20º Capitulo - Addicted
(n/a: aconselho ir botando pra carregar; Stranger – Secondhand Serenade)
Ouvi uma musiquinha irritante tocar e a cada segundo ela parecia ficar mais alta. Abri os olhos ainda zonza e reconheci o toque estridente do meu celular. Olhei para o lado da cama e percebi que Arthur não estava lá, desviei o olhar pro criado mudo e olhei o relógio constatando que já passavam das nove da manhã. Estiquei o braço com muito esforço e consegui alcançar aquele aparelho com o barulho irritante, nem me dei ao trabalho de olhar o visor.
‘Hm...’ Foi a única coisa que consegui pronunciar.
‘Parabéns, amiga!!’ A voz de Soph chegou até meus ouvidos me fazendo sentir uma pontada na cabeça ao mesmo tempo em que eu lembrava que hoje era meu vigésimo aniversário. ‘Te acordei?’ Ela continuava com a voz feliz e eu esfreguei os olhos.
‘Uhum.’ Minha boca estava seca e eu mal conseguia abri-la para falar. ‘Soph, posso te ligar daqui a cinco minutos?’ Falei com dificuldade e a voz extremamente embolada.
‘Pode sim, preguiçosa!’ Ela riu e eu esbocei um sorriso fraco. ‘Beijo!’ Ela desligou o telefone e eu fiquei deitada na cama na mesma posição.
‘Arthur.’ Tentei falar alto, mas provavelmente ele não me ouviria nem se estivesse no banheiro com a porta aberta. ‘Saco.’ Bufei sentando na cama com o maior esforço e passei meus olhos pelo quarto. Passei minhas mãos pelo cabelo desembolando-os um pouco e prendi em um nó frouxo.
Me espreguicei e finalmente consegui me levantar e me arrastar até o banheiro. Céus, parecia que eu tinha sido atropelada por um caminhão, tudo culpa da minha queridachefinha que tinha resolvido me passar todas as tarefas possíveis e impossíveis no dia anterior. Por que diabos eu inventei de estagiar naquela empresa mesmo? Ah, lembrei, porque e tenho que sustentar a mim e ao meu filho. Parabéns, Lua, você é um exemplo de sexo seguro.
Ri sozinha com meus pensamentos idiotas e quando cheguei ao banheiro vi que tinha um recado grudado no espelho, reconheci a caligrafia fina e um tanto quanto desajeitada de Arthur.
"Fui até o mercado com Diego, não demoro.
Arthur."
Ah, ótimo. Espero que ele se lembre de comprar veneno pra eu botar no café da minha chefe!
Escovei os dentes e passei uma água pelo rosto para tentar disfarçar minha cara de zumbi. Voltei para o quarto, agora mais acordada e peguei o telefone discando rapidamente o numero da casa da Soph que eu já sabia de cor.
‘Hey!’ Falei animada.
‘Bom dia, aniversariante do diiia!’ Ela cantarolou me fazendo rir. ‘Então, como é ter vinte anos?’ Perguntou rindo.
‘Hm, além das rugas, pés de galinhas, celulites e preocupações que irei ganhar? A mesma coisa de ter dezenove.’ Brinquei.
‘Nossa, Lu, como você é dramática, fala sério!’ Ela bufou. ‘Então, eu ainda não comprei seu presente porque sei como você é chata pra achar alguma coisa que te agrade.’ Sou mesmo, alguma problema? ‘Então tava pensando se você não quer ir ao shopping agora pra você mesma escolher!’ Ela falou animada.
‘Hm, e eu posso escolher qualquer coisa?!’ Fiz voz de criança e Sophia riu.
‘Sem exageros, Lua! Eu sou uma pobre universitária a procura de um estágio e que ainda é sustentada pelos pais!’ Às vezes eu esqueço que ainda somos universitárias e principalmente, sustentadas pelos pais. Tá bom, eu não sou sustentada pelos meus pais, eles mandam uma mesada mensal, mas quem sustenta a mim e ao Diego sou eu. Claro que o Arthur ajuda com o Diego, mas enfim... ainda somos meras universitárias.
‘Ok, vou tomar café e me arrumar. Você passa aqui?’ Perguntei indo até a cozinha e abrindo a geladeira.
‘Passo! Em quarenta minutos tá bom?’
‘Ãhan!’ Respondi botando um waffle na boca.
‘Então, até mais! Beijos!’ Ela falou animada e desligou o telefone.
Tomei o café tranquilamente e depois corri pro banho. Pensei ter ouvido o barulho da porta batendo, mas quando saí do banheiro a casa continuava vazia, exceto por mim, claro! Me vesti com uma bata azul clara, uma calça jeans e um all star da mesma cor da bata.
Quando estava indo pra sala esperar por Sophia, meu celular tocou e o nome dela apareceu na tela, nem atendi, Soph sempre dá toques pra avisar que já chegou aos lugares. Deixei um bilhete ao lado do telefone falando pra Arthur que tinha ido ao shopping com Sophia e saí de casa.
‘Hey, aniversariante!’ Sophia sorriu quando eu entrei no carro. ‘Iai, como tá sendo o dia do vigésimo aniversário?’ Ela perguntou empolgada e eu arqueei a sobrancelha.
‘Erm... normal?’ Falei na duvida e ela riu.
‘E o Arthur?’ Ela me olhou de rabo de olho e eu dei de ombros.
‘Foi ao mercado com o Diego.’ Falei sem animação. ‘E não me deu nem parabéns no bilhete.’ Falei um pouco mais baixo.
‘Hm, agora entendo o porquê dessa falta de animação.’ Ela balançou a cabeça.
‘Ei, não tem nada a ver isso.’ Bufei cruzando os braços.
‘Ah tá bom, conta outra, Lua!’ Ela riu e eu apenas suspirei alto e preferi ficar calada. ‘Então, já sabe o que vai querer?’ Ela perguntou quando chegamos ao shopping.
‘Nop!’ Falei tentando pensar em alguma coisa.
‘Então vamos rodar esse shopping inteiro, até achar alguma coisa! Só saio daqui com seu presente!’ Ela sorriu e entramos no shopping.
Rodamos durante quase uma hora, até que Sophia achou um vestido que segundo ela tinha sido feito especialmente para mim. Era preto bem curtinho e amarrava no pescoço. Me olhei durante alguns segundos no espelho e me convenci de que ele era realmente perfeito, quando saí do provador ela já estava pagando.
‘Hey, eu ia pagar!’ Falei andando até ela com o vestido na mão e a vendedora logo o pegou para guardar na sacola.
‘Se você pagar, não vai ser um presente meu, dã!’ Ela fez uma cara retardada e eu ri. ‘Agora vamos que eu quero achar um vestido pra mim também.’ Ela pegou a sacola e me puxou pra fora da loja. ‘Parabéns, amiga!’ Ela fez uma voz de criança e me estendeu a sacola que a vendedora tinha acabado de lhe entregar.
‘Ah, um presente? Pra mim?’ Fiz uma cara de espanto. ‘Nem imagino o que seja!’ Peguei a sacola enquanto Sophia ria.
Passamos quase duas horas pra achar algum vestido que agradasse a Soph, ela sempre acabava encontrando algum mínimo defeito e dizia que não tinha gostado do vestido, mesmo que a grande maioria deles tivessem ficado perfeitos nela.
‘Ain, não sei.’ Ela falou se olhando no espelho e eu bufei sentada em um banco. Minhas pernas já estavam começando a doer e eu não agüentava mais a Soph falando sempre as mesmas coisas. ‘Ficou bom mesmo?’ Ela me olhou em duvida e eu rolei os olhos.
‘Ficou ótimo, Sophia.’ Falei sem paciência.
‘Mas Lu, você falou isso em praticamente todos os vestidos que eu experimentei.’ Ela falou fazendo manha e eu tive vontade de bater nela.
‘Talvez porque praticamente todos eles tenham ficado bons em você!’ Respondi me levantando. ‘Vai Soph, esse ficou realmente lindo! Eu não agüento mais entrar em cabines e ver você experimentar pelo menos dez vestidos em cada loja e não sair de lá com nenhum!’ Falei a verdade e ela me olhou com um olhar de culpa.
‘Desculpa, amiga. Hoje é seu aniversário e eu aqui pensando só em meu vestido.’ Ela baixou os ombros.
‘Não é isso, Soph. Você sabe que eu gosto de sair com você, de vir passear no shopping. É só que essa coisa de entrar e sair de tantas lojas realmente me cansa!’ Sentei novamente no banco.
‘Ok! Eu vou ficar com ele então, certo?’ Ela me olhou pelo espelho e eu sorri. Aquele vestido realmente tinha ficado bem nela. Era soltinho e um pouco acima dos joelhos e num tom azul claro.
Finalmente saímos da loja com uma sacola e eu senti meu estomago roncar.
‘Ai, to com fome.’ Passei a mão pela barriga.
‘Eu também, vamos almoçar por aqui mesmo?’ Ela falou animada e eu concordei mesmo querendo ir pra casa. Arthur ainda não tinha dado noticia e aquilo me deixava realmente preocupada.
Logo depois que entramos no restaurante o celular de Sophia começou a tocar.
‘Hey, amor!’ Ela atendeu o telefone animada. ‘Ahn, ok.’ Ela fez um gesto me avisando que ia sair rápido e eu concordei, mesmo achando um pouco estranho. Ela nunca se afastava pra falar com Micael, às vezes até botava no viva voz para que eu também ouvisse a conversa.
Minutos depois ela voltou e estendeu o celular pra mim.
‘O Micael quer falar com você!’ Falou mais baixo e sorriu.
‘Hey, Micael!’ Sorri.
‘Parabéns, Lu!!’ Ele falou animado me fazendo rir.
‘Brigada, xuxu!’ Ouvi uma risada de criança e reconheci a voz do Diego ao fundo. ‘Você tá com o Diego?’ Perguntei em duvida e Soph me olhou preocupada.
‘Erm... to sim!’ Ele falou um pouco em duvida. ‘O Arthur veio aqui em casa e trouxe ele.’ O que diabos Arthur tinha ido fazer na casa de Micael, era a pergunta que martelava na minha cabeça.
‘Ahn, ok! E tá tudo bem com eles?’ Perguntei mordendo o lábio em seguida.
‘Tá sim. O Arthur foi lá na cozinha e eu fiquei aqui na sala com o Diego. Você quer falar com um dos dois?’ Mais uma vez ouvi a risada de Diego e sorri sozinha.
‘Não!’ Falei rápido. ‘Só fala pro Diego que eu mandei um beijo.’ Olhei pra Sophia que sorria sentada na minha frente. Micael concordou e eu me despedi entregando o celular pra Soph.
‘O Arthur tá lá com o Micael.’ Falei tentando fingir naturalidade na voz.
‘E você ficou toda afetadinha por isso.’ Ela riu e eu bufei.
‘Claro que não.’ Dei de ombros.
‘Tá bom Lu, finge que me engana que eu finjo que acredito.’ Ela falou rindo e eu afundei na cadeira do restaurante completamente frustrada.
Além de ir pro mercado sem nem ao menos me dar parabéns em uma droga de bilhete, Arthur ainda saía pra casa dos amigos e nem ao menos era capaz de pegar o telefone pra falar comigo.
Tentei tirar esses pensamentos da minha cabeça, pelo menos enquanto almoçava, mas foi inútil. O fato de Arthur não me ligar pra dizer ao menos um “feliz aniversário” realmente me afetava, e muito. Sophia falava sobre vários assuntos e eu apenas concordava e sorria constantemente sem nem ao menos prestar atenção ao que ela falava.
‘Lu!’ Ouvi Soph falar meu nome um pouco mais alto e desviei meu olhar para ela. ‘Você passou o almoço todo fingindo que tava me ouvindo e agora tá aí em outro planeta.’ Ela falou se levantando e só então me dei conta que ela já tinha pedido a conta e pago tudo.
‘Sophia, não acredito que você pagou a conta sozinha, era pra gente dividir.’ Falei um pouco emburrada e ela bufou caminhando pra fora do restaurante sem nem olhar pra mim. ‘Desculpa, amiga.’ Falei quando consegui caminhar ao seu lado.
‘Tudo bem.’ Ela forçou um sorriso e eu me senti extremamente culpada.
‘Vai, pede qualquer coisa que eu faço!’ Sorri ficando em frente a ela.
‘Qualquer coisa?’ Ela abriu um sorriso discreto arqueando a sobrancelha e eu confirmei mesmo estando com um pouco de medo do que ela iria pedir.
‘Vamos ao salão?’ Ela fez uma voz de criança e eu suspirei aliviada, achei que ela fosse pedir algo muito pior. ‘Mas vamos pra sair de lá completamente renovadas, tem tempos que a gente não vai ao salão juntas e passa a tarde toda lá!’ Ela me puxou pela mão antes mesmo que eu pudesse contestar.
‘Ok, ok. Mas não precisamos passar a tarde toda né?’ Fiz manha e ela deu língua.
‘Ok, só o tempo suficiente pra nos sentirmos extremamente bem com nossas aparências!’ Ela riu e eu concordei sorrindo também.
Não sei dizer ao certo quanto tempo eu e Sophia passamos enfurnadas naquele salão, o caso “eu ainda não recebi os parabéns do pai do meu filho” ainda me incomodava muito, e eu preferi tentar esquecer e deixar que as horas passassem sem me preocupar.
Meu celular tocou inúmeras vezes, parecia que todo mundo tinha se lembrado do meu aniversário ao mesmo tempo. Era eu desligar o celular e ele já tocava novamente.
Olhei pra Soph que ria de alguma coisa que Sidney, o cabeleireiro escandaloso, tinha dito e percebi como ela estava bonita e feliz. Micael realmente estava fazendo bem pra ela. Seu sorriso era sincero e ela parecia não ter medo, era como se nada pudesse a atingir. Mordi o lábio por alguns segundos pensando em como eu também queria poder me sentir assim, queria ter a certeza de que sempre teria alguém pra me apoiar e me dar forças. Lembrei do dia no parque, de Arthur cantando a musica do The Used e sorri sozinha. Era melhor deixar com que o tempo se encarregasse de tudo. Ele era sempre a melhor solução.
Minutos depois Sophia se levantou e eu reparei em como seus cabelos estavam brilhando. Sorri quando ela passou na minha frente.
‘Como eu estou?’ Ela deu uma voltinha e eu reparei que ela tinha cortado um pouco o cabelo e repicado a franja.
‘Linda!’ Falei sincera e ela sorriu.
‘E você não fica pra trás! Amei seu cabelo assim.’ Ela falou passando a mão levemente pela minha franja e eu agradeci. ‘Vamos?’ Concordei e saímos do cabeleireiro.
Só quando saímos da garagem do shopping fui me dar conta de que o sol já tinha desaparecido. Peguei meu celular na expectativa de ter alguma ligação perdida, mas não havia nada. Bufei jogando o celular em minha bolsa e percebi um pequeno sorriso no canto da boca de Soph.
‘Que foi?’ Arqueei a sobrancelha e ela riu.
‘Nada, oras.’ Deu de ombros sem desviar a atenção das ruas.
Voltei meu olhar para as casas que passavam lentamente pela janela do vidro. Uma chuva fraca começou a cair fazendo com que os pingos batessem no vidro do carro e eu me perdesse olhando as gotinhas escorrerem como se disputassem uma corrida até o final do vidro.
Antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa senti Sophia estacionar o carro e quando olhei pelo vidro percebi que estávamos paradas em frente ao meu prédio. Ela soltou do carro com um guarda chuva e correu até a minha porta abrindo-a fazendo com que o guarda chuva protegesse nós duas. Sorri agradecida e logo depois andamos depressa pra dentro do prédio.
Enquanto esperávamos o elevador, Sophia pegou o celular e digitou uma mensagem rápido ainda com um sorriso misterioso no rosto. Subimos em silêncio e quando chegamos na porta do apartamento parei um pouco tentando ouvir algum barulho, mas tudo estava silencioso e a luz estava apagada, Arthur ainda devia estar na casa de Micael.
Abri a porta e me assustei quando dei de cara com Arthur, Diego e Micael sorridentes e segurando um pequeno bolinho com uma vela acesa. Olhei para Sophia que caminhava até Micael sorrindo, ela o abraçou de lado e me olhou.
‘Parabéns, amiga!’ Ela riu e eu balancei a cabeça mordendo o lábio.
‘Parabéns, Lu!’ Micael me abraçou com um sorriso imenso no rosto.
‘Não acredito que vocês planejaram tudo isso, é um complô?’ Perguntei sorrindo ainda abraçada a Micael e os três riram.
‘A gente não ia esquecer de você!’ Ele piscou. Senti Diego abraçar minhas pernas e me agachei ficando em altura.
‘E você também né pirralho, armou contra a mamãe!’ O abracei.
‘Parabéns, mamãe!’ Ele falou sapeca e eu o apertei contra mim. ‘Você tá linda!’ Ele passou as mãozinhas por meu cabelo e eu senti meus olhos encherem de lágrimas. Dei um beijo em sua testa e depois ele correu até Micael que estava no sofá com Sophia.
Me levantei suspirando e observei Arthur caminhar até mim sorrindo. Cruzei os braços fingindo estar emburrada com ele e balancei a cabeça.
‘Você achou que eu ia esquecer do seu aniversário?’ Ele perguntou segurando meu rosto com as duas mãos e eu sorri sem graça confirmando, ele riu baixo e me deu um selinho demorado. ‘Eu não ia esquecer da minha velhinha cheia rugas e pés de galinha.’ Ele brincou e eu resmunguei baixinho o abraçando pela cintura.
‘Vamos jantar?’ Micael falou animado e Arthur me olhou.
‘Tá com fome?’ Ele sorriu e eu confirmei balançando a cabeça. Ele me deu um selinho rápido e me puxou pela mão até a mesa arrumada.
‘Comida japonesa!!’ Falei sorrindo e fiz uma cara de criança.
‘Sua preferida!’ Arthur falou com um sorriso bobo.
Jantamos entre risos e zoações, o alvo da noite era eu, claro! Só porque pensei que meus amigos tinham esquecido de mim no meu próprio aniversário.
Já passavam da meia noite quando Sophia e Micael foram embora. Diego ainda estava no sofá, praticamente dormindo sentado.
‘Yey, vamos dormir, príncipe!’ O peguei no colo e fui até seu quarto com Arthur logo atrás de mim. Ficamos algum tempo lá observando enquanto Diego rapidamente entrava em um sono profundo. Senti Arthur passar as mãos pela minha cintura me abraçando apertado e seu queixo ficou apoiado em meu ombro.
‘Tá com sono?’ Ele perguntou baixo e eu balancei a cabeça.
‘Só um pouco.’ Respondi no mesmo tom.
Ele pegou minha mão e me levou novamente pra sala. Sentei no sofá enquanto ele estava em frente ao aparelho de som escolhendo algum cd.
‘Arthur, já passam da meia noite, tá meio tarde pra ouvir musica não?’ Falei brincando, mas ele não respondeu.
Fiquei o observando de costas enquanto ele parecia concentrado em achar algum cd. Fechei os olhos encostando minha cabeça no encosto do sofá e respirei fundo tentando não pensar em nada por alguns instantes. Ouvi a introdução de uma musica e abri os olhos a tempo de ver Arthur sorrindo e estendendo a mão.
‘Arthur, o que é isso?’ Falei rindo baixinho enquanto aceitava sua mão. Ele sorriu e pegou minhas mãos entrelaçando em seu pescoço, depois me abraçou pela cintura. (n/a: botem a musica pra tocar!)
" Turn around
( Vire-se )
Turn around and fix your eye in my direction
( Vire-se e fixe seus olhos na minha direção )
So there is a connection
( Então existe uma ligação )
Now I can't speak
( Agora eu não posso falar )
I can't make a sound to somehow capture your attention
( Não posso fazer algum barulho para chamar a sua atenção )
I'm staring at perfection
( Eu estou admirando a perfeição )
Take a look at me so you can see
( Me olhe então poderá ver )
How beautiful you are
( Como você é bonita ) "
Eu sentia a respiração quente de Arthur bater em meu pescoço enquanto nossos corpos se movimentavam lenta e sincronizadamente. Ele acariciava minhas costas passando os dedos suavemente por ela enquanto eu estava com a cabeça encostada em seu ombro respirando seu perfume intoxicante.
" You call me a stranger, you say I'm a danger
( Você me chama de estranho, você diz que eu sou perigoso )
But all these thoughts are leaving you tonight
( Mas todos esses pensamentos estão deixando você esta noite. )
I'm broken, abandoned; you are an angel
( Eu estou quebrado, abandonado; você é um anjo )
Making all my dreams come true tonight
( Fazendo todos os meus sonhos virarem realidade esta noite ) "
Senti Arthur me dar um beijo na bochecha e sorri levantando meu rosto para olhá-lo. Ele retribuiu meu sorriso e encostou a testa na minha me abraçando mais forte.
‘Brigada.’ Sussurrei sorrindo com a boca próxima a dele. Ficamos com os rostos praticamente colados e apenas nos movimentando no ritmo lento da musica. Arthur soprou levemente em minha boca e eu ri baixinho vendo-o sorrir também. Ele passou o nariz por minha bochecha fazendo carinho e eu suspirei sentindo um arrepio bom passar por todo meu corpo.
" I'm confident
( Estou confiante )
But I can't pretend I wasn't terrified to meet you
( Mas eu não posso fingir que estava apavorado em conhecer você )
I knew you could see right through me
( Eu sabia que você poderia ver através de mim )
I saw my life flash right before my very eyes
( Vi minha vida passar rapidamente diante dos meus olhos )
And any chance what we turn into
( E qualquer chance que nós tivemos de tornar isso realidade )
I was hoping that you could see
( Eu esperava que você pudesse ver )
Take a look at me so you can see
( Me olhe então poderá ver )
You call me a stranger, you say I'm a danger
( Você me chama de estranho,você diz que eu sou perigoso )
But all these thoughts are leaving you tonight
( Mas todos esses pensamentos estão deixando você esta noite. )
I'm broken, abandoned; you are an angel
( Eu estou quebrado, abandonado; você é um anjo )
Making all my dreams come true tonight
( Fazendo todos os meus sonhos virarem realidade esta noite )
You are an angel
( Você é um anjo )
Making all my dreams come true tonight
( Fazendo todos os meus sonhos virarem realidade esta noite )
Take a look at me so you can see
( Me olhe então poderá ver )
How beautiful you are
( Como você é bonita ) "
Arthur beijou o canto da minha boca e sorriu. Entrelacei meus dedos em seu cabelo ao mesmo tempo em que ele mordia meu lábio inferior e o puxava levemente com os dentes, me fazendo soltar um gemido baixinho. Lentamente ele encostou a boca na minha e eu senti uma fraqueza nas pernas, sorri antes de abrir a boca calmamente dando passagem para que nossas línguas se encontrassem e eu sentisse as borboletas fazendo uma festa em meu estomago. Uma sensação gostosa passou por todo meu corpo me fazendo sentir segura e relaxada.
" Your beauty seems so far away
( Sua beleza parece tão distante )
I'd have to write a thousand songs
( Eu teria que escrever milhares de músicas )
To make you comprehend how beautiful you are
( Para te fazer entender como você é bonita )
I know that I can't make you stay
( Eu sei que eu não posso fazer você ficar )
But I would give my final breath
( Mas eu gostaria de te dar meu último suspiro )
To make you understand how beautiful you are
( Para te fazer entender como você é bonita )
Understand how beautiful you are
( Entenda como você é bonita )
You call me a stranger, you say I'm a danger
( Você me chama de estranho, você diz que eu sou perigoso )
But all these thoughts are leaving you tonight
( Mas todos esses pensamentos estão deixando você esta noite. )
I'm broken, abandoned; you are an angel
( Eu estou quebrado, abandonado; você é um anjo )
Making all my dreams come true tonight
( Fazendo todos os meus sonhos virarem realidade esta noite )
You call me a stranger
( Você me chama de estranho)
You say I'm a danger
( você diz que eu sou perigoso )
You call me a stranger
( Você me chama de estranho) "
A musica terminou e nós continuamos no meio da sala, não prestávamos atenção em mais nada a nossa volta. Não existia pressa e nem segundas intenções nos beijos e nos toques, estávamos apenas nos deixando levar pelo momento.
Arthur constantemente dava leves mordidas em meu lábio inferior me fazendo sorrir. Senti ele me empurrar lentamente até o sofá e aos poucos ir me deitando e ficando por cima de mim, sem partir o beijo. Ele encaixou as pernas entre as minhas enquanto acariciava minhas costas por debaixo da blusa e não fez mais nada, ficamos apenas ali, deitados, nos beijando e aproveitando a companhia um do outro.
Parti o beijo sorrindo e encarei os olhos de Arthur bem de perto, nossas respirações estavam lentas e pesadas. Ele rolou pro meu lado no sofá e me abraçou pela cintura, deitei minha cabeça em seu ombro observando seu peito subir e descer rapidamente. Ficamos alguns instantes em silencio, fechei os olhos enquanto ele acariciava minhas costas fazendo desenhos imaginários com os dedos.
‘Lu.’ Ele falou de repente sentando no sofá e eu abri os olhos um pouco assustada.
‘Oi.’ Falei baixo sentando ao lado dele e abraçando meus joelhos.
‘Eu preciso falar uma coisa.’ Ele passava as duas mãos nervosamente pelo cabelos e eu arqueei a sobrancelha. ‘Eu... não sei como dizer isso. Eu nem sei se eu já falei isso pra você.’ Ele suspirou e eu senti meu coração gelar, ele não ia falar o que eu estava pensando, ia?
‘Já fazem sete meses desde que eu saí do hospital e bem, fazem também praticamente sete meses que a gente tá junto.’ Ele falava devagar como se estivesse escolhendo as palavras e eu sentia meu coração acelerar. ‘Esses sete meses têm sido os mais importantes da minha vida. Saber que eu tenho um filho e que eu tenho você aqui do meu lado, é uma das coisas que mais me faz feliz.’ Ok, ele definitivamente estava indo longe demais. Meu coração estava prestes a sair pela boca e a cada segundo que passava eu tinha mais certeza do que ele estava prestes a dizer.
Arthur segurou meu rosto com as duas mãos e encostou nossas testa respirando fundo.
‘Lu, eu...' Ele suspirou fundo e me olhou nos olhos. 'Eu te...’
‘Arthur, não.’ Implorei baixinho ainda sentindo sua respiração bater em minha boca. ‘Não faz isso.’ Continuei falando antes mesmo que meu cérebro conseguisse processar qualquer coisa.
Senti as lágrimas chegarem aos meus olhos, eu nem sabia por que eu tinha dito aquilo. Afinal, eu não esperei dois anos pra ouvir aquelas palavras? Arthur se afastou lentamente e eu o olhei atordoada tentando entender tudo aquilo. Seu rosto tinha uma mistura de angustia e duvida.
Balancei a cabeça me encolhendo ainda mais no sofá e deixei algumas lágrimas rolassem livres por meu rosto.
‘Não é justo com você, eu não posso...’ Solucei alto e de repente as palavras fugiram da minha mente, a frase incompleta dele era a única coisa que martelava em minha cabeça e eu procurava uma justificativa pra tudo aquilo, pra minha reação.
Imagens do nosso passado vieram na minha cabeça, todas as vezes que Arthur saía e só voltava no outro dia de manhã, todas as vezes que eu atendi o celular dele e ouvi uma voz feminina do outro lado da linha. Eu não podia privar ele daquela vida, aquela era a vida dele, não era?
‘Lu, sai da minha frente.’ Arthur implorou baixinho com os cotovelos apoiados na perna e as mãos cobrindo o rosto.
‘Arthur, por favor, eu só...’
‘Sai, Lua.’ Ele falou num tom machucado e ao mesmo tempo com uma raiva controlada. Eu solucei e o observei durante alguns segundos, a sala em completo silêncio, por alguns instantes achei que estivesse ouvindo meu próprio coração, ou talvez o dele.
Me levantei calmamente e andei até o quarto, me apoiando nos móveis.
Quando abri a porta me assustei ao encontrar um enorme pacote em cima da cama. Fechei a porta e caminhei lentamente até a cama. Minha vista estava embaçada por causa das lagrimas que caiam sem controle. Observei o cartão grudado no pacote e reconheci a caligrafia de Arthur.
“Não sei por que, mas ele me lembrou você. Talvez você se sinta mais jovem com ele! Espero que goste.
Com amor,
Arthur.”
Abri o embrulho com pressa e sorri quando me deparei com um enorme urso de pelúcia segurando um coração. Lembrei de uma vez que comentei com Arthur sobre nunca ter ganhado um urso enorme na infância e isso ter se tornado um trauma pra mim.
Mas... quando eu falei isso pra ele, não foi antes do acidente? Senti meu coração começar a bater mais rápido novamente e reli o cartão. “Não sei por que, mas ele me lembrou você”. Não podia ser.
Me encostei no armário e deslizei até o chão cobrindo meu rosto com as mãos e chorando alto sem me preocupar com quem pudesse ouvir.
Nem sei quanto tempo fiquei ali no chão, me levantei completamente tonta e sentindo que minha cabeça podia explodir a qualquer momento. Caminhei desajeitada até a cama e deitei encarando o teto por alguns instantes.
“Lu eu... eu te...”, aquela frase martelava em minha cabeça e eu sentia meu coração ser esmagado cada vez mais. Suspirei tentando controlar um pouco o choro e me agarrei ao grande urso que estava ao meu lado na cama. Ele tinha o cheiro do Arthur, e talvez por isso eu tenha adormecido tão rápido.
Ouvi uma musiquinha irritante tocar e a cada segundo ela parecia ficar mais alta. Abri os olhos ainda zonza e reconheci o toque estridente do meu celular. Olhei para o lado da cama e percebi que Arthur não estava lá, desviei o olhar pro criado mudo e olhei o relógio constatando que já passavam das nove da manhã. Estiquei o braço com muito esforço e consegui alcançar aquele aparelho com o barulho irritante, nem me dei ao trabalho de olhar o visor.
‘Hm...’ Foi a única coisa que consegui pronunciar.
‘Parabéns, amiga!!’ A voz de Soph chegou até meus ouvidos me fazendo sentir uma pontada na cabeça ao mesmo tempo em que eu lembrava que hoje era meu vigésimo aniversário. ‘Te acordei?’ Ela continuava com a voz feliz e eu esfreguei os olhos.
‘Uhum.’ Minha boca estava seca e eu mal conseguia abri-la para falar. ‘Soph, posso te ligar daqui a cinco minutos?’ Falei com dificuldade e a voz extremamente embolada.
‘Pode sim, preguiçosa!’ Ela riu e eu esbocei um sorriso fraco. ‘Beijo!’ Ela desligou o telefone e eu fiquei deitada na cama na mesma posição.
‘Arthur.’ Tentei falar alto, mas provavelmente ele não me ouviria nem se estivesse no banheiro com a porta aberta. ‘Saco.’ Bufei sentando na cama com o maior esforço e passei meus olhos pelo quarto. Passei minhas mãos pelo cabelo desembolando-os um pouco e prendi em um nó frouxo.
Me espreguicei e finalmente consegui me levantar e me arrastar até o banheiro. Céus, parecia que eu tinha sido atropelada por um caminhão, tudo culpa da minha queridachefinha que tinha resolvido me passar todas as tarefas possíveis e impossíveis no dia anterior. Por que diabos eu inventei de estagiar naquela empresa mesmo? Ah, lembrei, porque e tenho que sustentar a mim e ao meu filho. Parabéns, Lua, você é um exemplo de sexo seguro.
Ri sozinha com meus pensamentos idiotas e quando cheguei ao banheiro vi que tinha um recado grudado no espelho, reconheci a caligrafia fina e um tanto quanto desajeitada de Arthur.
"Fui até o mercado com Diego, não demoro.
Arthur."
Ah, ótimo. Espero que ele se lembre de comprar veneno pra eu botar no café da minha chefe!
Escovei os dentes e passei uma água pelo rosto para tentar disfarçar minha cara de zumbi. Voltei para o quarto, agora mais acordada e peguei o telefone discando rapidamente o numero da casa da Soph que eu já sabia de cor.
‘Hey!’ Falei animada.
‘Bom dia, aniversariante do diiia!’ Ela cantarolou me fazendo rir. ‘Então, como é ter vinte anos?’ Perguntou rindo.
‘Hm, além das rugas, pés de galinhas, celulites e preocupações que irei ganhar? A mesma coisa de ter dezenove.’ Brinquei.
‘Nossa, Lu, como você é dramática, fala sério!’ Ela bufou. ‘Então, eu ainda não comprei seu presente porque sei como você é chata pra achar alguma coisa que te agrade.’ Sou mesmo, alguma problema? ‘Então tava pensando se você não quer ir ao shopping agora pra você mesma escolher!’ Ela falou animada.
‘Hm, e eu posso escolher qualquer coisa?!’ Fiz voz de criança e Sophia riu.
‘Sem exageros, Lua! Eu sou uma pobre universitária a procura de um estágio e que ainda é sustentada pelos pais!’ Às vezes eu esqueço que ainda somos universitárias e principalmente, sustentadas pelos pais. Tá bom, eu não sou sustentada pelos meus pais, eles mandam uma mesada mensal, mas quem sustenta a mim e ao Diego sou eu. Claro que o Arthur ajuda com o Diego, mas enfim... ainda somos meras universitárias.
‘Ok, vou tomar café e me arrumar. Você passa aqui?’ Perguntei indo até a cozinha e abrindo a geladeira.
‘Passo! Em quarenta minutos tá bom?’
‘Ãhan!’ Respondi botando um waffle na boca.
‘Então, até mais! Beijos!’ Ela falou animada e desligou o telefone.
Tomei o café tranquilamente e depois corri pro banho. Pensei ter ouvido o barulho da porta batendo, mas quando saí do banheiro a casa continuava vazia, exceto por mim, claro! Me vesti com uma bata azul clara, uma calça jeans e um all star da mesma cor da bata.
Quando estava indo pra sala esperar por Sophia, meu celular tocou e o nome dela apareceu na tela, nem atendi, Soph sempre dá toques pra avisar que já chegou aos lugares. Deixei um bilhete ao lado do telefone falando pra Arthur que tinha ido ao shopping com Sophia e saí de casa.
‘Hey, aniversariante!’ Sophia sorriu quando eu entrei no carro. ‘Iai, como tá sendo o dia do vigésimo aniversário?’ Ela perguntou empolgada e eu arqueei a sobrancelha.
‘Erm... normal?’ Falei na duvida e ela riu.
‘E o Arthur?’ Ela me olhou de rabo de olho e eu dei de ombros.
‘Foi ao mercado com o Diego.’ Falei sem animação. ‘E não me deu nem parabéns no bilhete.’ Falei um pouco mais baixo.
‘Hm, agora entendo o porquê dessa falta de animação.’ Ela balançou a cabeça.
‘Ei, não tem nada a ver isso.’ Bufei cruzando os braços.
‘Ah tá bom, conta outra, Lua!’ Ela riu e eu apenas suspirei alto e preferi ficar calada. ‘Então, já sabe o que vai querer?’ Ela perguntou quando chegamos ao shopping.
‘Nop!’ Falei tentando pensar em alguma coisa.
‘Então vamos rodar esse shopping inteiro, até achar alguma coisa! Só saio daqui com seu presente!’ Ela sorriu e entramos no shopping.
Rodamos durante quase uma hora, até que Sophia achou um vestido que segundo ela tinha sido feito especialmente para mim. Era preto bem curtinho e amarrava no pescoço. Me olhei durante alguns segundos no espelho e me convenci de que ele era realmente perfeito, quando saí do provador ela já estava pagando.
‘Hey, eu ia pagar!’ Falei andando até ela com o vestido na mão e a vendedora logo o pegou para guardar na sacola.
‘Se você pagar, não vai ser um presente meu, dã!’ Ela fez uma cara retardada e eu ri. ‘Agora vamos que eu quero achar um vestido pra mim também.’ Ela pegou a sacola e me puxou pra fora da loja. ‘Parabéns, amiga!’ Ela fez uma voz de criança e me estendeu a sacola que a vendedora tinha acabado de lhe entregar.
‘Ah, um presente? Pra mim?’ Fiz uma cara de espanto. ‘Nem imagino o que seja!’ Peguei a sacola enquanto Sophia ria.
Passamos quase duas horas pra achar algum vestido que agradasse a Soph, ela sempre acabava encontrando algum mínimo defeito e dizia que não tinha gostado do vestido, mesmo que a grande maioria deles tivessem ficado perfeitos nela.
‘Ain, não sei.’ Ela falou se olhando no espelho e eu bufei sentada em um banco. Minhas pernas já estavam começando a doer e eu não agüentava mais a Soph falando sempre as mesmas coisas. ‘Ficou bom mesmo?’ Ela me olhou em duvida e eu rolei os olhos.
‘Ficou ótimo, Sophia.’ Falei sem paciência.
‘Mas Lu, você falou isso em praticamente todos os vestidos que eu experimentei.’ Ela falou fazendo manha e eu tive vontade de bater nela.
‘Talvez porque praticamente todos eles tenham ficado bons em você!’ Respondi me levantando. ‘Vai Soph, esse ficou realmente lindo! Eu não agüento mais entrar em cabines e ver você experimentar pelo menos dez vestidos em cada loja e não sair de lá com nenhum!’ Falei a verdade e ela me olhou com um olhar de culpa.
‘Desculpa, amiga. Hoje é seu aniversário e eu aqui pensando só em meu vestido.’ Ela baixou os ombros.
‘Não é isso, Soph. Você sabe que eu gosto de sair com você, de vir passear no shopping. É só que essa coisa de entrar e sair de tantas lojas realmente me cansa!’ Sentei novamente no banco.
‘Ok! Eu vou ficar com ele então, certo?’ Ela me olhou pelo espelho e eu sorri. Aquele vestido realmente tinha ficado bem nela. Era soltinho e um pouco acima dos joelhos e num tom azul claro.
Finalmente saímos da loja com uma sacola e eu senti meu estomago roncar.
‘Ai, to com fome.’ Passei a mão pela barriga.
‘Eu também, vamos almoçar por aqui mesmo?’ Ela falou animada e eu concordei mesmo querendo ir pra casa. Arthur ainda não tinha dado noticia e aquilo me deixava realmente preocupada.
Logo depois que entramos no restaurante o celular de Sophia começou a tocar.
‘Hey, amor!’ Ela atendeu o telefone animada. ‘Ahn, ok.’ Ela fez um gesto me avisando que ia sair rápido e eu concordei, mesmo achando um pouco estranho. Ela nunca se afastava pra falar com Micael, às vezes até botava no viva voz para que eu também ouvisse a conversa.
Minutos depois ela voltou e estendeu o celular pra mim.
‘O Micael quer falar com você!’ Falou mais baixo e sorriu.
‘Hey, Micael!’ Sorri.
‘Parabéns, Lu!!’ Ele falou animado me fazendo rir.
‘Brigada, xuxu!’ Ouvi uma risada de criança e reconheci a voz do Diego ao fundo. ‘Você tá com o Diego?’ Perguntei em duvida e Soph me olhou preocupada.
‘Erm... to sim!’ Ele falou um pouco em duvida. ‘O Arthur veio aqui em casa e trouxe ele.’ O que diabos Arthur tinha ido fazer na casa de Micael, era a pergunta que martelava na minha cabeça.
‘Ahn, ok! E tá tudo bem com eles?’ Perguntei mordendo o lábio em seguida.
‘Tá sim. O Arthur foi lá na cozinha e eu fiquei aqui na sala com o Diego. Você quer falar com um dos dois?’ Mais uma vez ouvi a risada de Diego e sorri sozinha.
‘Não!’ Falei rápido. ‘Só fala pro Diego que eu mandei um beijo.’ Olhei pra Sophia que sorria sentada na minha frente. Micael concordou e eu me despedi entregando o celular pra Soph.
‘O Arthur tá lá com o Micael.’ Falei tentando fingir naturalidade na voz.
‘E você ficou toda afetadinha por isso.’ Ela riu e eu bufei.
‘Claro que não.’ Dei de ombros.
‘Tá bom Lu, finge que me engana que eu finjo que acredito.’ Ela falou rindo e eu afundei na cadeira do restaurante completamente frustrada.
Além de ir pro mercado sem nem ao menos me dar parabéns em uma droga de bilhete, Arthur ainda saía pra casa dos amigos e nem ao menos era capaz de pegar o telefone pra falar comigo.
Tentei tirar esses pensamentos da minha cabeça, pelo menos enquanto almoçava, mas foi inútil. O fato de Arthur não me ligar pra dizer ao menos um “feliz aniversário” realmente me afetava, e muito. Sophia falava sobre vários assuntos e eu apenas concordava e sorria constantemente sem nem ao menos prestar atenção ao que ela falava.
‘Lu!’ Ouvi Soph falar meu nome um pouco mais alto e desviei meu olhar para ela. ‘Você passou o almoço todo fingindo que tava me ouvindo e agora tá aí em outro planeta.’ Ela falou se levantando e só então me dei conta que ela já tinha pedido a conta e pago tudo.
‘Sophia, não acredito que você pagou a conta sozinha, era pra gente dividir.’ Falei um pouco emburrada e ela bufou caminhando pra fora do restaurante sem nem olhar pra mim. ‘Desculpa, amiga.’ Falei quando consegui caminhar ao seu lado.
‘Tudo bem.’ Ela forçou um sorriso e eu me senti extremamente culpada.
‘Vai, pede qualquer coisa que eu faço!’ Sorri ficando em frente a ela.
‘Qualquer coisa?’ Ela abriu um sorriso discreto arqueando a sobrancelha e eu confirmei mesmo estando com um pouco de medo do que ela iria pedir.
‘Vamos ao salão?’ Ela fez uma voz de criança e eu suspirei aliviada, achei que ela fosse pedir algo muito pior. ‘Mas vamos pra sair de lá completamente renovadas, tem tempos que a gente não vai ao salão juntas e passa a tarde toda lá!’ Ela me puxou pela mão antes mesmo que eu pudesse contestar.
‘Ok, ok. Mas não precisamos passar a tarde toda né?’ Fiz manha e ela deu língua.
‘Ok, só o tempo suficiente pra nos sentirmos extremamente bem com nossas aparências!’ Ela riu e eu concordei sorrindo também.
Não sei dizer ao certo quanto tempo eu e Sophia passamos enfurnadas naquele salão, o caso “eu ainda não recebi os parabéns do pai do meu filho” ainda me incomodava muito, e eu preferi tentar esquecer e deixar que as horas passassem sem me preocupar.
Meu celular tocou inúmeras vezes, parecia que todo mundo tinha se lembrado do meu aniversário ao mesmo tempo. Era eu desligar o celular e ele já tocava novamente.
Olhei pra Soph que ria de alguma coisa que Sidney, o cabeleireiro escandaloso, tinha dito e percebi como ela estava bonita e feliz. Micael realmente estava fazendo bem pra ela. Seu sorriso era sincero e ela parecia não ter medo, era como se nada pudesse a atingir. Mordi o lábio por alguns segundos pensando em como eu também queria poder me sentir assim, queria ter a certeza de que sempre teria alguém pra me apoiar e me dar forças. Lembrei do dia no parque, de Arthur cantando a musica do The Used e sorri sozinha. Era melhor deixar com que o tempo se encarregasse de tudo. Ele era sempre a melhor solução.
Minutos depois Sophia se levantou e eu reparei em como seus cabelos estavam brilhando. Sorri quando ela passou na minha frente.
‘Como eu estou?’ Ela deu uma voltinha e eu reparei que ela tinha cortado um pouco o cabelo e repicado a franja.
‘Linda!’ Falei sincera e ela sorriu.
‘E você não fica pra trás! Amei seu cabelo assim.’ Ela falou passando a mão levemente pela minha franja e eu agradeci. ‘Vamos?’ Concordei e saímos do cabeleireiro.
Só quando saímos da garagem do shopping fui me dar conta de que o sol já tinha desaparecido. Peguei meu celular na expectativa de ter alguma ligação perdida, mas não havia nada. Bufei jogando o celular em minha bolsa e percebi um pequeno sorriso no canto da boca de Soph.
‘Que foi?’ Arqueei a sobrancelha e ela riu.
‘Nada, oras.’ Deu de ombros sem desviar a atenção das ruas.
Voltei meu olhar para as casas que passavam lentamente pela janela do vidro. Uma chuva fraca começou a cair fazendo com que os pingos batessem no vidro do carro e eu me perdesse olhando as gotinhas escorrerem como se disputassem uma corrida até o final do vidro.
Antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa senti Sophia estacionar o carro e quando olhei pelo vidro percebi que estávamos paradas em frente ao meu prédio. Ela soltou do carro com um guarda chuva e correu até a minha porta abrindo-a fazendo com que o guarda chuva protegesse nós duas. Sorri agradecida e logo depois andamos depressa pra dentro do prédio.
Enquanto esperávamos o elevador, Sophia pegou o celular e digitou uma mensagem rápido ainda com um sorriso misterioso no rosto. Subimos em silêncio e quando chegamos na porta do apartamento parei um pouco tentando ouvir algum barulho, mas tudo estava silencioso e a luz estava apagada, Arthur ainda devia estar na casa de Micael.
Abri a porta e me assustei quando dei de cara com Arthur, Diego e Micael sorridentes e segurando um pequeno bolinho com uma vela acesa. Olhei para Sophia que caminhava até Micael sorrindo, ela o abraçou de lado e me olhou.
‘Parabéns, amiga!’ Ela riu e eu balancei a cabeça mordendo o lábio.
‘Parabéns, Lu!’ Micael me abraçou com um sorriso imenso no rosto.
‘Não acredito que vocês planejaram tudo isso, é um complô?’ Perguntei sorrindo ainda abraçada a Micael e os três riram.
‘A gente não ia esquecer de você!’ Ele piscou. Senti Diego abraçar minhas pernas e me agachei ficando em altura.
‘E você também né pirralho, armou contra a mamãe!’ O abracei.
‘Parabéns, mamãe!’ Ele falou sapeca e eu o apertei contra mim. ‘Você tá linda!’ Ele passou as mãozinhas por meu cabelo e eu senti meus olhos encherem de lágrimas. Dei um beijo em sua testa e depois ele correu até Micael que estava no sofá com Sophia.
Me levantei suspirando e observei Arthur caminhar até mim sorrindo. Cruzei os braços fingindo estar emburrada com ele e balancei a cabeça.
‘Você achou que eu ia esquecer do seu aniversário?’ Ele perguntou segurando meu rosto com as duas mãos e eu sorri sem graça confirmando, ele riu baixo e me deu um selinho demorado. ‘Eu não ia esquecer da minha velhinha cheia rugas e pés de galinha.’ Ele brincou e eu resmunguei baixinho o abraçando pela cintura.
‘Vamos jantar?’ Micael falou animado e Arthur me olhou.
‘Tá com fome?’ Ele sorriu e eu confirmei balançando a cabeça. Ele me deu um selinho rápido e me puxou pela mão até a mesa arrumada.
‘Comida japonesa!!’ Falei sorrindo e fiz uma cara de criança.
‘Sua preferida!’ Arthur falou com um sorriso bobo.
Jantamos entre risos e zoações, o alvo da noite era eu, claro! Só porque pensei que meus amigos tinham esquecido de mim no meu próprio aniversário.
Já passavam da meia noite quando Sophia e Micael foram embora. Diego ainda estava no sofá, praticamente dormindo sentado.
‘Yey, vamos dormir, príncipe!’ O peguei no colo e fui até seu quarto com Arthur logo atrás de mim. Ficamos algum tempo lá observando enquanto Diego rapidamente entrava em um sono profundo. Senti Arthur passar as mãos pela minha cintura me abraçando apertado e seu queixo ficou apoiado em meu ombro.
‘Tá com sono?’ Ele perguntou baixo e eu balancei a cabeça.
‘Só um pouco.’ Respondi no mesmo tom.
Ele pegou minha mão e me levou novamente pra sala. Sentei no sofá enquanto ele estava em frente ao aparelho de som escolhendo algum cd.
‘Arthur, já passam da meia noite, tá meio tarde pra ouvir musica não?’ Falei brincando, mas ele não respondeu.
Fiquei o observando de costas enquanto ele parecia concentrado em achar algum cd. Fechei os olhos encostando minha cabeça no encosto do sofá e respirei fundo tentando não pensar em nada por alguns instantes. Ouvi a introdução de uma musica e abri os olhos a tempo de ver Arthur sorrindo e estendendo a mão.
‘Arthur, o que é isso?’ Falei rindo baixinho enquanto aceitava sua mão. Ele sorriu e pegou minhas mãos entrelaçando em seu pescoço, depois me abraçou pela cintura. (n/a: botem a musica pra tocar!)
" Turn around
( Vire-se )
Turn around and fix your eye in my direction
( Vire-se e fixe seus olhos na minha direção )
So there is a connection
( Então existe uma ligação )
Now I can't speak
( Agora eu não posso falar )
I can't make a sound to somehow capture your attention
( Não posso fazer algum barulho para chamar a sua atenção )
I'm staring at perfection
( Eu estou admirando a perfeição )
Take a look at me so you can see
( Me olhe então poderá ver )
How beautiful you are
( Como você é bonita ) "
Eu sentia a respiração quente de Arthur bater em meu pescoço enquanto nossos corpos se movimentavam lenta e sincronizadamente. Ele acariciava minhas costas passando os dedos suavemente por ela enquanto eu estava com a cabeça encostada em seu ombro respirando seu perfume intoxicante.
" You call me a stranger, you say I'm a danger
( Você me chama de estranho, você diz que eu sou perigoso )
But all these thoughts are leaving you tonight
( Mas todos esses pensamentos estão deixando você esta noite. )
I'm broken, abandoned; you are an angel
( Eu estou quebrado, abandonado; você é um anjo )
Making all my dreams come true tonight
( Fazendo todos os meus sonhos virarem realidade esta noite ) "
Senti Arthur me dar um beijo na bochecha e sorri levantando meu rosto para olhá-lo. Ele retribuiu meu sorriso e encostou a testa na minha me abraçando mais forte.
‘Brigada.’ Sussurrei sorrindo com a boca próxima a dele. Ficamos com os rostos praticamente colados e apenas nos movimentando no ritmo lento da musica. Arthur soprou levemente em minha boca e eu ri baixinho vendo-o sorrir também. Ele passou o nariz por minha bochecha fazendo carinho e eu suspirei sentindo um arrepio bom passar por todo meu corpo.
" I'm confident
( Estou confiante )
But I can't pretend I wasn't terrified to meet you
( Mas eu não posso fingir que estava apavorado em conhecer você )
I knew you could see right through me
( Eu sabia que você poderia ver através de mim )
I saw my life flash right before my very eyes
( Vi minha vida passar rapidamente diante dos meus olhos )
And any chance what we turn into
( E qualquer chance que nós tivemos de tornar isso realidade )
I was hoping that you could see
( Eu esperava que você pudesse ver )
Take a look at me so you can see
( Me olhe então poderá ver )
You call me a stranger, you say I'm a danger
( Você me chama de estranho,você diz que eu sou perigoso )
But all these thoughts are leaving you tonight
( Mas todos esses pensamentos estão deixando você esta noite. )
I'm broken, abandoned; you are an angel
( Eu estou quebrado, abandonado; você é um anjo )
Making all my dreams come true tonight
( Fazendo todos os meus sonhos virarem realidade esta noite )
You are an angel
( Você é um anjo )
Making all my dreams come true tonight
( Fazendo todos os meus sonhos virarem realidade esta noite )
Take a look at me so you can see
( Me olhe então poderá ver )
How beautiful you are
( Como você é bonita ) "
Arthur beijou o canto da minha boca e sorriu. Entrelacei meus dedos em seu cabelo ao mesmo tempo em que ele mordia meu lábio inferior e o puxava levemente com os dentes, me fazendo soltar um gemido baixinho. Lentamente ele encostou a boca na minha e eu senti uma fraqueza nas pernas, sorri antes de abrir a boca calmamente dando passagem para que nossas línguas se encontrassem e eu sentisse as borboletas fazendo uma festa em meu estomago. Uma sensação gostosa passou por todo meu corpo me fazendo sentir segura e relaxada.
" Your beauty seems so far away
( Sua beleza parece tão distante )
I'd have to write a thousand songs
( Eu teria que escrever milhares de músicas )
To make you comprehend how beautiful you are
( Para te fazer entender como você é bonita )
I know that I can't make you stay
( Eu sei que eu não posso fazer você ficar )
But I would give my final breath
( Mas eu gostaria de te dar meu último suspiro )
To make you understand how beautiful you are
( Para te fazer entender como você é bonita )
Understand how beautiful you are
( Entenda como você é bonita )
You call me a stranger, you say I'm a danger
( Você me chama de estranho, você diz que eu sou perigoso )
But all these thoughts are leaving you tonight
( Mas todos esses pensamentos estão deixando você esta noite. )
I'm broken, abandoned; you are an angel
( Eu estou quebrado, abandonado; você é um anjo )
Making all my dreams come true tonight
( Fazendo todos os meus sonhos virarem realidade esta noite )
You call me a stranger
( Você me chama de estranho)
You say I'm a danger
( você diz que eu sou perigoso )
You call me a stranger
( Você me chama de estranho) "
A musica terminou e nós continuamos no meio da sala, não prestávamos atenção em mais nada a nossa volta. Não existia pressa e nem segundas intenções nos beijos e nos toques, estávamos apenas nos deixando levar pelo momento.
Arthur constantemente dava leves mordidas em meu lábio inferior me fazendo sorrir. Senti ele me empurrar lentamente até o sofá e aos poucos ir me deitando e ficando por cima de mim, sem partir o beijo. Ele encaixou as pernas entre as minhas enquanto acariciava minhas costas por debaixo da blusa e não fez mais nada, ficamos apenas ali, deitados, nos beijando e aproveitando a companhia um do outro.
Parti o beijo sorrindo e encarei os olhos de Arthur bem de perto, nossas respirações estavam lentas e pesadas. Ele rolou pro meu lado no sofá e me abraçou pela cintura, deitei minha cabeça em seu ombro observando seu peito subir e descer rapidamente. Ficamos alguns instantes em silencio, fechei os olhos enquanto ele acariciava minhas costas fazendo desenhos imaginários com os dedos.
‘Lu.’ Ele falou de repente sentando no sofá e eu abri os olhos um pouco assustada.
‘Oi.’ Falei baixo sentando ao lado dele e abraçando meus joelhos.
‘Eu preciso falar uma coisa.’ Ele passava as duas mãos nervosamente pelo cabelos e eu arqueei a sobrancelha. ‘Eu... não sei como dizer isso. Eu nem sei se eu já falei isso pra você.’ Ele suspirou e eu senti meu coração gelar, ele não ia falar o que eu estava pensando, ia?
‘Já fazem sete meses desde que eu saí do hospital e bem, fazem também praticamente sete meses que a gente tá junto.’ Ele falava devagar como se estivesse escolhendo as palavras e eu sentia meu coração acelerar. ‘Esses sete meses têm sido os mais importantes da minha vida. Saber que eu tenho um filho e que eu tenho você aqui do meu lado, é uma das coisas que mais me faz feliz.’ Ok, ele definitivamente estava indo longe demais. Meu coração estava prestes a sair pela boca e a cada segundo que passava eu tinha mais certeza do que ele estava prestes a dizer.
Arthur segurou meu rosto com as duas mãos e encostou nossas testa respirando fundo.
‘Lu, eu...' Ele suspirou fundo e me olhou nos olhos. 'Eu te...’
‘Arthur, não.’ Implorei baixinho ainda sentindo sua respiração bater em minha boca. ‘Não faz isso.’ Continuei falando antes mesmo que meu cérebro conseguisse processar qualquer coisa.
Senti as lágrimas chegarem aos meus olhos, eu nem sabia por que eu tinha dito aquilo. Afinal, eu não esperei dois anos pra ouvir aquelas palavras? Arthur se afastou lentamente e eu o olhei atordoada tentando entender tudo aquilo. Seu rosto tinha uma mistura de angustia e duvida.
Balancei a cabeça me encolhendo ainda mais no sofá e deixei algumas lágrimas rolassem livres por meu rosto.
‘Não é justo com você, eu não posso...’ Solucei alto e de repente as palavras fugiram da minha mente, a frase incompleta dele era a única coisa que martelava em minha cabeça e eu procurava uma justificativa pra tudo aquilo, pra minha reação.
Imagens do nosso passado vieram na minha cabeça, todas as vezes que Arthur saía e só voltava no outro dia de manhã, todas as vezes que eu atendi o celular dele e ouvi uma voz feminina do outro lado da linha. Eu não podia privar ele daquela vida, aquela era a vida dele, não era?
‘Lu, sai da minha frente.’ Arthur implorou baixinho com os cotovelos apoiados na perna e as mãos cobrindo o rosto.
‘Arthur, por favor, eu só...’
‘Sai, Lua.’ Ele falou num tom machucado e ao mesmo tempo com uma raiva controlada. Eu solucei e o observei durante alguns segundos, a sala em completo silêncio, por alguns instantes achei que estivesse ouvindo meu próprio coração, ou talvez o dele.
Me levantei calmamente e andei até o quarto, me apoiando nos móveis.
Quando abri a porta me assustei ao encontrar um enorme pacote em cima da cama. Fechei a porta e caminhei lentamente até a cama. Minha vista estava embaçada por causa das lagrimas que caiam sem controle. Observei o cartão grudado no pacote e reconheci a caligrafia de Arthur.
“Não sei por que, mas ele me lembrou você. Talvez você se sinta mais jovem com ele! Espero que goste.
Com amor,
Arthur.”
Abri o embrulho com pressa e sorri quando me deparei com um enorme urso de pelúcia segurando um coração. Lembrei de uma vez que comentei com Arthur sobre nunca ter ganhado um urso enorme na infância e isso ter se tornado um trauma pra mim.
Mas... quando eu falei isso pra ele, não foi antes do acidente? Senti meu coração começar a bater mais rápido novamente e reli o cartão. “Não sei por que, mas ele me lembrou você”. Não podia ser.
Me encostei no armário e deslizei até o chão cobrindo meu rosto com as mãos e chorando alto sem me preocupar com quem pudesse ouvir.
Nem sei quanto tempo fiquei ali no chão, me levantei completamente tonta e sentindo que minha cabeça podia explodir a qualquer momento. Caminhei desajeitada até a cama e deitei encarando o teto por alguns instantes.
“Lu eu... eu te...”, aquela frase martelava em minha cabeça e eu sentia meu coração ser esmagado cada vez mais. Suspirei tentando controlar um pouco o choro e me agarrei ao grande urso que estava ao meu lado na cama. Ele tinha o cheiro do Arthur, e talvez por isso eu tenha adormecido tão rápido.
21º Capitulo - Addicted
Ouvi uma porta batendo e abri meus olhos me assustando com um urso enorme que eu estava abraçada. Levantei um pouco a cabeça e a claridade que entrava pela janela fez com que eu fechasse rapidamente meus olhos. Fiz uma careta botando a mão na cabeça que latejava como se alguém estivesse pisando-a. Virei novamente para o urso ao meu lado e em questão de segundos várias imagens da noite passada invadiram minha cabeça fazendo com que ela latejasse ainda mais forte. Fechei meus olhos com força tentando controlar a dor e tentando fazer a imagem do rosto angustiado e machucado de Arthur sair do meu pensamento.
Senti um enjôo repentino e a única coisa que consegui fazer foi correr para o banheiro e me ajoelhar em frente ao vaso sentindo a garganta arder enquanto colocava pra fora provavelmente tudo que tinha comido nos últimos dias. Algumas lágrimas rolaram por meu rosto por causa do esforço que eu estava fazendo, minha cabeça ao invés de latejar como se estivesse sendo pisoteada, agora parecia que estava sendo esmagava cada vez com mais força. Fiquei algum tempo ajoelhada respirando pausadamente, até que consegui reunir alguma força para me levantar.
Caminhei até a pia e liguei com força molhando meu rosto com as mãos, a água gelada me fez sentir um pouco melhor e a tontura parecia diminuir aos poucos. Me olhei no espelho apenas pra constatar o que eu já sabia, eu estava um trapo. Meus olhos inchados combinavam com as olheiras e o cabelo que parecia que a anos não via uma escova.
Sequei meu rosto e caminhei lentamente até a sala, uma parte de mim queria desesperadamente encontrar Arthur dormindo por ali, outra parte me dizia que era melhor que ele não tivesse, tempo talvez fosse exatamente o que precisássemos.
A sala estava vazia, assim como a cozinha e o quarto de hospedes, fui até o quarto de Diego e vi que ele ainda dormia, só então me dei conta de que ainda eram sete da manhã. Voltei para o quarto e sentei na cama abraçando minhas pernas e me perguntando aonde Arthur teria ido. Pensei em ligar para o trabalho e inventar uma doença qualquer, mas talvez trabalhar até me fizesse bem, me ajudaria a esquecer um pouco as coisas.
Quando o relógio marcou sete e meia fui acordar Diego, dei banho nele e o vesti com a roupa da escola. Deixei-o na sala brincando e fui tomar meu banho, a água morna me fazia sentir mais relaxada, por mim ficaria horas embaixo do chuveiro, mas o trabalho me chamava. Meia hora depois saí de casa e fui levar Diego na escola, seguindo pro trabalho em seguida.
‘Blanco, se você continuar assim serei obrigada a descontar do seu salário as horas que você anda dormindo em serviço!’ Minha chefe passou pela minha mesa gritando quando eu já estava quase entrando em sono profundo.
‘Não, desculpa Margot, foi apenas um deslize!’ Falei me ajeitando na cadeira e sorri falsamente. Ela rolou os olhos e saiu batendo o salto.
Passei a mão pelo rosto dando leves tapinhas pra me manter acordada e levantei pra pegar a vigésima dose de café em menos de duas horas. Quando voltei pra mesa vi que tinha uma mensagem da Sophia no celular.
“Tudo bem entre você e o Arthur?”
Era o que dizia na mensagem.
Ah claro, tudo ótimo, com o único detalhe que ontem ele ia falar tudo o que eu mais quis ouvir em dois anos e eu simplesmente o impedi e nem sei direito o porquê. E pra piorar ele saiu de casa hoje cedo e eu não faço idéia do que fazer quando encontra-lo. Tirando isso? Tudo as mil maravilhas, melhor impossível.
“Tudo bem. Por quê?”
Ah, não queria falar no assunto, depois eu ia contar pra ela de qualquer jeito. Fora que se a Margot me pegasse trocando mensagens ela descontaria do meu ínfimo salário pelos próximos vinte anos.
“Hm...ele tá aqui na casa do Micael e parece meio mal. O Micael tá conversando com ele.”
Ah, ótimo! Arthur vai falar pro Micael, que depois vai contar pra Sophia, que depois vai me matar por ter mentido pra ela.
“Almoça comigo? Preciso conversar com alguém!”
Não dá pra falar por mensagens de celular né?
“Sabia que tinha alguma coisa! Estarei de esperando meio dia em ponto aí na frente do prédio.”
Como eu posso explicar pra Sophia uma coisa que eu mesmo consigo entender?
Fiquei alguns minutos pensando até ouvir os saltos da Margot se aproximando e fingi fazer anotações alternando meu olhar da tela do computador pro caderno. Ela passou por mim e lançou um olhar de estou de olho em você, sorri falsamente de novo e quando ela virou mandei dedo do meio fazendo com que Jake, um dos meus companheiros de estágio, soltasse um riso abafado.
‘Você não presta, Lu!’ Ele balançou a cabeça e eu dei de ombros rindo.
Os minutos pareciam horas e eu teimava em olhar o relógio de cinco em cinco minutos. A máquina de café me parecia mais atraente a cada minuto, às vezes sentia a impressão de que estava circulando cafeína em minhas veias.
Liguei pra Kat, a babá do Diego, e pedi que ela fosse pegá-lo na escola para que eu pudesse conversar tranquilamente com Sophia. Olhei novamente o relógio no computador constatando que faltavam cinco minutos para o meio dia, nem pensei em mais nada, peguei minha bolsa e saí caminhando apressada.
‘Pontualidade é o seu forte, amiga!’ Soph sorriu pra mim quando eu saí do prédio. Sorri fraco apertando os olhos por causa do sol. ‘Ih, já vi que a coisa foi séria.’ Ela falou num tom de deboche, mas sem sorrir. Eu apenas balancei a cabeça e fui andando até o carro.
Seguimos o caminho até o restaurante em silêncio. Eu porque tinha medo de começar a falar e cair no choro novamente, já Sophia, talvez apenas por ter percebido que eu não queria falar nada naquele momento. Entramos no restaurante e sentamos numa mesa mais afastada, pedi uma água e o garçom sorriu amigavelmente.
‘Então...’ Sophia sorriu me encorajando e eu respirei fundo.
‘Se importa se eu chorar?’ Falei já com lágrima nos olhos. Ela pegou minha mão que estava em cima da mesa e balançou a cabeça negativamente.
‘Ontem... depois que você e o Micael foram embora, nós botamos o Diego pra dormir e o Arthur me perguntou se eu estava com sono. Eu disse que só um pouco e ele me puxou pra sala e botou uma musica super romântica, quando dei por mim já estávamos dançando no meio da sala.’ Sorri lembrando, mas deixei as lágrimas caírem por meu rosto.
O garçom voltou com a água e me olhou estranho, eu balancei a cabeça em agradecimento e ele saiu de perto. Voltei a encarar Soph que me olhava séria.
‘Depois a gente deitou no sofá e ficamos lá, nos beijando, sem segundas intenções e nem nada. Isso é uma das coisas que eu mais gosto nele, sabe? A gente não precisa fazer tudo já pensando em sexo, ele simplesmente deita do meu lado e fica fazendo carinho em mim.’ Falei de uma maneira tão boba que Soph soltou um own me fazendo rir. ‘Até aí tudo bem, mas de repente ele se levantou e começou a falar uma coisas...’
‘Ai meu Deus.’ Sophia soltou minha mão me olhando assustada.
‘Ele parecia nervoso, e começou a falar que esses sete meses que a gente tá junto eram muito importantes.’ Suspirei fechando os olhos e senti o olhar curioso de Sophia sob mim. ‘Soph, ele ia falar, ele ia falar o que eu sempre quis ouvir, e eu... eu...’ Escondi meu rosto com as mãos chorando baixinho. Fiquei alguns segundos assim até sentir Sophia pegar minhas mãos e me olhar séria.
‘Lu, não me diz que você impediu ele de dizer que te ama.’ Confirmei morrendo de medo que ela me desse um tapa na cara ou algo do tipo, mas ela apenas balançou a cabeça bufando e soltou uma risada de descrença.
Ficamos em silêncio durante alguns minutos, Sophia girava nervosamente o anel que estava em seu dedo, enquanto eu ainda soluçava baixinho.
‘Soph, fala alguma coisa, pelo amor de Deus.’ Pedi olhando pras minhas próprias mãos.
‘O que você quer que eu fale?’ Ela perguntou depois de algum tempo. ‘Desculpa, Lu, mas agora eu realmente não posso te consolar. E pára de chorar e vê se acorda pra vida.’ Ele pegou em minha mão sacudindo.
‘As senhoritas vão querer fazer o pedido?’ O mesmo garçom de antes parou em nossa mesa e sorriu.
‘Eu quero o prato do dia.’ Sophia sorriu de volta para ele que balançou a cabeça confirmando e depois olhou pra mim.
‘Tô sem fome.’ Dei de ombros forçando um sorriso e ele se afastou sem fazer nenhuma objeção. Acho que minha cara não estava exatamente amigável naquele momento.
‘Vai se fingir de coitada agora? Vai parar de comer e morrer de anorexia?’ Sophia falou com ironia e eu a olhei séria.
‘Vai pra merda, Sophia.’ Bufei e ela cruzou os braços.
‘Não costumo freqüentar os mesmos lugares que você.’ Ela olhou pras próprias mãos e segundos depois olhamos uma pra cara da outra e começamos a rir.
‘Ainda não tinha ouvido essa, inventou agora?’ Falei sem parar de rir e ela mandou dedo.
‘Pára de rir sua retardada, sua situação é séria.’ Ela tentou ficar séria e eu balancei a cabeça concordando.
‘Eu sei, mas eu precisava dar risada. Meu estoque de lágrimas tá quase acabando.’ Dei de ombros.
Ficamos conversando até o almoço de Sophia chegar, olhei pro prato dela tentando não fazer careta quando meu estomago deu uma volta.
‘Que foi?’ Ela arqueou a sobrancelha e eu forcei um sorriso.
‘Nada. Amiga, eu já volto ok?’ Peguei minha bolsa e ela me olhou estranho.
‘Você vai me deixar almoçando sozinha?’
‘É rápido, prometo!’ Sorri e sai rápido do restaurante. Aquele cheiro de comida e todos aqueles pratos sendo servidos não estavam me fazendo bem.
Corri para o banheiro mais próximo e novamente me ajoelhei em frente ao vaso sentindo minha garganta doer por causa do esforço.
Cuspi algumas vezes e me certifiquei de que não iria fazer tudo de novo e então me levantei saindo da cabine. Fui até a pia e limpei minha boca passando uma água pelo rosto. Ajeitei meu cabelo e suspirei antes de voltar pro restaurante.
‘Viu, foi rápido!’ Sentei em frente à Sophia e vi que ela já tinha praticamente terminado o almoço. ‘Ou talvez nem tanto.’ Sorri sem graça.
‘O que houve?’ Ela me olhou preocupada.
‘Nada!’ Falei naturalmente, evitando olhar pro prato dela. Sophia deu de ombros concordando e voltou a almoçar tranquilamente.
‘Vamos lá pra casa? Daí depois a gente vai pra faculdade juntas!’ Falei sorrindo quando o garçom recolheu o prato de Sophia.
‘Tudo isso pra não correr o risco de Arthur estar em casa e você ficar sozinha com ele?’ Ela arqueou a sobrancelha e eu senti meu rosto arder.
‘Não, claro que não.’ Disfarcei. ‘Claro que não é por isso, Sophia. É apenas pra irmos pra faculdade juntas.’ Dei de ombros e ela riu.
‘Ok, eu vou. Mesmo achando que é por causa do Arthur.’ Ela deu língua. ‘Vou lá pagar.’ Ela se levantou.
‘Paga minha água? Depois eu te dou o dinheiro.’ Sorri.
‘No dia que eu tiver que te cobrar por uma água eu vou preferir pedir esmola na rua, Lua.’ Ela riu e foi até o caixa.
Fui o caminho inteiro até em casa mentalizando que Arthur não estava lá. Quando cheguei em frente ao prédio vi o carro dele estacionado e meu coração começou a disparar.
‘Arthur tá em casa.’ Sophia comentou receosa e eu apenas concordei.
Quando abri a porta de casa Diego veio correndo me abraçar, Arthur estava no sofá vendo tv junto com Micael.
‘Amor, não sabia que você estava aqui!’ Sophia sorriu dando um selinho em Micael.
‘Erm... eu e o Arthur almoçamos juntos, daí acabamos vindo pra cá depois.’ Ele sorriu um pouco sem graça.
‘Hey, Micael!’ Dei um beijo na bochecha dele.
Olhei pra Arthur, e quando nossos olhares se encontraram ele voltou a olhar a tv. Senti meu coração despencar de uma altura incalculável quando reparei em seu olhar magoado. Sophia me puxou pra quarto deixando-os junto com Diego na sala.
‘Céus, o que é isso?’ Sophia perguntou assustada quando viu o enorme urso que Arthur tinha me dado em cima da cama.
‘O Arthur me deu de aniversário.’ Sorri fraco e ela me olhou boquiaberta. ‘Eu só soube depois que já tinha feito a besteira, ok?’ Sentei na cama abraçando os joelhos.
‘Ai, Lu, ele é lindo!’ Ela falou olhando pro urso e eu estendi o cartão que Arthur tinha escrito. ‘E sabe o que é mais estranho?’ Perguntei depois que ela terminou de ler. ‘Uma vez eu disse pra ele que meu trauma de infância era nunca ter recebido um urso gigante.’
‘E o que tem de estranho nisso? Vai ver ele quis curar seu trauma.’ Ela riu.
‘Eu falei isso pra ele antes do acidente, Soph.’ A olhei séria e ela ficou alguns segundos estática me olhando.
‘Você acha?’ Ela olhou de urso pra mim e eu dei de ombros.
‘Merda, de novo não.’ Falei depois de alguns minutos e corri pro banheiro. Terceira vez em menos de 8 horas.
‘Lu!’ Sophia correu pra me ajudar e segurou meu cabelo. ‘Diz pra mim que você não tá forçando.’ Ela falou baixo.
‘Não to! Essa já é a terceira vez.’ Falei sem pensar e me arrependi logo depois.
‘Foi isso que você foi fazer quando me deixou almoçando sozinha?’ Ela perguntou num tom de indignação e eu balancei a cabeça confirmando. ‘Lu, pelo amor de Deus.’ Ela se abaixou ao meu lado quando eu consegui controlar a ansia. ‘Me diz que não existem chances disso ser outra gravidez.’ Ela falou em tom de suplica.
‘Não tem.’ Respondi balançando a cabeça e ela suspirou aliviada.
‘O que diabos você comeu hoje?’ Ela se levantou me puxando junto.
‘Hm... umas 20 doses de café?’ Falei em duvida.
‘Lua Blanco, você não comeu nada hoje?’ Ela falou alto e eu neguei fazendo uma cara inocente. ‘Meu Deus, Lu. Você parece uma criança. Vai mesmo seguir minha idéia de morrer anorexica?’ Ela falou séria, mas mesmo assim eu ri. ‘Não é pra rir sua idiota.’ Ela me deu um pedala enquanto eu limpava minha boca.
‘Deixa pra lá!’ Dei de ombros. ‘Vamos logo senão vamos nos atrasar pra faculdade.’ Ia sair do banheiro quando ela me puxou de volta.
‘Faculdade? Tá doida que eu vou deixar você ir pra faculdade assim?’ Sophia pegou meu braço e me levou até a cama. ‘Você vai ficar deitadinha aí enquanto eu vou lá pegar alguma coisa pra você comer. E não ouse reclamar!’ Ela apontou o dedo na minha cara quando eu abri a boca para contestar. Balancei a cabeça concordando e ela saiu do quarto apressada.
Fiquei encarando o teto durante alguns minutos até ela voltar uma bandeja na mão.
‘Soph, eu não quero comer.’ Falei manhosa e ela nem respondeu, apenas botou a bandeja na minha frente.
‘Só saio daqui depois que você comer tu-do. Nem que eu tenha que enfiar goela a baixo.’ Ela falou séria e eu fiquei com medo.
Comecei a comer emburrada enquanto Sophia me olhava de braços cruzados parecendo até a minha mãe.
‘Posso entrar?’ Micael perguntou batendo na porta e botando apenas a cabeça pra dentro do quarto.
‘Pode, amor!’ Sophia sorriu.
‘Ei, o quarto é meu, quem tem que autorizar sou eu!’ Falei séria e Micael parou aonde tava. ‘Tô brincando Micaelzinho! Claro que você pode entrar!’ Dei risada e ele sorriu aliviado.
‘Hm... então a anoréxica resolveu comer?’ Micael perguntou rindo.
‘Sophia!!’ Falei num tom de reprovação e ela riu. ‘Não acredito que você falou isso!’
‘Ah, foi brincadeira, eles sabem disso.’ Ela abanou o ar.
‘Eles? Você falou isso pro Arthur também?’ Perguntei indignada.
‘Ah, ele foi o primeiro a perguntar o que você tinha e ficar todo preocupado.’ Ela deu de ombros e eu senti meu estomago revirar. Arthur tinha ficado preocupado comigo?
‘Hm... acho que já tá bom, né?’ Falei afastando a bandeja e Sophia me olhou feio. ‘Sério Soph, eu já comi umas quatro torradas e já tomei o suco quase todo. Por favor!’ Fiz cara de criança e Micael riu.
‘Tá bom, mas só porque eu já to atrasada pra faculdade!’ Ela se levantou pegando a bandeja. ‘Amor, me leva na faculdade?’ Ela sorriu e Micael concordou lhe dando um selinho.
‘Awn!’ Falei olhando os dois que ficaram sem graça.
‘Bom, vou indo. Nada de fazer esforço e nem de ficar sem comer de novo, entendeu?’ Ela me olhou séria e eu concordei.
‘Se cuida, Lu!’ Micael beijou minha testa e eu sorri agradecida.
Quando eles saíram do quarto, me levantei e fui até o armário trocar de roupa. Botei um short básico e uma camisa enorme do Arthur.
‘Mamãe?’ Diego entrou no quarto.
‘Diga, meu amor, meu príncipe lindo!’ Carreguei ele lhe dando um beijo na bochecha.
‘Brincá!’ Ele falou a palavra certa e eu sorri.
‘Agora a mamãe não pode, meu amor. Vou dormir um pouco e prometo que mais tarde brinco com você, tá bem?’ Sorri e ele concordou balançando a cabeça.
Arthur entrou no quarto e eu senti meu coração quase sair pela boca. Ele foi até o armário, pegou alguma coisa e saiu sem olhar pra mim.
Suspirei mordendo o lábio enquanto Diego me olhava.
‘Vai lá ficar com o papai, meu amor. Ele tá precisando de você!’ Sorri colocando-o no chão e ele correu pra fora do quarto.
Deitei na cama sentindo meu corpo cansado e abracei o grande urso com o perfume do Arthur. Fiquei algum tempo encarando o nada sem vontade de dormir, mas meu corpo precisava de um descanso e antes mesmo que eu pudesse controlar, caí num sono profundo.
Ouvi um barulho fraco e abri meus olhos lentamente dando de cara com Arthur que estava colocando uma xícara no criado mudo. O olhei ainda um pouco zonza e ele coçou a nuca sem graça.
‘Erm... chá de gengibre gelado, dizem que é bom pra enjôo.’ Ele sorriu sem graça apontando pra xícara e eu sorri agradecida. Ficamos alguns segundos nos olhando até ele botar as mãos no bolso e balançar a cabeça. ‘Eu não sou muito bom em fazer chá, então não sei se tá bom.’ Falou dessa vez sem me olhar.
‘Brigada, Arthur.’ Falei baixo me sentando na cama. Ele sorriu fraco e saiu do quarto.
Tomei o chá em silêncio deixando a escuridão tomar conta do quarto. O sol já tinha desaparecido por completo. Me levantei para levar a xícara até a cozinha e quando passei pela sala vi Arthur e Diego brincando com alguns carrinhos.
‘Vem brincá, mãe!’ Diego pediu quando eu voltei pra sala. Fiquei na duvida de sentava ali com eles ou sentava no sofá, mas Arthur foi mais rápido e deu um beijo na cabeça do filho sentando no sofá em seguida. Suspirei antes de sentar chão com Diego e começar a brincar com ele sentindo constantemente o olhar de Arthur sob mim.
Senti um enjôo repentino e a única coisa que consegui fazer foi correr para o banheiro e me ajoelhar em frente ao vaso sentindo a garganta arder enquanto colocava pra fora provavelmente tudo que tinha comido nos últimos dias. Algumas lágrimas rolaram por meu rosto por causa do esforço que eu estava fazendo, minha cabeça ao invés de latejar como se estivesse sendo pisoteada, agora parecia que estava sendo esmagava cada vez com mais força. Fiquei algum tempo ajoelhada respirando pausadamente, até que consegui reunir alguma força para me levantar.
Caminhei até a pia e liguei com força molhando meu rosto com as mãos, a água gelada me fez sentir um pouco melhor e a tontura parecia diminuir aos poucos. Me olhei no espelho apenas pra constatar o que eu já sabia, eu estava um trapo. Meus olhos inchados combinavam com as olheiras e o cabelo que parecia que a anos não via uma escova.
Sequei meu rosto e caminhei lentamente até a sala, uma parte de mim queria desesperadamente encontrar Arthur dormindo por ali, outra parte me dizia que era melhor que ele não tivesse, tempo talvez fosse exatamente o que precisássemos.
A sala estava vazia, assim como a cozinha e o quarto de hospedes, fui até o quarto de Diego e vi que ele ainda dormia, só então me dei conta de que ainda eram sete da manhã. Voltei para o quarto e sentei na cama abraçando minhas pernas e me perguntando aonde Arthur teria ido. Pensei em ligar para o trabalho e inventar uma doença qualquer, mas talvez trabalhar até me fizesse bem, me ajudaria a esquecer um pouco as coisas.
Quando o relógio marcou sete e meia fui acordar Diego, dei banho nele e o vesti com a roupa da escola. Deixei-o na sala brincando e fui tomar meu banho, a água morna me fazia sentir mais relaxada, por mim ficaria horas embaixo do chuveiro, mas o trabalho me chamava. Meia hora depois saí de casa e fui levar Diego na escola, seguindo pro trabalho em seguida.
‘Blanco, se você continuar assim serei obrigada a descontar do seu salário as horas que você anda dormindo em serviço!’ Minha chefe passou pela minha mesa gritando quando eu já estava quase entrando em sono profundo.
‘Não, desculpa Margot, foi apenas um deslize!’ Falei me ajeitando na cadeira e sorri falsamente. Ela rolou os olhos e saiu batendo o salto.
Passei a mão pelo rosto dando leves tapinhas pra me manter acordada e levantei pra pegar a vigésima dose de café em menos de duas horas. Quando voltei pra mesa vi que tinha uma mensagem da Sophia no celular.
“Tudo bem entre você e o Arthur?”
Era o que dizia na mensagem.
Ah claro, tudo ótimo, com o único detalhe que ontem ele ia falar tudo o que eu mais quis ouvir em dois anos e eu simplesmente o impedi e nem sei direito o porquê. E pra piorar ele saiu de casa hoje cedo e eu não faço idéia do que fazer quando encontra-lo. Tirando isso? Tudo as mil maravilhas, melhor impossível.
“Tudo bem. Por quê?”
Ah, não queria falar no assunto, depois eu ia contar pra ela de qualquer jeito. Fora que se a Margot me pegasse trocando mensagens ela descontaria do meu ínfimo salário pelos próximos vinte anos.
“Hm...ele tá aqui na casa do Micael e parece meio mal. O Micael tá conversando com ele.”
Ah, ótimo! Arthur vai falar pro Micael, que depois vai contar pra Sophia, que depois vai me matar por ter mentido pra ela.
“Almoça comigo? Preciso conversar com alguém!”
Não dá pra falar por mensagens de celular né?
“Sabia que tinha alguma coisa! Estarei de esperando meio dia em ponto aí na frente do prédio.”
Como eu posso explicar pra Sophia uma coisa que eu mesmo consigo entender?
Fiquei alguns minutos pensando até ouvir os saltos da Margot se aproximando e fingi fazer anotações alternando meu olhar da tela do computador pro caderno. Ela passou por mim e lançou um olhar de estou de olho em você, sorri falsamente de novo e quando ela virou mandei dedo do meio fazendo com que Jake, um dos meus companheiros de estágio, soltasse um riso abafado.
‘Você não presta, Lu!’ Ele balançou a cabeça e eu dei de ombros rindo.
Os minutos pareciam horas e eu teimava em olhar o relógio de cinco em cinco minutos. A máquina de café me parecia mais atraente a cada minuto, às vezes sentia a impressão de que estava circulando cafeína em minhas veias.
Liguei pra Kat, a babá do Diego, e pedi que ela fosse pegá-lo na escola para que eu pudesse conversar tranquilamente com Sophia. Olhei novamente o relógio no computador constatando que faltavam cinco minutos para o meio dia, nem pensei em mais nada, peguei minha bolsa e saí caminhando apressada.
‘Pontualidade é o seu forte, amiga!’ Soph sorriu pra mim quando eu saí do prédio. Sorri fraco apertando os olhos por causa do sol. ‘Ih, já vi que a coisa foi séria.’ Ela falou num tom de deboche, mas sem sorrir. Eu apenas balancei a cabeça e fui andando até o carro.
Seguimos o caminho até o restaurante em silêncio. Eu porque tinha medo de começar a falar e cair no choro novamente, já Sophia, talvez apenas por ter percebido que eu não queria falar nada naquele momento. Entramos no restaurante e sentamos numa mesa mais afastada, pedi uma água e o garçom sorriu amigavelmente.
‘Então...’ Sophia sorriu me encorajando e eu respirei fundo.
‘Se importa se eu chorar?’ Falei já com lágrima nos olhos. Ela pegou minha mão que estava em cima da mesa e balançou a cabeça negativamente.
‘Ontem... depois que você e o Micael foram embora, nós botamos o Diego pra dormir e o Arthur me perguntou se eu estava com sono. Eu disse que só um pouco e ele me puxou pra sala e botou uma musica super romântica, quando dei por mim já estávamos dançando no meio da sala.’ Sorri lembrando, mas deixei as lágrimas caírem por meu rosto.
O garçom voltou com a água e me olhou estranho, eu balancei a cabeça em agradecimento e ele saiu de perto. Voltei a encarar Soph que me olhava séria.
‘Depois a gente deitou no sofá e ficamos lá, nos beijando, sem segundas intenções e nem nada. Isso é uma das coisas que eu mais gosto nele, sabe? A gente não precisa fazer tudo já pensando em sexo, ele simplesmente deita do meu lado e fica fazendo carinho em mim.’ Falei de uma maneira tão boba que Soph soltou um own me fazendo rir. ‘Até aí tudo bem, mas de repente ele se levantou e começou a falar uma coisas...’
‘Ai meu Deus.’ Sophia soltou minha mão me olhando assustada.
‘Ele parecia nervoso, e começou a falar que esses sete meses que a gente tá junto eram muito importantes.’ Suspirei fechando os olhos e senti o olhar curioso de Sophia sob mim. ‘Soph, ele ia falar, ele ia falar o que eu sempre quis ouvir, e eu... eu...’ Escondi meu rosto com as mãos chorando baixinho. Fiquei alguns segundos assim até sentir Sophia pegar minhas mãos e me olhar séria.
‘Lu, não me diz que você impediu ele de dizer que te ama.’ Confirmei morrendo de medo que ela me desse um tapa na cara ou algo do tipo, mas ela apenas balançou a cabeça bufando e soltou uma risada de descrença.
Ficamos em silêncio durante alguns minutos, Sophia girava nervosamente o anel que estava em seu dedo, enquanto eu ainda soluçava baixinho.
‘Soph, fala alguma coisa, pelo amor de Deus.’ Pedi olhando pras minhas próprias mãos.
‘O que você quer que eu fale?’ Ela perguntou depois de algum tempo. ‘Desculpa, Lu, mas agora eu realmente não posso te consolar. E pára de chorar e vê se acorda pra vida.’ Ele pegou em minha mão sacudindo.
‘As senhoritas vão querer fazer o pedido?’ O mesmo garçom de antes parou em nossa mesa e sorriu.
‘Eu quero o prato do dia.’ Sophia sorriu de volta para ele que balançou a cabeça confirmando e depois olhou pra mim.
‘Tô sem fome.’ Dei de ombros forçando um sorriso e ele se afastou sem fazer nenhuma objeção. Acho que minha cara não estava exatamente amigável naquele momento.
‘Vai se fingir de coitada agora? Vai parar de comer e morrer de anorexia?’ Sophia falou com ironia e eu a olhei séria.
‘Vai pra merda, Sophia.’ Bufei e ela cruzou os braços.
‘Não costumo freqüentar os mesmos lugares que você.’ Ela olhou pras próprias mãos e segundos depois olhamos uma pra cara da outra e começamos a rir.
‘Ainda não tinha ouvido essa, inventou agora?’ Falei sem parar de rir e ela mandou dedo.
‘Pára de rir sua retardada, sua situação é séria.’ Ela tentou ficar séria e eu balancei a cabeça concordando.
‘Eu sei, mas eu precisava dar risada. Meu estoque de lágrimas tá quase acabando.’ Dei de ombros.
Ficamos conversando até o almoço de Sophia chegar, olhei pro prato dela tentando não fazer careta quando meu estomago deu uma volta.
‘Que foi?’ Ela arqueou a sobrancelha e eu forcei um sorriso.
‘Nada. Amiga, eu já volto ok?’ Peguei minha bolsa e ela me olhou estranho.
‘Você vai me deixar almoçando sozinha?’
‘É rápido, prometo!’ Sorri e sai rápido do restaurante. Aquele cheiro de comida e todos aqueles pratos sendo servidos não estavam me fazendo bem.
Corri para o banheiro mais próximo e novamente me ajoelhei em frente ao vaso sentindo minha garganta doer por causa do esforço.
Cuspi algumas vezes e me certifiquei de que não iria fazer tudo de novo e então me levantei saindo da cabine. Fui até a pia e limpei minha boca passando uma água pelo rosto. Ajeitei meu cabelo e suspirei antes de voltar pro restaurante.
‘Viu, foi rápido!’ Sentei em frente à Sophia e vi que ela já tinha praticamente terminado o almoço. ‘Ou talvez nem tanto.’ Sorri sem graça.
‘O que houve?’ Ela me olhou preocupada.
‘Nada!’ Falei naturalmente, evitando olhar pro prato dela. Sophia deu de ombros concordando e voltou a almoçar tranquilamente.
‘Vamos lá pra casa? Daí depois a gente vai pra faculdade juntas!’ Falei sorrindo quando o garçom recolheu o prato de Sophia.
‘Tudo isso pra não correr o risco de Arthur estar em casa e você ficar sozinha com ele?’ Ela arqueou a sobrancelha e eu senti meu rosto arder.
‘Não, claro que não.’ Disfarcei. ‘Claro que não é por isso, Sophia. É apenas pra irmos pra faculdade juntas.’ Dei de ombros e ela riu.
‘Ok, eu vou. Mesmo achando que é por causa do Arthur.’ Ela deu língua. ‘Vou lá pagar.’ Ela se levantou.
‘Paga minha água? Depois eu te dou o dinheiro.’ Sorri.
‘No dia que eu tiver que te cobrar por uma água eu vou preferir pedir esmola na rua, Lua.’ Ela riu e foi até o caixa.
Fui o caminho inteiro até em casa mentalizando que Arthur não estava lá. Quando cheguei em frente ao prédio vi o carro dele estacionado e meu coração começou a disparar.
‘Arthur tá em casa.’ Sophia comentou receosa e eu apenas concordei.
Quando abri a porta de casa Diego veio correndo me abraçar, Arthur estava no sofá vendo tv junto com Micael.
‘Amor, não sabia que você estava aqui!’ Sophia sorriu dando um selinho em Micael.
‘Erm... eu e o Arthur almoçamos juntos, daí acabamos vindo pra cá depois.’ Ele sorriu um pouco sem graça.
‘Hey, Micael!’ Dei um beijo na bochecha dele.
Olhei pra Arthur, e quando nossos olhares se encontraram ele voltou a olhar a tv. Senti meu coração despencar de uma altura incalculável quando reparei em seu olhar magoado. Sophia me puxou pra quarto deixando-os junto com Diego na sala.
‘Céus, o que é isso?’ Sophia perguntou assustada quando viu o enorme urso que Arthur tinha me dado em cima da cama.
‘O Arthur me deu de aniversário.’ Sorri fraco e ela me olhou boquiaberta. ‘Eu só soube depois que já tinha feito a besteira, ok?’ Sentei na cama abraçando os joelhos.
‘Ai, Lu, ele é lindo!’ Ela falou olhando pro urso e eu estendi o cartão que Arthur tinha escrito. ‘E sabe o que é mais estranho?’ Perguntei depois que ela terminou de ler. ‘Uma vez eu disse pra ele que meu trauma de infância era nunca ter recebido um urso gigante.’
‘E o que tem de estranho nisso? Vai ver ele quis curar seu trauma.’ Ela riu.
‘Eu falei isso pra ele antes do acidente, Soph.’ A olhei séria e ela ficou alguns segundos estática me olhando.
‘Você acha?’ Ela olhou de urso pra mim e eu dei de ombros.
‘Merda, de novo não.’ Falei depois de alguns minutos e corri pro banheiro. Terceira vez em menos de 8 horas.
‘Lu!’ Sophia correu pra me ajudar e segurou meu cabelo. ‘Diz pra mim que você não tá forçando.’ Ela falou baixo.
‘Não to! Essa já é a terceira vez.’ Falei sem pensar e me arrependi logo depois.
‘Foi isso que você foi fazer quando me deixou almoçando sozinha?’ Ela perguntou num tom de indignação e eu balancei a cabeça confirmando. ‘Lu, pelo amor de Deus.’ Ela se abaixou ao meu lado quando eu consegui controlar a ansia. ‘Me diz que não existem chances disso ser outra gravidez.’ Ela falou em tom de suplica.
‘Não tem.’ Respondi balançando a cabeça e ela suspirou aliviada.
‘O que diabos você comeu hoje?’ Ela se levantou me puxando junto.
‘Hm... umas 20 doses de café?’ Falei em duvida.
‘Lua Blanco, você não comeu nada hoje?’ Ela falou alto e eu neguei fazendo uma cara inocente. ‘Meu Deus, Lu. Você parece uma criança. Vai mesmo seguir minha idéia de morrer anorexica?’ Ela falou séria, mas mesmo assim eu ri. ‘Não é pra rir sua idiota.’ Ela me deu um pedala enquanto eu limpava minha boca.
‘Deixa pra lá!’ Dei de ombros. ‘Vamos logo senão vamos nos atrasar pra faculdade.’ Ia sair do banheiro quando ela me puxou de volta.
‘Faculdade? Tá doida que eu vou deixar você ir pra faculdade assim?’ Sophia pegou meu braço e me levou até a cama. ‘Você vai ficar deitadinha aí enquanto eu vou lá pegar alguma coisa pra você comer. E não ouse reclamar!’ Ela apontou o dedo na minha cara quando eu abri a boca para contestar. Balancei a cabeça concordando e ela saiu do quarto apressada.
Fiquei encarando o teto durante alguns minutos até ela voltar uma bandeja na mão.
‘Soph, eu não quero comer.’ Falei manhosa e ela nem respondeu, apenas botou a bandeja na minha frente.
‘Só saio daqui depois que você comer tu-do. Nem que eu tenha que enfiar goela a baixo.’ Ela falou séria e eu fiquei com medo.
Comecei a comer emburrada enquanto Sophia me olhava de braços cruzados parecendo até a minha mãe.
‘Posso entrar?’ Micael perguntou batendo na porta e botando apenas a cabeça pra dentro do quarto.
‘Pode, amor!’ Sophia sorriu.
‘Ei, o quarto é meu, quem tem que autorizar sou eu!’ Falei séria e Micael parou aonde tava. ‘Tô brincando Micaelzinho! Claro que você pode entrar!’ Dei risada e ele sorriu aliviado.
‘Hm... então a anoréxica resolveu comer?’ Micael perguntou rindo.
‘Sophia!!’ Falei num tom de reprovação e ela riu. ‘Não acredito que você falou isso!’
‘Ah, foi brincadeira, eles sabem disso.’ Ela abanou o ar.
‘Eles? Você falou isso pro Arthur também?’ Perguntei indignada.
‘Ah, ele foi o primeiro a perguntar o que você tinha e ficar todo preocupado.’ Ela deu de ombros e eu senti meu estomago revirar. Arthur tinha ficado preocupado comigo?
‘Hm... acho que já tá bom, né?’ Falei afastando a bandeja e Sophia me olhou feio. ‘Sério Soph, eu já comi umas quatro torradas e já tomei o suco quase todo. Por favor!’ Fiz cara de criança e Micael riu.
‘Tá bom, mas só porque eu já to atrasada pra faculdade!’ Ela se levantou pegando a bandeja. ‘Amor, me leva na faculdade?’ Ela sorriu e Micael concordou lhe dando um selinho.
‘Awn!’ Falei olhando os dois que ficaram sem graça.
‘Bom, vou indo. Nada de fazer esforço e nem de ficar sem comer de novo, entendeu?’ Ela me olhou séria e eu concordei.
‘Se cuida, Lu!’ Micael beijou minha testa e eu sorri agradecida.
Quando eles saíram do quarto, me levantei e fui até o armário trocar de roupa. Botei um short básico e uma camisa enorme do Arthur.
‘Mamãe?’ Diego entrou no quarto.
‘Diga, meu amor, meu príncipe lindo!’ Carreguei ele lhe dando um beijo na bochecha.
‘Brincá!’ Ele falou a palavra certa e eu sorri.
‘Agora a mamãe não pode, meu amor. Vou dormir um pouco e prometo que mais tarde brinco com você, tá bem?’ Sorri e ele concordou balançando a cabeça.
Arthur entrou no quarto e eu senti meu coração quase sair pela boca. Ele foi até o armário, pegou alguma coisa e saiu sem olhar pra mim.
Suspirei mordendo o lábio enquanto Diego me olhava.
‘Vai lá ficar com o papai, meu amor. Ele tá precisando de você!’ Sorri colocando-o no chão e ele correu pra fora do quarto.
Deitei na cama sentindo meu corpo cansado e abracei o grande urso com o perfume do Arthur. Fiquei algum tempo encarando o nada sem vontade de dormir, mas meu corpo precisava de um descanso e antes mesmo que eu pudesse controlar, caí num sono profundo.
Ouvi um barulho fraco e abri meus olhos lentamente dando de cara com Arthur que estava colocando uma xícara no criado mudo. O olhei ainda um pouco zonza e ele coçou a nuca sem graça.
‘Erm... chá de gengibre gelado, dizem que é bom pra enjôo.’ Ele sorriu sem graça apontando pra xícara e eu sorri agradecida. Ficamos alguns segundos nos olhando até ele botar as mãos no bolso e balançar a cabeça. ‘Eu não sou muito bom em fazer chá, então não sei se tá bom.’ Falou dessa vez sem me olhar.
‘Brigada, Arthur.’ Falei baixo me sentando na cama. Ele sorriu fraco e saiu do quarto.
Tomei o chá em silêncio deixando a escuridão tomar conta do quarto. O sol já tinha desaparecido por completo. Me levantei para levar a xícara até a cozinha e quando passei pela sala vi Arthur e Diego brincando com alguns carrinhos.
‘Vem brincá, mãe!’ Diego pediu quando eu voltei pra sala. Fiquei na duvida de sentava ali com eles ou sentava no sofá, mas Arthur foi mais rápido e deu um beijo na cabeça do filho sentando no sofá em seguida. Suspirei antes de sentar chão com Diego e começar a brincar com ele sentindo constantemente o olhar de Arthur sob mim.
22º Cpitulo - Addicted
‘Diego, não faz assim que vai amassar sua roupa, meu amor!’ Falei pegando Diego no colo e sentando-o no sofá. Arrumei sua roupinha de marinheiro e sorri comigo mesma pensando no quão rápido meu filho estava crescendo, essa seria sua primeira apresentação na escola.
‘Vamos?’ Ele falou animado.
‘Vai lá apressar o papai.’ O coloquei no chão e ele saiu correndo pro quarto.
Fiquei alguns minutos sentada no sofá olhando a tv desligada na minha frente. Quase um mês já tinha se passado desde o meu aniversário e olhar pra Arthur ainda era difícil, seu olhar ainda era o mesmo olhar magoado e eu sentia meu coração apertado cada vez que falava com ele.
‘Vaaamos, pai.’ Ouvi a voz de Diego e ele apareceu na sala puxando Arthur pela mão.
‘Que pressa, parece até que vai casar!’ Ele falou rindo. ‘Vamos né?’ Ele me olhou e eu concordei sorrindo fraco.
‘Boa noite!’ Uma senhora sorridente estava na porta da escola e nos recebeu sorrindo. ‘Qual o nome dele?’ Ela olhou pra Diego.
‘Diego Aguiar’ Arthur respondeu e ela anotou alguma coisa em uma prancheta.
‘Vamos, Diego? As crianças estão reunidas em uma sala.’ Ela nos explicou e concordamos.
‘Hey, se comporta, príncipe!’ Sorri e ele concordou. Arthur deu um beijo em sua testa e a senhora o levou pelo corredor.
Ficamos ali parados em um silêncio que já tinha se tornado muito mais do que constrangedor, cada um olhava em uma direção.
‘Lua!’ Ouvi uma voz e me virei encontrando uma loira sorridente.
‘Sharon!’ Sorri e ela me abraçou. ‘Quanto tempo!’ Falei sorrindo e ela concordou.
‘Arthur, tudo bem?’ Ela sorriu e Arthur deu um leve aceno simpático. ‘Então, viemos babar um pouco nas nossas crias!’ Ela se virou pra mim novamente e eu concordei.
‘Como anda a Kaitlyn?’ Perguntei me referindo a filha dela.
‘Tudo bem, tá enorme, Lu! To me sentindo tão velha!’ Ela fez uma cara dramática e eu ri.
‘Que nada, Sharon, você tá ótima!’ Falei sincera, ela de fato não aparentava ter mais de 25 e na verdade já tinha quase 30.
‘Lu, eu vou ali pegar alguma coisa pra beber.’ Arthur falou passando a mão pelo cabelo e eu concordei. ‘Você quer alguma coisa?’
‘Não, brigada.’ Sorri fraco e ele balançou a cabeça se afastando. Fiquei o observando por alguns instantes até Sharon atrair novamente minha atenção e nós começarmos uma conversa animada sobre nossos filhos.
Ficamos ali jogando conversa fora durante mais de meia hora, olhei o relógio preocupada por Arthur ainda não ter voltado e quando virei minha cabeça em direção a mesa de comidas o vi numa conversa animada com uma ruiva que aparentava ter a nossa idade.
Os dois riam enquanto conversavam e ela constantemente tocava o braço de Arthur enquanto falava. Respirei fundo e desviei meu olhar para o pequeno palco montado no meio do pátio, em alguns minutos a apresentação iria começar. Sharon já tinha encontrado outras mães e conversava animadamente enquanto eu continuava parada, sozinha tentando não olhar pra Arthur e a ruiva.
Novamente olhei discretamente na direção de Arthur e vi que a ruiva falava alguma coisa em seu ouvido fazendo-o rir. Senti todo o sangue existente no meu corpo subir pra cabeça e se não fosse pela voz da diretora eu teria esbofeteado aquela ruiva de farmácia.
‘Atenção senhores pais e convidados, a apresentação começará em cinco minutos, queiram se acomodar, por favor.’ Ela sorriu e desceu do palco.
Caminhei até Arthur e a ruiva me mediu de cima abaixo.
‘Arthur, é melhor a gente ir sentar.’ Falei séria e ele concordou.
‘Quer se sentar com a gente, Rachel?’ Ele sorriu para a ruiva e eu quase gritei.
‘Ah, eu adoraria, se não for incomodo!’ Ela me olhou com uma cara inocente e eu sorri cinicamente.
‘Incomodo nenhum, querida.’ Dei ênfase na ultima palavra e ela sorriu.
Caminhei até algumas cadeiras que estavam enfileiradas e sentei cruzando as pernas e os braços, Arthur sentou ao meu lado e a Rachel do lado dele.
‘Então Arthur, você quer ter mais filhos?’ A vadi... ops, a Rachel perguntou sorrindo e eu tive vontade de enfiar uma bola de meia na boca dela, aquela voz de taquara raxada era totalmente irritante.
‘Ah não sei, ainda to novo pra pensar nisso.’ Ele passou a mão pela nuca bagunçando os cabelos e ela sorriu.
‘É, tem razão, ainda estamos muito jovens pra pensar nisso.’ Ela botou a mão na perna dele e eu a olhei incrédula. Porque diabos ela tinha falado como se referisse a ela e ao Arthur? E mais, porque diabos ela tava com a mão na perna dele?
Achei que Arthur fosse delicadamente afastar a mão dela, mas não, ele deixou aonde estava. Bufei balançando as pernas freneticamente e pra minha sorte a apresentação começou, fazendo a vaca ruiva se calar.
A peça era separada por alguns atos e Diego já tinha aparecido umas três vezes. Ele falava pouca coisa por ser menorzinho, mas estava se saindo ótimo, eu sorria boba cada vez que ele aparecia.
‘Arthur, seu filho é lindo!’ Rachel comentou no final do segundo ato ainda com a mão na perna dele.
‘Sim, nosso filho é mesmo lindo, não é, Arthur?’ Me intrometi sorrindo cinicamente e Arthur deu um sorriso discreto.
‘Ele puxou aos genes do pai.’ Ele comentou e olhou pra mim me fazendo bufar. Rachel abafou um risinho e a minha vontade de quebrar a cara dela se multiplicou. ‘Mas a sua filha também é linda, Rach.’ Ele comentou sorrindo e eu fiz careta sem que eles vissem.
‘Ah, brigada.’ Ela fingiu uma cara tímida.
‘E o pai dela?’ Perguntei me intrometendo novamente.
‘Ah, a gente é separado. Namoramos durante alguns anos, mas não deu certo.’ Ela deu de ombros.
‘Imagino por que!’ Falei sorrindo cinicamente e ela me olhou com a sobrancelha arqueada. Abriu a boca pra responder alguma coisa, mas na hora as luzes se apagaram anunciando um novo ato.
Arthur novamente me olhou de canto de olho com um sorriso discreto e um tanto quanto irritante.
Meia hora ouvindo aquela voz, meia hora agüentando o risinho irritante dela, meia hora vendo ela se jogar em cima do Arthur. Nunca meia hora passou tão devagar, quando a peça acabou eu tive que agradecer apesar de estar amando ver meu filho se apresentar.
‘Eeei, príncipe!’ Sorri pegando Diego no colo. ‘Você tava lindo, meu amor!!’ Distribui beijos pelo rosto dele que riu alto.
‘Esse é meu garoto!’ Arthur sorriu passando a mão na cabeça do filho. ‘Se continuar assim vai conquistar todas as garotas dessa escola.’ Ele riu.
‘Então, esse é o Diego?’ Rachel apareceu com uma garotinha de cabelos tão vermelhos quanto os dela no colo.
‘Rach, esse aqui é o meu garoto!’ Arthur sorriu. ‘Imagino que essa seja a Jessy!’ Ele passou a mão pela cabeça da miniatura ruiva e Rachel confirmou sorrindo. ‘Que menina linda, parece com a mãe.’ Ele falou naturalmente e eu arregalei os olhos sentindo uma pontada no peito. Impressão minha ou ele jogou uma indireta praquele projeto de dragão, bem na minha frente?
‘Brigada!’ A menininha falou sorrindo simpaticamente.
‘Então, a gente precisa ir.’ Rachel falou. ‘Arthur, me passa seu telefone, quem sabe a gente pode marcar de se encontrar para as crianças brincarem!’ Ela sorriu da forma mais tarada possível, e eu tive que contar até dez pra não voar no pescoço dela.
‘Claro, anota aí!’ Arthur falou animado e eu bufei saindo de perto. Meus olhos já estavam marejados e ardendo de tanto eu tentar segurar as lágrimas.
Fui com Diego até o portão da escola e fiquei lá observando Arthur e Rachel de longe.
Dez minutos depois entramos no carro em silêncio, Diego estava praticamente dormindo. Liguei o rádio baixinho e deitei um pouco o banco. ( Crushcrushcrush - Paramore )
“I got a lot to say to you
( Eu tenho muito a dizer pra você, yeah )
Yeah I got a lot to say
( Eu tenho muito a dizer )
I notice your eyes are always glued to me
( Eu percebi que seus olhos estão sempre grudados em mim )
Keeping them here and it makes no sense at all
( Mantendo-os aqui e isso não faz sentido )”
“They taped over your mouth
( Eles taparam sua boca )
Scribbled out the truth with their lies
( Reescreveram a verdade com as mentiras deles )
Your little spies
( Seus pequenos espiões )”
‘Legal a Rachel, né?’ Arthur comentou sem desviar o olhar do trânsito.
‘Ô, se é.’ Falei sem disfarçar a ironia e ele novamente me lançou aquele sorrisinho irritante.
‘Acho que o Diego se daria bem com a filha dela.’ Continou falando e eu fechei os olhos irritada.
‘Eu acho que não.’ Falei séria.
“Crush, crush, crush, crush, crush, crush”
“Nothing compares to a quiet evening alone
( Nada se compara a uma tarde calma sozinhos )
Just the one, two I was just counting on
( Apenas uma, duas, eu apenas estava contando )
That never happens I guess I'm dreaming again
( Isso nunca acontece acho que estou sonhando de novo )
Let's be more than, this
( Vamos ser mais do que, isso )”
‘Achei ela super em forma pra uma mãe, e bem novinha também.’ Ele novamente comentou e eu abri os olhos o observando. Ele olhava o transito a sua frente e mantinha um sorriso no canto da boca.
‘É, algumas tem sorte de não serem afetadas pela gravidade.’ Falei irritada e quase mandei Arthur pra um lugar feio. Ouvi ele soltar um risinho abafado e bufei fechando os olhos novamente.
“If you wanna play it like a game
( Se você quer jogar isso como um jogo )
Well come on, come on let's play
( Vamos lá, vamos lá, vamos jogar )
Cause I'd rather waste my life pretending
( Porque eu prefiro desperdiçar minha vida fingindo )
Than have to forget you for one whole minute
( A ter que te esquecer por um minuto sequer )”
“They taped over your mouth
( Eles taparam sua boca )
Scribbled out the truth with their lies
( Reescreveram a verdade com as mentiras deles )
Your little spies
( Seus pequenos espiões )”
“Crush, crush, crush, crush, crush, crush”
“Nothing compares to a quiet evening alone
( Nada se compara a uma tarde calma sozinhos )
Just the one, two I was just counting on
( Apenas uma, duas, eu apenas estava contando )
That never happens I guess I'm dreaming again
( Isso nunca acontece acho que estou sonhando de novo )
Let's be more than, this
( Vamos ser mais do que, isso )”
“Rock and roll baby
( Rock and roll, baby )
Don't you know that we're all alone now
( Você não sabe que estamos sozinhos agora? )
I need something to sing about
( Eu preciso de algo para cantar )”
Chegamos em casa e subimos até o apartamento em silêncio, Diego dormia tranquilamente no colo de Arthur. Quando entramos em casa fui direto pro quarto enquanto Arthur foi botar o filho na cama.
Entrei no banheiro pra trocar de roupa e escovar os dentes, quando saí Arthur estava no quarto só de boxers. Nas ultimas semanas ele raramente entrara no quarto quando eu estava lá. Entrou no banheiro e saiu poucos minutos depois deitando do meu lado na cama e virando-se de costas pra mim. Fiquei alguns minutos encarando o nada pensando em uma razão pra ele simplesmente voltar a dormir ao meu lado naquela cama, depois de semanas sem fazer isso.
A imagem de Rachel me veio na cabeça e eu bufei fechando os olhos tentando afastar as imagens de mais cedo da minha cabeça.
‘Vamos?’ Ele falou animado.
‘Vai lá apressar o papai.’ O coloquei no chão e ele saiu correndo pro quarto.
Fiquei alguns minutos sentada no sofá olhando a tv desligada na minha frente. Quase um mês já tinha se passado desde o meu aniversário e olhar pra Arthur ainda era difícil, seu olhar ainda era o mesmo olhar magoado e eu sentia meu coração apertado cada vez que falava com ele.
‘Vaaamos, pai.’ Ouvi a voz de Diego e ele apareceu na sala puxando Arthur pela mão.
‘Que pressa, parece até que vai casar!’ Ele falou rindo. ‘Vamos né?’ Ele me olhou e eu concordei sorrindo fraco.
‘Boa noite!’ Uma senhora sorridente estava na porta da escola e nos recebeu sorrindo. ‘Qual o nome dele?’ Ela olhou pra Diego.
‘Diego Aguiar’ Arthur respondeu e ela anotou alguma coisa em uma prancheta.
‘Vamos, Diego? As crianças estão reunidas em uma sala.’ Ela nos explicou e concordamos.
‘Hey, se comporta, príncipe!’ Sorri e ele concordou. Arthur deu um beijo em sua testa e a senhora o levou pelo corredor.
Ficamos ali parados em um silêncio que já tinha se tornado muito mais do que constrangedor, cada um olhava em uma direção.
‘Lua!’ Ouvi uma voz e me virei encontrando uma loira sorridente.
‘Sharon!’ Sorri e ela me abraçou. ‘Quanto tempo!’ Falei sorrindo e ela concordou.
‘Arthur, tudo bem?’ Ela sorriu e Arthur deu um leve aceno simpático. ‘Então, viemos babar um pouco nas nossas crias!’ Ela se virou pra mim novamente e eu concordei.
‘Como anda a Kaitlyn?’ Perguntei me referindo a filha dela.
‘Tudo bem, tá enorme, Lu! To me sentindo tão velha!’ Ela fez uma cara dramática e eu ri.
‘Que nada, Sharon, você tá ótima!’ Falei sincera, ela de fato não aparentava ter mais de 25 e na verdade já tinha quase 30.
‘Lu, eu vou ali pegar alguma coisa pra beber.’ Arthur falou passando a mão pelo cabelo e eu concordei. ‘Você quer alguma coisa?’
‘Não, brigada.’ Sorri fraco e ele balançou a cabeça se afastando. Fiquei o observando por alguns instantes até Sharon atrair novamente minha atenção e nós começarmos uma conversa animada sobre nossos filhos.
Ficamos ali jogando conversa fora durante mais de meia hora, olhei o relógio preocupada por Arthur ainda não ter voltado e quando virei minha cabeça em direção a mesa de comidas o vi numa conversa animada com uma ruiva que aparentava ter a nossa idade.
Os dois riam enquanto conversavam e ela constantemente tocava o braço de Arthur enquanto falava. Respirei fundo e desviei meu olhar para o pequeno palco montado no meio do pátio, em alguns minutos a apresentação iria começar. Sharon já tinha encontrado outras mães e conversava animadamente enquanto eu continuava parada, sozinha tentando não olhar pra Arthur e a ruiva.
Novamente olhei discretamente na direção de Arthur e vi que a ruiva falava alguma coisa em seu ouvido fazendo-o rir. Senti todo o sangue existente no meu corpo subir pra cabeça e se não fosse pela voz da diretora eu teria esbofeteado aquela ruiva de farmácia.
‘Atenção senhores pais e convidados, a apresentação começará em cinco minutos, queiram se acomodar, por favor.’ Ela sorriu e desceu do palco.
Caminhei até Arthur e a ruiva me mediu de cima abaixo.
‘Arthur, é melhor a gente ir sentar.’ Falei séria e ele concordou.
‘Quer se sentar com a gente, Rachel?’ Ele sorriu para a ruiva e eu quase gritei.
‘Ah, eu adoraria, se não for incomodo!’ Ela me olhou com uma cara inocente e eu sorri cinicamente.
‘Incomodo nenhum, querida.’ Dei ênfase na ultima palavra e ela sorriu.
Caminhei até algumas cadeiras que estavam enfileiradas e sentei cruzando as pernas e os braços, Arthur sentou ao meu lado e a Rachel do lado dele.
‘Então Arthur, você quer ter mais filhos?’ A vadi... ops, a Rachel perguntou sorrindo e eu tive vontade de enfiar uma bola de meia na boca dela, aquela voz de taquara raxada era totalmente irritante.
‘Ah não sei, ainda to novo pra pensar nisso.’ Ele passou a mão pela nuca bagunçando os cabelos e ela sorriu.
‘É, tem razão, ainda estamos muito jovens pra pensar nisso.’ Ela botou a mão na perna dele e eu a olhei incrédula. Porque diabos ela tinha falado como se referisse a ela e ao Arthur? E mais, porque diabos ela tava com a mão na perna dele?
Achei que Arthur fosse delicadamente afastar a mão dela, mas não, ele deixou aonde estava. Bufei balançando as pernas freneticamente e pra minha sorte a apresentação começou, fazendo a vaca ruiva se calar.
A peça era separada por alguns atos e Diego já tinha aparecido umas três vezes. Ele falava pouca coisa por ser menorzinho, mas estava se saindo ótimo, eu sorria boba cada vez que ele aparecia.
‘Arthur, seu filho é lindo!’ Rachel comentou no final do segundo ato ainda com a mão na perna dele.
‘Sim, nosso filho é mesmo lindo, não é, Arthur?’ Me intrometi sorrindo cinicamente e Arthur deu um sorriso discreto.
‘Ele puxou aos genes do pai.’ Ele comentou e olhou pra mim me fazendo bufar. Rachel abafou um risinho e a minha vontade de quebrar a cara dela se multiplicou. ‘Mas a sua filha também é linda, Rach.’ Ele comentou sorrindo e eu fiz careta sem que eles vissem.
‘Ah, brigada.’ Ela fingiu uma cara tímida.
‘E o pai dela?’ Perguntei me intrometendo novamente.
‘Ah, a gente é separado. Namoramos durante alguns anos, mas não deu certo.’ Ela deu de ombros.
‘Imagino por que!’ Falei sorrindo cinicamente e ela me olhou com a sobrancelha arqueada. Abriu a boca pra responder alguma coisa, mas na hora as luzes se apagaram anunciando um novo ato.
Arthur novamente me olhou de canto de olho com um sorriso discreto e um tanto quanto irritante.
Meia hora ouvindo aquela voz, meia hora agüentando o risinho irritante dela, meia hora vendo ela se jogar em cima do Arthur. Nunca meia hora passou tão devagar, quando a peça acabou eu tive que agradecer apesar de estar amando ver meu filho se apresentar.
‘Eeei, príncipe!’ Sorri pegando Diego no colo. ‘Você tava lindo, meu amor!!’ Distribui beijos pelo rosto dele que riu alto.
‘Esse é meu garoto!’ Arthur sorriu passando a mão na cabeça do filho. ‘Se continuar assim vai conquistar todas as garotas dessa escola.’ Ele riu.
‘Então, esse é o Diego?’ Rachel apareceu com uma garotinha de cabelos tão vermelhos quanto os dela no colo.
‘Rach, esse aqui é o meu garoto!’ Arthur sorriu. ‘Imagino que essa seja a Jessy!’ Ele passou a mão pela cabeça da miniatura ruiva e Rachel confirmou sorrindo. ‘Que menina linda, parece com a mãe.’ Ele falou naturalmente e eu arregalei os olhos sentindo uma pontada no peito. Impressão minha ou ele jogou uma indireta praquele projeto de dragão, bem na minha frente?
‘Brigada!’ A menininha falou sorrindo simpaticamente.
‘Então, a gente precisa ir.’ Rachel falou. ‘Arthur, me passa seu telefone, quem sabe a gente pode marcar de se encontrar para as crianças brincarem!’ Ela sorriu da forma mais tarada possível, e eu tive que contar até dez pra não voar no pescoço dela.
‘Claro, anota aí!’ Arthur falou animado e eu bufei saindo de perto. Meus olhos já estavam marejados e ardendo de tanto eu tentar segurar as lágrimas.
Fui com Diego até o portão da escola e fiquei lá observando Arthur e Rachel de longe.
Dez minutos depois entramos no carro em silêncio, Diego estava praticamente dormindo. Liguei o rádio baixinho e deitei um pouco o banco. ( Crushcrushcrush - Paramore )
“I got a lot to say to you
( Eu tenho muito a dizer pra você, yeah )
Yeah I got a lot to say
( Eu tenho muito a dizer )
I notice your eyes are always glued to me
( Eu percebi que seus olhos estão sempre grudados em mim )
Keeping them here and it makes no sense at all
( Mantendo-os aqui e isso não faz sentido )”
“They taped over your mouth
( Eles taparam sua boca )
Scribbled out the truth with their lies
( Reescreveram a verdade com as mentiras deles )
Your little spies
( Seus pequenos espiões )”
‘Legal a Rachel, né?’ Arthur comentou sem desviar o olhar do trânsito.
‘Ô, se é.’ Falei sem disfarçar a ironia e ele novamente me lançou aquele sorrisinho irritante.
‘Acho que o Diego se daria bem com a filha dela.’ Continou falando e eu fechei os olhos irritada.
‘Eu acho que não.’ Falei séria.
“Crush, crush, crush, crush, crush, crush”
“Nothing compares to a quiet evening alone
( Nada se compara a uma tarde calma sozinhos )
Just the one, two I was just counting on
( Apenas uma, duas, eu apenas estava contando )
That never happens I guess I'm dreaming again
( Isso nunca acontece acho que estou sonhando de novo )
Let's be more than, this
( Vamos ser mais do que, isso )”
‘Achei ela super em forma pra uma mãe, e bem novinha também.’ Ele novamente comentou e eu abri os olhos o observando. Ele olhava o transito a sua frente e mantinha um sorriso no canto da boca.
‘É, algumas tem sorte de não serem afetadas pela gravidade.’ Falei irritada e quase mandei Arthur pra um lugar feio. Ouvi ele soltar um risinho abafado e bufei fechando os olhos novamente.
“If you wanna play it like a game
( Se você quer jogar isso como um jogo )
Well come on, come on let's play
( Vamos lá, vamos lá, vamos jogar )
Cause I'd rather waste my life pretending
( Porque eu prefiro desperdiçar minha vida fingindo )
Than have to forget you for one whole minute
( A ter que te esquecer por um minuto sequer )”
“They taped over your mouth
( Eles taparam sua boca )
Scribbled out the truth with their lies
( Reescreveram a verdade com as mentiras deles )
Your little spies
( Seus pequenos espiões )”
“Crush, crush, crush, crush, crush, crush”
“Nothing compares to a quiet evening alone
( Nada se compara a uma tarde calma sozinhos )
Just the one, two I was just counting on
( Apenas uma, duas, eu apenas estava contando )
That never happens I guess I'm dreaming again
( Isso nunca acontece acho que estou sonhando de novo )
Let's be more than, this
( Vamos ser mais do que, isso )”
“Rock and roll baby
( Rock and roll, baby )
Don't you know that we're all alone now
( Você não sabe que estamos sozinhos agora? )
I need something to sing about
( Eu preciso de algo para cantar )”
Chegamos em casa e subimos até o apartamento em silêncio, Diego dormia tranquilamente no colo de Arthur. Quando entramos em casa fui direto pro quarto enquanto Arthur foi botar o filho na cama.
Entrei no banheiro pra trocar de roupa e escovar os dentes, quando saí Arthur estava no quarto só de boxers. Nas ultimas semanas ele raramente entrara no quarto quando eu estava lá. Entrou no banheiro e saiu poucos minutos depois deitando do meu lado na cama e virando-se de costas pra mim. Fiquei alguns minutos encarando o nada pensando em uma razão pra ele simplesmente voltar a dormir ao meu lado naquela cama, depois de semanas sem fazer isso.
A imagem de Rachel me veio na cabeça e eu bufei fechando os olhos tentando afastar as imagens de mais cedo da minha cabeça.
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