saiu fraca e desanimada.
‘Que coincidência te encontrar aqui!’ Ela falou dando beijinhos em minhas bochechas. ‘Tudo bem?’ Ela sorriu e eu forcei um risinho.
‘Tudo bem sim!’ Falei e senti Diego puxar o urso que estava em minha mão.
‘Mãe, me dá!’ Ele falou me olhando e eu sorri lhe entregando o urso.
‘Esse é o Diego?’ Anne falou sorrindo. Pelo visto ela sabia mais do que eu imaginava sobre o Arthur.
‘É sim!’ Passei a mão na cabeça de Diego e ele olhou sorrindo pra Anne.
‘Tudo bem, Diego?’ Ela se agachou pra falar com ele enquanto eu sentia meu coração acelerar só de pensar que o Diego podia achar ela legal.
‘Lu, achei esse controle aqui...’ Arthur apareceu sorrindo e olhou assustado enquanto Anne se levantava sorrindo. ‘Anne?’
‘Hey, Arthur!’ Ela sorriu abertamente e eu tive que olhar pra algum canto da loja e contar até dez pelo menos. ‘Esbarrei sem querer na Lu!’ Ela falou animada. ‘E ainda conheci o Diego! Ele é lindo!’ Ela bagunçou os cabelos de Diego.
‘Claro, é meu filho!’ Arthur falou pretensioso e ela lhe deu um tapinha no braço.
‘Erm... eu vou lá olhar o brinquedo que o Diego queria ver.’ Sorri sem graça e peguei Diego no colo sem nem olhar pra cara de Arthur.
Andei apressada pela loja até estar suficientemente distante dos dois, botei Diego no chão e dei um longo suspiro tentando me acalmar. Quando olhei pra baixo vi Diego me olhando sem entender nada, eu sorri fraco e o peguei pela mão.
‘Vamos dar uma passeada na loja, meu amor!’ Ele sorriu concordando e fomos andando devagar enquanto ele observava as prateleiras cheias de brinquedos e bonecos.
Eu estava perdida em pensamentos quando senti Diego puxar minha mão e apontar pra um enorme urso que segurava um coração, igual ao que Arthur tinha me dado de aniversário. Eu sorri sem acreditar que logo naquela hora eu tinha que encontrar aquele urso. Ele ainda ficava em cima da minha cama e eu perdi a conta de quantas vezes dormi abraçada com ele, o cheiro de Arthur já tinha praticamente sumido, mas ainda assim eu conseguia senti-lo.
Lembrei do dia do meu aniversário e a musica que eu e Arthur dançamos começou a tocar na minha cabeça e as imagens ficavam cada vez mais claras. Eu não sabia se Arthur ainda se sentia da mesma forma por mim, eu queria que ele tentasse novamente, queria ter outra chance. Mas será que se eu tivesse, eu finalmente diria a ele o quanto eu o amo? Ou novamente iria fugir e dar uma desculpa esfarrapada qualquer pra não ouvir dele o que eu sempre quis, aquelas três palavras que eu nunca tinha ouvido sair da boca dele.
Senti uma lágrima descer por meu rosto e só então percebi que ainda estava parada observando o enorme urso no alto da prateleira. Passei rapidamente a mão pelo rosto e reparei que Diego não estava mais ao meu lado, quando olhei pra frente meus olhos encontraram com os de Arthur que me encarava com o rosto sério e sem reação. Meus olhos arderam por causa das lágrimas que estavam se acumulando e minha única reação foi virar e sair depressa da loja. Arthur não correu atrás de mim, e nem chamou meu nome. Eu caminhei depressa até um banco um pouco afastado da loja e sentei respirando fundo para que as lágrimas não caíssem. Algumas pessoas passaram me encarando, mas eu apenas abaixei a cabeça e fiquei respirando calmamente, até a vontade de chorar passar por completo.
Fiquei algum tempo encarando o chão do shopping, até sentir alguém sentar do meu lado e aquele perfume intoxicante chegar até mim. Nem precisei olhar pro lado pra saber que era Arthur, e ele também não falou uma palavra. Diego esticou os braços para que eu o pegasse no colo e eu sorri beijando o topo de sua cabeça.
‘Você tá triste?’ Diego perguntou depois de alguns minutos. Incrível como ele parecia saber exatamente o que estava havendo ali. Eu sorri fraco balançando a cabeça.
‘Não, meu amor, a mamãe não tá triste!’ Ele passou a mão pelo meu rosto e sorriu.
‘Quero ir pra casa!’ Eu ri baixinho por causa do bico que ele fez.
‘Seu pedido é uma ordem, meu príncipe! Vamos pra casa!’ Falei me levantando. Arthur fez o mesmo, mas continuou calado e apenas seguiu ao meu lado.
O silencio no carro já tinha se tornado assustador e às vezes eu tinha a impressão de conseguir ouvir meu próprio coração. Já estava quase roendo as unhas e não agüentava mais olhar pra fora da janela.
‘Ela sabe sobre a gente?’ Quebrei o silencio e ouvi Arthur suspirar calmamente. Ele demorou algum tempo pra responder.
‘Sabe.’ Falou baixo sem desviar a atenção do transito.
‘Quanto ela sabe?’ Continuei perguntando sem encará-lo.
‘Quase nada. Só o básico.’ Ele respondia sempre no mesmo tom que eu.
‘Ela sabe do acidente?’ O olhei de relance e vi que ele balançou a cabeça positivamente.
‘Sabe.’ Ele respondeu simplesmente.
‘Ela não sente ciúmes?’ Perguntei instantes depois. Pareceu uma eternidade até Arthur finalmente responder.
‘Se ela soubesse o que eu sinto por você, ela sentiria.’ Não consegui responder nada, voltei a encarar a rua e dessa vez realmente fiquei com medo que ele escutasse meu coração que parecia que gritava.
O silencio caiu novamente no carro e assim permaneceu até chegarmos em casa. Fui direto pro quarto enquanto Arthur ficou vendo tv na sala com Diego. Deitei na cama e fiquei encarando o teto sentindo meu coração acelerar toda hora que eu lembrava o que Arthur havia dito. Tentei imaginar como nós dois estaríamos se eu não tivesse feito a burrada em meu aniversário, mas a imagem de Anne e Arthur juntos sempre invadia minha mente, me fazendo esquecer de outras imagens felizes. Lembrei que teria uma prova na quarta e resolvi deixar minhas ilusões de lado e estudar.
Fiquei horas lendo e resumindo vários textos, até sentir meu estomago implorar por comida, olhei no relógio e vi que já estava no meio da tarde. Levantei me espreguiçando e fui até a cozinha. Quando cheguei na sala vi Arthur e Diego dormindo no sofá com a tv ligada. Sorri sozinha e desliguei a tv tomando cuidado para não acorda-los. Entrei na cozinha e peguei um pacote de biscoito, algumas barrinhas de chocolate e uma latinha de coca e voltei pro quarto em silêncio.
‘Mãe!’ Diego entrou no quarto algum tempo depois.
‘Yay, você acordou, minha criança!’ Falei sorrindo e o coloquei em meu colo.
‘Quero comer.’ Ele fez bico e eu ri.
‘Vamos lá na cozinha pra eu preparar alguma coisa pra você!’ Falei me levantando e senti minhas pernas fraquejarem por ter ficado tanto tempo sentada.
Passei pelo quarto de Arthur e a porta estava encostada.
‘Hm, vamos ver o que tem por aqui.’ Abri o armário enquanto Diego me olhava. ‘Sopa!’ Mostrei um pacotinho de sopa de letrinhas e ele fez cara feia. ‘Pipoca?’ Falei em duvida e ele negou balançando a cabeça.
‘Pizza!’ Ele sorriu e eu o olhei.
‘Não tem pizza aqui, meu amor. Só se a gente pedir.’ Ele concordo freneticamente e eu ri. ‘Ai, que trabalho que você me dá, Diego!’ Falei rindo e fui até o telefone. Pedi metade calabresa e metade mussarela já que sabia que Arthur também ia querer.
Desliguei o telefone e sentei no sofá pra ver tv, enquanto Diego brincava no chão com alguns carrinhos. Minutos depois Arthur apareceu na sala apenas de boxer e com os cabelos molhados, se jogou, literalmente, no sofá e deitou a cabeça em meu colo.
‘Lu, to com fome.’ Ele falou se virando pra tv e eu ri baixinho.
‘Pedi pizza.’ Falei observando a tv.
‘Calabresa?’ Ele me olhou sorrindo.
‘Metade de cada.’ Sorri ainda observando a tv, ele concordou balançando a cabeça e se virou novamente. Arthur pegou minha mão e colocou em seu cabelo molhado. Eu ri e comecei a fazer carinho em sua cabeça.
Observei os clarões formarem desenhos assustadores na parede enquanto a chuva batia fortemente na janela. Me encolhi embaixo do cobertor grosso, mas ainda assim estava morrendo de frio. Fiquei algum tempo enrolando na cama sem conseguir dormir, até me levantar e pegar um enorme moletom de Arthur e vesti-lo por cima da blusa de manga comprida que eu usava.
Fui até o corredor e observei a porta entreaberta do quarto de hospedes que estava com uma luz fraca acesa. Minha vontade era olhar o que Arthur estava fazendo, mas resolvi ir até o quarto de Diego. O observei respirar calmamente sem se importar com o barulho da chuva ou os clarões provocados pelos trovões. Olhei o relógio e vi que já eram meia noite e meia.
Voltei pro corredor escuro e me encostei no batente da porta de Arthur, onde pude ver que ele estava sentado na cama com um caderno no colo, vez ou outra ele fazia alguma anotação e parecia falar algumas coisas baixinho.
Ele deu um longo suspiro e fechou o caderno colocando-o no criado mudo.
‘Cara, não me mata de susto!’ Ele falou colocando a mão no peito e me olhando.
‘Desculpa, não queria atrapalhar.’ Sorri fraco.
‘Não consegue dormir?’
‘Nop. Odeio esses trovões que ficam fazendo desenhos medonhos na parede.’ Falei dando de ombros e ele riu.
‘Vem cá.’ Ele chegou pro lado e deixou um espaço vazio na cama de solteiro. Sentei ao seu lado e abracei minhas pernas. ‘Você adora usar meus casacos né?’ Ele riu observando o enorme casaco preto que eu estava vestida.
‘Eles são grandes e quentinhos.’ Falei com voz de criança. ‘Não tá com frio?’ Perguntei percebendo que ele continuava apenas de boxer.
‘Não muito.’ Ele deu de ombros. O barulho de um trovão vez com que eu me encolhesse ainda mais e encostasse minha testa em meus joelhos. ‘Deita aqui.’ Arthur falou levantando o cobertor e eu fiz o que ele pediu. Ele deitou ao meu lado e soltou o cobertor em cima de nós dois.
‘Não vou conseguir dormir.’ Falei me virando de costas pra ele.
‘Claro que vai!’ Ele se esticou e apagou o abajur que ainda iluminava uma parte do quarto.
Senti Arthur passar um braço por minha cintura e me apertar contra o corpo dele. Ele afastou meu cabelo do meu pescoço e encostou levemente o queixo em meu ombro. Os lábios dele encostaram delicadamente em meu pescoço, trilharam lentamente um caminho até meu ouvido e ele começou a cantar baixinho. ( The Sounds – The Morning Light)
"Don't you dare tell me I am the reason we are here,
( Não se atreva a me dizer que eu sou a razão de estarmos aqui, )
I've spent enough sleepless nights in this bed,
( Eu já passei noites suficientes sem dormir nessa cama, )
To know this isn't just all in my head.
( Para saber que isso não está apenas na minha cabeça. )
And don't you say that i'm ruining what we've made,
( E não diga que eu estou arruinando o que criámos, )
We know enough to know we're both to blame
( Nós sabemos o suficiente para saber que ambos temos culpa )
It's like your leaving, but you don't know the way
( É como você partindo, mas não sabe o caminho )
So I say...
( Então eu digo... )"
I can't believe myself,
( Eu não acredito em mim, )
I'm wishing to be anyone else.
( Estou desejando ser qualquer outra pessoa )
And I'm feeling like all this hell,
( E eu sinto que todo este inferno, )
Might shape something good in the end
( Pode formar algo bom no final )
Lentamente meus pensamentos começaram a sumir e eu sentia que o sono ia me vencendo.
And I well I just can't find a reason why,
( E eu só não consigo encontrar uma razão, )
Why you intentionally say, "goodbye."
( Para você dizer intencionalmente, "adeus." )
If this mess were up to me we'd see eye to eye.
( Se essa confusão estivesse ao meu alcance nós iríamos ver olho por olho. )
But you get bored and run from the honest life,
( Mas você fica entediada e foge da verdadeira vida, )
Sometimes I swear you're making me loose my mind!
( Algumas vezes eu juro que você me faz perder a cabeça! )
So I'll keep singing...
( Então continuarei cantando... )
It was the look on your face when I called out your name,
( Foi a expressão na sua cara quando chamei seu nome, )
It was the days waiting for you alone in the rain.
( Foram os dias esperando por você, sozinho, na chuva. )
Take me back to the time when I wished you could stay,
( Me leve de volta para os tempos onde eu desejava que você ficasse, )
Now were here at your front steps where I watch you fade away.
( Agora nós estamos aqui nos degraus de sua casa onde eu assisti você desaparecendo. )
...Oh my god this town it feels like a headache,
( Oh meu Deus essa cidade é uma dor de cabeça )
...I thought you were a safe bet.
( Eu pensava que você era uma aposta segura. )
28º Capitulo - Addicted
‘Já falei que eu odeio filosofia?’ Sophia falou irritada se sentando no mesmo banco em que eu estava. Ela tinha acabado de sair da prova e eu como terminei antes fiquei a esperando no pátio da faculdade.
‘Foi tão mal assim?’ A olhei com a sobrancelha arqueada. Sophia nunca se dá mal das provas apesar dos escândalos que ela dá.
‘Nem tanto.’ Ela deu de ombros e eu ri. ‘Tá afim de ir lá pra casa do Micael?’ Sophia sorriu.
‘Depende, o que vai ter lá?’ Me levantei e caminhamos pra fora da faculdade. O sol já começava a sumir no horizonte, já que a prova tinha sido num horário diferente das aulas.
‘Nada demais até onde eu sei, ele só disse que ia chamar os meninos e que provavelmente iriam ensaiar. Vamos?’ Ela botou a mão em meu ombro sorrindo com a cara de criança que ela sempre faz quando quer alguma coisa.
‘Ok, ok!’ Falei bufando e ela deu um gritinho.
‘Hm, tem certeza que não vai ter nada por aqui?’ Perguntei baixo para que só Sophia ouvisse. Na casa de Micael tinham quase dez pessoas; Pedro e uma garota que eu não conhecia, Chay e Mel , Charlie e uma garota e James estava sozinho conversando com um outro garoto que eu não conhecia.
‘Ele me falou que seria só um ensaio.’ Ela deu de ombros e foi ao encontro de Micael. ‘Hey amor, não sabia que estava rolando uma festa aqui.’ Ela falou de uma forma engraçada e Micael riu me dando um beijo na testa.
‘Nah, só chamei os caras pra uma reuniãozinha.’ Ele deu de ombros.
Eu e Sophia sorrimos para todos que estavam na sala e sentamos no sofá onde James estava com o carinha ainda desconhecido. Olhei pra James um pouco sem graça e sorri.
‘Hey!’ Dei um beijo na bochecha dele.
‘Não sabia que você vinha!’ Ele sorriu largamente. Nota mental: resistir ao sorriso do James.‘Então, esse é um amigo nosso, Pete.’ Ele apontou para o desconhecido ao seu lado e só então eu reparei que ele parecia o Julian Casablancas do Strokes.
‘Tudo bem?’ Ele se esticou e me deu dois beijinhos. Eu sorri balançando a cabeça. Quando olhei pro lado vi que Sophia não estava mais ali. Passei meus olhos pela sala e vi que ela estava conversando com Micael um pouco mais afastados do sofá.
‘Achei que não fosse mais te ver depois daquele dia da festa.’ James falou atraindo novamente minha atenção.
‘Ah!’ Sorri morrendo de vergonha por ter que lembrar que quase fiquei com James. ‘Desculpa por aquilo, erm...’ Me enrolei um pouco.
‘Nah, não precisa se preocupar.’ Ele me interrompeu e sorriu. Eu agradeci mentalmente, não estava preparada pra inventar alguma desculpa convincente. ‘Então, o que tem feito?’ Ele perguntou mudando de assunto.
‘Ah, nada demais. A velha correria da faculdade e do estágio.’ Dei de ombros ele concordou. ‘E você, escrevendo muitas músicas?’
‘Ah, não muitas. Mas é meu hobby favorito!’ Ele sorriu ainda mais, e eu achava que era impossível. ‘Quer beber alguma coisa?’ Ele falou apontando pra mesa que tinha vinho e wisky.
‘Hm, vinho!’ Sorri e ele concordou se levantando e caminhando até a mesa.
‘Ele tá caidão por você!’ Ouvi alguém falar e me virei encontrando Pete sorrindo.
‘Quê?’ Perguntei em duvida e ele riu.
‘O James, ele só dá esses sorrisos idiotas quando tá gostando de alguém.’ Ele apontou pra James que botava vinho em dois copos e continuava sorrindo.
‘Nah, a gente mal se conhece. Na verdade essa é a segunda vez que a gente se encontra.’ Dei de ombros sorrindo um pouco sem graça.
‘Uau, então o cupido foi rápido dessa vez.’ Ele piscou e se levantou indo conversar com Chay e Pedro. Fiquei algum tempo o olhando e pensando que ele só podia ser maluco.
‘Aqui, Lu.’ A voz de James me despertou e eu peguei o copo que ele me estendia e sorri agradecida.
‘Então, você conhece os meninos a muito tempo?’ Quebrei o silêncio ele me olhou.
‘Um pouco! Conheci primeiro o Chay e depois os outros caras.’ Balancei a cabeça concordando. ‘E você, conhece eles a muito tempo?’
‘Hm, uns três anos.’ Respondi rezando pra que ele não perguntasse como eu os conheci. ‘Estranho a gente nunca ter se batido.’ Comentei e ele concordou.
‘Tava pensando nisso.’ Ele sorriu me olhando. Fiquei algum tempo viajando no sorriso dele, até uma voz conhecida chegar até meus ouvidos. ‘Finalmente, cara!’ Micael gritou rindo. Observei ele se afastar de Sophia que olhava pra porta um pouco assustada, segui seu olhar e senti um soco no estomago ao ver Arthur de mãos dadas com Perola.
‘Outch.’ Falei sentindo uma pontada no peito e me virei de costas pra porta. Senti alguém sentar ao meu lado e me virei encarando Sophia que me olhava como se não acreditasse. Balancei a cabeça ainda um pouco desorientada e me concentrei num ponto fixo no chão tentando respirar calmamente.
‘Tá tudo bem?’ James perguntou reparando minha tensão.
‘Tá sim.’ Sorri fraco.
‘Hey, Arthur!’ Sophia falou com ironia e eu senti vontade de chutar a perna dela. Me virei a tempo de ver Arthur sorrindo sem graça, mas pelo menos ele não estava mais de mãos dadas com Perola. Nos encaramos por alguns segundos em silêncio.
‘Erm... a Perola vocês já conhecem, né?’ Ele apontou para a garota ao seu lado que sorria.
‘Já sim! Tudo bem, Perola?’ Sophia falou, dessa vez mais simpática.
‘Tudo bem sim!’ Ela sorriu olhando pra mim e pra Soph.
‘Fala, Aguiar!’ James se levantou e abraçou Arthur.
‘James! Virou presença constante agora!’ Ele respondeu rindo e James balançou a cabeça confirmando.
‘Arthur Aguiar!’ Pedro gritou da varanda da sala e Arthur foi até lá rindo.
‘Senta aí, Perola.’ Sophia apontou para uma cadeira que tinha perto do sofá em que estávamos e ela sentou. ‘Então, a festa do seu irmão foi ótima!’ Ela falou animada, mas se eu bem conheço Sophia, ela apenas disse isso pra não deixar o silêncio cair entre a gente.
‘Ah, que bom que você gostou. Mas eu nem vi você e a Lu depois do show.’ Ela me olhou sorrindo.
‘Eu não me senti muito bem!’ Falei interrompendo Sophia que já tinha aberto a boca pra responder. ‘Tava com uma dor de cabeça e tal.’ Fiz uma careta.
‘Ah, que pena! O final da festa foi tão bom, ficamos ali na varanda conversando. A maioria de nós bêbados, claro.’ Nós rimos. ‘Mas foi realmente legal!’ Ela falou como se estivesse lembrando e eu sorri fraco.
Olhei pro lado e percebi que James não estava mais ali. Quando voltei meu olhar pra varando vi ele e Arthur conversando animadamente. Fiquei algum tempo os observando, até Sophia tossir ao meu lado chamando minha atenção.
‘Hey, Mel, vem pra cá!’ Sophia chamou Mel e a garota que estava acompanhando Pedro. Elas se aproximaram sorrindo.
‘Hey, meninas!’ Ela sorriu para nós três. ‘Essa daqui é a Becky.’ A menina ao lado dela sorriu acenando.
‘Prazer, Becky!’ Sorri e cheguei pro lado para que ela se sentasse, enquanto Mel sentou na mesinha de centro.
Engatamos uma conversa animada sobre a banda dos meninos, depois falamos sobre Justin Timberlake, sobre Londres, e íamos emendando um assunto no outro e não calávamos a boca nunca. Enquanto conversávamos bebíamos também, então o nível de álcool em nosso sangue já estava começando a ficar elevado, assim como nossas vozes.
‘Ai, preciso ir ao banheiro.’ Falei rindo e me levantando sem jeito. Saí da sala e entrei num corredor que tinha alguns quartos e um banheiro para visitas. Antes de entrar no banheiro ouvi duas vozes saindo de um dos quartos.
‘Por que você não me falou que ela vinha, cara?’ A voz de Arthur estava um pouco histérica.
‘Eu não sabia, Arthur! Ela e a Sophia apareceram aqui, mas era um pouco obvio que a Soph ia chamar ela, né?’ Micael respondeu um pouco alterado também.
‘E o que eu faço agora? Eu mal posso chegar perto das duas!’ Senti meus joelhos vacilarem.
‘Sei lá, cara, se vira. As mulheres são suas, você que se meteu nessa!’ Ouvi passos se aproximando da porta e corri pro banheiro fechando a porta rapidamente.
Não demorei muito tempo lá dentro, saí do banheiro trocando um pouco as pernas e ri comigo mesma. Ok, eu precisava parar de beber. Caminhei lentamente de volta pra sala, mas no final do corredor uma cena me chamou atenção. Perola stava na frente de Arthur, ele com os braços envolvendo a cintura dela, enquanto ela tinha as mãos apoiadas no peito dele, brincando a corrente no pescoço de Arthur. Ele falou alguma coisa que a fez rir e lhe deu um selinho demorado.
Fechei os olhos dando um passo pra trás para que ninguém me visse e respirei fundo, ia continuar e seguir pra sala, mas quando dei novamente um passo pra frente, vi que os dois estavam se beijando e não era apenas um selinho.
‘Merda, merda, merda, merda!’ Entrei na primeira porta do corredor e reparei que era um quarto, provavelmente de Micael. Sentei na cama apoiando minha cabeça e minhas mãos e me senti um pouco tonta.
‘Lu?’ A voz de James me fez olhar pra porta e ele entrou no quarto preocupado. ‘Tá tudo bem?’ Ele se agachou na minha frente e passou a mão por meus cabelos.
‘Tá sim, James. Só to um pouco tonta. Brigada por se preocupar.’ Sorri fraco e ele concordou balançando a cabeça.
‘Quer que eu fique aqui com você?’ Ele sentou ao lado na cama.
‘Na verdade, quero sim. Fala qualquer assunto comigo, James. Me distrai.’ Falei deitando minha cabeça em seu ombro e ele passou um braço pela minha cintura.
‘Ok, hm...’ Ele pensou por alguns segundos e eu fechei meus olhos. ‘Me conta sobre a sua faculdade, você gosta?’ Eu sorri fraco por causa da tentativa frustrada dele em me distrair, ele definitivamente não era bom em inventar assuntos.
‘Hm, gosto! Algumas matérias são um pouco chatas, tipo filosofia, mas faz parte.’ Dei de ombros. ‘Fora que eu gosto dos meus colegas, e tem a Sophia lá.’ Completei e ele falou alguma coisa baixinho. ‘Que foi?’ Virei meu rosto pra ele, mas me arrependi no mesmo instante ao perceber que estávamos próximos demais.
James não falou nada, apenas sorriu e apertou mais o braço em volta de minha cintura, como se quisesse impedir que eu saísse correndo novamente. Ele sorriu largamente enquanto aproximava nossos rostos e eu não me senti capaz de impedi-lo. Uma voz em minha cabeça gritava para que eu me afastasse, mas a cena do beijo entre Arthur e Perola ainda estava muito clara em minha mente. “Se ele pode, eu também posso” pensei e instantaneamente fechei os olhos sentindo a boca de James encostar na minha.
‘Cara, aquela musica que...’ Uma voz fez com que eu e James pulássemos.
Olhei pra porta com o coração acelerado e vi Micael e Arthur nos olhando. Os olhos de Arthur passaram por James, depois pra mim e depois pra mão de James em minha cintura. Eu o olhei sentindo que meu coração sairia pela boca a qualquer momento, ele também me encarou em silêncio. Tentei ler nos olhos dele, mas não consegui ver nada lá, era um olhar vazio e machucava quase tanto quanto o olhar magoado da noite do meu aniversário.
‘Erm... Desculpa, a gente só ia...’ Micael falava desconcertado.
‘Não, Micael. Sem problemas.’ Me levantei e James fez o mesmo. Respirei fundo tentando me acalmar e saí do quarto passando direto por Arthur e sentindo seu olhar me acompanhando.
Voltei pra sala ainda tentando fazer meu coração bater normalmente e parei na mesa pegando a garrafa de whisky e botando no copo sem gelo nem nada.
Senti a bebida passar por minha garganta queimando e fechei os olhos.
‘O que aconteceu?’ Abri os olhos assustada e Sophia estava do meu lado.
‘Merda, como sempre! Ultimamente é só isso que tem acontecido na minha vida.’ Dei de ombros e botei mais whisky no copo.
‘E você acha que se beber tudo isso vai parar de acontecer?’ Ela me olhou séria e eu dei de ombros.
‘Ah, me deixa, Sophia.’ Esvaziei novamente o copo sentindo o ardor em minha garganta. Ela resmungou alguma coisa e voltou para o sofá. Botei o copo na mesa e respirei fundo olhando pra James, que parecia completamente alheio a conversa que rolava na varanda, mas não olhava pra mim.
Enchi um copo com vinho e fui me sentar novamente no sofá, nem prestei atenção ao que as meninas conversavam, apenas fiquei tomando o vinho esperando Arthur ou Micael aparecerem na sala.
Quando Micael apareceu, Sophia levantou num pulo e o puxou para a cozinha. Aposto que ela ia perguntar se ele sabia o que tinha acontecido comigo. Olhei novamente pro corredor, mas Arthur não apareceu.
‘Hey, Lu. Como anda o Diego?’ Perola sentou ao meu lado atraindo minha atenção.
‘Ah, tá bem.’ Sorri fraco sem conseguir ser fria com ela. Por mais que eu tentasse a odiar, ela sempre era simpática comigo, e eu não podia culpá-la por meus problemas com o Arthur, na verdade a culpa de tudo que estava acontecendo era minha, eu que arcasse com as conseqüências.
‘Ele é um amor, né?’ Ela sorriu. ‘Ele parece muito com o Arthur!’ Ela comentou com uma cara pensativa.
‘Muito! Quando ele era mais novinho ele costuma ser a exata mistura entre mim e Arthur, mas agora ele tá perdendo meus traços e ficando idêntico ao Arthur.’ Ela riu.
Começamos a conversar sobre filhos e ela contou que o sonho dela é ter uma filha, mas que estava cedo demais e ela queria primeiro ser bem sucedida no emprego, pra depois pensar nisso. Ela falou que queria estudar na França e que estava tentando conseguir alguma bolsa nas faculdades de lá, mas que suas chances agora já eram quase zero já que o período de recebimento das bolsas estava praticamente acabando. Sem que eu percebesse já estava desejando loucamente que ela ganhasse logo várias bolsas e fosse embora de uma vez.
‘Desculpa interromper, posso roubar a Lu uns minutos, Perola?’ Sophia sorriu e Perola concordou balançando a cabeça. Ela me puxou até a cozinha e antes de falar, ficou alguns segundos me olhando.
‘Você ficou com o James.’ Não era uma pergunta.
‘Não, não fiquei. Mas teria ficado se seu namorado não tivesse interrompido.’ Fui sincera e ela balançou a cabeça.
‘O meu namorado e o Arthur você quer dizer.’ Ela cruzou os braços e eu falei um “que seja” baixo. ‘Lu, isso não é justo com o Arthur, não é justo com você mesma, e principalmente, não é justo com o James! Você tá iludindo o cara, você sabe que no máximo vai ficar com ele algumas vezes e na mesma hora que o Arthur estalar os dedos você cai nos braços dele.’ Sophia abaixou o tom de voz para que ninguém nos ouvisse.
‘Não é justo com o Arthur? Sophia, que tipo de amiga é você?’ Perguntei indignada.
‘Eu sou do tipo de amiga que tentar abrir os olhos da outra pra que ela perceba a besteira que tá fazendo, Lua.’ Odeio quando ela me chama pelo nome. ‘Eu não quero jogar isso na sua cara, mas você sabe que a culpa disso tudo é sua.’ Ela tinha um tom de receio na voz.
‘Eu sei que a culpa é minha, e eu já tenho essa realidade esfregada na minha cara o tempo todo, não preciso que minha melhor amiga faça isso pra mim.’ Fiquei séria e ela suspirou.
‘Desculpa, Lu. E só quero que você perceba a besteira que tá fazendo. Eu não to defendendo o Arthur e nunca ficaria contra você. Na verdade vocês dois tem um pouco de culpa por tudo isso que tá acontecendo, e você não faz idéia de como eu me sinto vendo tudo isso acontecer de novo.’ Ela me abraçou e eu não resisti e comecei a chorar.
‘Eu não consigo ver ele com a Perola, não consigo perceber que ele realmente gosta dela. Eu tento odiar ela, mas ela é sempre simpática comigo e isso me dá uma raiva enorme.’ Eu já estava soluçando alto e comecei a escorregar pela parede até cair no chão sentada.
‘Lu, levanta daí.’ Soph tentou me puxar, mas eu neguei.
‘Não, Soph, me deixa aqui. Minha vida tá voltando a ser exatamente como era a dois anos atrás e eu não consigo evitar tudo isso. Eu sou uma fraca, uma perdedora.’ Minha voz era completamente abafada por meu choro e meu rosto já estava encharcado.
‘Lu, pelo amor de Deus, levanta daí.’ Ela tentava me puxar, mas eu me recusava a me mexer. ‘Espera aqui, não se mexe!’ Ela ordenou e saiu da cozinha.
Olhei a cozinha com minha vista embaçada por causa das lágrimas e vi que na bancada tinha uma garrafa de vodka. Nem pensei duas vezes, engatinhei até lá e comecei a beber sentindo minha garganta pegar fogo em cada gole que eu dava.
‘Lu?’ A voz de Sophia apareceu na cozinha minutos depois. Ela me olhou e viu que eu estava com a garrafa de vodka na minha mão. ‘Ai meu Deus, Lua me dá isso.’ Ela correu até mim e só então eu vi que Micael estava atrás dela.
‘Não, me devolve isso, sua chata!’ Falei tentando agarrar a garrafa, mas Micael segurou meus braços. ‘Cara, como vocês são chatos, me deixem beber pra esquecer essa merda de vida.’ Falei com a voz embolada. A mistura de vinho, whisky e vodka corria no meu sangue me deixando entorpecida.
‘Lu, pára de botar o peso pra baixo.’ Micael riu tentando me carregar.
‘Me deixa, Micael. Vai ficar com seu amiguinho e a namoradinha nova dele, vai.’ Falei sentindo as lágrimas descerem por meu rosto. Micael fez uma careta e finalmente conseguiu me carregar.
‘Amor, abre a porta desse quartinho aqui de trás.’ Ele falou pra Sophia, apontando para uma porta que estava fechada. Encostei minha cabeça no ombro de dele e voltei a chorar.
Senti ele me colocar deitada em uma cama e sentar ao meu lado. Eu continuava chorando sem falar nada, minha cabeça girava e minha garganta ardia enquanto eu segurava o braço de Micael com força.
‘É melhor ela ficar por aqui, ela não pode voltar pra casa.’ Sophia falou baixo agachada ao meu lado.
‘Não, o Diego. Meu filho precisa de mim.’ Falei esticando minha mão para alcançar Sophia, mas acabei batendo no rosto dela, que soltou uma exclamação de dor. ‘Eu quero meu filho, Sophia.’ Gemi alto.
‘Calma, Lu. Ele tá lá com a Kat, a gente liga pra ela e pede pra ela ficar lá com ele.’ Ela falava calmamente passando a mão em minha cabeça.
‘Micael?’ A voz de Arthur surgiu do outro lado da porta e eu me encolhi.
‘Não, Micael. Não deixa ele entrar, tira ele daqui, tira ele!’ Falei cobrindo meu rosto como travesseiro.
‘Se você soltar meu braço, eu posso tentar o impedir de entrar aqui!’ Ele falou puxando delicadamente minha mão que estava firmemente agarrando seu braço.
‘O que aconteceu?’ A voz de Arthur agora estava mais próxima e só então eu percebi que já era tarde demais, ele já tinha entrado no quarto.
‘Cara, vamos lá pra fora.’ Micael falou enquanto eu continuava chorando com o rosto enterrado no travesseiro.
‘Não, Micael, me solta. O que aconteceu?’ A voz de Arthur foi se distanciando, até eu ouvir a porta do quarto ser fechada.
‘Eu não quero que ele me veja assim.’ Tirei o travesseiro do rosto e meu choro ganhou o quarto.
‘Calma, Lu. Ele não vai...’ Antes que ela conseguisse terminar a porta abriu e Arthur apareceu dentro do quarto.
‘Arthur, sai daqui!’ Falei alto escondendo meu rosto com o travesseiro novamente.
‘Soph, você pode deixar a gente a sós?’ Ele me ignorou.
‘Não, Sophia! Você não vai sair, quem tem que sair é ele!’ Falei segurando o braço de Soph.
‘Sophia, por favor.’ Arthur pediu com a voz calma e eu olhei pra ela implorando.
‘Por favor, amiga.’ Pedi baixinho mal conseguindo focar minha visão nela, já que as lágrimas impediam.
‘Deculpa, Lu.’ Ela me olhou e soltou o braço que eu segurava.
‘QUE DROGA!’ Gritei escondendo novamente meu rosto enquanto Sophia saía do quarto. ‘Arthur, sai daqui!’ Falei sem ter certeza se ele tinha realmente ouvido já que minha voz saiu completamente abafada.
‘Lua...’ Ele falou sério, mas eu o interrompi jogando o travesseiro em cima dele, ou pelo menos eu tentei.
‘SAI DAQUI!’ Gritei novamente e minha garganta doía horrores.
‘Eu não vou sair daqui.’ Ele falou firme e se aproximou da cama.
‘Não chega perto de mim, Arthur. Vai embora!’ Me encolhi e senti a borda da cama afundar quando ele sentou.
‘Vem cá.’ Ele puxou meu braço e eu tentei puxar de volta, mas ele estava usando toda a força possível.
‘Me deixa, Arthur.’ Pedi já sem força e mais uma vez ele me ignorou. Com uma mão ele me puxou pelo pulso e a outra ele me puxou pela cintura. ‘Não, sai.’ Falei entre soluços o empurrando pelo peito com a mão livre. Meu choro ficou mais alto enquanto ele tentava em silêncio me abraçar, até que eu finalmente cedi, completamente sem força e o abracei enterrando minha cabeça em seu peito e chorando livremente.
Ele me abraçou com força e começou a acariciar meu cabelo, enquanto eu encharcava sua camisa.
‘Porque tudo isso tá acontecendo com a gente?’ Perguntei com a voz embolada. ‘Não era pra isso tá se repetindo, eu lutei tanto contra isso. A gente tá se machucando tanto, pra quê afinal? Eu já vi essa história toda antes, e eu não quero passar por tudo aquilo de novo, eu não agüento.’ Parei de falar tomando fôlego já que tinha dito tudo de vez. Arthur não falou nada, só continuou me abraçando e acariciando meus cabelos.
Ele começou a cantar baixinho uma musica lenta que eu não conseguia entender por causa do meu choro e se ajeitou na cama me fazendo ficar no colo dele, sem parar de me abraçar.
Aos poucos eu fui parando de chorar e a sonolência tomou conta de mim. Meu corpo ia ficando mole, enquanto Arthur continuava a cantar baixinho em meu ouvido.
‘Lu?’ Arthur me chamou depois de um tempo e eu apenas soltei algum som pela boca. ‘Você quer dormir?’ Ele perguntou e eu novamente apenas emiti algum som que nem eu mesma conseguia decifrar. Meus olhos já estava fechados a muito tempo e por mais que eu tentasse abri-los eu não conseguia, parecia que eles pesavam uma tonelada.
Senti Arthur me deitar na cama e sentar ao meu lado. Tentei abrir os olhos novamente, e mais uma vez foi uma tentativa frustrada. Ele pegou em minha mão e eu senti sua respiração bater em meu rosto. Eu continuei sem me mexer, me sentindo fraca demais pra isso. Senti a boca de Arthur encostar delicadamente na minha e depois ele ir beijando minha bochecha até chegar em meu ouvido.
‘Eu sinto muito.’ Ele sussurrou. Eu tentei falar alguma coisa, mas minha boca estava seca e nenhum som saiu dela.
Arthur beijou minha testa e se levantou saindo do quarto. A ultima coisa que eu ouvi foi a porta batendo e ele fungando do outro lado.
‘Foi tão mal assim?’ A olhei com a sobrancelha arqueada. Sophia nunca se dá mal das provas apesar dos escândalos que ela dá.
‘Nem tanto.’ Ela deu de ombros e eu ri. ‘Tá afim de ir lá pra casa do Micael?’ Sophia sorriu.
‘Depende, o que vai ter lá?’ Me levantei e caminhamos pra fora da faculdade. O sol já começava a sumir no horizonte, já que a prova tinha sido num horário diferente das aulas.
‘Nada demais até onde eu sei, ele só disse que ia chamar os meninos e que provavelmente iriam ensaiar. Vamos?’ Ela botou a mão em meu ombro sorrindo com a cara de criança que ela sempre faz quando quer alguma coisa.
‘Ok, ok!’ Falei bufando e ela deu um gritinho.
‘Hm, tem certeza que não vai ter nada por aqui?’ Perguntei baixo para que só Sophia ouvisse. Na casa de Micael tinham quase dez pessoas; Pedro e uma garota que eu não conhecia, Chay e Mel , Charlie e uma garota e James estava sozinho conversando com um outro garoto que eu não conhecia.
‘Ele me falou que seria só um ensaio.’ Ela deu de ombros e foi ao encontro de Micael. ‘Hey amor, não sabia que estava rolando uma festa aqui.’ Ela falou de uma forma engraçada e Micael riu me dando um beijo na testa.
‘Nah, só chamei os caras pra uma reuniãozinha.’ Ele deu de ombros.
Eu e Sophia sorrimos para todos que estavam na sala e sentamos no sofá onde James estava com o carinha ainda desconhecido. Olhei pra James um pouco sem graça e sorri.
‘Hey!’ Dei um beijo na bochecha dele.
‘Não sabia que você vinha!’ Ele sorriu largamente. Nota mental: resistir ao sorriso do James.‘Então, esse é um amigo nosso, Pete.’ Ele apontou para o desconhecido ao seu lado e só então eu reparei que ele parecia o Julian Casablancas do Strokes.
‘Tudo bem?’ Ele se esticou e me deu dois beijinhos. Eu sorri balançando a cabeça. Quando olhei pro lado vi que Sophia não estava mais ali. Passei meus olhos pela sala e vi que ela estava conversando com Micael um pouco mais afastados do sofá.
‘Achei que não fosse mais te ver depois daquele dia da festa.’ James falou atraindo novamente minha atenção.
‘Ah!’ Sorri morrendo de vergonha por ter que lembrar que quase fiquei com James. ‘Desculpa por aquilo, erm...’ Me enrolei um pouco.
‘Nah, não precisa se preocupar.’ Ele me interrompeu e sorriu. Eu agradeci mentalmente, não estava preparada pra inventar alguma desculpa convincente. ‘Então, o que tem feito?’ Ele perguntou mudando de assunto.
‘Ah, nada demais. A velha correria da faculdade e do estágio.’ Dei de ombros ele concordou. ‘E você, escrevendo muitas músicas?’
‘Ah, não muitas. Mas é meu hobby favorito!’ Ele sorriu ainda mais, e eu achava que era impossível. ‘Quer beber alguma coisa?’ Ele falou apontando pra mesa que tinha vinho e wisky.
‘Hm, vinho!’ Sorri e ele concordou se levantando e caminhando até a mesa.
‘Ele tá caidão por você!’ Ouvi alguém falar e me virei encontrando Pete sorrindo.
‘Quê?’ Perguntei em duvida e ele riu.
‘O James, ele só dá esses sorrisos idiotas quando tá gostando de alguém.’ Ele apontou pra James que botava vinho em dois copos e continuava sorrindo.
‘Nah, a gente mal se conhece. Na verdade essa é a segunda vez que a gente se encontra.’ Dei de ombros sorrindo um pouco sem graça.
‘Uau, então o cupido foi rápido dessa vez.’ Ele piscou e se levantou indo conversar com Chay e Pedro. Fiquei algum tempo o olhando e pensando que ele só podia ser maluco.
‘Aqui, Lu.’ A voz de James me despertou e eu peguei o copo que ele me estendia e sorri agradecida.
‘Então, você conhece os meninos a muito tempo?’ Quebrei o silêncio ele me olhou.
‘Um pouco! Conheci primeiro o Chay e depois os outros caras.’ Balancei a cabeça concordando. ‘E você, conhece eles a muito tempo?’
‘Hm, uns três anos.’ Respondi rezando pra que ele não perguntasse como eu os conheci. ‘Estranho a gente nunca ter se batido.’ Comentei e ele concordou.
‘Tava pensando nisso.’ Ele sorriu me olhando. Fiquei algum tempo viajando no sorriso dele, até uma voz conhecida chegar até meus ouvidos. ‘Finalmente, cara!’ Micael gritou rindo. Observei ele se afastar de Sophia que olhava pra porta um pouco assustada, segui seu olhar e senti um soco no estomago ao ver Arthur de mãos dadas com Perola.
‘Outch.’ Falei sentindo uma pontada no peito e me virei de costas pra porta. Senti alguém sentar ao meu lado e me virei encarando Sophia que me olhava como se não acreditasse. Balancei a cabeça ainda um pouco desorientada e me concentrei num ponto fixo no chão tentando respirar calmamente.
‘Tá tudo bem?’ James perguntou reparando minha tensão.
‘Tá sim.’ Sorri fraco.
‘Hey, Arthur!’ Sophia falou com ironia e eu senti vontade de chutar a perna dela. Me virei a tempo de ver Arthur sorrindo sem graça, mas pelo menos ele não estava mais de mãos dadas com Perola. Nos encaramos por alguns segundos em silêncio.
‘Erm... a Perola vocês já conhecem, né?’ Ele apontou para a garota ao seu lado que sorria.
‘Já sim! Tudo bem, Perola?’ Sophia falou, dessa vez mais simpática.
‘Tudo bem sim!’ Ela sorriu olhando pra mim e pra Soph.
‘Fala, Aguiar!’ James se levantou e abraçou Arthur.
‘James! Virou presença constante agora!’ Ele respondeu rindo e James balançou a cabeça confirmando.
‘Arthur Aguiar!’ Pedro gritou da varanda da sala e Arthur foi até lá rindo.
‘Senta aí, Perola.’ Sophia apontou para uma cadeira que tinha perto do sofá em que estávamos e ela sentou. ‘Então, a festa do seu irmão foi ótima!’ Ela falou animada, mas se eu bem conheço Sophia, ela apenas disse isso pra não deixar o silêncio cair entre a gente.
‘Ah, que bom que você gostou. Mas eu nem vi você e a Lu depois do show.’ Ela me olhou sorrindo.
‘Eu não me senti muito bem!’ Falei interrompendo Sophia que já tinha aberto a boca pra responder. ‘Tava com uma dor de cabeça e tal.’ Fiz uma careta.
‘Ah, que pena! O final da festa foi tão bom, ficamos ali na varanda conversando. A maioria de nós bêbados, claro.’ Nós rimos. ‘Mas foi realmente legal!’ Ela falou como se estivesse lembrando e eu sorri fraco.
Olhei pro lado e percebi que James não estava mais ali. Quando voltei meu olhar pra varando vi ele e Arthur conversando animadamente. Fiquei algum tempo os observando, até Sophia tossir ao meu lado chamando minha atenção.
‘Hey, Mel, vem pra cá!’ Sophia chamou Mel e a garota que estava acompanhando Pedro. Elas se aproximaram sorrindo.
‘Hey, meninas!’ Ela sorriu para nós três. ‘Essa daqui é a Becky.’ A menina ao lado dela sorriu acenando.
‘Prazer, Becky!’ Sorri e cheguei pro lado para que ela se sentasse, enquanto Mel sentou na mesinha de centro.
Engatamos uma conversa animada sobre a banda dos meninos, depois falamos sobre Justin Timberlake, sobre Londres, e íamos emendando um assunto no outro e não calávamos a boca nunca. Enquanto conversávamos bebíamos também, então o nível de álcool em nosso sangue já estava começando a ficar elevado, assim como nossas vozes.
‘Ai, preciso ir ao banheiro.’ Falei rindo e me levantando sem jeito. Saí da sala e entrei num corredor que tinha alguns quartos e um banheiro para visitas. Antes de entrar no banheiro ouvi duas vozes saindo de um dos quartos.
‘Por que você não me falou que ela vinha, cara?’ A voz de Arthur estava um pouco histérica.
‘Eu não sabia, Arthur! Ela e a Sophia apareceram aqui, mas era um pouco obvio que a Soph ia chamar ela, né?’ Micael respondeu um pouco alterado também.
‘E o que eu faço agora? Eu mal posso chegar perto das duas!’ Senti meus joelhos vacilarem.
‘Sei lá, cara, se vira. As mulheres são suas, você que se meteu nessa!’ Ouvi passos se aproximando da porta e corri pro banheiro fechando a porta rapidamente.
Não demorei muito tempo lá dentro, saí do banheiro trocando um pouco as pernas e ri comigo mesma. Ok, eu precisava parar de beber. Caminhei lentamente de volta pra sala, mas no final do corredor uma cena me chamou atenção. Perola stava na frente de Arthur, ele com os braços envolvendo a cintura dela, enquanto ela tinha as mãos apoiadas no peito dele, brincando a corrente no pescoço de Arthur. Ele falou alguma coisa que a fez rir e lhe deu um selinho demorado.
Fechei os olhos dando um passo pra trás para que ninguém me visse e respirei fundo, ia continuar e seguir pra sala, mas quando dei novamente um passo pra frente, vi que os dois estavam se beijando e não era apenas um selinho.
‘Merda, merda, merda, merda!’ Entrei na primeira porta do corredor e reparei que era um quarto, provavelmente de Micael. Sentei na cama apoiando minha cabeça e minhas mãos e me senti um pouco tonta.
‘Lu?’ A voz de James me fez olhar pra porta e ele entrou no quarto preocupado. ‘Tá tudo bem?’ Ele se agachou na minha frente e passou a mão por meus cabelos.
‘Tá sim, James. Só to um pouco tonta. Brigada por se preocupar.’ Sorri fraco e ele concordou balançando a cabeça.
‘Quer que eu fique aqui com você?’ Ele sentou ao lado na cama.
‘Na verdade, quero sim. Fala qualquer assunto comigo, James. Me distrai.’ Falei deitando minha cabeça em seu ombro e ele passou um braço pela minha cintura.
‘Ok, hm...’ Ele pensou por alguns segundos e eu fechei meus olhos. ‘Me conta sobre a sua faculdade, você gosta?’ Eu sorri fraco por causa da tentativa frustrada dele em me distrair, ele definitivamente não era bom em inventar assuntos.
‘Hm, gosto! Algumas matérias são um pouco chatas, tipo filosofia, mas faz parte.’ Dei de ombros. ‘Fora que eu gosto dos meus colegas, e tem a Sophia lá.’ Completei e ele falou alguma coisa baixinho. ‘Que foi?’ Virei meu rosto pra ele, mas me arrependi no mesmo instante ao perceber que estávamos próximos demais.
James não falou nada, apenas sorriu e apertou mais o braço em volta de minha cintura, como se quisesse impedir que eu saísse correndo novamente. Ele sorriu largamente enquanto aproximava nossos rostos e eu não me senti capaz de impedi-lo. Uma voz em minha cabeça gritava para que eu me afastasse, mas a cena do beijo entre Arthur e Perola ainda estava muito clara em minha mente. “Se ele pode, eu também posso” pensei e instantaneamente fechei os olhos sentindo a boca de James encostar na minha.
‘Cara, aquela musica que...’ Uma voz fez com que eu e James pulássemos.
Olhei pra porta com o coração acelerado e vi Micael e Arthur nos olhando. Os olhos de Arthur passaram por James, depois pra mim e depois pra mão de James em minha cintura. Eu o olhei sentindo que meu coração sairia pela boca a qualquer momento, ele também me encarou em silêncio. Tentei ler nos olhos dele, mas não consegui ver nada lá, era um olhar vazio e machucava quase tanto quanto o olhar magoado da noite do meu aniversário.
‘Erm... Desculpa, a gente só ia...’ Micael falava desconcertado.
‘Não, Micael. Sem problemas.’ Me levantei e James fez o mesmo. Respirei fundo tentando me acalmar e saí do quarto passando direto por Arthur e sentindo seu olhar me acompanhando.
Voltei pra sala ainda tentando fazer meu coração bater normalmente e parei na mesa pegando a garrafa de whisky e botando no copo sem gelo nem nada.
Senti a bebida passar por minha garganta queimando e fechei os olhos.
‘O que aconteceu?’ Abri os olhos assustada e Sophia estava do meu lado.
‘Merda, como sempre! Ultimamente é só isso que tem acontecido na minha vida.’ Dei de ombros e botei mais whisky no copo.
‘E você acha que se beber tudo isso vai parar de acontecer?’ Ela me olhou séria e eu dei de ombros.
‘Ah, me deixa, Sophia.’ Esvaziei novamente o copo sentindo o ardor em minha garganta. Ela resmungou alguma coisa e voltou para o sofá. Botei o copo na mesa e respirei fundo olhando pra James, que parecia completamente alheio a conversa que rolava na varanda, mas não olhava pra mim.
Enchi um copo com vinho e fui me sentar novamente no sofá, nem prestei atenção ao que as meninas conversavam, apenas fiquei tomando o vinho esperando Arthur ou Micael aparecerem na sala.
Quando Micael apareceu, Sophia levantou num pulo e o puxou para a cozinha. Aposto que ela ia perguntar se ele sabia o que tinha acontecido comigo. Olhei novamente pro corredor, mas Arthur não apareceu.
‘Hey, Lu. Como anda o Diego?’ Perola sentou ao meu lado atraindo minha atenção.
‘Ah, tá bem.’ Sorri fraco sem conseguir ser fria com ela. Por mais que eu tentasse a odiar, ela sempre era simpática comigo, e eu não podia culpá-la por meus problemas com o Arthur, na verdade a culpa de tudo que estava acontecendo era minha, eu que arcasse com as conseqüências.
‘Ele é um amor, né?’ Ela sorriu. ‘Ele parece muito com o Arthur!’ Ela comentou com uma cara pensativa.
‘Muito! Quando ele era mais novinho ele costuma ser a exata mistura entre mim e Arthur, mas agora ele tá perdendo meus traços e ficando idêntico ao Arthur.’ Ela riu.
Começamos a conversar sobre filhos e ela contou que o sonho dela é ter uma filha, mas que estava cedo demais e ela queria primeiro ser bem sucedida no emprego, pra depois pensar nisso. Ela falou que queria estudar na França e que estava tentando conseguir alguma bolsa nas faculdades de lá, mas que suas chances agora já eram quase zero já que o período de recebimento das bolsas estava praticamente acabando. Sem que eu percebesse já estava desejando loucamente que ela ganhasse logo várias bolsas e fosse embora de uma vez.
‘Desculpa interromper, posso roubar a Lu uns minutos, Perola?’ Sophia sorriu e Perola concordou balançando a cabeça. Ela me puxou até a cozinha e antes de falar, ficou alguns segundos me olhando.
‘Você ficou com o James.’ Não era uma pergunta.
‘Não, não fiquei. Mas teria ficado se seu namorado não tivesse interrompido.’ Fui sincera e ela balançou a cabeça.
‘O meu namorado e o Arthur você quer dizer.’ Ela cruzou os braços e eu falei um “que seja” baixo. ‘Lu, isso não é justo com o Arthur, não é justo com você mesma, e principalmente, não é justo com o James! Você tá iludindo o cara, você sabe que no máximo vai ficar com ele algumas vezes e na mesma hora que o Arthur estalar os dedos você cai nos braços dele.’ Sophia abaixou o tom de voz para que ninguém nos ouvisse.
‘Não é justo com o Arthur? Sophia, que tipo de amiga é você?’ Perguntei indignada.
‘Eu sou do tipo de amiga que tentar abrir os olhos da outra pra que ela perceba a besteira que tá fazendo, Lua.’ Odeio quando ela me chama pelo nome. ‘Eu não quero jogar isso na sua cara, mas você sabe que a culpa disso tudo é sua.’ Ela tinha um tom de receio na voz.
‘Eu sei que a culpa é minha, e eu já tenho essa realidade esfregada na minha cara o tempo todo, não preciso que minha melhor amiga faça isso pra mim.’ Fiquei séria e ela suspirou.
‘Desculpa, Lu. E só quero que você perceba a besteira que tá fazendo. Eu não to defendendo o Arthur e nunca ficaria contra você. Na verdade vocês dois tem um pouco de culpa por tudo isso que tá acontecendo, e você não faz idéia de como eu me sinto vendo tudo isso acontecer de novo.’ Ela me abraçou e eu não resisti e comecei a chorar.
‘Eu não consigo ver ele com a Perola, não consigo perceber que ele realmente gosta dela. Eu tento odiar ela, mas ela é sempre simpática comigo e isso me dá uma raiva enorme.’ Eu já estava soluçando alto e comecei a escorregar pela parede até cair no chão sentada.
‘Lu, levanta daí.’ Soph tentou me puxar, mas eu neguei.
‘Não, Soph, me deixa aqui. Minha vida tá voltando a ser exatamente como era a dois anos atrás e eu não consigo evitar tudo isso. Eu sou uma fraca, uma perdedora.’ Minha voz era completamente abafada por meu choro e meu rosto já estava encharcado.
‘Lu, pelo amor de Deus, levanta daí.’ Ela tentava me puxar, mas eu me recusava a me mexer. ‘Espera aqui, não se mexe!’ Ela ordenou e saiu da cozinha.
Olhei a cozinha com minha vista embaçada por causa das lágrimas e vi que na bancada tinha uma garrafa de vodka. Nem pensei duas vezes, engatinhei até lá e comecei a beber sentindo minha garganta pegar fogo em cada gole que eu dava.
‘Lu?’ A voz de Sophia apareceu na cozinha minutos depois. Ela me olhou e viu que eu estava com a garrafa de vodka na minha mão. ‘Ai meu Deus, Lua me dá isso.’ Ela correu até mim e só então eu vi que Micael estava atrás dela.
‘Não, me devolve isso, sua chata!’ Falei tentando agarrar a garrafa, mas Micael segurou meus braços. ‘Cara, como vocês são chatos, me deixem beber pra esquecer essa merda de vida.’ Falei com a voz embolada. A mistura de vinho, whisky e vodka corria no meu sangue me deixando entorpecida.
‘Lu, pára de botar o peso pra baixo.’ Micael riu tentando me carregar.
‘Me deixa, Micael. Vai ficar com seu amiguinho e a namoradinha nova dele, vai.’ Falei sentindo as lágrimas descerem por meu rosto. Micael fez uma careta e finalmente conseguiu me carregar.
‘Amor, abre a porta desse quartinho aqui de trás.’ Ele falou pra Sophia, apontando para uma porta que estava fechada. Encostei minha cabeça no ombro de dele e voltei a chorar.
Senti ele me colocar deitada em uma cama e sentar ao meu lado. Eu continuava chorando sem falar nada, minha cabeça girava e minha garganta ardia enquanto eu segurava o braço de Micael com força.
‘É melhor ela ficar por aqui, ela não pode voltar pra casa.’ Sophia falou baixo agachada ao meu lado.
‘Não, o Diego. Meu filho precisa de mim.’ Falei esticando minha mão para alcançar Sophia, mas acabei batendo no rosto dela, que soltou uma exclamação de dor. ‘Eu quero meu filho, Sophia.’ Gemi alto.
‘Calma, Lu. Ele tá lá com a Kat, a gente liga pra ela e pede pra ela ficar lá com ele.’ Ela falava calmamente passando a mão em minha cabeça.
‘Micael?’ A voz de Arthur surgiu do outro lado da porta e eu me encolhi.
‘Não, Micael. Não deixa ele entrar, tira ele daqui, tira ele!’ Falei cobrindo meu rosto como travesseiro.
‘Se você soltar meu braço, eu posso tentar o impedir de entrar aqui!’ Ele falou puxando delicadamente minha mão que estava firmemente agarrando seu braço.
‘O que aconteceu?’ A voz de Arthur agora estava mais próxima e só então eu percebi que já era tarde demais, ele já tinha entrado no quarto.
‘Cara, vamos lá pra fora.’ Micael falou enquanto eu continuava chorando com o rosto enterrado no travesseiro.
‘Não, Micael, me solta. O que aconteceu?’ A voz de Arthur foi se distanciando, até eu ouvir a porta do quarto ser fechada.
‘Eu não quero que ele me veja assim.’ Tirei o travesseiro do rosto e meu choro ganhou o quarto.
‘Calma, Lu. Ele não vai...’ Antes que ela conseguisse terminar a porta abriu e Arthur apareceu dentro do quarto.
‘Arthur, sai daqui!’ Falei alto escondendo meu rosto com o travesseiro novamente.
‘Soph, você pode deixar a gente a sós?’ Ele me ignorou.
‘Não, Sophia! Você não vai sair, quem tem que sair é ele!’ Falei segurando o braço de Soph.
‘Sophia, por favor.’ Arthur pediu com a voz calma e eu olhei pra ela implorando.
‘Por favor, amiga.’ Pedi baixinho mal conseguindo focar minha visão nela, já que as lágrimas impediam.
‘Deculpa, Lu.’ Ela me olhou e soltou o braço que eu segurava.
‘QUE DROGA!’ Gritei escondendo novamente meu rosto enquanto Sophia saía do quarto. ‘Arthur, sai daqui!’ Falei sem ter certeza se ele tinha realmente ouvido já que minha voz saiu completamente abafada.
‘Lua...’ Ele falou sério, mas eu o interrompi jogando o travesseiro em cima dele, ou pelo menos eu tentei.
‘SAI DAQUI!’ Gritei novamente e minha garganta doía horrores.
‘Eu não vou sair daqui.’ Ele falou firme e se aproximou da cama.
‘Não chega perto de mim, Arthur. Vai embora!’ Me encolhi e senti a borda da cama afundar quando ele sentou.
‘Vem cá.’ Ele puxou meu braço e eu tentei puxar de volta, mas ele estava usando toda a força possível.
‘Me deixa, Arthur.’ Pedi já sem força e mais uma vez ele me ignorou. Com uma mão ele me puxou pelo pulso e a outra ele me puxou pela cintura. ‘Não, sai.’ Falei entre soluços o empurrando pelo peito com a mão livre. Meu choro ficou mais alto enquanto ele tentava em silêncio me abraçar, até que eu finalmente cedi, completamente sem força e o abracei enterrando minha cabeça em seu peito e chorando livremente.
Ele me abraçou com força e começou a acariciar meu cabelo, enquanto eu encharcava sua camisa.
‘Porque tudo isso tá acontecendo com a gente?’ Perguntei com a voz embolada. ‘Não era pra isso tá se repetindo, eu lutei tanto contra isso. A gente tá se machucando tanto, pra quê afinal? Eu já vi essa história toda antes, e eu não quero passar por tudo aquilo de novo, eu não agüento.’ Parei de falar tomando fôlego já que tinha dito tudo de vez. Arthur não falou nada, só continuou me abraçando e acariciando meus cabelos.
Ele começou a cantar baixinho uma musica lenta que eu não conseguia entender por causa do meu choro e se ajeitou na cama me fazendo ficar no colo dele, sem parar de me abraçar.
Aos poucos eu fui parando de chorar e a sonolência tomou conta de mim. Meu corpo ia ficando mole, enquanto Arthur continuava a cantar baixinho em meu ouvido.
‘Lu?’ Arthur me chamou depois de um tempo e eu apenas soltei algum som pela boca. ‘Você quer dormir?’ Ele perguntou e eu novamente apenas emiti algum som que nem eu mesma conseguia decifrar. Meus olhos já estava fechados a muito tempo e por mais que eu tentasse abri-los eu não conseguia, parecia que eles pesavam uma tonelada.
Senti Arthur me deitar na cama e sentar ao meu lado. Tentei abrir os olhos novamente, e mais uma vez foi uma tentativa frustrada. Ele pegou em minha mão e eu senti sua respiração bater em meu rosto. Eu continuei sem me mexer, me sentindo fraca demais pra isso. Senti a boca de Arthur encostar delicadamente na minha e depois ele ir beijando minha bochecha até chegar em meu ouvido.
‘Eu sinto muito.’ Ele sussurrou. Eu tentei falar alguma coisa, mas minha boca estava seca e nenhum som saiu dela.
Arthur beijou minha testa e se levantou saindo do quarto. A ultima coisa que eu ouvi foi a porta batendo e ele fungando do outro lado.
29º Capitulo - Addicted
Uma musica alta me despertou do sono tranqüilo e eu abri um olho preguiçosamente. Demorei alguns instantes pra consegui focaliza-los e finalmente consegui lembrar onde eu estava. Assim que eu lembrei da noite anterior, uma pontada em minha cabeça me fez fechar os olhos rapidamente e me arrepender amargamente por ter bebido e chorado tanto. Tirei o travesseiro debaixo da minha cabeça e cobri meu rosto já que a claridade que entrava pelas frestas da cortina estava me incomodando.
A musica alta que parecia vir do vizinho finalmente abaixou e eu sorri pensando em voltar a dormir. Me ajeitei na cama e fiquei quieta esperando o sono voltar. Esperei durante minutos e mais minutos, mas não adiantou de nada, eu continuava acordada sentindo a cabeça latejar.
‘Merda.’ Resmunguei me levantando e sentindo meu corpo todo doer.
Saí daquele quartinho nos fundos do apartamento e caminhei pela cozinha sem fazer barulho, a casa toda estava em silêncio, provavelmente ninguém tinha acordado ainda. Entrei no corredor e vi que a primeira porta, que era do quarto de Micael estava fechada, a segunda estava aberta e não tinha ninguém lá, e a ultima estava encostada. Botei minha cabeça pra dentro com cuidado e vi que Arthur estava deitado na cama, e pra minha surpresa Diego estava ao seu lado, os dois dormindo. Sorri sentindo meus olhos encherem de lágrimas e saí do quarto entrando no banheiro.
Fiz uma careta encarando meu reflexo no espelho, eu estava parecendo um espantalho. Peguei uma escova que tinha ali em cima da bancada e tentei dar um jeito em meu cabelo prendendo-o em um coque, depois escovei meus dentes com o dedo mesmo. Quando saí do banheiro, Sophia estava saindo do quarto de Micael.
‘Bom dia, já acordada?’ Ela sorriu pra mim.
‘É, uma musica alta idiota me acordou e eu não consegui mais dormir.’ Falei baixo com medo de acordar Arthur e Diego.
‘Tá com fome?’ Ela fez careta e eu balancei a cabeça confirmando. ‘Já faço alguma coisa pra gente, espera só eu acordar direito e ir ao banheiro.’ Ela sorriu.
‘Tudo bem, to lá na cozinha.’ Falei e fui em direção a cozinha.
Minutos depois Sophia apareceu na cozinha e começou a preparar um café pra nós duas. Comemos em silêncio, o único som era o barulho da xícara batendo levemente na mesa.
‘Então, como você tá se sentindo?’ Sophia perguntou quando estávamos no sofá da sala.
‘Hm, melhor agora. Minha cabeça tá parando de doer, e meu corpo já tá mais leve.’ Falei sincera e ela sorriu. ‘O Diego tá aí.’ Falei vagamente e ela balançou a cabeça.
‘O Arthur trouxe ele pra cá ontem a noite.’ Sophia falou simplesmente.
Liguei a televisão, apenas pra não deixar o silêncio tomar conta da sala e fiquei olhando qualquer coisa que passava e eu não prestava atenção.
Já estava quase dormindo novamente quando Diego entrou na sala e meu coração acelerou com a possibilidade de Arthur vir logo depois, mas isso não aconteceu.
‘Bom dia, meu amor!’ Peguei Diego no colo e o abracei.
‘Quero comer.’ Ele falou sorrindo e Sophia riu.
‘Pera que eu vou pegar alguma coisa pra ele comer.’ Ela se levantou e foi até a cozinha.
‘Acho que vou pra casa, tenho que trabalhar à tarde. Já faltei faculdade, mas se faltar o estágio me chutam de lá!’ Falei me levantando do sofá. Micael e Arthur ainda não tinham acordado.
‘Relaxa, Lu, hoje é sexta, todo mundo falta faculdade dia de sexta.’ Sophia riu. Concordei silenciosamente e fui até a porta com Diego no colo.
‘Fala pro Micael que eu mandei um beijo.’ Falei já do lado de fora.
‘E o Arthur?’ Ela perguntou e a olhei dando de ombros. ‘Tchau.’ Ela riu.
Fui o caminho inteiro até em casa tentando imaginar minha reação quando visse Arthur, e principalmente... a dele quando me visse. Não fazia idéia do que falar pra ele, mas resolvi deixar pra pensar nisso depois. Cheguei em casa e liguei para que Kat fosse ficar com o Diego a tarde, já que eu não sabia se Arthur ia aparecer.
Duas horas depois eu cheguei ao trabalho atrasada e tive que ficar ouvindo a Margot berrar durante quase dez minutos sobe como estagiários são irresponsáveis e nunca estão preocupados com o trabalho, só querem se divertir e mais um bando de coisa que eu resolvi não ouvir.
‘É hoje que a madrasta tem um ataque do coração!’ Jake comentou rindo e eu sorri concordando. ‘Ela estava histérica achando que você ia faltar hoje. Algum problema?’ Ele me olhou preocupado.
‘Os de sempre.’ Balancei a cabeça. ‘Nada demais.’ Forcei um sorriso e acho que ele foi convincente, já que Jake não perguntou mais nada e voltou a checar os e-mails em seu computador. Aliás, quando não está servindo cafezinhos ou acatando ordens da Margot é só isso que ele faz.
Pra minha sorte, Margot me manteve ocupada a maior parte do tempo não me dando chances de lembrar que quando eu chegasse em casa, Arthur provavelmente estaria lá.
Quando o dia de trabalho terminou, eu enrolei o máximo que pude. Arrumei minha mesa várias vezes, fiquei conversando com todas as pessoas que passavam por mim, até fui tomar um cafezinho recebendo um olhar nada agradável da senhora que serve na cantina, já que ele queria fechar e eu insistia em puxar assunto e perguntar sobre as comidas que estavam expostas, mesmo sabendo que não ia comprar.
‘Ok, Lua, respire fundo.’ Falei pra mim mesma enquanto subia o elevador. Observei minha imagem no espelho e reparei em meus olhos ansiosos e ao mesmo tempo amedrontados. O elevador parou fazendo meu coração disparar e eu tive que contar até dez antes de finalmente encarar o corredor e a porta do apartamento. Parei na porta quando ouvi a risada de Diego, ele podia estar ainda com Kat, ou brincando com Arthur, e só tinha um jeito de eu descobrir isso.
'Mãe!' Diego correu para me abraçar e meu coração voltou ao ritmo normal quando eu vi que era Kat quem estava brincando com ele.
'Ei, meu amor!' O carreguei e beijei sua bochecha.
'Cadê o papai?' Ele perguntou fazendo bico e eu suspirei colando-o no chão novamente.
'Papai deve tá chegando, meu amor.' Sorri fraco. 'Kat, fica mais um pouco com ele, eu vou tomar banho e depois você pode ir, ok?' Ela concordou e eu fui pro quarto tentando imaginar onde Arthur estava. Antes de tomar banho peguei o celular e liguei pra Sophia.
'Tá melhor?' Ela perguntou com a voz preocupada e eu suspirei confirmando.
'O Arthur ainda tá na casa do Micael?' Tentei parecer indiferente, mas minha voz saiu um pouco desesperada.
'Nop! Ele saiu de lá antes de mim, tem um bom tempo já, Lu! Ele não tá aí?'
'Não, acabei de chegar e ele não tá aqui ainda. Será que ele tá com a Perola?' Abaixei a voz.
'Hm... é uma possibilidade.' Ela falou inexpressivamente. 'Eu tenho que ir, Lu, minha mãe tá me berrando aqui. Me dá noticia, ok?'
'Tudo bem. Beijo.' Desliguei bufando e fui tomar banho pra tentar esquecer Arthur por alguns minutos.
'Mãe, cadê o papai?' Diego perguntou novamente sentando em meu colo. Já estávamos na sala vendo tv a quase duas horas, e Arthur ainda não havia dado noticia.
'Ele já deve tá chegando, Diego.' Repeti a mesma coisa que tinha dito mais cedo. Afinal, onde estava Arthur? Essa pergunta martelava em minha cabeça e fazia meu coração ficar cada vez mais apertado.
'Tô com sono.' Ele reclamou esfregando o olho e fazendo bico.
'Vamos, vou te levar pra cama.' Ia me levantar, mas Diego agarrou meu braço.
'Não, quero esperar papai.' Ele sentou no chão cruzando os braços e eu respirei fundo.
'Diego, olha pra mamãe.' Falei tocando o queixo dele e ele me olhou. 'O papai tá trabalhando com o tio Micael, escrevendo musicas. Ele pode chegar tarde, meu anjo.' Falei da forma mais convincente possível. 'Vamos meu amor, quando o papai chegar eu falo pra ele ir lá te olhar.' Ele fez um bico ainda maior, mas mesmo assim deixou que eu o carregasse e o levasse pro quarto.
Depois de quase meia hora finalmente consegui fazer Diego dormir. Quando saí de seu quarto, ouvi meu telefone tocar e corri até a sala com o coração acelerando. Olhei no visor rezando pra ser Arthur, mas era o nome de Sophia que piscava na tela.
'Hey.' Falei tomando fôlego por causa da rápida corrida.
'Te acordei, amiga?' Ela perguntou receosa e eu neguei fazendo um barulho com a boca. 'Hm... o Arthur já chegou?'
'Nop!' Falei desanimada. 'Tô começando a ficar preocupada.' Olhei rápido pra porta pensando ter ouvido um barulho de chave, mas já estava começando a imaginar sons.
'Erm... eu tava conversando com o Micael alguns minutos atrás.' Ela parou parecendo medir as palavras. 'Erm... parece que a Perola é carta fora do baralho.' Ela falou um pouco mais baixo.
'Uhn?' Perguntei confusa e Sophia suspirou antes de responder.
'Se eu entendi bem, hoje pela manhã a Perola recebeu uma ligação de uma faculdade da França dizendo que ela tinha conseguido uma bolsa ou algo assim, mas parece que ela tem que ir pra lá o mais rápido possível...' Ela parou por alguns segundos. 'Se eu não me engano daqui a dois dias ela já tá lá.' Fiquei alguns segundos em silêncio tentando absorver tudo que Sophia tinha dito.
'T-tem certeza?' Gaguejei.
'Yep!' Ela confirmou.
'Ok!' Falei ainda um pouco desnorteada. 'Preciso desligar, o Diego tá um pouco inquieto. Até amanhã, beijo.' Menti e desliguei o telefone rápido.
Continuei sentada no sofá olhando pro nada e pensando na noticia que eu tinha acabado de receber. Perola tinha realmente conseguido a bolsa e agora ia morar França, muito provavelmente ela e Arthur iriam terminar o que nem tinham começado ainda. E porque eu não me sentia feliz com essa noticia? Talvez porque eu soubesse que com ou sem Perola , eu e Arthur ainda não voltaríamos a ficar bem, ele provavelmente iria procurar outra garota pra substituí-la. Ou quem sabe ele não iria querer mesmo substituí-la? Ele podia ter quantas garotas ele quisesse, sem se firmar realmente em uma. Suspirei pesadamente e fui para o quarto me jogando na cama.
Se a Perola ia pra França, então quem sabe eles não estavam juntos naquele exato momento? Eles podiam estar fazendo uma super despedida enquanto a idiota aqui estava em casa preocupada. Peguei meu iPod na bolsa e deitei novamente na cama, me encolhi embaixo dos cobertores e fechei os olhos deixando o iPod no shuffle. Eu só queria conseguir dormir sem ter que acordar no meio da noite por causa de um pesadelo qualquer.
Ouvi o barulho de uma porta batendo e meus olhos rapidamente se abriram, percebi que ainda estava com os fones no ouvido, mas não tocava nenhuma musica. A bateria provavelmente tinha acabado, sempre esquecia de carregar. Outro barulho me fez praticamente pular da cama, me levantei passando a mão pelo cabelo ainda tentando me orientar e fui tropeçando até a porta do quarto. A luz forte que vinha do quarto de Arthur me fez fechar os olhos rapidamente, e depois eu os abri calmamente até me acostumar com a claridade.
'Arthur?' Falei baixo caminhando até o quarto dele. O quarto aparentemente estava vazio, mas a luz do banheiro estava acesa também. Dei alguns passos lentamente. 'Arthur?' Perguntei de novo, e mais uma vez não ouve resposta. Mordi meu lábio um pouco hesitante e quando ia entrar no banheiro o som baixo da porta do quarto fechando me fez dar um pulo e girar rapidamente encontrando Arthur parado sorrindo.
O olhei durante alguns segundos e reparei em sua roupa amassada e seus cabelos bagunçados. Quando voltei meu olhar para seu rosto vi que aquele sorriso não era como qualquer outro que eu já tinha visto. Era um sorriso maldoso e junto com o olhar de Arthur estava cheio de más intenções.
'Procurando por mim, meu amor?' Ele perguntou com a voz rouca e um pouco embolada enquanto caminhava até mim. Quando estava a alguns passos de distancia eu senti o cheiro forte de álcool.
'Arthur, você tá bêbado.' Falei dando um passo pra trás e fazendo careta.
'Ah, só um pouco.' Ele riu e me puxou pela cintura beijando meu rosto.
'Arthur, me solta.' Falei me incomodando com a forma que ele me agarrava pela cintura. Os braços dele pareciam querer me sufocar e a boca dele já estava em meu pescoço de uma forma nada cuidadosa.
'Larga de ser chata, Lu, vamos nos divertir um pouco.' As mãos dele entraram embaixo de minha blusa percorrendo meu corpo, enquanto eu o empurrava pelo peito tentando afasta-lo.
'Pára com isso!!' Pedi quase chorando, mas ele não pareceu se incomodar.
Sua boca subiu para meu rosto e quando ele ia me beijar eu virei o rosto sentindo uma lágrima cair. Eu sabia que ele estava completamente bêbado e eu dificilmente conseguiria me livrar dos braços dele que me apertavam contra si.
'Arthur, você tá me machucando, me solta.' Comecei a esmurrar o peito dele e o puxar pela camisa, ele apenas deu um risinho baixo e me empurrou em sua cama deitando rapidamente por cima de mim sem nenhum cuidado.
'Você também quer isso, Lu, admite.' Sua mão desceu até a barra do meu short e ele começou a tirá-lo.
'Eu não quero.' Falei entre os dente empurrando a mão dele, mas Arthur foi mais rápido e segurou minha mão do lado do meu corpo. Sua boca continuava trilhando um caminho em meu pescoço, e eu tinha certeza que ali ficariam marcas tamanha era a força. 'Arthur, o Diego pode acordar, pára com isso.' Pedi desistindo de segurar as lágrimas. Eu me recusava a admitir que ele estava realmente fazendo aquilo, eu preferia nem imaginar a palavra que certamente qualificava aquele ato.
Enquanto eu lutava com apenas uma mão para afastá-lo sem o menor sucesso, sua outra mão conseguiu descer meu short até os joelhos e ele sorriu malicioso. Minha blusa já estava quase toda levantada e eu me senti completamente vulnerável. Se eu gritasse no máximo acordaria Diego.
'Já disse o quanto você é gostosa?' Ele me olhou sorrindo e eu mal enxergava seu rosto por causa das lágrimas.
Arthur segurou meus dois braços com força e foi descendo os beijos pela minha barriga, eu encolhi minhas pernas fechando meus olhos desejando desesperadamente que eu acordasse daquele pesadelo. Várias partes do meu corpo doíam por causa dos apertões que Arthur tinha dado. Senti sua boca fazer o caminho de volta para meu pescoço, eu desisti completamente de lutar, permaneci com meus olhos bem fechados enquanto sentia repulsa à mim mesma.
Arthur soltou um dos meus braços apenas para tentar sem sucesso abrir meu sutiã e depois ele rapidamente abriu sua calça. Meu choro silencioso passava completamente despercebido à luxuria de seus olhos.
Ele se posicionou em cima de mim com a mão na barra de minha calcinha e como um reflexo eu levantei meu joelho com força acertando o meio de suas pernas. Ele caiu ao meu lado gemendo de dor e fazendo careta e sem pensar duas vezes eu corri para meu quarto e tranquei rapidamente a porta.
Meu choro finalmente ganhou o quarto e eu não me senti capaz de mover um músculo sequer. Escorreguei ainda encostada na porta e abracei as pernas me encolhendo. Naquele momento eu sentia nojo de mim mesma, eu me sentia suja.
Eu sabia que não ia conseguir dormir, o medo dominava cada parte do meu corpo. Pensei em Diego sozinho no quarto, mas eu sabia que Arthur seria incapaz de tocar num fio de cabelo do próprio filho, não naquele estado.
O cheiro de álcool estava impregnado em minha roupa e eu me sentia enjoada. Juntei o pouco de força que me restava e corri para o banheiro, entrei embaixo do chuveiro numa tentativa desesperada de me livrar daquela sujeira.
A água morna ajudou a relaxar meu corpo, mas eu ainda tremia quando voltei pro quarto e procurei uma roupa qualquer pra vestir. Entrei embaixo dos cobertores e me encolhi o máximo que eu pude abraçando minhas pernas. A única coisa que eu queria era que aquela noite acabasse, mas eu sabia que na minha mente ela duraria pra sempre.
A musica alta que parecia vir do vizinho finalmente abaixou e eu sorri pensando em voltar a dormir. Me ajeitei na cama e fiquei quieta esperando o sono voltar. Esperei durante minutos e mais minutos, mas não adiantou de nada, eu continuava acordada sentindo a cabeça latejar.
‘Merda.’ Resmunguei me levantando e sentindo meu corpo todo doer.
Saí daquele quartinho nos fundos do apartamento e caminhei pela cozinha sem fazer barulho, a casa toda estava em silêncio, provavelmente ninguém tinha acordado ainda. Entrei no corredor e vi que a primeira porta, que era do quarto de Micael estava fechada, a segunda estava aberta e não tinha ninguém lá, e a ultima estava encostada. Botei minha cabeça pra dentro com cuidado e vi que Arthur estava deitado na cama, e pra minha surpresa Diego estava ao seu lado, os dois dormindo. Sorri sentindo meus olhos encherem de lágrimas e saí do quarto entrando no banheiro.
Fiz uma careta encarando meu reflexo no espelho, eu estava parecendo um espantalho. Peguei uma escova que tinha ali em cima da bancada e tentei dar um jeito em meu cabelo prendendo-o em um coque, depois escovei meus dentes com o dedo mesmo. Quando saí do banheiro, Sophia estava saindo do quarto de Micael.
‘Bom dia, já acordada?’ Ela sorriu pra mim.
‘É, uma musica alta idiota me acordou e eu não consegui mais dormir.’ Falei baixo com medo de acordar Arthur e Diego.
‘Tá com fome?’ Ela fez careta e eu balancei a cabeça confirmando. ‘Já faço alguma coisa pra gente, espera só eu acordar direito e ir ao banheiro.’ Ela sorriu.
‘Tudo bem, to lá na cozinha.’ Falei e fui em direção a cozinha.
Minutos depois Sophia apareceu na cozinha e começou a preparar um café pra nós duas. Comemos em silêncio, o único som era o barulho da xícara batendo levemente na mesa.
‘Então, como você tá se sentindo?’ Sophia perguntou quando estávamos no sofá da sala.
‘Hm, melhor agora. Minha cabeça tá parando de doer, e meu corpo já tá mais leve.’ Falei sincera e ela sorriu. ‘O Diego tá aí.’ Falei vagamente e ela balançou a cabeça.
‘O Arthur trouxe ele pra cá ontem a noite.’ Sophia falou simplesmente.
Liguei a televisão, apenas pra não deixar o silêncio tomar conta da sala e fiquei olhando qualquer coisa que passava e eu não prestava atenção.
Já estava quase dormindo novamente quando Diego entrou na sala e meu coração acelerou com a possibilidade de Arthur vir logo depois, mas isso não aconteceu.
‘Bom dia, meu amor!’ Peguei Diego no colo e o abracei.
‘Quero comer.’ Ele falou sorrindo e Sophia riu.
‘Pera que eu vou pegar alguma coisa pra ele comer.’ Ela se levantou e foi até a cozinha.
‘Acho que vou pra casa, tenho que trabalhar à tarde. Já faltei faculdade, mas se faltar o estágio me chutam de lá!’ Falei me levantando do sofá. Micael e Arthur ainda não tinham acordado.
‘Relaxa, Lu, hoje é sexta, todo mundo falta faculdade dia de sexta.’ Sophia riu. Concordei silenciosamente e fui até a porta com Diego no colo.
‘Fala pro Micael que eu mandei um beijo.’ Falei já do lado de fora.
‘E o Arthur?’ Ela perguntou e a olhei dando de ombros. ‘Tchau.’ Ela riu.
Fui o caminho inteiro até em casa tentando imaginar minha reação quando visse Arthur, e principalmente... a dele quando me visse. Não fazia idéia do que falar pra ele, mas resolvi deixar pra pensar nisso depois. Cheguei em casa e liguei para que Kat fosse ficar com o Diego a tarde, já que eu não sabia se Arthur ia aparecer.
Duas horas depois eu cheguei ao trabalho atrasada e tive que ficar ouvindo a Margot berrar durante quase dez minutos sobe como estagiários são irresponsáveis e nunca estão preocupados com o trabalho, só querem se divertir e mais um bando de coisa que eu resolvi não ouvir.
‘É hoje que a madrasta tem um ataque do coração!’ Jake comentou rindo e eu sorri concordando. ‘Ela estava histérica achando que você ia faltar hoje. Algum problema?’ Ele me olhou preocupado.
‘Os de sempre.’ Balancei a cabeça. ‘Nada demais.’ Forcei um sorriso e acho que ele foi convincente, já que Jake não perguntou mais nada e voltou a checar os e-mails em seu computador. Aliás, quando não está servindo cafezinhos ou acatando ordens da Margot é só isso que ele faz.
Pra minha sorte, Margot me manteve ocupada a maior parte do tempo não me dando chances de lembrar que quando eu chegasse em casa, Arthur provavelmente estaria lá.
Quando o dia de trabalho terminou, eu enrolei o máximo que pude. Arrumei minha mesa várias vezes, fiquei conversando com todas as pessoas que passavam por mim, até fui tomar um cafezinho recebendo um olhar nada agradável da senhora que serve na cantina, já que ele queria fechar e eu insistia em puxar assunto e perguntar sobre as comidas que estavam expostas, mesmo sabendo que não ia comprar.
‘Ok, Lua, respire fundo.’ Falei pra mim mesma enquanto subia o elevador. Observei minha imagem no espelho e reparei em meus olhos ansiosos e ao mesmo tempo amedrontados. O elevador parou fazendo meu coração disparar e eu tive que contar até dez antes de finalmente encarar o corredor e a porta do apartamento. Parei na porta quando ouvi a risada de Diego, ele podia estar ainda com Kat, ou brincando com Arthur, e só tinha um jeito de eu descobrir isso.
'Mãe!' Diego correu para me abraçar e meu coração voltou ao ritmo normal quando eu vi que era Kat quem estava brincando com ele.
'Ei, meu amor!' O carreguei e beijei sua bochecha.
'Cadê o papai?' Ele perguntou fazendo bico e eu suspirei colando-o no chão novamente.
'Papai deve tá chegando, meu amor.' Sorri fraco. 'Kat, fica mais um pouco com ele, eu vou tomar banho e depois você pode ir, ok?' Ela concordou e eu fui pro quarto tentando imaginar onde Arthur estava. Antes de tomar banho peguei o celular e liguei pra Sophia.
'Tá melhor?' Ela perguntou com a voz preocupada e eu suspirei confirmando.
'O Arthur ainda tá na casa do Micael?' Tentei parecer indiferente, mas minha voz saiu um pouco desesperada.
'Nop! Ele saiu de lá antes de mim, tem um bom tempo já, Lu! Ele não tá aí?'
'Não, acabei de chegar e ele não tá aqui ainda. Será que ele tá com a Perola?' Abaixei a voz.
'Hm... é uma possibilidade.' Ela falou inexpressivamente. 'Eu tenho que ir, Lu, minha mãe tá me berrando aqui. Me dá noticia, ok?'
'Tudo bem. Beijo.' Desliguei bufando e fui tomar banho pra tentar esquecer Arthur por alguns minutos.
'Mãe, cadê o papai?' Diego perguntou novamente sentando em meu colo. Já estávamos na sala vendo tv a quase duas horas, e Arthur ainda não havia dado noticia.
'Ele já deve tá chegando, Diego.' Repeti a mesma coisa que tinha dito mais cedo. Afinal, onde estava Arthur? Essa pergunta martelava em minha cabeça e fazia meu coração ficar cada vez mais apertado.
'Tô com sono.' Ele reclamou esfregando o olho e fazendo bico.
'Vamos, vou te levar pra cama.' Ia me levantar, mas Diego agarrou meu braço.
'Não, quero esperar papai.' Ele sentou no chão cruzando os braços e eu respirei fundo.
'Diego, olha pra mamãe.' Falei tocando o queixo dele e ele me olhou. 'O papai tá trabalhando com o tio Micael, escrevendo musicas. Ele pode chegar tarde, meu anjo.' Falei da forma mais convincente possível. 'Vamos meu amor, quando o papai chegar eu falo pra ele ir lá te olhar.' Ele fez um bico ainda maior, mas mesmo assim deixou que eu o carregasse e o levasse pro quarto.
Depois de quase meia hora finalmente consegui fazer Diego dormir. Quando saí de seu quarto, ouvi meu telefone tocar e corri até a sala com o coração acelerando. Olhei no visor rezando pra ser Arthur, mas era o nome de Sophia que piscava na tela.
'Hey.' Falei tomando fôlego por causa da rápida corrida.
'Te acordei, amiga?' Ela perguntou receosa e eu neguei fazendo um barulho com a boca. 'Hm... o Arthur já chegou?'
'Nop!' Falei desanimada. 'Tô começando a ficar preocupada.' Olhei rápido pra porta pensando ter ouvido um barulho de chave, mas já estava começando a imaginar sons.
'Erm... eu tava conversando com o Micael alguns minutos atrás.' Ela parou parecendo medir as palavras. 'Erm... parece que a Perola é carta fora do baralho.' Ela falou um pouco mais baixo.
'Uhn?' Perguntei confusa e Sophia suspirou antes de responder.
'Se eu entendi bem, hoje pela manhã a Perola recebeu uma ligação de uma faculdade da França dizendo que ela tinha conseguido uma bolsa ou algo assim, mas parece que ela tem que ir pra lá o mais rápido possível...' Ela parou por alguns segundos. 'Se eu não me engano daqui a dois dias ela já tá lá.' Fiquei alguns segundos em silêncio tentando absorver tudo que Sophia tinha dito.
'T-tem certeza?' Gaguejei.
'Yep!' Ela confirmou.
'Ok!' Falei ainda um pouco desnorteada. 'Preciso desligar, o Diego tá um pouco inquieto. Até amanhã, beijo.' Menti e desliguei o telefone rápido.
Continuei sentada no sofá olhando pro nada e pensando na noticia que eu tinha acabado de receber. Perola tinha realmente conseguido a bolsa e agora ia morar França, muito provavelmente ela e Arthur iriam terminar o que nem tinham começado ainda. E porque eu não me sentia feliz com essa noticia? Talvez porque eu soubesse que com ou sem Perola , eu e Arthur ainda não voltaríamos a ficar bem, ele provavelmente iria procurar outra garota pra substituí-la. Ou quem sabe ele não iria querer mesmo substituí-la? Ele podia ter quantas garotas ele quisesse, sem se firmar realmente em uma. Suspirei pesadamente e fui para o quarto me jogando na cama.
Se a Perola ia pra França, então quem sabe eles não estavam juntos naquele exato momento? Eles podiam estar fazendo uma super despedida enquanto a idiota aqui estava em casa preocupada. Peguei meu iPod na bolsa e deitei novamente na cama, me encolhi embaixo dos cobertores e fechei os olhos deixando o iPod no shuffle. Eu só queria conseguir dormir sem ter que acordar no meio da noite por causa de um pesadelo qualquer.
Ouvi o barulho de uma porta batendo e meus olhos rapidamente se abriram, percebi que ainda estava com os fones no ouvido, mas não tocava nenhuma musica. A bateria provavelmente tinha acabado, sempre esquecia de carregar. Outro barulho me fez praticamente pular da cama, me levantei passando a mão pelo cabelo ainda tentando me orientar e fui tropeçando até a porta do quarto. A luz forte que vinha do quarto de Arthur me fez fechar os olhos rapidamente, e depois eu os abri calmamente até me acostumar com a claridade.
'Arthur?' Falei baixo caminhando até o quarto dele. O quarto aparentemente estava vazio, mas a luz do banheiro estava acesa também. Dei alguns passos lentamente. 'Arthur?' Perguntei de novo, e mais uma vez não ouve resposta. Mordi meu lábio um pouco hesitante e quando ia entrar no banheiro o som baixo da porta do quarto fechando me fez dar um pulo e girar rapidamente encontrando Arthur parado sorrindo.
O olhei durante alguns segundos e reparei em sua roupa amassada e seus cabelos bagunçados. Quando voltei meu olhar para seu rosto vi que aquele sorriso não era como qualquer outro que eu já tinha visto. Era um sorriso maldoso e junto com o olhar de Arthur estava cheio de más intenções.
'Procurando por mim, meu amor?' Ele perguntou com a voz rouca e um pouco embolada enquanto caminhava até mim. Quando estava a alguns passos de distancia eu senti o cheiro forte de álcool.
'Arthur, você tá bêbado.' Falei dando um passo pra trás e fazendo careta.
'Ah, só um pouco.' Ele riu e me puxou pela cintura beijando meu rosto.
'Arthur, me solta.' Falei me incomodando com a forma que ele me agarrava pela cintura. Os braços dele pareciam querer me sufocar e a boca dele já estava em meu pescoço de uma forma nada cuidadosa.
'Larga de ser chata, Lu, vamos nos divertir um pouco.' As mãos dele entraram embaixo de minha blusa percorrendo meu corpo, enquanto eu o empurrava pelo peito tentando afasta-lo.
'Pára com isso!!' Pedi quase chorando, mas ele não pareceu se incomodar.
Sua boca subiu para meu rosto e quando ele ia me beijar eu virei o rosto sentindo uma lágrima cair. Eu sabia que ele estava completamente bêbado e eu dificilmente conseguiria me livrar dos braços dele que me apertavam contra si.
'Arthur, você tá me machucando, me solta.' Comecei a esmurrar o peito dele e o puxar pela camisa, ele apenas deu um risinho baixo e me empurrou em sua cama deitando rapidamente por cima de mim sem nenhum cuidado.
'Você também quer isso, Lu, admite.' Sua mão desceu até a barra do meu short e ele começou a tirá-lo.
'Eu não quero.' Falei entre os dente empurrando a mão dele, mas Arthur foi mais rápido e segurou minha mão do lado do meu corpo. Sua boca continuava trilhando um caminho em meu pescoço, e eu tinha certeza que ali ficariam marcas tamanha era a força. 'Arthur, o Diego pode acordar, pára com isso.' Pedi desistindo de segurar as lágrimas. Eu me recusava a admitir que ele estava realmente fazendo aquilo, eu preferia nem imaginar a palavra que certamente qualificava aquele ato.
Enquanto eu lutava com apenas uma mão para afastá-lo sem o menor sucesso, sua outra mão conseguiu descer meu short até os joelhos e ele sorriu malicioso. Minha blusa já estava quase toda levantada e eu me senti completamente vulnerável. Se eu gritasse no máximo acordaria Diego.
'Já disse o quanto você é gostosa?' Ele me olhou sorrindo e eu mal enxergava seu rosto por causa das lágrimas.
Arthur segurou meus dois braços com força e foi descendo os beijos pela minha barriga, eu encolhi minhas pernas fechando meus olhos desejando desesperadamente que eu acordasse daquele pesadelo. Várias partes do meu corpo doíam por causa dos apertões que Arthur tinha dado. Senti sua boca fazer o caminho de volta para meu pescoço, eu desisti completamente de lutar, permaneci com meus olhos bem fechados enquanto sentia repulsa à mim mesma.
Arthur soltou um dos meus braços apenas para tentar sem sucesso abrir meu sutiã e depois ele rapidamente abriu sua calça. Meu choro silencioso passava completamente despercebido à luxuria de seus olhos.
Ele se posicionou em cima de mim com a mão na barra de minha calcinha e como um reflexo eu levantei meu joelho com força acertando o meio de suas pernas. Ele caiu ao meu lado gemendo de dor e fazendo careta e sem pensar duas vezes eu corri para meu quarto e tranquei rapidamente a porta.
Meu choro finalmente ganhou o quarto e eu não me senti capaz de mover um músculo sequer. Escorreguei ainda encostada na porta e abracei as pernas me encolhendo. Naquele momento eu sentia nojo de mim mesma, eu me sentia suja.
Eu sabia que não ia conseguir dormir, o medo dominava cada parte do meu corpo. Pensei em Diego sozinho no quarto, mas eu sabia que Arthur seria incapaz de tocar num fio de cabelo do próprio filho, não naquele estado.
O cheiro de álcool estava impregnado em minha roupa e eu me sentia enjoada. Juntei o pouco de força que me restava e corri para o banheiro, entrei embaixo do chuveiro numa tentativa desesperada de me livrar daquela sujeira.
A água morna ajudou a relaxar meu corpo, mas eu ainda tremia quando voltei pro quarto e procurei uma roupa qualquer pra vestir. Entrei embaixo dos cobertores e me encolhi o máximo que eu pude abraçando minhas pernas. A única coisa que eu queria era que aquela noite acabasse, mas eu sabia que na minha mente ela duraria pra sempre.
Aviso gente ontem não deu pra postar essa web poq o meu pc travou mais ai postei mais q o normal desculpem.
Dedicado a Lorena, Luana e a todas as leitoras do meu Blog
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