sábado, 2 de junho de 2012

A Tatuagem


Capítulo 26 – Você tem novas mensagens

Quarta-feira. Meio da semana. Para Lua era o dia que representava a véspera da sua mudança. Os efeitos colaterais disso foram dos mais diversos, frio na barriga o dia todo, ânsia de vômito, coração apertado, incerteza e o diabo a quatro. Para Arthur, hoje é o dia em que vai ao ar um programa bem simples e comum até, mas que pode mudar uma porção de coisas. Todas relacionadas a Lu, claro.

Cora’s Interview é o programa que foi gravado no mesmo sábado em que eles tinham uma certa festa pra ir depois e contou com a participação mega especial do McFLY.
Logicamente, Arthur sabe o horário do programa, oito da noite. Porém, eram cinco da tarde e ele já não tinha mais unhas. Mas também... Lua saiu de lá dizendo que ia substitui-lo por um canadense bom de cama! Não é coisa que se diga! Se quiser ver um homem aflito é só dizer que vai substituí-lo... É o mesmo que dizer a uma mulher que ela está gordinha. Provoca uma inquietação aguda que não nos deixa pensar em mais nada.


- Dona Lua Blanco! Pode começar a explicar onde você se enfiou! Não é por que sua mãe não está em casa que você pode fazer o que quiser, ouviu?! – Melanie foi falando assim que Lua chegou em casa. Rayana e Sophia estavam na sala jogando video-game.
- Eu tinha que resolver umas coisas, nada demais. – ela abanou o ar e mostrou sua intenção de subir a escada, mas Mel ficou no caminho.
- Ah, você não vai se trancar no quarto antes de contar umas coisas pra gente!
- É Melanie, segura ela aí que eu já vou! Espera só eu ganhar da Sophia aqui!
- Não vai ganhar merda nenhuma! Eu não vou deixar você desempatar!
Sophia e Rayana permaneceram disputando o jogo enquanto Lua era encarada por Melanie.
- Ah, me deixa subir logo e tomar um banho! Eu juro que nunca mais saio de casa se você não quiser! – Lu uniu as mãos em frente ao rosto e começou a pedir exageradamente. Mel cedeu e Lua lhe deu um beijo no rosto antes de passar.
- SE VOCÊ DEMORAR A GENTE TE ARRANCA DO SEU QUARTO! – Melanie gritou quando Lu já estava no topo da escada. Ela sentia as pernas bambas ainda por causa do acontecido na casa de Arthur. Aquela tarde tirou as energias dela: Sofá-Cozinha-Brigadeiro-Quarto-Música-Co-res-dan-çan-tes-no-t-e-t-o... letras desenhadas nas costas. Sim, havia entendido as letras. Com um pouco de concentração, ela ainda conseguia sentir os traçados daquele toque, como uma delicada tatuagem invisível.
No andar de baixo, puderam ouvir a porta do quarto bater devastadoramente e sandálias de salto sendo arremessadas de qualquer jeito no chão. Essa é a nossa Lu.
- É o seguinte! Arthur quer que a gente esteja às seis horas no apartamento dele pra sair todo mundo junto. Não vai dar tempo esperar a Lua sair daquele quarto porque quando ela quer fazer hora lá, ela consegue. – Rayana jogou o joystick pro lado assim que Melanie se aproximou do sofá. Sophia fez o mesmo e as três ficaram se encarando. Melanie bufou com um ‘S’ desenhado na boca. Elas levaram algum tempo pensando em como não estragar todo o plano de uma noite Aguiar perfeita.
- Vão vocês – Soph falou de repente – Vocês vão na frente e eu fico aqui pra perguntar pra ela o que houve e tentar fazê-la assistir o programa.
- Mas e você? Como vai pro Parque Vermonn depois? – Ray se levantou e pegou os joysticks pra guardar.
- Vocês podem pedir pra algum dos garotos ficar lá me esperando.
- E o que você vai dizer pra Lu? Aonde eu e a Rayana poderíamos ir de repente sem vocês duas?
- Que o Pedro e o Chay foram seqüestrados por elefantes amarelos da calda roxa e vocês estão indo salvá-los? – e essa é a nossa Soph, imaginação poderosa.
- Hum... diz só que eles ligaram. – Ray abanou o ar e saiu junto da irmã. Pedro estava passando para buscá-las. Sophia foi até a cozinha pegar um pote de sorvete pra esperar que a amiga descesse e contasse sobre a sua tarde misteriosa. Ninguém sabia ainda onde ela esteve e isso era perturbador pra quem ocupa o cargo de melhor amiga.




- Arthur se você quer furar o chão, vai lá pro seu apartamento, ok? – Micael segurou Arthur pelos ombros, o cara andava de um lado pro outro sem parar. Eram seis horas. Um belo começo de noite de quarta-feira com temperatura estável, céu delicadamente colorido e ventos fortes espalhando o otimismo de Arthur. Daqui a duas horas começa um programa na tv muito importante pra ele!
A campainha tocou.
- Promete que se eu te soltar você vai ficar paradinho? – Micael brincou e Arthur rolou os olhos.
- Abre logo cara, devem ser eles! – Chay falou sentado no sofá e sacudindo o pé num sinal de impaciência.
Micael foi abrir a porta e entraram Rayana, Melanie e Pedro.
- Um. Dois. Três... ta faltando uma goiaba nessa cesta! Cadê a Sophia? – Micael cruzou os braços olhando os três que entraram.
- Ela ficou lá e pediu que alguém a esperasse aqui – Rayana explicou.
- Lá onde? E por quê? – Arthur perguntou todo agitado. Estava lutando contra o próprio cabelo, não conseguia deixá-lo do jeito que queria.
- Lá em casa, Aguiar! – Melanie se deixou cair no sofá ao lado de Chay e este passou um braço pelo ombro dela.
- É porque a Lua só chegou agora há pouco, nós não sabemos onde ela estava! Sophia ficou com a tarefa de perguntar sobre isso e depois convencê-la com aquela conversa de ficar em casa hoje e assistir um programinha de tv enquanto todas nós saímos com nossos namorados...
Quando Rayana comentou sobre não saberem onde Lua passou a tarde, Arthur ficou vermelho.
- Err... então ta! A produção do programa quer que eu esteja lá no parque um tempo antes do horário pra fazer passagem de som, testar iluminação, câmeras, essas coisas, vocês sabem. – Arthur se apressou em deixar o apartamento e os outros foram atrás. Micael ficou pra levar Sophia depois.


Lua chegou na sala quando Sophia já tinha quase terminado o pote de sorvete de flocos. Ela estava lá silenciosa e Lu chegou acordando Soph de qualquer pensamento em que estivesse mergulhada.
- Cadê as meninas? – Lua estava em pé atrás do sofá e apesar do tom suave da voz, fez a amiga estremecer de susto.
- Receberam chamados urgentes de Pedro e Chay.
- Hum... E você ta fazendo o que aqui nesse silêncio, com a tv desligada?
- Dizem que comer assistindo tv engorda. Então eu não to assistindo tv! – Soph deu de ombros.
- Ah, muito eficaz...
Lua sorriu fraco e sentou ao lado da amiga. Em dias normais ela iria rir litros com as coisas que Sophia diz, mas hoje não era um dia normal.
- Ta tudo bem? Quer sorvete?
- Sim, não.
- Mas hein?
- Sim, ta tudo bem e não, não quero sorvete.
- Ah... Você vai ficar em casa hoje?
- Vou e achei que vocês iam ficar comigo. Porra é minha última noite aqui, cadê minhas amigas?
- Ah, Lu! Desculpa aí, mas ninguém ta botando muita fé, a gente acha que você vai voltar logo.
- Puxa, obrigada pelo apoio. – Lua ergueu as sobrancelhas e abraçou os joelhos. Queria poder pular aquele momento e ir logo pro aeroporto, se era pra ficarem assim...
- Essa tarde a gente podia ter passado juntas. Ficamos todas aqui te esperando, você disse que ia devolver um negócio do Arthur rapidinho e só chegou quase de noite! Depois reclama que as meninas saíram... A gente só quer que você fique numa boa.
- Mas vocês não sabem o que é preciso pra eu ficar numa boa!
- Ficar com o Arthur? – Sophia falou quase pra dentro e com mais ar de pergunta do que de resposta. Foi o medo da reação de Lua! Mas ao contrário do que ela pensou, a amiga fez um olhar calmo e compreensivo.
- Soph, a minha vida não depende de com quem eu fico. São as escolhas que eu faço e eu entendo que vocês podem sentir a minha falta quando eu me mudar, mas é uma escolha minha! Ninguém pode querer interferir nisso porque o que tiver de ser, será.
- Mas isso não nos impede de tentar, certo? – Sophia torceu a boca e Lua só rolou os olhos. Houve um abraço e olhos úmidos.
- Tudo bem Lu. Amanhã eu prometo que todas vamos estar aqui pra você, seja lá o que for decidido. – Sophia falou ao se afastar e Lua só concordou com um aceno de cabeça. O silêncio voltou a se espalhar por ali, como um vapor entrando e se espalhando pelo cômodo. Lua não conseguia tirar Arthur da cabeça. Pra tudo que ela olhava, tudo que ela pensava, sempre acabava nele. Era como se todos os caminhos que ela escolhesse pra se distrair resultassem nele, assim como os rios acabam no mar. 
- Onde você se enfiou essa tarde toda? E que marca é essa no seu pescoço? – Sophia perguntou de repente e Lua apenas a encarou. Agora até a própria amiga estava começando uma conversa que ia terminar nele.
- Que marca? – preferiu se desviar da primeira pergunta, se bem que as duas têm quase a mesma resposta.
- Tem um vermelhinho aqui – Sophia se aproximou apontando o local e Lua recuou cobrindo com a mão.
- Ah, deve ter sido picada de mosquito. – esse mosquito tem um nome, e não é o da Dengue.
- Foi um mosquito mutante então, pra deixar uma marca dessas! Veio da Amazônia? Oh céus! Será que foi uma abelha? – Sophia viu outros pontos como aquele e observou riscos em meio ao vermelho, como marquinhas de dentes – Ei! Por acaso abelhas picam com os dentes? Achei que usassem ferrões... Lua Blanco você anda saindo com um vampiro e não me disse nada?!
Como ela apenas sorriu e não respondeu, Sophia voltou a falar em tom de brincadeira – Porque se for assim eu acho bom você não virar uma também! Eu já tenho medo de você naturalmente e... 
- Eu tava com ele.
- Quem? Vampiro?
- Arthur.
- Como assim? Arthur Aguiar?
- É Sophia... Tem outro Arthur que a gente conheça?
- Era mais fácil ser outro do que ser aquele!
- Tudo bem que foi meio estranho mesmo, mas é verdade.
- Hum, ele te deu essas chupadinhas no pescoço?
- Uhum.
- E aposto que você arranhou as costas dele com suas unhas compridas e sexies, né?
- É rs! – Lua concordou sorrindo e tampando o rosto.
- Você ficou a tarde toda numa boa lá? JESUS! VOCÊ NÃO O MATOU DEPOIS, NÉ? – Sophia sacudiu-lhe os ombros.
- E por que você acha que eu to fugindo pro Canadá amanhã? 
- Puxa amiga, que pena ele era tão bonitinho e jovem...
- É né... Mas falando sério agora, foi uma tarde boa. Eu não devia ter feito, mas foi incrível.
- Me conta! Vai contar ou vai ficar enrolando?
- Calma! É que foi assim, eu fui lá devolver o porta-retrato que ele me deu. Quando cheguei, ouvi pela porta que a Delilah tava lá e eles estavam discutindo.
- Sério?! Ela te viu de novo? Vocês brigaram outra vez? Ela foi pro hospital? AAHH VOCÊ A MATOU! COMO FEZ? EMPURROU PELA JANELA? CÉUS! JESUS, MARIA E...
- HEEEY! Não fica tentando adivinhar amiga, você não é boa nisso!
- E você é uma desagradável... mas continue.
- Primeiro: realize que eu não matei ninguém, ok? E segundo: ela não me viu.
- Ah, sem assassinatos? Que sem graça.
- Melhor sem graça do que presa não acha não?! Mas enfim... eu escutei a conversa deles todinha e você não faz idéia do fora que ele deu nela! Eu me senti até vingada, foi melhor do que nos meus sonhos!
- Que lindo! E aí Arthur a empurrou numa banheira de ácido clorosulfônico, você entrou e tacou um beijo apaixonado nele enquanto ela gritava de dor! [n/a: explico o ácido clorosulfônico na nota final do capítulo]
- WTF?! Ácido o que? Banheira? Olha... até que não seria ruim, mas o que foi que eu disse sobre as suas adivinhações mesmo?
- Ah, é que você enrola muito pra contar as coisas! Necessito saber!
- Ta! Ela foi embora aos berros com ele e até o Micael surgiu do nada pra esculachar com ela, você tinha que ver!
- Ahh o meu lindo Micael... Como estava o cabelo dele essa tarde? Pra frente? Pra trás? Pro lado? Ah, já sei! Pra cima, né?
- Olha o foco, Sophia! Você quer que eu continue a contar ou não?
- Ah sim, continue!
- Então eu dei um tempinho e fui falar com o Arthur. Ele demorou pra abrir a porta, acho que pensou que fosse a Delilah de novo! Aí nós discutimos um pouco depois que eu entreguei o porta-retrato. Ele disse que eu estou com raiva dele, então eu disse que não o odeio e ele disse que odeio sim, que eu o odeio e ele me ama.
- Ain... E você?
- Não sei, acho que no fundo eu tinha ido lá querendo me despedir de alguma forma. Olhei o rosto dele pra decorar cada pedacinho. Quando eu já estava pra ir embora ele me beijou e eu aceitei.
- Nossa, quem diria!
- Ah, Sophia! Eu não sou essa durona que todo mundo ta pensando! Eu gosto de estar com ele sim e foi bom ter uma lembrança agradável pra recordar. É melhor levar a lembrança de uma tarde ótima do que rancor nas bagagens, não é?!
- Se gosta dele, por que não voltaram?
- Não, eu não disse que gosto dele. Disse que gosto de estar com ele.
- Não é a mesma coisa?
- Não. Eu não posso explicar isso, mas teve de ser assim e ponto, Soph.
- E ele sabe que vocês não voltaram?
- Ele achou que tínhamos voltado. Aí eu dei um jeito pra ele perceber que eu ainda vou viajar.
- AI CÉUS! QUE VOCÊ FEZ COM ELE?
- EU NÃO CAUSEI NENHUM DANO FÍSICO! Já deu pra entender?! Eu só saí dizendo que a gente tem uma boa química na cama, mas nem por isso ele é insubstituível!
- E ele?
- Ficou lá com aquela cara que você conhece. Reconheço que me deu um pouco de pena, mas foi o certo.
- Por que isso foi o certo? E por que você não pode me explicar? Eu não sou o Arthur! Explique pra mim! Conte suas razões que eu vou apenas escutar e entender. Eu quero acreditar que você tem um bom motivo pra deixá-lo pra trás, Lu! Você ama aquele homem e tudo que tem a ver com ele! Eu te conheço. Você acredita em romances por causa de Arthur Aguiar. Ele já provou que nunca mais vai tocar na Debruxa, então por que não esquece tudo?
Sophia freqüentemente se deixa emocionar. Cada palavra que nasceu na garganta dela saiu com dose extra-especial de emoção na voz. Quando isso acontece, ela consegue tocar a melhor amiga. Lua sentiu o rosto esquentar e os olhos produzirem cada vez mais lágrimas, que já estavam disputando por espaço dentro deles. Ela não queria deixá-las cair outra vez hoje.
- É pro bem de todo mundo.
- Mas por quê? O que vai acontecer?
Lu apenas pensou um pouco. Achou bom não guardar todos os problemas sozinha e resolveu falar. Olhou bem nos olhos da amiga, como se a voz fosse sair por eles. Depois falou um nome:
- Delilah.
- Lu! O que essa menina ta fazendo com você? Me conta porque eu juro que bato nela!
- Algumas ameaças a mim, ao Arthur, e...
- E...
- Ai amiga! Ela acha que eu to grávida porque me viu comprar um teste! – Lua se desabou no ombro da amiga.


Play Lua’s Flash Back


Domingo à tarde, após Eric ir embora, eu fiquei um bom tempo sentada na calçada de casa. Estava com o celular na mão, mas ele ficou desligado enquanto eu conversava com Eric. Resolvi ligar pra ouvir música e veio o aviso que tinha algumas mensagens de texto pra ler. Eu não devia ter aberto. Não devia.


•Mensagem 1•
Olá Lua. Peguei seu nº
no cel do Arthur, espero
que não se importe.
Quero falar com você.
vc já deve saber que é a Lilah... Me ligue o quanto antes.


•Mensagem 2•
Que parte do me ligue o quanto antes
vc não entendeu?


•Mensagem 3•
O tempo ta passando Luazinha
e eu to ficando irritada. Vc nunca me viu irritada. Não queira ver.


Não respondi nenhuma delas. O que essa retardada quer? Ser enfiada no ponche de novo? Se isso chegar a acontecer eu não vou tirá-la de lá após alguns segundos, não mesmo! Imaginei que devia ser apenas uma brincadeira irritante e coloquei meus fones pra ouvir música. Não sei ao certo quanto tempo se passou, mas foi um longo período sem a musiquinha chata de novas mensagens me interromper.
Porém, quando entrei em casa e fui pro meu quarto tomar banho, bastou colocar o celular em cima da penteadeira e ele começou a vibrar. Um toque engraçadinho fazia conjunto com as vibrações e o meu coração se remexeu lá dentro. Se apertou. Bateu mais devagar, era o medo.
E ele estava certo ao se assustar, mais Delilah:


•Mensagem 4•
Por que não ligou? Ta achando que é
brincadeira? Acredite, eu não gosto de
ficar entrando em contato com vc, sua nojenta.
Eu falo serio.

•Mensagem 5•
Por acaso o meu nº não aparece
no fim da mensagem?
Ou será que vc ta com medo de mim?
A minha voz te assusta?

•Mensagem 6•
O que será que mais te assusta em mim,
Luzinha?
Hmm... com certeza são as coisas
que EU SEI de vc!

•Mensagem 7•
Duvida que eu sei mais do que vc imagina?
Por que não vem tirar essa dúvida amanhã?

•Mensagem 8•
2 da tarde no Mcdonald's que fica perto
da London Eye. Não vou dizer o que vai
acontecer se vc não for pq vão acabar os caracteres...

Stop Lua’s Flash Back


Lua mostrou as mensagens ainda guardadas no celular. Sophia ficou pasma.
- Que tenso! Você foi?
- Eu fiquei nervosa, ansiosa, curiosa... tentei não pensar nisso e me concentrar só nas coisas pra viagem, mas eu acabei indo.


Play Lua's Flash Back


Eu avistei aquela vaca sentada de costas para a entrada. Por que eu não trouxe a poncheira da minha mãe pra afogá-la de uma vez? Que garota encrenqueira! Olha as porcarias que o Arthur arranja. Num vou nem comentar. Em último caso, afogo ela no milkshake, é!
- Finalmente. Achei que tivesse morrido.
- Por quê? Você pediu minha cabeça ao papai noel?
- Na verdade eu pedi que te carregasse pra longe, mas se você prefere o inferno mesmo...
- Quem vai para o inferno são pessoas como você, que infernizam a vida dos outros. E fala logo o que é que você quer pra terminar com isso.
- Não fale nesse tom de voz comigo. Você ainda não entendeu, quem está por cima aqui sou eu.
- Você? Por cima de mim? Ah eu não suportaria teu peso, você ta ficando meio gordinha.
- Você pode dizer que eu sou gordinha agora, mas eu sei que daqui a uns sete meses e algumas semanas, a BOLA da vez será você!
Notei minha própria expressão ficando séria repentinamente. Os olhos se abriram um pouco mais e meu coração pareceu parar de funcionar por alguns segundos. Greve temporária de sentidos. Que merda.
- O que? Já paralisou assim? Então eu acertei! Foi mais fácil do que eu pensei...
- Do que você ta falando? – eu respirei fundo e falei com calma, tentando não gaguejar ou tropeçar nas palavras. Ela olhou pro meu rosto, acho que fiquei pálida.
- Calma Lua, respire! Você não quer matar essa cabeça de ervilha que ta aí, né?!
- Porra! O que é que você ta falando?! – eu fiquei nervosa e bati com o punho cerrado na mesa. Algumas pessoas olharam e eu procurei manter a calma.
- Eu te vi comprando um teste. A mim você não engana! Todo mundo sabe que você voltou a ver o Peter, e tem aquele Matt, e o esquisito... Eric! Arthur sabe que você andou por aí com todos eles recentemente então não seria difícil pra ele acreditar que você ta gerando um Pete, Matt ou Eric Jr!
- Não seja ridícula! Quem é que vai dizer isso pra ele? Você? Isso aqui não é novela, ele acreditaria em mim.
- Ah, mas isso é só uma parte do meu presente, Lua!
- Cara, você é muito ridícula – ao mesmo tempo que eu balançava o rosto para os lados, meu sorriso indignado não conseguia se fechar. Que idéia louca é essa agora?! Só o que me faltava!
- Sabe Lu, essa vidinha do tamanho de um grão de poeira que está aí em você é algo extremamente frágil. Mais do que qualquer outra coisa... É muito fácil perder uma merdinha dessas no início, muito comum.
- FALA... hm... – eu ia gritar de novo, mas me controlei. Ela estava ameaçando a minha possível gravidez? Precisei falar entre os dentes pra não sair alto. Raiva. – Fala coisa com coisa, miserável.
- Já ouvi dizer que grávidas não são seres humanos, são inferiores. Ficam frágeis, emocionais, perturbadas, nojentas... E pensar que isso é o sonho de algumas mulheres! Um sonho medíocre e pequeno.
- Eu não to grávida, imbecil.
- Não tente negar, ok? É pior. A sua reação já te entregou, confesso que tinha dúvidas, mas elas se foram junto com a sua palidez. Agora apenas preste atenção na proposta de negócio que vou te fazer!
- Você é muito estranha. Fala logo o que quer, vai...
- Você pode ir e carregar contigo toda a sua mediocridade em forma de barriga para o Canadá. Fica com o seu nojentinho lá, mas ninguém pode tomar conhecimento disso aqui.
- E se eu não quiser fazer isso?
- Eu vou ser obrigada a fazer uma vítima que nem está neste mundo... – Lilah tirou um canivete do bolso e pôs sobre a mesa discretamente. Agora me assustei de verdade! Posso correr dessa louca?
- Você não faria isso! É só uma vadia inútil, não uma criminosa!
- Pode até ser que eu não fizesse, mas o meu irmão drogado e seus amigos favelados fariam. E eles teriam o maior prazer! Acho que eu precisaria segurá-los pra eles não te matarem também! Se bem que você nem faria muita falta no mundo...
- Vou contratar guardas pra ficarem na minha casa!
- Não adianta, você não pode fazer nada. Se não te pegarmos, podemos pegar o Arthur. Tenho certeza que meu irmão sozinho poderia arrebentá-lo inteiro!
- Arrebentar o Arthur? Mas que porra é essa? Como você gosta dele desse jeito? Que filha da puta!
- Foda-se. Você estava certa, eu não gosto dele por completo, apenas algumas partes dele. A conta bancária, os carros, o sucesso... Quer dizer, eu gosto dele, mas não ficaria, nem lutaria por ele se ele não fosse quem é.
Merda! Merda! Merda! Puta que o pariu! Que vontade de voar no pescoço dessa vadia. Me segura!
- Não tem um centímetro de você que preste! Você é como um alimento podre!
- E daí? O Arthur já me comeu e gostou.
Duas palavras: QUE-NOJO!
- Chega! Meu estomago ta embrulhando de ficar aqui com você.
- Como se fosse muito agradável pra mim te suportar. Olha, eu só to pedindo pra você ir numa boa pra onde você quiser. Contanto que seja longe o suficiente pra eu poder te apagar da memória do Arthur. Caso contrário eu terei muitas alternativas pra acabar com todo o seu mundinho de filmes românticos pré-adolescentes. Você teria um lindo aborto e o Arthur nem ia mais querer te ver por achar que o filho não era dele. Acredite, seria fácil fazê-lo pensar isso! Nem eu mesma sei se é! Ou então, se nós não conseguirmos pegar você, eu tenho certeza que os amiguinhos do meu irmão adorariam assaltar o apartamento de um mcguy! Seria hilário se saísse no jornal pra eu...
- Certo, certo. Pare de falar, que coisa irritante essa sua voz! Você não vai precisar se dar ao trabalho. Eu vou me mudar e você fica aí tentando agarrar o Arthur. Só não garanto que você tenha condições de conseguir isso, ele já se tocou que você não passa de...
- Poupe suas palavras e sua imaginação pra me elogiar. E não se aproxime dele durante essa semana. Acho que você já entendeu o trato.


Stop Lua's Flash Back


- Meu Deus Lu! Você precisa chamar a polícia!
- Não Soph. Não tenho provas suficientes da ameaça.
- E-e-então nós precisamos... nós precisamos...
- Calma Soph! Vai ficar tudo bem! Eu vou pro Canadá e nada acontece.
- Mas... mas... você não quer ir e... AH MEU DEUS! VOCÊ TA GRÁVIDA!
- Shush! Cara, a vizinhança não sabe, ta? Na verdade nem eu sei! Comprei o maldito teste após uma conversa estranha com a minha mãe. Ela tava suspeitando disso e eu falei pra ela que tinha certeza que não estava porque minha menstruação estava em dia. Só que eu menti. A minha incomodação não tinha chegado e eu achei que podia ser um atraso normal, não estava preocupada, mas resolvi comprar o teste. E não tive coragem de fazê-lo ainda.
- Menina! Vai correndo fazer esse teste! Se você não estiver, pode acabar com os planos da Delilah!
- Não, é pior! Esqueceu que se ela não puder me atingir vai atacar o Arthur? Eu tenho que me afastar de qualquer jeito. E acho que consegui me afastar ao máximo essa tarde, mesmo não saindo do país.
- Por quê?
- Disse muitas coisas pra ele. Bem depois que a gente, err... teve bons momentos! Pessoas ficam sensíveis depois de transar. Ele fica hiper-sensível e fofo! Eu acabei com ele! O que eu fiz e o que eu disse foi pior do que brigar ou ficar indiferente. Eu o fiz subir numa montanha bem alta, pra tocar numa nuvem e depois empurrá-lo ao chão. Mas era o único jeito Sophia! Se eu não fizesse isso a gente ia se aproximar de novo!
- Tadinho, Lu! Aquele garoto é louco por você...
- Eu sei... mas é melhor ficarmos inteiros, não acha?
- É.
- Eu vou pro Canadá e vou começar uma vida nova lá! Não preciso do Arthur na minha vida! Se a gente não pode ficar junto eu vou ser feliz de qualquer jeito, não importa!
- Acho que depois de hoje você não vai continuar pensando assim... – Sophia pensou um pouco alto e Lua ouviu, mas não entendeu.
- Quê?
- Ah, você viver feliz é o mais importante pra mim.
Lua mordeu a boca olhando pro chão e nenhuma das duas falou mais nada. O celular de Sophia tocou e era Micael dizendo pra ela ir logo.
- É o Micael. Eu vou... se você não se importa...
- Tudo bem Soph! Vai sair com o Micael numa boa!
- Você vai ficar bem aí?
- Vou.
- Sem matar? Sem fugir? Sem banheiras de ácido?
- Só se for pra Delilah!
- Ótimo. Assiste tv pra descontrair, você ta muito tensa! Hoje tem aquele programa que você gosta, né? 
- É, o programa da Cora.
- Então... Assiste a Cora e as meninas estarão de volta antes de amanhecer, eu acho!
Lua a acompanhou até a porta e elas se despediram. A noite solitária estava só começando e ia ser longa.




Quando Arthur e seus amigos chegaram, eles viram um palco armado no meio do parque. Era pequeno porém muito bonito. Todos ficaram sem fôlego por uns segundos. Antes que começasse o programa, Arthur testou instrumentos, microfones, não queria nenhum imprevisto na hora H.
Um tempo depois, Sophia e Micael finalmente chegaram e tiveram a mesma reação ao ver toda a decoração do ambiente. Aquele simples parque no centro da cidade nunca esteve daquele jeito.
- Tudo certo? A Lua vai ficar em casa? – Arthur se aproximou deles. Sophia ficou durante o caminho todo até lá pensando em como essa noite poderia mudar a decisão de Lua, ou mesmo que ela não mudasse, iria torturá-la bastante. Ela também tinha uma decisão a fazer, podia contar tudo pra Arthur, mas teve medo de causar outra tragédia. Então deixou tudo rolar naturalmente e se comportou como os outros, feliz.
- Ah, sim. A gente conversou bastante, por isso o atraso, desculpem! Ela contou sobre hoje à tarde... – Soph quis ver a reação de Arthur e olhou pra ele.
- Ma-mas ela vai ficar bem sozinha? – Arthur coçou a orelha em sinal de nervosismo.
- Claro né Aguiar! Ela não tem mais dez anos! – Sophia falou rindo. Todos foram convidados a entrar num trailer colocado pela produção do programa, para que eles pudessem assistir as partes que já foram gravadas.
- E você tem certeza que ela vai assistir? – agora Arthur ia sendo empurrado pelos ombros até a porta do veículo, por uma Rayana impaciente.
- Vai, Arthur... vai sim. Ela sempre assiste a Cora quando por acaso está em casa numa quarta-feira à noite. Ta bom? Satisfeito? Agora sossega o facho e entra aí!
Todos se acomodaram no sofá do trailer e esperavam ansiosos pelo começo do programa. As meninas já sabiam que Arthur tinha falado coisas tocantes sobre ele e Lua na entrevista. O plano era fazê-la assistir em casa enquanto eles assistiam lá e assim os dois ficariam juntos de vez.


[n/a: partes em itálico aqui é o que se passa na televisão]


- Aí eu comecei a sentir um grande incomodo dentro de mim...
- O que? Arrependimento?
- Não... gases. [risadas de fundo]
Lua assistia um programa humorístico entediada no sofá 'Queria eu estar com dor de gases. O que me incomoda é muito mais do que isso. Tudo pronto pra eu viajar amanhã e do nada eu começo a ouvir uma voz irritante dizendo o tempo todo que e não devia seguir com esse plano! E por que isso agora? Será que a Delilah já não foi ameaçadora o suficiente? Ou será que é uma premonição e o avião vai cair no meio do Oceano Atlântico?! Aposto que se eu perguntar isso aquela vozinha não vai saber responder. E é mais provável que ela (ou eu?!) não queira viajar por medo de assumir a derrota para aquela vaca, não por medo de acidente. E chega desse assunto, eu to com fome! Droga, não tem sorvete. Não tem batata frita. Não tem um mísero copinho de Nutella. Não tem pipoca de bacon. Eu acho que vou comprar alguma coisa, uma ansiedade tomou conta de mim e quando eu to assim preciso comer coisas calóricas e fingir que os kibes são meus amigos.’ Lua pensava enquanto revirava os armários e a geladeira. Ela subiu ao quarto e parou um pouco encostada na porta, não estava se sentindo bem. Há muito tempo não tinha uma dor de cabeça com tonturas daquele jeito, algo estava errado e ela não sabia o que era. Uma dor fraca que faria qualquer um acreditar que precisa ir dormir. Quando ela achou que a dorzinha estava passando e se desencostou da porta, sentiu um refluxo vindo do estômago. Uma substância quente subiu o esôfago em alta velocidade queimando tudo e Lua precisou correr para o banheiro. ‘Acho que eu usei demais o meu cérebro pensando nessa viagem! Eu preciso é de ar fresco.’ A dor de cabeça aliviou consideravelmente após vomitar. Ela escovou os dentes, ajeitou o cabelo e foi pegar um casaco. Depois calçou botas, pegou sua bolsa e saiu. Esqueceu de desligar a tv da sala.




- Caramba, não vejo a hora de ouvir o que Arthur disse! – Sophia batia palminhas feito criança. Continuaram no trailer todo esse tempo.
- Ele disse um monte de coisas gays, aposto que toda criatura do sexo feminino vai adorar! – Pedro disse depois de tomar um gole de cerveja e Ray deu um tapa no braço dele.
- Aposto que deve ter sido lindo, Aguiar! Mesmo sem ter escutado ainda, eu já acho que você ta merecendo uma chance. – Rayana sorriu vendo o amigo ficar mais nervoso diante da proximidade da hora do programa começar.
- Relaxa Arthur! Você vai ver como ela vai te ligar assim que o programa acabar! – Melanie bagunçou-lhe os cabelos e ele sorriu olhando algum ponto fixo.
- E logo ela vai vir pra cá e você vai olhar pra ela de cima do palco – Rayana continuou a falar como acha que as coisas vão acontecer – você vai estender a mão pra ela, ela sobe, vocês se olham um pouco, depois se atracam um no outro e são aplaudidos e...
- Ta bom, Ray, ele já entendeu que vai ser o máximo! – Sophia jogou a tampinha do batom que segurava nela.


Lua andava pela rua observando as luzes. “Luzes de Quarta à noite” pode não soar tão convidativo quanto “Luzes de Sexta à noite”, mas já que essa poderia ser sua última noite naquele país, até se fossem as luzes de segunda-feira serviriam. A idéia da viagem começou a perder força de repente. Havia alguma coisa dentro dela que dizia pra não ir, que Delilah estava blefando. ‘E mais uma vez eu venho andar na rua pra tentar relaxar, me distrair com alguma coisa. Em circunstâncias normais, andar sozinha pela rua sentindo o vento que passa brincando com os cabelos é... normal. Mas quando se têm problemas pra resolver e decisões difíceis, uma simples caminhada dessas pode se tornar uma cena dramática e emo. Tudo depende do que se passa dentro da cabeça da pessoa. Os ventos que estão na minha cabeça são cortantes como esses aqui de fora. Acho que está mais pra furacão. Antes eu estava com muita raiva do Arthur e queria viajar. Depois a raiva foi passando. Aí vem a suspeita de uma gravidez... Agora eu não quero viajar, mas estou sendo forçada à isso. Se não fossem as ameaças da Delilah, eu certamente não viajaria mais. Essa idéia foi perdendo força e ela simplesmente caiu de vez depois que eu fiquei com Arthur hoje. Porra eu amo aquele cara! Se eu desisti de me mudar, foi porque eu imaginei minha vida lá sem o Arthur. E quer saber? Ela seria como uma rua com todos os semáforos no verde sem nenhum carro pra passar... Puxa ou eu sou muito filósofa ou muito retardada, que tal?! Certo, pode me internar! Que seja! Eu só ficaria aqui se tivesse certeza que a Delilah não vai cumprir as ameaças, mas quem me dá essa certeza? Quem vai proteger o Arthur de um "assalto no apartamento"? E eu então?! E minha possível gravidez? Eu nem sei se isso é verdade porque sou uma covarde que nem tive coragem pra fazer o teste e ver o resultado positivo. E o pior é que independente disso, se eu não seguir o plano dela, o estrago pode ser grande de qualquer jeito! Com ou sem gravidez, porque como eu disse pra Sophia, se ela não puder agredir o bebê, a segunda alternativa é o Arthur. E eu não posso nem pensar em vê-lo morrendo por minha culpa. Ah, essa mudança precisa acontecer. Não tem como ser diferente. Amanhã eu viajo e vou levar minha vida como puder lá no Canadá, mas eu ainda volto! Ah se volto!'



Capítulo 27 – Em praça pública

Lua tinha sua cabeça cheia de pensamentos que ela definiu como os ventos cortantes. Os pensamentos dela só eram cortantes por serem sobre Delilah! Todas as pessoas devem se sentir confusas até a última hora ao precisar escolher um destino. Ela não é diferente.

Os ventos começaram a soprar com mais força, trazendo com eles os primeiros pingos de chuva. Lua passou por um casal feliz segurando sacolas de lojas de perfumes e trocando selinhos num ponto de ônibus enquanto começava a chover lá fora, no mundo real. Sentiu uma pontinha de inveja. Lembrou de Arthur, queria estar assim com ele naquele ponto de ônibus e ir pra qualquer lugar que não começasse com CA e terminasse em NADÁ. Já fazia uns quinze minutos que estava naquela caminhada sem sentido, quando parou na frente de um pub e resolveu entrar, já que a chuva aumentava rapidamente. Sentou no balcão, uma tv estava ligada e ela se lembrou que deixou a tv de casa ligada, então deu um tapa na testa, mas resolveu que não ia voltar. Uns minutos se passaram até ela resolver olhar para a tv que estava ligada ali. Se surpreendeu vendo Arthur, ou melhor, todos os quatro se apresentando. Estavam tocando That Girl bastante animados, como sempre e levantando a platéia. Ela se lembrou que deve ter sido o programa que eles gravaram sábado. Pediu um dry martini e se conformou em apenas assistir como se fosse ver qualquer outra banda.

- Parabéns, vocês são realmente muito talentosos! – a apresentadora, Cora, falava com um sorriso enorme que mal cabia na tela enquanto só se ouvia o som das palmas ao fundo. Chay gritou um ‘obrigado’ sorridente e esperaram as palmas e gritinhos pararem pra poderem conversar.
- O sucesso de vocês aumenta a cada dia, o que acham disso, huh?
- Somos realmente gratos, erm... agradecemos todo dia tudo de bom que está acontecendo. – Micael falou e a câmera focalizou seu sorriso charmoso ao final da frase, a platéia soltou mais gritinhos.
- Bom, parece que tudo o que vocês dizem provoca reações na platéia aqui, não?! – a apresentadora se virou um pouco pra trás e o público, formado basicamente por pessoas de sexo feminino, (como sempre naquele programa) soltou mais gritinhos – Calma garotas! Eu já vou chegar nas perguntas que vocês querem! Mas antes me digam, como anda a agenda de shows de vocês? Fiquei sabendo que tiraram umas pequenas férias recentemente, não foi?


‘Nhaim... não vou ficar assistindo isso. Assim já é tortura, po!’ Lua continuava sentada apoiando o rosto com as mãos e os cotovelos no balcão, tinha uma expressão de tédio e enjôo. Ao mesmo tempo que queria sair dali, também queria ficar. Os olhos custavam em desgrudar da tela, então ela permaneceu assistindo.
- Me dá mais um desse. – ela pediu olhando pra tv e sorrindo leve ao ver Chay gargalhar do nada.

- AHAHMAHAF – no trailer, Chay gargalhava com a boca cheia de batatas.
- Chay! Por que você teve esse ataque de riso histérico lá no meio da entrevista e agora de novo? – Melanie franziu a testa e ficou esperando a resposta, que não veio dele porque estava vermelho de tanto rir e quase engasgando com as batatas... cena emocionante...
- É porque ele tava vendo a Stacey na platéia, lembra dela? – Micael respondeu pelo amigo.
- Lembro, claro, mas por acaso vê-la é motivo pra gargalhar? – Mel continuou sem entender, as outras meninas também esperavam a resposta.
- É porque ela tava com uma daquelas máscaras do pânico, saca? – Pedro falou e fez uma careta depois. As meninas riram.
- Eu tava vendo aquela pessoa com máscara na platéia e fiquei só encarando. De repente ela resolveu tirar a máscara e fez uma cara engraçada que eu não agüentei! – Chay recuperou o fôlego e explicou novamente, da mesma forma que fez no programa. Os meninos lá contaram algumas coisas engraçadas que aconteceram nas férias, incluindo as partes com aquelas três fãs avoadas, que agora estavam na platéia sorridentes.

- Que bom que tenham se divertido tanto! Com certeza um descanso merecido depois de tantas turnês no começo desse ano. Mas agora eu vou ter que perguntar o que todo mundo quer saber aqui! Como andam os corações dos Mcguys?
- Bombeando sangue e provavelmente vermelhinhos! – Pedro respondeu sorrindo maroto e a apresentadora apontou o dedo pra ele.
- Não fujam senhores... Que mal há nisso? É só dizer! Por que está com essa carinha, Cassiano?
- Eu... erm... tem uma garota que me faz ter coisas estranhas quando a vejo, tipo borboletas, joaninhas e bichinhos fofinhos, sabe? Ela deve estar assistindo agora, espero que não me ache muito ridículo, Rayana! – ele fez uma carinha fofa na tela e um coração com as mãos.


Ray começou a sorrir boba e mandar beijinhos pra televisão, Sophia deu um pedala nela.
- Ôh animal! O garoto ta aqui no trailer!
- Ah! Verdade! Bem lembrado! – Rayana se aproximou de Pedro engatinhando pelo tapete e começou a beijá-lo por todo o rosto.

- Hum... borboletas, huh! Deve ser alguém especial pra você! Estão namorando?
- Estamos! – ele sorriu mais ainda, como se fosse possível. Cora sorriu também e passou a olhar pra Micael.
- E então Micael? Vai deixar as meninas do auditório felizes hoje de novo?
Micael olhou para todas as meninas presentes na platéia e depois pra apresentadora.
- Uns meses atrás eu sei que vim aqui e falei que não tinha ninguém na minha vida, vocês devem lembrar... mas eu estava cego, tem sim uma pessoa que nunca saiu da minha cabeça e se hoje eu estou completamente feliz, é 99% por causa dela! Minha Sophia! – e mandou um beijo pra câmera.


- 99%, Micael? O outro 1% vem de onde? – Sophia se aproximou dele estreitando os olhos.
- Você deu 5% pro Chad Michael então eu acho que tenho esse direito também, não tenho? – ele arqueou uma sobrancelha e ela o imitou.
- Tudo bem, você tem sim. E é melhor nem me contar porque se for alguma gostosona da tv eu... – ele a interrompeu com um beijo e depois falou baixinho no ouvido dela.
- O 1% foi por eu ter mudado pra cá! – sorriu e ela segurou o rosto dele pra dar mais um selinho. 

‘OMG... acho que não quero ver onde isso vai parar!’ Lua fechou os olhos por uns instantes e percebeu que já estava sentindo o senso de equilíbrio abandonar o corpo. Esqueceu-se da hipótese de estar grávida, ingerindo álcool loucamente.
- Quero outro. – não se importava, dane-se o equilíbrio. ‘E se chegar a vez do Arthur e ele não falar nada?! E se falar de mim? E se falar de outra pessoa? E se falar que tem um caso com o Eric? OMG! Eu devo estar mega bêbada pra pensar essas merdas! E quem se importa mesmo?!’ pensou e tomou uma golada grande e meio desesperada da bebida enquanto não tirava os olhos da televisão. 

- Meninas da platéia, 50% do McFLY está indisponível. Sinto muito! – a apresentadora brincou e um AHHH cheio de dor e sofrimento ecoou pelo estúdio. – Mas não se preocupem, ainda têm os garotos do Faber Drive, eles serão os próximos entrevistados da noite! – depois que a apresentadora falou isso, os mcguys se fingiram indignados – Tudo bem, vocês sabem que é só brincadeira... Suas fãs amam vocês antes de mais nada pelo talento, bom humor, por vocês serem pessoas maravilhosas e o que elas mais querem é vê-los felizes! – agora a platéia bateu muitas palmas e isso deixou os garotos sorridentes. – Mas ainda não acabamos! Chay e Arthur ainda não responderam a pergunta!
Arthur olhou pra Chay e acenou com a cabeça. Chay começou a falar.
- Conheci uma garota incrível! Ela é acima de tudo muito amiga, sabe fazer cookies como ninguém, esteve do meu lado quando eu precisei e por um momento achei que ela devia ser meu anjo da guarda, mas apaguei essa hipótese rapidamente porque acho que anjos da guarda não têm pernas tão bonitas! – ele terminou de falar sorrindo e ficando um pouco corado.


- Ounnn mafagafo! Acho que eu fiquei até arrepiada agora! – Melanie olhou nos olhos dele, os olhos dos dois brilhavam tanto que pareciam espelhos onde um podia ver o reflexo do outro.
- Considere-se mafagafizada! – ele aproximou o rosto, colocou a mão na bochecha dela, que passou a sorrir e fechou os olhos. Chay a beijou como se quisesse depositar na boca dela todo o amor que estava sentindo ali.

Lua sentia que o coração ia sair pela boca e cair diretamente dentro da quinta taça de dry martini que tomava naquela noite! A câmera focalizava Arthur. Era agora, tudo ou nada.

- E então senhor Aguiar, parece que você ficou por último! Vai seguir os seus amigos e fazer alguma declaração?
- Olha Cora, o Aguiar não ta bem. – Pedro falou e Arthur ficou olhando com cara de “o que você está fazendo?”
- Sério? Quer nos explicar Arthur?
- Ah, eu... Eu não devia falar disso.
- Fala cara! O programa pode te ajudar – Chay deu uns tapinhas encorajadores nas costas dele.
- Eu chateei demais uma pessoa que gosto e agora ela quer ir embora.
- É a prima do Micael, certo? – Cora perguntou meio afirmando e Arthur fez uma expressão levemente assustada – Calma, os seus amigos me contaram. Nós podemos te ajudar, não podemos?
A apresentadora se virou sorrindo para a platéia e todas fizeram gestos afirmativos com alguns gritinhos. Arthur lançou um olhar um pouco enfezado para os colegas.
- Conte-nos mais! Queremos saber sobre essa garota e o que você está sentindo! Assim podemos entender o que se passa!
- Não sei se eu mereço ajuda. Tive tantas chances com ela e nunca 'aproveitei. Depois da minha última burrada ela decidiu morar em outro país e eu acho que essa notícia me fez entrar em pânico. Eu não quero a minha garota em outro continente! Eu quero que ela fique aqui e seja só minha. Só minha fã número um! E eu serei o fã número um dela pra toda vida. Ela me ensinou a gostar de ir à escola. Me ensinou a ser mais sensível com as garotas. Me ensinou que não adianta ter o melhor plano se você não tiver em quem confiar. Me ensinou a prestar mais atenção na aula de geografia! Ajudou a me tornar mais corajoso pra admitir que não importa quantas trufas eu coma, se eu estiver com vontade de experimentar aquela maçã vermelha e brilhante no topo da árvore, é dela que eu vou lembrar e as trufas não vão me preencher. Só me deixarão mais frustrado comigo mesmo por não ter partido logo em conquista daquilo que eu queria. Daquilo que eu acreditava... A Lu entrou na minha vida pra me tornar melhor e eu sinto que se ela sair, nada mais vai fazer sentido porque sem ela aqui não tenho motivo pra ser melhor. – Arthur terminou e falar e as lentes da câmera captaram os olhos úmidos dele. A platéia estava em silêncio e a apresentadora se emocionou também. Chay deu mais tapinhas nas costas dele e sussurrou um ‘mandou bem’.
- Arthur, você aceita participar do quadro “Em Praça Pública”?
- Erm, e-eu?
- Eu imagino que você conheça o quadro, mas eu vou explicá-lo enquanto você vai assimilando. O participante do Em Praça Pública deve escolher uma área pública na cidade, uma praia, um parque ou uma praça, por exemplo... No dia em que o programa vai ao ar, quartas-feiras, no mesmo horário, o participante estará ao vivo no local escolhido. Veja bem, nós estamos gravando aqui no sábado e daqui a quatro dias, se você aceitar participar do quadro, nós estaremos te mostrando lá ao vivo no lugar que você escolher, passando sua mensagem pra Lua da forma que você bem entender. E aí?
- Faz Arthur, não queria uma última chance? Ela está aí, agarre! – Micael cerrou o punho e deu um soquinho no ar. Arthur parecia em outro planeta e o silêncio já estava ficando constrangedor. Cora resolveu falar.
- Hum, pessoas! Será que daqui a pouco nós estaremos mostrando Arthur Aguiar ao vivo participando do quadro Em Praça Pública ou o programa de hoje seguirá normalmente como o ocorrido na semana passada? Está em suas mãos.
Ela deu a palavra a Aguiar novamente e a câmera o focalizou.
- Tem como falar com o David Archuleta? – foi a única pergunta de Arthur. A apresentadora sorriu e a platéia começou a bater palmas com gritinhos de aprovação. Veio o intervalo comercial.


O som das palmas penetravam na cabeça de Lua, ela não piscava e parecia nem respirar também. A vinheta do programa passou, vieram os comerciais e ela continuou a olhar para a tela. Sentiu uma enorme necessidade de saber em que parte da cidade Arthur se enfiou pra aparecer ao vivo, mas pra isso teria de esperar os comerciais. Às vezes uma espera que era pra ser pequena, como esperar um ônibus, ficar numa pequena fila, ou o fim de um intervalo comercial, se torna gigante. Vai depender do quanto a pessoa quer que essa espera termine. Para Lua foram dois longos minutos e mais trinta segundos. Para Arthur foi um tempo rápido pra sair do trailer com a equipe que estaria presente e se ajeitar no palco pra ser transmitido em poucos minutos para todo o país. Os amigos de Arthur e Lua também saíram do trailer e ficaram logo à frente do palco. A equipe mencionada que estava ajudando-o nisso, não eram seus colegas de McFLY e sim a banda do David Archuleta. Ele ia tocar Touch My Hand em praça pública!

- Voltamos com o Cora’s Interview, o programa de entrevistas e desafios românticos que esquenta as suas noites de quarta-feira! Pra quem chegou agora, hoje nós começamos recebendo a visita dessa banda incrível de garotos espertos e talentosos que é o McFLY! Nós soubemos recentemente por meio de algumas revistas que o guitarrista Arthur Aguiar sempre gostou muito da prima do colega de banda, Micael Borges. E são realmente um casal muito bonito de se ver, mas estão enfrentando problemas e o programa está agora convidando Arthur a participar do nosso quadro que ficou famoso por ajudar casais nessa situação. Nós do programa ajudamos a todos, não importa se você tem fama ou não, todo mundo tem problemas porque geralmente os “amores de nossas vidas” são pessoas teimosas! Então o Arthur já topou participar do “Em Praça Pública”, e nós já temos as imagens ao vivo! Mas antes de mostrarmos que lugar da cidade ele escolheu, explique pra gente um pouco mais, Arthur! Por que você quis falar com David Archuleta?
- Bom, tem uma música que eu me lembrei agora... Eu e a Lua escutamos no carro um dia, foi o dia que a gente brigou. É uma música do David e ela não saiu mais da minha cabeça depois daquilo! Eu quero tocá-la no Parque Vermonn e oferecer pra ela um pedacinho do meu arrependimento pelo que eu fiz.
- Okay, você manda! O que estamos esperando, diretor? Vamos às imagens ao vivo do parque!
Se Lua tivesse um relógio que mede o pulso, como o que Arthur usa pra correr, os barulhos dos batimentos dela estariam enlouquecidos! Primeiro o coração parou ao ver a estrutura montada no parque. As luzes, as pessoas... E o sangue começou a ser bombeado com grande força dentro dela quando Arthur começou a falar ao microfone.

- Boa noite! – Arthur deu um grito animado. Estava fazendo um show de verdade ali, pois várias pessoas que estavam passando na rua pararam pra ver, claro! A chuva estava menos intensa agora, pingos pequenos e rápidos cobriam tudo que encontravam aos poucos, como se formassem um grande véu. Alguns relâmpagos vinham de vez em quando e pareciam flashs de máquinas fotográficas no céu.
- Primeiramente eu queria agradecer a todos os presentes e à produção do programa Cora’s Interview por me dar a chance de participar desse quadro genial que é o “Em Praça Pública”!
As pessoas aplaudiam entre cada frase e Arthur mal podia descrever aquela emoção porque era diferente de qualquer show que ele já tivesse feito.
- Estou aqui hoje pra cantar uma música que não é do meu repertório. Agradeço ao querido David Archuleta! Nós não chegamos a nos falar pessoalmente e ele não pôde estar aqui hoje, mas num ato de extrema bondade, liberou sua equipe pra vir aqui para que eu pudesse tocar uma das músicas dele! Então palmas para David e sua banda! – mais uma porção de gritos, aquela praça estava lotando.
- Eu vou cantar Touch My Hand como se eu mesmo tivesse escrito e guardá-la numa caixa de presente! Vou jogar esse presente pro vento e espero que minhas palavras não sejam jogadas em vão! Eu quero que o vento carregue-as e plante como sementes em algum lugar do coração. Esse vento tem um nome, é Lua Blanco e é pra ela que dedico Touch My Hand em praça pública. 


Os primeiros acordes foram tocados no piano. Lua já não sabia se continuava bebendo, se levantava pra ir correndo até lá ou se ficava assistindo ao show.

Saw you from the distance (eu te vi de longe) 
Saw you from the stage (eu te vi do palco) 
Something about the look in your eyes (algo sobre o olhar em seus olhos) 
Something about your beautiful face (algo sobre seu lindo rosto) 

In a sea of people (em um mar de gente) 
There was only you (só havia você) 
I never knew what this song was about (eu nunca soube sobre o que era essa música) 
But suddenly now I do (mas de repente agora eu sei) 

Trying to reach out to you (tentando chegar até você) 
Touch my hand (toque minha mão) 
Reach out as far as you can (chegue tão longe quanto puder) 
Only me, only you, and the band (só eu, você e a banda) 
Trying to reach out to you (tentando chegar até você) 
Touch my hand (toque minha mão) 

Can't let the music stop (não posso deixar a música parar) 
Can't let this feeling end (não posso deixar o sentimento terminar) 
Cause if I do it'll all be over (porque se eu deixar, tudo estará acabado)
I'll never see you again (eu nunca vou te ver de novo) 

Can't let the music stop (não posso deixar a música parar) 
Until I touch your hand (até eu pegar na sua mão) 
Cause if I do it'll all be over (porque se eu deixar, tudo estará acabado)
I'll never get the chance again (eu nunca vou ter a chance de novo) 

I see the sparkle of a million flashlights (eu vejo o brilho de um milhão de luzes) 
I wonder why all the stars (imagino o porquê, de todas as estrelas) 
But the one that's shining out so bright (aquela que brilha mais,) 
Is the one right where you are (é onde você está) ...


As palavras da música estavam sendo realmente plantadas em Lua. Ela até se lembrou do dia no carro, voltando pra casa, logo depois da noite na praia. Nem mesmo o trânsito ruim daquele dia foi capaz de deixá-la de mau humor porque Arthur estava ali e estava tudo bem.
Quando mostraram as pessoas que assistiam ao show, ela viu alguns cartazes se levantando. Folhas de caderno mesmo, feitos de última hora. O que foi escrito com marca-texto rosa chamava bem a atenção e dizia:
VEM PRA CÁ!
O ARTHUR TE QUER MTMTMTMTMT!

Ela tampou a boca com uma das mãos vendo isso. Começou a se imaginar chegando lá, subindo no palco e tacando um beijo nele enquanto os dois ficavam se molhando de chuva e o público aplaudindo. Depois sorriu sozinha com esse momento de “sonho pré-adolescente”. 
- Quem será essa tal de Lua? – o rapaz que servia os drinks observava a televisão com um pano de prato nas mãos. Lua olhou pra ele e deu de ombros. Voltou a colar os olhos na tv e viu Arthur sacudir os cabelos molhados pela chuva. A verdade é que seus pés estavam formigando pra sair daquele pub e ir até o palco de verdade. Então ela simplesmente se levantou, pagou a conta e foi. Simples assim. Só esqueceu de um detalhe: estava bastante bêbada.

... 
Saw you from the distance (eu te vi de longe) 
Saw you from the stage (eu te vi do palco) 
Something about the look in your eyes (algo sobre o olhar em seus olhos) 
Something about your beautiful face (algo sobre seu lindo rosto) 

Can't let the music stop (não posso deixar a música parar) 
Can't let this feeling end (não posso deixar o sentimento terminar) 
Cause if I do it'll all be over (porque se eu deixar, tudo estará acabado)
I'll never see you again (eu nunca vou te ver de novo) 

Can't let the music stop (não posso deixar a música parar) 
Until I touch your hand (até eu pegar na sua mão) 
Cause if I do it'll all be over (porque se eu deixar, tudo estará acabado)
I'll never get the chance again (eu nunca vou ter a chance de novo) 

Trying to reach out to you (tentando chegar até você) 
Touch my hand (toque minha mão) 
Reach out as far as you can (chegue tão longe quanto puder) 
Only me, only you, and the band (só eu, você e a banda) 
Trying to reach out to you (tentando chegar até você) 
Touch my hand (toque minha mão)


Lua foi andando mesmo até o parque onde Arthur estava. Não era tão longe, ela foi andando rápido (na medida do possível) naquela chuva fina. Seus pensamentos não eram mais confusos. Decidiu-se por enfrentar Delilah. Os dois poderiam enfrentar juntos, a Delilah não podia sair vitoriosa com um plano tão ridículo e cruel. Ela não merece a glória e essa palavra não combina com ela.
Lu entrou numa rua um pouco deserta. Aliás, totalmente deserta. Havia apenas árvores dos dois lados e calçadas estreitas, mas ela nem sequer se lembrou de sentir medo porque estava só pensando no que dizer quando chegar lá no show improvisado e olhar pra Arthur no palco. De repente ela já havia esquecido toda aquela coisa de se preocupar muito com a Delilah. Só queria chegar perto dele e dizer que não importa o que aconteça, eles enfrentam juntos.
Um carro passou naquela rua, depois de muito tempo sem nenhum movimento. Ele passou por Lua em alta velocidade e freou bruscamente uns 20 metros adiante. Lua continuou a caminhar pelo acostamento, porém agora estava assustada com aquele carro parado ali. Os passos foram diminuindo ao mesmo tempo que a vontade de voltar crescia. Afinal, por que diabos um carro ia frear de repente e ficar parado no meio da rua? A menos que houvesse um semáforo ali, mas definitivamente não era o caso. As luzes vermelhas acesas na traseira do carro aumentavam o pânico de Lua e ela, que já estava a passos muito lentos, parou de andar de uma vez e deu meia-volta pra se afastar daquele carro. Agora a única coisa que ocupava a mente dela era sair daquela rua e as palavras “show”, “palco” e “Arthur” foram apagadas como numa lousa.
Os passos dela estavam apressados e ela nem via as poças d’água, pisava nelas. Espalhava água barrenta nas botas, mas não importava. Queria estar a salvo do que quer que fosse. Lua escutou o motor do carro fazendo manobras e olhou pra trás. O carro estava voltando. Ele acelerou como que pra brincar com a emoção dela e ela viu a fumaça subindo ao redor do carro. Começou a correr.

Delilah’s point of view ON

Estou no carro esperando meu irmão terminar de assaltar a joalheria para qual eu trabalho. Como meu dia foi acabar assim? Explico.
Fui à casa do Arthur hoje de tarde e ele só faltou me botar num avião pra Angola com passagem só de ida! Eu fui lá achando que ele podia cair na real sobre aquela garota que nem gosta dele tanto assim! O que mais me chateia é que ele tenha me usado na cara dura, sabe? Bastou aquela putinha aparecer pra ele me ignorar como um ursinho velho. Aquela mimada, nojentinha, eu sou muito mais eu! Agora ela vem com essa coisa de querer ir embora do país, igual àquelas crianças que não sabem brincar e vão pra casa emburradas, batendo o pé. E Arthur ainda fica desesperado com isso! Se eu fosse ele, mandava ela ir se foder lá no Canadá e bom proveito. Eu tenho vontade de afogá-la no ponche igual ela fez comigo, é.

Play Delilah's Flash Back

Era sábado e eu estava sentada desperdiçando meu tempo na gravação de um programa besta. Eu tenho uma prima adolescente e a escola dela fez esse passeio ridículo. Eu tive que acompanhá-la, mas a única coisa que me encorajou a prestar esse ato de solidariedade é a entrevista com o McFLY.
Então eu fiquei esperando que a hora chegasse. E ela chegou.
Nada até ali tinha sido tão cortante. Nada é tão desesperador quanto isso.
Arthur falando todas aquelas coisas, e elas não eram pra mim.
- ...Depois da minha última burrada ela decidiu morar em outro país e eu acho que essa notícia me fez entrar em pânico. Eu não quero a minha garota em outro continente! Eu quero que ela fique aqui e seja só minha. Só minha fã número um! E eu serei o fã número um dela pra toda vida. Ela me ensinou a gostar de ir à escola. Me ensinou a ser mais sensível com as garotas. Me ensinou que não adianta ter o melhor plano se você não tiver em quem confiar. Me ensinou a prestar mais atenção na aula de geografia! Ajudou a me tornar mais corajoso pra admitir que não importa quantas trufas eu coma, se eu estiver com vontade de experimentar aquela maçã vermelha e brilhante no topo da árvore, é dela que eu vou lembrar e as trufas não vão me preencher...

Ele me reduziu a uma burrada ou sei lá o que, mas certamente algo que não deveria ter acontecido. Eu me senti como algo que não devia existir, me senti fora do lugar. Não sei o que senti, mas não queria deixar assim. Não podia!
Ouvi quando começaram a acertar os detalhes para o desafio dele, logo após encerrarem a gravação. Ficaram horas combinando esses detalhes, o que ia ter, o que não ia ter, ligaram pro David Archuleta e o caralho. Fizeram tudo e depois os quatro saíram parecendo apressados. Eu fui atrás. Deixei minha prima lá, ela que voltasse sozinha... Eles chegaram numa casa, eu logo vi uma daquelas afetadas, insuportáveis, loucas, que são amigas da Lua. Mais precisamente, a Rayana. Só tem gente doida nessa porra. Ninguém nem notou ou quis impedir a minha entrada na festinha.

Stop Delilah's Flash Back 

Pro inferno aqueles dois. Esquecendo Lua e seu chaveirinho Aguiar por um momento, cheguei em casa e o folgado do Nick estava largado no sofá. É outro inútil esse aí...
Nick é meu irmão mais novo. Irresponsável, idiota, delinqüente e infelizmente, menor de idade. Fiquei responsável por sustentar essa peste desde o ano passado, quando nossos pais morreram num acidente. Ele ficou se achando O rebelde depois disso e resolveu barbarizar por aí com uns amigos que não valem nada! Outro dia chegou aqui com caixas de latinhas de energético. Quando eu perguntei, ele disse que eles sacanearam o português da loja de conveniência. Estou pouco me fodendo... Não me envolvo nas besteiras do Nick. Mas hoje eu topei vir com eles para assaltar a joalheria da Jeena. É que a Jeena é uma tremenda filha da puta! Não, eu não costumo ser boca suja, só estou nervosa e sob influência de algumas balinhas que Nick me deu. Eu sabia que ele tomava ecstasy, heroína e um monte de outras merdas. É a primeira vez que uso. Mas voltando ao assunto da Jeena, sou designer de jóias e vendo pra loja dela. Semana passada ela veio dizendo que as minhas jóias estavam fracas, que eu precisava inovar e não queria pagar um preço justo. Meu irmão ficou puto, queria dar um susto nela, aí hoje ele me chamou pra fazer isso e como hoje eu estou daquele jeito por causa do cuzão do Arthur acabei topando assaltar a bosta da joalheria. Só não quero ficar na encrenca depois.
Estão vindo! Vou ligar logo o carro pra gente fugir! É agora que eu trabalho!
- VAI LILAH! VAMOS, VAMOS! – Nick ficou gritando e esqueceu de fechar a porta, aquela anta... Eu fui arrastando e ele fechou a porta depois. Os dois amigos horríveis dele (eles são horríveis, nem precisam de máscara pra assustar!) estavam tirando o que roubaram de dentro das mochilas pretas que usaram. Eu vi algumas das minhas próprias criações, fiquei até emocionada em recuperar meus bebês!
Eu estava sentindo o poder nas minhas veias. É como se eu fosse naquele momento a dona da rua, eu nunca senti um carro dessa maneira! É como se eu estivesse correndo com minhas próprias pernas, chegou uma hora em que eu achei que tinha levantado vôo! Foi tão emocionante! Eu vi cada viatura da polícia se chocar contra outros carros atrás de mim, foram se desfazendo um por um, como num video-game. Quando o último deles se chocou com um caminhão, do qual eu escapei por pouco, houve uma explosão e eu apenas vi aquele fogo se distanciando pelo espelho. Meu irmão e os amigos estranhos comemoravam. Minha ficha demorou a cair, mas quando isso aconteceu, meu sorriso saiu feito uma explosão também, junto com um suspiro aliviado. Será que é assim que os atores se sentem nos filmes de ação? Não. Eles fingem. Eu tive nas mãos a real sensação disso e não tem como explicar. É como um orgasmo gigante ou sei lá... Chame como quiser, to doidona! Eu duvidei, mas isso salvou mesmo meu dia! Agora eu só quero... Ei! Que diabos! Acho que vi a Lua ali! Ou será efeito do ecstasy?
Não, é ela! E se ela está nessa rua, que por coincidência vai dar no parque onde está Arthur e seu showzinho ridículo, então é porque ela ia quebrar o acordo! FILHA DA PUTA!
- Caralho ficou maluca?! – Nick reclamando da minha freada brusca no meio da rua.
- É aquela garota que te falei, Lua! Está andando ali olha, prestes a quebrar o nosso acordo! Preciso fazer alguma coisa.
- Ah, Lilah! Agora não é hora de você se vingar! E se a polícia chegar?!
- A polícia já era! Você ta vendo algum carro aqui?! Eu to dirigindo essa merda pra vocês, passei o maior sufoco pra deixar aqueles trouxas pra trás e agora que eu quero me divertir vocês vão impedir? Puta que o pariu hein!
- Ta bom, faz o que quiser...
Eu sorri e comecei a virar o volante. Fiz a manobra na estrada e vi que a Lua estava andando rápido na direção oposta.
- Caralho, ela vai fugir!
- Claro que não, a gente ta de carro e ela a pé! Jumenta. Põe a pata no acelerador aí.
- Fica quieto aí seu porra, não te perguntei nada.
- Ihh Nick, é a sua irmãzinha gostosinha que manda em você, é?
- Cala a boca. – Nick apontou o dedo na cara do amigo. Enquanto eles ficavam discutindo eu me aproximava de Lua, jogando a luz do farol alto nas costas dela. Quero ver a cara de gato acuado que ela vai fazer!

Delilah’s point of view OFF

Delilah dirigia um Fiat Stilo vermelho que não era dela, nem do irmão, mas sim de um dos amigos dele. O carro atingiu velocidade suficiente num curto espaço pra fazer um pequeno e discreto cavalo de pau. O carro virou 180º e parou bem na frente de Lua.
A porta do carro se abriu devagar porque Delilah queria assustá-la de verdade. Lua ficou em choque e não tinha pra onde correr. Os outros garotos desceram primeiro e Lua sentiu o coração apertar ao imaginar que seria abusada e talvez assassinada por eles. Quando ela finalmente viu que era Delilah quem dirigia, ficou sem saber se relaxava ou se era pra preocupar-se mais ainda.
- Hey Lu! Por que essa carinha assustada?
- Oi Delilah. – Lua falou entre os dentes, com uma certa raiva.
- Você já conhece o meu irmão Nick e os amigos dele?
- Não, eu nem costumo ter pesadelos... – Lua fez uma careta e o amigo patinho-feio de Nick ameaçou avançar nela. Delilah esticou o braço impedindo-o.
- Até numa hora dessas você é muito engraçada Lua, parabéns.
- Então ta. Foi um prazer conhecer vocês e eu já vou. – Lua deu meia-volta e apertou o passo. Delilah fez um aceno de cabeça para que Nick fosse buscá-la. Ele segurou com força um dos braços dela na altura do pulso. A mão dele quase podia se fechar e esmagá-lo.
- HEEY O QUE VOCÊ TA FAZENDO?! – Lua veio gritando ao ser puxada de volta.
- Calma Lu! Onde você vai com tanta pressa? Ah, eu acho que sei! Estava indo logo ali dar uma quebradinha básica num certo acordo! – Delilah cruzou os braços quando Nick soltou o braço de Lua e os cinco dedos estavam marcados.
- O que você quer? Não me enche! Por que não deixa todo mundo em paz e vai cuidar da sua vida, huh?
- Ihh, ta nervosa? Aah Luzinha se tem uma pessoa nervosa aqui, essa sou eu!
- Imagino porque... – Lua falou um pouco baixo olhando pro lado.
- O que você disse?
- Eu sei que o Arthur te deu um fora astronômico hoje, eu estava lá. Eu vi. Delilah, você não tem chance alguma com aquele garoto. Esquece!
- Eu acho que tenho! Só preciso que certas pessoas desapareçam. – Delilah terminou de falar com a voz firme, se aproximou e deu um tapa no rosto de Lua. Ela balançou a cabeça pra retirar o cabelo que voou no rosto e ia avançar em Delilah, mas dois garotos a seguraram pelos braços.
- Então é assim que você quer me encarar, sua covarde?! – Lua tinha cada braço segurado por um rapaz. Ela se agitava na doce ilusão de conseguir se soltar.
Delilah chegou bem perto dela sem falar nada. Segurou o rosto de Lua apertando as bochechas com os dedos.
- Você não passa de uma cruz na vida do Arthur! Ele te enxerga como um brinquedo novo agora, mas eu quero estar lá pra ver o dia em que ele vai te deixar num canto, usada! – ao terminar de falar soltou o rosto da garota, que ficou movimentando os maxilares doloridos.
- Não julgue o meu destino pelo seu! O Arthur nunca gostou de você e você nunca foi nenhum brinquedo novo! Você era no máximo um brinquedo já bem gasto que ele achou e pegou pra passar um tem... – Lua não pôde terminar de falar porque Delilah acertou um murro em seu rosto.
- Continua! É bom levar uns socos na cara, não é? Continua falando aí pra ver o que você leva...
- O seu problema é que você não agüenta a verdade! Tenho certeza que as minhas palavras podem doer muito mais do que os socos porque você sabe muito bem o que Arthur te disse hoje! Hum... como foi mesmo? – Lua fingiu parar pra pensar e logo voltou a olhar pra Delilah sorrindo debochada – Ele pode te substituir pela própria mão!Parece que ele prefere se masturbar do que ficar com você, De-vaca.
Delilah mordeu os lábios e acertou-lhe um soco no estômago. Lua perdeu um pouco o ar e demorou mais pra se recuperar dessa vez.
- Você não tinha o direito... OLHA PRA MIM ENQUANTO EU FALO! – Delilah obrigou Lua a erguer o rosto que estava abaixado, pegando pelo queixo. – Não tinha o direito de chegar sem mais nem menos e atrapalhar minha vida!
- Atrapalho? Desculpa aí! – Lua ainda tinha o sorrisinho debochado, apesar da expressão cansada de apanhar. Delilah deu mais dois socos nela, um no rosto e outro de lado, ao final das costelas.
- Vadia... – Delilah se afastou um pouco com uma das mãos no quadril e com a outra coçava o nariz.
- De-jeitada... 
- É o que?
- Hum?
- O que você disse aí?
- Pfffft!
Tapa no rosto e um puxão de cabelo.
- Como é que vai a barriguinha, Lu? Dói aqui? – Delilah segurou a parte superior do cabelo de Lua, puxando os fios para trás e conversando com o rosto próximo ao dela. Com a outra mão, deu cutucões na área do abdômen onde já tinha acertado alguns socos.
- Vai pro inferno. – Lua sussurrou e Delilah a soltou.
- O Arthur não te quer realmente! Se ele quisesse não teria se deixado levar por mim aquele dia. Lembra? “Oooh Lua não é o que parece!” – Lilah imitou as palavras de Arthur no dia em que foi flagrado no sofá com ela. – Pois era o que parecia SIM! E se você não chegasse, bonitinha, a gente ia transar no chão da sala!
- Ele se arrependeu dessa burrada e de todas as vezes que te comeu só porque você era a cadela mais próxima!
Lua deixou que a última frase saísse misturada com tons de deboche e raiva. Delilah deu uma joelhada nela que atingiu o pé da barriga. A dor foi terrível e ela tentou dobrar o corpo ao máximo que pôde com aqueles rapazes segurando seus braços.
- O que foi? Acabou o ia que dizer? Hum, acho que eu estraguei o brinquedo novo do Arthur!
- Não, Lilah. Sabe o que aconteceu hoje logo depois que você foi embora? – Lua já não tinha muito fôlego e a voz estava fraca, mas a vontade de provocar estava maior do que a dor física – EU fui lá nós e passamos toda a tarde juntos.
- Cala a boca.
- Foi uma tarde deliciosa. Ele não sente nojo de mim como sente de você!
- Cala a boca! – Delilah ia avançar nela e Lua soube esperar o momento certo para dar-lhe um chute. Delilah caiu numa poça e sujou os cabelos de barro.
- O carinho dele por mim foi mostrado todo o tempo, nos toques, nos beijos...
- CALA A PORRA DA BOCA! – Delilah se levantou mais furiosa e começou uma série de agressões sem parar, revezando entre uns poucos tapas no rosto e muitos socos na barriga. – Cala a boca, cala a boca!
Lua ficou imóvel e Delilah deu um sinal para que os rapazes soltassem os braços dela. Primeiro Lua caiu de joelhos e logo depois o resto do corpo foi ao chão. Próximo ao local onde estava o rosto de Lua havia outra poça d’água. Delilah se abaixou, pegou Lua pelos cabelos e colocou a cabeça dela na poça por uns instantes, assim como no episódio do ponche. Depois retirou o rosto de Lua da água barrenta e a colocou de lado.
- Quem é a Devaca agora?



Capítulo 28 – I know I'm gonna fall down

Delilah deixou Lua deitada na rua e foi caminhando em direção ao carro. Estava sentindo que precisava de água urgentemente e caminhou apressada pensando em entrar no carro e dirigir até alguma lanchonete.

- Você é pra sempre a Devaca. – Lua falou baixo e ninguém ouviu. Começou a se apoiar com os braços trêmulos e foi se levantando novamente.
- VOCÊ! É PRA SEMPRE A DEVACA! – Gritou ao ficar de pé. A voz saiu rouca e cansada, os cabelos um pouco desalinhados. Delilah estava de costas, já abrindo a porta do carro, mas virou e viu Lua lá. Surpreendeu-se por ela conseguir levantar. Começou a caminhar em direção à Lua novamente, mas sua visão foi ofuscada por uma luz de farol que se aproximava. Ao chegar perto, o motorista diminuiu as luzes e parou o carro.
- O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO DELILAH?! – Peter desceu do carro e bateu a porta com força.
- Peter? – Lua o observou caminhar até Delilah e sacudi-la pelos ombros.
- ME SOLTA MALUCO!
- VOCÊ MACHUCOU A LUA? EU TE FALEI PRA NÃO FAZER ISSO, VOCÊ É TONTA?
- EU FIZ O QUE TINHA QUE FAZER SIM, E VOCÊ? VAI FAZER O QUE?
Peter empurrou Delilah e ela caiu de bunda no chão.
- É A POLÍCIA! – Nick gritou e entrou no carro ao ouvir o som da sirene. Delilah não teve tempo de levantar e entrar no carro, então se embrenhou no mato. Nick saiu cantando pneus e os carros da polícia passaram voando atrás dele. Lua e Peter ficaram num canto só observando.
De repente ficou tudo em silêncio quando todo aquele caos se afastou. Lua torceu com cada fibra de seu corpo que a polícia prendesse todos que estavam no maldito carro vermelho que a assustou. Esqueceu-se que Delilah não estava nele. Estava fugindo entre as árvores.
- Lua. – sentiu uma mão tocar seu ombro – Você ta bem?
Ela apertou os olhos por dois segundos, mal podia acreditar no que havia acabado de acontecer.
- Pete! Foi tudo horrível! – agora que caiu na real, o abraçou.
- Calma! Ela te machucou muito? Quer ir pro hospital?
- Só quero ir pra casa!
- Vem, eu te levo.
- Mas hey?! O que você está fazendo aqui?
- Eu estava indo pra casa. Peguei esse caminho hoje porque estava um trânsito infernal lá na avenida, e a culpa é daquele Metidinho-Aguiar! – Peter falava enquanto ia caminhando até o carro com Lua apoiada em seu ombro. Ela prendeu o ar quando ouviu aquele sobrenome, tinha até esquecido do show dele na praça.
- Hum... de qualquer forma, obrigada por aparecer! Mas agora você já pode ir, eu acho que vou andando até ali... – Lua apontou para o fim da rua e foi se desgrudando de Pete feito uma criancinha que quer correr para o tio dos balões.
- Não, nada disso! Ta pensando que é brincadeira? Vou te levar pra casa, você mal agüenta caminhar!
 Ela foi empurrada até a porta do carro e sentou no banco. Se tivesse mais força, lutaria contra. O desgaste físico, emocional e a tontura causada pelos drinks estavam insuportáveis. Era como se ela precisasse fechar os olhos e dormir por três anos. 
- Achei que você já tivesse ido embora pra Oxford. – Lua quebrou o silêncio dentro do carro.
- Na verdade, volto amanhã... Lu? – Peter colocou o sinto de segurança e parou segurando a chave e olhando pra ela. A garota no banco do passageiro respirou fundo. – O que há entre você e Arthur afinal de contas? É que eu pude ouvir algumas coisas que ele estava dizendo enquanto eu estava preso na fila de carros, ele falou de bla bla bla...
- Hein? – Lua se virou pra Pete, olhava pra ele atentamente, mas parecia não ouvir o que ele estava dizendo. Parecia tudo bla bla bla. As palavras estavam embaralhadas na cabeça dela. Uma pontada forte no meio da barriga a fez apertar os olhos e não conseguir abri-los mais.


- Arthur, se ela não aparecer e nem te ligar depois de tudo o que você disse pra todo mundo ouvir eu juro que ela vai ser uma Blanco morta amanhã! – Sophia sacudia a cabeça com as mãos nas bochechas.
- Mas ela não ta ligando! Já se passaram dez minutos do fim do show! – Arthur batia as pontas dos dedos das duas mãos. Era muita ansiedade pra um Arthur só. O show terminou sem a presença de Lua. Até a platéia que se formou no parque foi se retirando aos poucos e não acreditavam que “a tal garota” não apareceu. Arthur se sentou no palco balançando as pernas com o celular na mão, esperando que ela pelo menos ligasse.
- Sossega cara! Vai ver ela se emocionou e está esperando parar de soluçar! – Pedro jogou algumas pipocas na cara dele.
- Conheço minha prima, ela se emociona até assistindo Tom e Jerry!
- Será que ela ta ligando pro meu apartamento? Hey! ELA TEM O NÚMERO DO MEU APARTAMENTO?
- ELA TEM, OK! – Melanie o segurou pelos ombros e o olhou nos olhos – Fica frio, a gente deixou fácil uma agendinha na sala com os números de todo mundo!
- Deixa de ser retardado! Por que ela ligaria pro seu apartamento se você está AO VIVO aqui? A menos que ela ache que você é the flash... – Chay passou por ele dando um peteleco na orelha e se sentou ao lado dele em seguida. Grande parte da aglomeração já havia ido embora por livre e espontânea pressão da equipe do programa, que ordenou a desocupação do local para que eles pudessem desmontar as estruturas armadas. Apagaram as luzes, a bateria foi levada, a banda foi embora. Contando apenas com a iluminação comum dos postes, ficaram todos quietos. Cada um mergulhado em seus próprios pensamentos e Arthur provavelmente fazendo reza brava pro celular tocar. Esse silêncio foi interrompido quando um risco vermelho passou. Na verdade era um carro em alta velocidade. Na verdade... era o carro de Nick. Ele perdeu o controle da direção e o carro girou sobre a pista molhada. Só parou quando acertou em cheio a trazeira do Renault Sandero azul de Chay, que avançou e por questão de milímetros não bateu na trazeira do Nissan vermelho de Arthur. Duas viaturas cercaram o carro e um rapaz saiu correndo, os outros dois foram rendidos ali mesmo.
Arthur estava todo torto, virado pra trás para observar. Ele e Chay estavam em choque, paralisados demais pra mexer qualquer músculo. Ninguém tirava os olhos da cena! Eles viram uns policiais se aproximando e perguntaram de quem era o carro batido. O proprietário deveria tomar algumas providencias imediatamente, então Chay pediu um guincho e foi junto com eles até a delegacia.
- Eu vou com você se quiser – Melanie tocou o braço dele.
- Não, aquilo não é lugar pra você ir! E eu não sei se vou demorar... você pode ir pra casa, ou me esperar no meu apartamento.
- Ok. Qualquer coisa liga! – se despediram com um beijo rápido e ele foi.
O rapaz que havia fugido correndo também foi capturado e as viaturas estavam prontas pra ir embora.
O resto das pessoas permaneceu sentada onde estavam. Todos estavam chocados pela violência da cena, o barulho da batida... Pelo menos ninguém se machucou! Arthur se distraiu tanto que até esqueceu por que estava sentado naquele palco. Mas quando foram começar a desmontá-lo, ele se lembrou.
Arthur e todos os seus amigos foram chamados pra voltarem ao trailer, onde encontraram Cora. Ela olhou Arthur com compaixão. Ele se sentiu o homem mais fraco do mundo por merecer receber um olhar assim. Um olhar de quem está vendo alguém miserável e sem sorte pra nada. Arthur Aguiar nunca se sentiu tão no fundo do poço.

- Ahn... – Lua abriu os olhos devagar com uma luz forte na cara, era o farol de um carro que vinha na mão contrária.
- Lua? Que bom que ta acordando!
- Onde... onde eu to? Pete? – ela olhou pro lado com a mão na cabeça e viu Peter dirigindo, depois passou a mão pelo cinto de segurança, olhou um pouco ao redor e viu que estavam no carro dele. Aquelas cenas pavorosas voltaram à lembrança e ela sentiu o estômago embrulhar com isso.
- To te levando pra sua casa. Você disse que queria ir pra casa, não disse? Você se lembra, né?
- Relaxa Pete! Eu lembro... Não sou uma maluca, eu só apaguei! – 'Por que eu não to surpresa? Certo, esses apagões estão começando a me preocupar!’ ela pensava olhando pra janela. O carro parou no semáforo e ela pôde ver uma loja com aparelhos de tv ligados. Todos no mesmo canal. O programa da Cora estava sendo interrompido por alguma notícia urgente que não podia esperar. Por um segundo ela quis gritar para Peter dar meia-volta e levá-la ao parque, mas só de pensar nisso, uma pontada forte na barriga a fez desistir até de respirar por uns momentos. Sentiu que estava sem forças e qualquer coisa que ela quisesse fazer teria que esperar o dia seguinte. Cora's Interview foi substituído rapidamente pela vinheta do jornal. Estavam anunciando a bagunça feita nas ruas de Londres após um assalto a uma joalheria. Mostraram imagens de um cinegrafista amador e ela viu o Fiat vermelho em que estava Delilah. Peter olhou pra Lua e viu que ela estava com a cara praticamente grudada no vidro da janela.
- Err... você ainda não me respondeu, desde quando você e Arthur...
- Olha, o sinal já abriu. – Lua viu que um carro já buzinava atrás deles e chamou a atenção pra fugir da pergunta. Ela não queria falar de Arthur com Peter por se sentir desconfortável. Por saber que os dois nunca foram melhores amigos. Peter se lembrava que quando Arthur foi embora da escola, ele estava no segundo ano e achou ótimo porque Arthur e Lua só andavam juntos pra cima e pra baixo então não dava pra ele se aproximar da garota.
‘Será que se envolveram enquanto eu e Lua ainda estávamos juntos? E se ela me traiu?’ ele pensava sério e sem tirar o olho da estrada. Como se seu único medo na vida de repente fosse esse.

- Certo. Ela não vai ligar, muito menos aparecer. – Arthur guardou o celular desanimado vendo que não tinha nenhuma ligação perdida. Já estavam indo pra casa e antes de entrar no carro Arthur olhou ao redor, até onde seus olhos alcançavam. Tinha esperança de ver uma garota caminhando ao longe, tinha esperança que Lu ainda pudesse chegar.
- Talvez ela tenha dormido! – Soph comentou olhando pra Mel – ultimamente ela ta dormindo feito uma tartaruga!
- Não, eu acho que ela não quer falar comigo mesmo. Quer saber, eu vou logo pra casa e dormir. Essa coisa de show improvisado na praça cansa muito... – Arthur deu a partida no carro e quem o observasse podia jurar que ele havia acabado de ligar o modo foda-se. ‘Tudo bem, agora é bola pra frente.’ Ele pensou e acelerou de uma vez, deixando aquela praça pra trás como uma lembrança ruim.


No meio da noite úmida, um par de tênis brancos sujos de lama caminhavam pelo mato. Abrindo caminhos entre as folhas, pisando em gravetos, produzindo sons na floresta escura. Delilah estava com medo. Se perdeu no mato. Ela teve o azar de tentar fugir da polícia por ali, se escondeu tão bem que nem ela mesma sabia onde estava. Não sabia mais o que era real. Preferia ser encontrada por policiais, de preferência, o mais rápido possível.

Delilah’s point of view ON

Eu não sei o que está acontecendo. Parece que eu to presa nessa bosta! Se o Peter não tivesse chegado, ele não teria me atrapalhado. Se bem que ele provavelmente vai levar a garotinha pra casa e se ele for esperto como eu acho que é, vai dar uns catas nela! Ela já ta grogue mesmo, não deve ser difícil catar uma menina assim... E se o Arthur visse, ia resolver todos os meus problemas, olha só que maravilha! Eu sou foda! Já fugi da polícia duas vezes hoje, bati numa inimiga, recuperei minhas jóias! Tudo num dia só! Acho que o dia rendeu assim por causa daquelas balinhas! To aqui pensando seriamente em tomar logo umas oito amanhã!
"grrrh"
Quê?
O que foi isso?
Ouvi um barulho! Eu ouvi!
"grrrrgrrrrr"
AAAAAAAAAAAA MAMÃE! Calma Delilah. Pensa, pensa. O que pode ser isso? Hm... ta parecendo um bicho. Mas que bicho? Ah, minha cabeça ta doendo, essa porra toda ta girando, meu coração parece que vai explodir dentro do meu peito, feito um silicone barato. Eu só quero sair daqui antes que isso aconteça!

Delilah’s point of view OFF

Delilah se movia agitada por entre os troncos das árvores. O cabelo tinha algumas mexas coladas no rosto devido a um suor estranho que começou a brotar de repente por todos os lados. Foi ficando difícil respirar, a boca estava seca e não dava pra ver quase nada naquela escuridão. Quando estamos no escuro, os ouvidos assumem o controle, passando a registrar os mínimos ruídos à nossa volta. Ou talvez isso seja apenas uma conseqüência do medo. Seja como for, Delilah ouvia grunhidos. E eles ficavam cada vez mais próximos.
A escuridão se devia às copas das árvores, mas em alguns pontos o brilho da lua conseguia chegar e dava pra ter uma boa visão. Apesar disso, Delilah sentia seus olhos embaçados e por mais que esfregasse, não conseguia melhorar. A essa altura, ela já não entendia nada daquela caminhada sem sentido. Chegando até a esquecer, por alguns segundos, como foi parar ali.
Num dado momento, mesmo com sua visão embaçada, ela pôde ver dois pontos brilhantes num lugar alto. Não fazia idéia do que seriam aqueles pontos de luz, mas os achou hipnotizantes e começou a caminhar até eles. Caminhou com dificuldade, tropeçando nos gravetos e ao chegar mais perto, a surpresa não foi boa. Era um animal em pé sobre uma rocha. Um animal de grande porte que ela não se preocupou muito em identificar a espécie porque preferiu sair correndo a ficar ali pensando.
  Uma caçada começou e ela corria entre as árvores como se não fosse a mesma que estava caminhando com pequenos passos alguns segundos atrás. Reconhecia os mesmos grunhidos famintos de antes, só que agora correndo atrás dela. E correu como nunca havia corrido antes, desesperada. Após vários metros percorridos com aquela coisa perseguindo-a, uma dor começou a se espalhar pelo braço esquerdo. Era como a mãe de todas as câimbras. O ritmo da corrida diminuiu involuntariamente com isso e o que quer que estivesse atrás dela, a alcançou. Delilah tombou sentindo um peso enorme sobre suas costas. Ouviu o barulho de suas roupas sendo rasgadas e gritava por socorro numa última esperança de ser salva daquilo. De repente ficou muito curiosa pra saber o que seria "aquilo" e já que era pra morrer então que morresse olhando nos olhos "daquilo".
Com muito esforço ela se virou de barriga pra cima e viu. Era o contorno de uma cabeleira grande e despenteada. Focinho largo, boca enorme cheia de dentes... Ela só estava vendo um vulto, mas concluiu que era um leão. Um - faminto - leão.
Você é pra sempre a Devaca.
Escutou essa frase num sussurro, mas não havia nenhum ser vivo ali, além do leão. Delilah pensou seriamente na hipótese do leão ter falado! O animal soltou um bafo muito próximo ao rosto dela e depois deu passos para trás. Ele chegou aos pés dela e passou o focinho por toda a extensão da canela, como se estivesse apreciando o cheiro da refeição antes de saborear. Delilah apertou os olhos e só se passou um segundo até ela escutar o barulho de sua carne sendo arrancada. Junto veio a dor... Ela desejou morrer rápido para não continuar sentindo. Os gritos puderam ser ouvidos a quilômetros de distância.

Policial point of view ON

Prendemos os assaltantes da joalheria, mas ainda falta uma. É uma moça, Delilah Miller.
Um dos rapazes que prendemos disse em sua confissão que a tal moça é irmã dele e mentora do crime. Ela não entrou no carro junto com ele, mas nós vimos quando entrou na floresta da Rua Franklin. Eu e mais um colega encostamos o carro por ali. O carro de um jornal e outro de uma emissora de rádio chegaram atrás de nós. Às vezes esses caras são tão enxeridos que me dá vontade de mandá-los pra puta que pariu. Eles prometeram não sair dos carros e assim é melhor, se viessem, teríamos que cuidar deles também.
Pelos postes de luz dava pra ver uma chuva fraca caindo. Será que minha caçula levou agasalho pra faculdade ou será que eu esqueci de avisar pra ela que seus agasalhos chegaram da lavanderia hoje? Oops! Foco agente Lane! Você está trabalhando!
Eu me perdi em pensamentos cotidianos e meu colega John provavelmente se perdeu nos dele. Nós dois estávamos calados, apenas checando as pilhas das lanternas e a munição das armas quando ouvimos gritos. Eram gritos apavorados, como eu nunca ouvi antes.
Corremos em direção aos gritos, que vinham de dentro da floresta. Eles foram ficando estranhos, como se a pessoa estivesse se afogando. Uma voz afogada por líquidos, formando sons borbulhantes. Conforme íamos nos aproximando, outros sons vinham à tona, como um barulho enfurecido de folhas secas. Achamos a pessoa e minhas suspeitas se confirmaram, era a moça fugitiva. Delilah se debatia e agora sua voz já não estava tão forte. Ela pulava com o corpo inteiro e batia com as costas no chão. Tinha vários tremeliques e o líquido que a afogava era o próprio vômito. Ao que parece, é uma convulsão, talvez overdose... Os médicos saberão identificar melhor que eu. Pedi pra Jonh mantê-la sentada, assim ela parava de se afogar. Ela falava algumas coisas, devia estar com alucinações.
Carregamos a garota, que continuava se debatendo e tentando falar. Um de seus braços estava dobrado, com a mão torta. Jonh mediu o pulso dela enquanto eu dirigia apressado, ele disse que estava fora do normal. Batimentos acelerados, talvez esteja enfartando!
Deixamos a garota com os paramédicos e não sabíamos se ela estava consciente, pois havia parado de falar e só tremia, com menos força. Nós, policiais, precisamos ser de tudo um pouco. E precisamos de coragem e estômago pra ver essas cenas de jovens morrendo todos os dias. A minha filha tem a idade dessa garota e... eu nem quero imaginar. Eles confirmaram que ela estava intoxicada. Começaram os procedimentos, mas ela não resistiu.

Policial point of view OFF

Arthur, os meninos e as amigas de Lua chegaram ao condomínio sem entender ainda o que havia acontecido direito. Não tinham outros assuntos em que pensar. Ou lembravam da perseguição policial, ou da surpresa por Lua não ter aparecido nem no último minuto.
- Acho que vou pra casa, quero ver se a Lua dormiu mesmo! Caso ela tenha feito isso não tem problema, a gente tem o programa gravado, eu coloquei pra gravar antes de sair! – Melanie riu com cara de ‘eu sou ou não sou um gênio?!’
- Quer que te leve? – Micael se ofereceu vendo que Chay não voltaria tão cedo, Pedro estava mais pra lá do que pra cá e Arthur foi direto pro apartamento dele.
- Yep!
- Você vai ficar aqui, Soph? – ele se virou pra Sophia, que concordou com a cabeça.
- Vou te esperar voltar e acho que vou dormir por aqui mesmo...
- Ray?
- Também vou ficar, Micaelzito.
- Então vamos Mel, se despede aí dos seus amigos alcoolizados que beberam o tempo todo.
- Hey Micael, pode deixar que eu levo a Mel. – Arthur já tinha ido ao seu apartamento e voltou ao de Micael.
- Arthur, você não acha melhor deixar pra vê-la amanhã? – Micael o puxou de canto, com a mão em seu ombro.
- Não, Micael. Juro que não estou indo pra discutir com ela é só que... Ah, depois eu explico!
- Ta bom... vai lá.
Arthur não quis explicar por que quis ir, se antes dizia estar tão cansado. É que o cansaço desapareceu quando ele viu um papel assinado pelo Peter, grudado em sua porta.
Cante o quanto quiser!
Ela não vai aparecer aí porque não pode estar em dois
lugares ao mesmo tempo.
Então certamente ela prefere se despedir de mim,
que nunca a traí com a Delilah no sofá da minha casa!
Você já perdeu! Aliás, nós dois perdemos, mas pelo menos...
A DESPEDIDA É MINHA -he!



Peter já estacionava o carro na frente da casa de Lua. Ela continuava olhando pra janela, sem dizer nada. Os dois desceram e Pete foi com ela até a porta da casa.
- Desculpa pelo barraco na festa do outro dia. É que desde os tempos de escola eu já não ia com a cara do Arthur e nem ele com a minha.
- Hm... – ela soltou algum som em desânimo representando um"Tanto faz" resumido.
- Será que eu podia entrar? É porque... se você não tiver jogado fora... tem um casaco meu que deixei com você naquele dia que pegamos chuva, lembra?
- Uhum. Pode entrar e esperar aí na sala, vou procurar. – ela abriu a porta e deu espaço pra ele entrar.
- Tenho boas lembranças dessa sala de estar. – ele sorriu maroto caminhando em direção ao sofá enquanto Lua rolou os olhos pelas costas dele e subiu as escadas.
‘Hanhm ok... onde foi mesmo que eu deixei o maldito casaco? PQP! Se as coisas não pararem de rodar eu não vou conseguir achar!’ Ela chegou ao quarto e parou na porta de novo. Levou uma das mãos à testa, a cabeça estava pesada e manter os olhos abertos começou a virar desafio, assim como ficar em pé sem cambalear! Abriu a porta do guarda-roupa e sem querer esbarrou com o braço em um monte de coisas que caíram no chão fazendo barulho. Tinha um diário que ela já não mexia há tempos. Havia muito de Arthur nele, inclusive fotos. Esqueceu de queimar essas... Ela olhou pra baixo vendo o diário aberto e algumas fotos que estavam guardadas entre suas folhas escapando como se quisessem liberdade. Teve um certo alívio em saber que aquelas haviam escapado do fogo. A idéia de queimar tudo foi mesmo um impulso imbecil, quem nessa vida queima suas próprias fotos?!
Não demorou e Peter apareceu na porta.
- Deixa que eu te ajudo! – ele correu até a garota, que estava abaixada recolhendo as coisas. Abaixou-se também de frente pra ela.
- Não precisa... – Lua falou baixinho, mas ele já estava lá e não deu ouvidos. Pegou uma foto de Arthur e olhou pra ela, cerrando os dentes com a boca fechada. Não disse nada e enfiou aquela foto entre as folhas do livrinho. Depois ia pegar a última foto que estava no chão, ela também foi e as mãos deles se encontraram. Ela o olhou e ele estava aproximando o rosto, então virou a cara e ficou de pé.
- Já falei como te achei linda assim que te vi de novo na festa? – ele falou num tom de voz um pouco baixo e sedutor ao mesmo tempo. Se levantou ficando de pé bastante próximo a ela.
- Err, melhor eu achar logo esse casaco. – desviou os olhos do olhar dele e quando ia se virar pro guardarroupas de novo, ele a segurou de leve pelo braço.
- O casaco é o de menos.
- O que... o que você quer Pete? Ainda não entendi.
- Eu to vendo que você bebeu bastante hoje, mas acho que não é difícil perceber o que eu quero.
- Desencosta do meu braço vai... – ela falou com a voz meio mole, Peter aproveitou a moleza dela e deu um puxão trazendo-a pra mais perto, os dois corpos ficaram colados. A respiração dele batia no pescoço dela provocando uns arrepios na espinha. A mão que ainda segurava o braço de Lua foi deslizando até chegar no pulso dela. Pete guiou a mão dela por baixo de sua blusa, fazendo-a deslizar pelo peitoral. Em seguida soltou o braço dela e tirou a camisa. Lua mantinha os olhos fechados e se sentia cada vez mais tonta, sem saber se era a bebida ou aquela cena que estava deixando-a assim. Ao abrir os olhos, viu que Pete aproximava o rosto. Estava meio escuro, mas ela podia jurar que estava vendo os olhos castanhos de Arthur ali ao invés dos olhos negros de Peter! Ficou encarando aqueles olhos meio sem reação e viu que miravam sua boca, não fez nada e o deixou beijá-la.

- Obrigada por me trazer, Arthur! – Mel deu um beijo na bochecha dele.
- Vinte reais! – ele estendeu a mão.
- Você já é rico! Tem que trazer os amigos de graça mesmo! – Mel riu e ele também. Ficaram quietos depois.
- Será que...
- Você...
Eles falaram ao mesmo tempo e riram. Se referiam à mesma coisa.
- Err... será que... você acha que eu... devia entrar?
- Não sei! – Melanie mordeu o lábio e ficou pensando. Acabara de ver o bilhete que Arthur mostrou.
- Você não acha que ela estaria com o Pete, acha?
- Não mesmo. Quer saber, entra aí! Prova que é homem!
- É! Eu sou homem porra! Tenho coragem de entrar e pegar minha mina!
- Assim que se fala. – Melanie saiu do carro e viu que ele demorava pra abrir a porta.
- Espera! – uma expressão medrosa tomou conta do rosto dele – E se...
- Ah Aguiar, vá se foder então. – Mel reclamou com humor na voz.
- Ok, já to entrando Miss Simpatia!
Ele foi caminhando bem atrás dela. Parou um pouco pra observar a janela do quarto de Lu, a luz estava apagada. A porta da frente estava aberta e Melanie estranhou isso... ‘Luzes apagadas... o que essa tv faz ligada? Onde será que ela ta?’ Pensou e começou a subir as escadas.
- Não! Você espera aqui! Ela pode estar se trocando, pode estar de toalha, é melhor você ficar aí. – Melanie sussurrou e Arthur rolou os olhos.
- Não tem nada que eu não tenha visto ali!
- Eca! Não quero saber das coisinhas feias que vocês fazem! Você vai esperar aqui e ponto. Ah, desliga essa coisa aí.
Ele obedeceu e ficou ao pé da escada de braços cruzados. Melanie subiu devagar pra não fazer barulho. Ela não estava achando que realmente ia encontrar Peter com Lua, mas se isso acontecesse, preferia ver antes de Arthur.

- Uma estrada com sinais verdes, Arthur! – Lua sussurrou parando o beijo e dando risadas. Pete sentiu agulhas na garganta com isso. Estava tudo muito embaralhado na cabeça de Lu, de repente ela queria muito que Arthur estivesse por perto... Aquela tontura chata aumentava e a dorzinha na barriga também. Ela só teve tempo de passar um braço envolvendo a própria cintura e ver Melanie parada na porta boquiaberta antes de perder os sentidos outra vez.
- O que você fez com ela? – Mel fechou a porta e foi entrando no quarto. Pete segurava uma Lu molenga nos braços.
- Eu nada! Ela ta assim porque bebeu muito!
- E o que você ta fazendo aqui? – ela pôs as mãos nos quadris.
- Err... é melhor colocá-la na cama antes de começarmos a discutir, não acha?
- É. – Melanie cruzou os braços e ficou assistindo com olhares desconfiados Peter carregá-la até a cama. Depois ele caminhou até a camisa que estava jogada no chão e se abaixou pra pegar.
- Você espera aqui. – Melanie pôs a mão no ombro dele para impedi-lo de sair do quarto. Lembrou que Arthur estava lá em baixo e nessas circunstâncias era melhor que ele não visse Peter.
- Como? – Pete não entendeu e ela não explicou mais nada. Apenas saiu e trancou a porta por fora.
Mel desceu as escadas sem saber se estava fazendo a coisa certa! Mas Arthur só ficaria mais triste se visse o outro lá, sendo que aparentemente não aconteceu nada de mais.
- Nossa! Você viu? Eu vi agora, teve um assalto e foram aqueles caras que bateram no carro do Chay! – Arthur contava todo afobado com o controle da tv na mão e Melanie ficou com medo que Peter escutasse sua voz. Se os dois percebessem a presença um do outro iam querer causar confusão e a última coisa que ela queria essa noite era briga de homens! Fingiu desinteresse na notícia.
- Ah é? Hm...
- E aí eu posso subir, Miss Simpatia?
- Mas que porra é essa de Miss Simpatia? Você deixa de ser besta hein!
- Ta... eu posso ir lá ou não? Tem alguém aí?
- Tem. Uma garota que dorme profundamente com um livro aberto no colo.
- Ah. E então...
- É Arthur, aquela coisa do Peter foi só pra te assustar. Nem sei por que você dá ouvidos.
- É, tem razão. Eu vou indo então... Se a Lu acordar, mostre o programa pra ela!
- Pode deixar!
Melanie o acompanhou até a porta e suspirou ao fechá-la. Subiu de novo ao quarto, com uma leve preocupação por ter deixado o lobo mal sozinho com a garota...
Ela abriu a porta e viu Peter sentado na cadeira do computador, batendo um dos pés no chão.
- Pronto. – Mel sussurrou e acenou pra ele sair do quarto.
- Você é louca?! – Pete levantou e falou num tom de voz um pouco alto.
- Fala baixo animal, não quero que ela acorde!
Os dois foram saindo do quarto em seguida sem falar nada até chegar na sala de estar.
- Vamos... pode responder! O que veio fazer aqui depois de ter terminado com a menina dizendo que tava fodendo outra e não sei mais o que?
- Hey! Não foi bem assim que eu disse pra ela! – Pete negou fazendo cara de horrorizado.
- Que seja... Mas não muda os fatos.
- Certo. Mas era mentira.
- Hum?
- Eu tava com medo, ta legal? Namoro à distância não é a coisa mais maravilhosa do mundo e tava começando a me cansar… Terminei com ela antes de traí-la de verdade!
- Olha que nem era tão "à distância" assim! Você a via quase todos os finais de semana!
- Eu sei… Mas às vezes não dava pra eu vir e outras vezes eu chegava aqui e ela tava ocupada. Isso tudo foi me estressando, é tão difícil entender?
- Tudo bem, eu já entendi que você fez isso antes de pôr os chifres nela ou ser chifrado e tal. Mas e aí, por que ta aqui agora? Por que brigou com Arthur? Se arrependeu por acaso, gosta dela ainda?
- Na verdade não é bem isso… Eu vim passar uma semana na casa do meu pai, e eu tava me sentindo sozinho. – ele passou a mão pelo cabelo, num ato meio que de costume e Mel viu o pulso enrolado com gaze. Peter respirou fundo e continuou – Acho a Lu muito hot, saca! Eu não to ficando com ninguém agora e de repente… err… já que eu estou de passagem por aqui, achei que a gente pudesse ficar. Você sabe há quantas semanas não beijo ninguém?! É osso!
- Não interessa! Você só queria uma ficadinha? Por acaso pensou que se ela te amasse ainda, você estaria machucando a coitada, trazendo falsas esperanças?
- Você sabe que ela não me ama assim. Falando sério eu não pensei nisso mesmo porque eu acho que ela nunca me amou que nem ama o Arthur. – Ele deu de ombros.
- E você?
- O que? Eu? Não, eu não amo Arthur! – ele brincou.
- Pete!
- Ta bom, ta bom! Amei aquela garota por um tempo, mas acho que acabou… Se eu tiver forçado a barra, espero que ela me desculpe.
- E o bilhete que você deixou pro Arthur? Se você queria dar um susto nele, parabéns, conseguiu.
- Acho que eu exagerei um pouco, mas não vou fazer mais nada. Juro.
- Ok. Só uma coisa...
- O que, você é da polícia por acaso? Vamos terminar esse interrogatório, Veronica Mars?
- Qual é Peter? Quem não deve não teme! Eu só queria saber se você e a Delilah andaram juntos ultimamente...
- Eu e quem?
- Vi vocês conversarem naquele dia da festa, depois que vocês saíram e ficaram sentados lá fora. Eu estava um pouco bêbada, mas lembro!
- É, mas eu não a vi mais.
- Ta bom Peter, vai lá, vai...
Melanie acompanhou Peter até a porta e abriu pra ele. Antes de sair, ele hesitou um pouco.
- Err... Vê lá o que ela tem, ok? Não me parece muito bem. – e ele sabia bem o porquê.
- Deve ser a pressão baixa. Pode deixar que eu vou medir, tem o aparelho aí…
- Diga pra Lua que eu estou voltando pra Oxford amanhã, que peço desculpas pelo barraco na festa e tudo mais… Já falei isso pra ela, mas não sei se ela vai lembrar! – ele se despediu e saiu andando até seu carro.
Peter foi embora e ela fechou a porta. Não viu que Arthur estava escondido por ali. Só observando...
Se sentiu traído também pela amiga. Por que ela acobertou Peter? Foi pra casa com várias perguntas martelando na cabeça, não podia acreditar que Peter estava saindo da casa da Lua! Como ela pôde depois de jurar de pés juntos que não gostava dele?

Arthur’s point of view ON

Ok então. Se a despedida foi com o Peter eu não vou nem falar mais nada. Depois de tudo que eu fiz pra ela me perdoar, será que ela acha fácil ficar se humilhando na televisão?! Isso tirou até meu sono. Vou sentar aqui e escrever uma música... Quando estou com raiva elas saem ótimas!
Fui pro meu quarto e fiquei tentando escrever. Linhas e linhas... Por incrível que pareça, as palavras não tinham ódio! Pelo contrário. Um verso ficou assim:

Com um olho no relógio
E o outro no telefone
São 5:19
Estou me sentindo sozinho
Se eu pudesse falar com você
Eu queria que você soubesse
Que estou me sentindo sozinho
Mas não estou indo embora


Era realmente essa hora da manhã, cinco e pouco. E eu sozinho. Como ainda não tinha sono, preparei um leite com chocolate e fui pro sofá.
Merda, eu sentei em cima do controle. Que mania de deixar essas bostas no sofá! A tv ligou e eu já ia desligar, mas vi a apresentadora gostosa do jornal e... Hum?! Uma foto da Delilah ali no cantinho?

- O assalto à joalheria provocou caos na noite passada. Três integrantes da quadrilha foram presos. 
A última era Delilah Miller. Morreu com uma crise de overdose ao chegar no hospital.


Delilah morreu? Ela estava fazendo um assalto? É coisa demais pra minha cabeça...



Capítulo 29 – The end's beginning



[n/a: uma música vai tocar no final do capítulo ^^ quem quiser ir carregando: Shattered/Trading Yesterday]


Amanheceu. Com exceção de umas poucas pessoas, o mundo parecia bem.
- Pedro? – Rayana apareceu na cozinha sentindo um cheirinho bom de panquecas, Pedro estava de costas, no fogão.
- Oi Ray! Eu sei que não viro as panquecas tão sexy quanto você, mas espero que elas fiquem boas!
- Quem disse que não está sexy assim só de boxer?! – ela se aproximou e o abraçou por trás, começando a dar pequenos beijinhos na nuca dele em seguida. Pedro ficou nervoso com isso e deixou várias panquecas caírem no chão.
- Ai droga... – ele falou baixinho e Ray se afastou sorrindo.
- Pronto, agora estamos quites!
- Hey! Isso foi só de vingança?
- Yeah, baby! Você me fez derrubar uma panqueca uma vez, lembra? – ela falou rindo e ele se aproximou. Pegou Rayana pela cintura e a beijou antes que pudesse pensar... Ficaram se beijando até sentirem um cheiro de queimado. É isso, as panquecas que não caíram no chão agora estavam queimadas.
- Err... – Pedro coçou a cabeça meio sem jeito.
- Vamos lá pra casa! A Mel sempre compra uns donnuts deliciosos que vende lá perto...
- Ok! Então vamos logo porque eu to varado! – ele passou a mão pelo estômago e ela lhe deu um selinho, depois ele foi se vestir enquanto ela foi arrumar os cabelos.


Arthur dormia no sofá e a campainha começou a tocar histérica, ele tomou um susto e caiu no chão. ‘Porra...’ Foi só o que ele pensou ao abrir os olhos no tapete.
- Chay? O que quer? – ele atendeu com a cara amassada.
- Queria ver se você tem algum remédio pra dor de cabeça.
- Ahn... devo ter sim, entra. – deu espaço pro amigo entrar e fechou a porta, depois entrou no quarto com Chay atrás e foi até o banheiro.
- Cara, o que é tudo isso? – Chay observava todo o quarto enfeitado. Flores no criado mudo, uma parede com bilhetinhos coloridos pregados, ele viu até uma bexiga no teto e nem quis imaginar pra que ela serviria.
- Preparei porque, err... achei que Lua pudesse aparecer ontem. – ele disse fazendo careta. Voltou do banheiro com a cartela de remédios na mão.
- Puxa, que pena, cara. – Chay deu batidinhas no ombro dele e pegou a cartela – O que você vai fazer agora?
- Nada. Ela vai se mudar e preferiu passar a última noite com o Peter!
- Sério?
- É, eu vi o Peter na casa dela...
- E aí, rolou briga?
- Não, o filho da puta nem me viu.
- Então você já desistiu dela?
- Eu? Não... ela que desistiu de mim, ou talvez nem goste de mim tanto assim.
- Então vai deixar a Lua morar no Canadá pra sempre, sempre, sempre? – Chay falou a última palavra três vezes de um jeito exagerado e engraçado.
- Eu quero mais é que o Canadá inteiro se exploda, exploda, exploda! – Arthur repetiu os gestos do amigo e os dois acharam graça. Depois continuou normalmente – Vou tocar minha vida, me dedicar à banda e se de repente eu conhecer alguém legal, estamos aí...
- Hm, você me pareceu tão animado falando isso!
- É... eu devo estar com fome! Vem, vamos tomar café e depois eu volto aqui pra arrumar isso tudo.
Antes mesmo que pudessem chegar à cozinha, o telefone começou a tocar. Arthur se aproximou do aparelho e viu que o número era da casa de Lua. Ou era ela ligando ou era Melanie, já que só estavam as duas lá. Mais provável que fosse a segunda opção, mas no momento dava na mesma porque ele não queria falar com nenhuma.
- Ow Chay, vai procurando alguma coisa nos armários aí que eu vou atender aqui no quarto.


Melanie chegou no quarto de Lua e não a viu na cama, viu a porta do banheiro fechada, então pegou o telefone para ligar pro Arthur enquanto esperava.
Ele atendeu após vários toques e sabia que era ela.
- Que é Melanie?
- Que surpreendente a sua delicadeza pela manhã, Aguiar...
- Garanto que não tem nada mais surpreendente do que ser enganado por uma amiga.
- Do que você ta falando?
- Você me enganou, aquele melacueca tava aí e você não me disse! O que foi? O que a Lua fez pra te subornar?
- Ela não fez nada, ela nem me viu! Eu só não quis te contar tudo naquela hora porque você só ia ficar nervoso e...
- E por acaso você acha que é legal isso que você fez?
- Espera aí, mas que inferno! Eu te liguei pra contar agora.
- Num quero ouvir mais nada também.
- Sabe que você ta sendo o maior otário, né? Eu ainda sou sua amiga.
- De uma amiga que deixa o Ricardão fugir pela janela eu não preciso.
- Você acorda sempre insuportável assim? Coitada da Lua!
- É, coitada... ainda bem que ela vai pra bem longe!
- Ah, vai dá o cu! Depois eu te ligo.
Depois disso, Arthur desligou. Mel voltou a entrar no quarto de Lua, pôs o telefone na base e ficou pensando no que fez, se fez certo... Será que valeu a pena evitar uma confusão àquela hora da noite, com a Lu mais pra lá do que pra cá e ter uma confusão maior agora?
Ela sentou na ponta da cama pensativa e nem percebeu a amiga sair do banheiro.
- Oi, bom dia! – Lua sentou na beirada da cama ao lado de Mel.
- Bom dia, dormiu bem?
- Mais ou menos...
- Você se lembra de alguma coisa da noite passada? – Mel perguntou e Lua mordeu o lábio inferior olhando pros lados.
- Lembro que resolvi sair logo depois que vocês saíram.
- Você foi pra onde? Não falou que ia ficar em casa?
- Falei, mas o armário estava tão necessitado de guloseimas que me deu tristeza e eu saí pra andar na rua – ela deu de ombros e a outra encarou um pouco o chão. ‘Ela não assistiu, por isso não apareceu!’ Mel pensou e deu um pequeno sorriso de cabeça baixa.
- Então... você encontrou seu ex na rua, né? – falou voltando a olhar pra Lu.
- Uhum. – ela nem sabia como começar a falar sobre o que aconteceu de verdade. (In)Felizmente não havia muitos hematomas no rosto, Delilah atingiu mais o abdômen.
- Ahn. Ele falou que você bebeu bastante. Ele te trouxe pra casa?
- Trouxe, você o viu aqui?
- Vi. Você estava com ele, err...
- É... eu já lembrei, nem precisa comentar!
- Por que você o deixou se aproximar? Quis ficar com ele?
- Não. Eu tava bêbada e tonta, de repente o rosto dele chegou perto do meu e eu, sei lá, acho que pirei. Comecei a ver o Arthur... – Lua falou a última frase meio baixo, envergonhada em contar sobre a alucinação que teve e a amiga achá-la maluca.
- Own! Você viu o Arthur! Por que acha que isso aconteceu? Alguma coisa te fez lembrar dele?
- Tudo bem Melanie, é mais fácil você perguntar de uma vez se eu assisti a Cora!
- Ah... então você assistiu? – Mel ficou sem graça por não ter conseguido jogar indiretas que não fossem tão diretas.
- Uhum. Tinha uma tv ligada lá no pub onde fui.
- E...?
- Ai Mel... – o rosto dela se desmanchou. Uma fina camada de água foi surgindo na frente dos olhos enquanto ela mordia o lábio inferior. Apesar de ter amado tudo que Arthur fez, não gostava de lembrar daquela noite. – Aconteceu um monte de coisas e a única parte boa dessa porra de noite foi vê-lo na TV!
- Minha nossa! O que aconteceu?
- Foi assim... Eu assisti o programa no pub e vi a parte que ele cantou no parque. Eu ia lá.
- Você ia?! Que lindo ia ser! Por que não foi? Sua tratante, ficamos te esperando!
- Delilah me achou no meio da rua e ficou me atormentando.
- OMG! O que ela fez? Vocês brigaram?
- Por que quando eu digo que vi a Delilah todo mundo já pergunta se teve barraco?
- Porque é o que acontece, não é?
- É! – Lua admitiu com um risinho.
- Mas e aí? Você com certeza a deixou hospitalizada, não foi?
- Não Melanie... Dessa vez ela teve ajuda de amigos. Seguraram meus braços.
- AAA, MAS QUE FILHA DA PUTA!
- Quem? Eu? – Rayana apareceu na porta do quarto.
- Oi Ray! – Lua sorriu.
- É, você mesma! Devia ter vindo passar a noite aqui!
- Por quê? O que ta rolando? Quem é esse povo lá fora? O Pedro me trouxe aqui, mas nem conseguiu entrar ainda!
- Que povo? – Mel olhou Lu e ela deu de ombros. Rayana apontou a janela e as duas foram olhar. Quando viram tomaram um susto!
- Quem são essas pessoas? – Lua se virou pra Melanie, que estava chocada.
- E você vem perguntar pra mim? Isso é pra você! Olha as faixas, cabeça de couve-flor!
Havia mais ou menos trinta pessoas ocupando a rua, algumas seguravam faixas com umas frases. “Você é a fã #1” Lua leu em uma delas, “Faça um Aguiar feliz!” Melanie leu em uma outra.
- Gente, o que é isso?! – Lua ficou sem fôlego e a voz saiu baixa.
- É A LUA NA JANELA! – alguém gritou e deu pra ver flashs de câmera na direção delas, apesar da claridade do dia.
Lua e Melanie fecharam as cortinas rapidamente, assustadas.
- Será que eu devia descer? – Lua engoliu seco.
- Vai sim! Você tem fãs! – Mel começou a pular e bater palminhas, subiu na cama e Rayana quase a fez cair.
- Vai lá e ajuda o Pedro, please! – Ray pediu num tom de súplica que quase fez Lua rir.
Ela saiu do quarto e o telefone tocou após alguns segundos, Melanie atendeu. Dessa vez era o Micael do outro lado, queria saber da prima. Mel contou o que sabia.
Enquanto ela conversava com o Micael e Rayana escutava, Lu se arrumava um pouquinho no espelho da sala antes de abrir a porta. Quando abriu, se impressionou.
Parecia um choque maior ver as pessoas através da porta do que pela janela. Apenas duas garotas chegaram mais perto, as outras tiravam fotos pra todos os lados e outras tiravam fotos com Pedro.
- Oi, posso tirar uma foto? – uma menina ficou ao lado de Lua, a outra já estava segurando a câmera e tirou a foto antes que Lua tivesse alguma reação.
- É... quem... quem são vocês? – Lua perguntou meio desnorteada, enxergando apenas um borrão roxo, que segundos atrás era a luz do flash.
- Ah! Somos do...
- fã-clube do Arthur! – as duas responderam juntas, fofinhas.
- Certo, por que estão aqui mesmo? Vocês não deviam estar lá no apartamento dele? – perguntou como se fosse algo óbvio.
- Bom, – a garota que segurava a câmera abriu um sorrisão – a gente veio exigir que vocês dois fiquem juntos de uma vez! – ela disse sem desfazer o sorriso. Como se estivesse pedindo um presente ao pai.
- Mas... mas... – Lua não entendia nada.
- Ele só fica feliz se estiver com você, nós sabemos da história de vocês!
- Sabem? História?
- Uhum. Sabemos que vocês se conheceram pré-adolescentes, sabemos que fizeram tatuagens iguais, sabemos que se re-encontraram depois do colégio e sabemos que você o pegou com a ex dele, aquela nojenta. Mas sabemos também que ele te ama mais que tudo e o que nós queremos é vê-lo feliz! Nós vimos ontem, você precisa voltar com ele, Lua! E como boas fãs que somos, nos juntamos aqui pra te pedir isso!
- Wow... isso é... a coisa mais fofa que já vi! Que eu saiba, as fãs preferem que seus ídolos estejam solteiros! Não é? – Lua perguntou ainda um pouco confusa.
- Não em alguns casos, Lua... – a segunda menina também começou a falar – De que adianta um Arthur solteiro e infeliz? Ou pior, nas mãos de alguém como Delilah! A gente torce muito por vocês porque a história que tiveram não merece terminar assim!
- Ah... eu... eu sei! – ela tinha os olhos um pouco úmidos, não sabia se era por emoção, sono, dor, ou aquelas luzes de flash – Eu o amo muito também e garanto pra vocês que não vai terminar!
As duas garotas olharam pra trás, o resto do grupo prestava atenção e alguns assobiaram.
- Obrigada a quem veio aqui... eu preciso ir agora! – Lua entrou e enxugou uma lágrima no canto do olho, ao mesmo tempo que sorria sem acreditar. Permaneceu algum tempo encostada na porta fechada, esqueceu até do Pedro. Esse continuou distribuindo autógrafos.


- E aí! – Micael chegou no apartamento de Arthur e foi entrando porque a porta estava escancarada. Viu que Arthur e Chay comiam biscoito recheado e se juntou à eles.
- Fala Micael... – Arthur olhou pro amigo que puxava uma cadeira pra sentar.
- Ah, eu tava falando com a Melanie. Eu liguei agora há pouco.
- Hey! E você nem pra me chamar, cara? – Chay cruzou os braços.
- Se queria falar com a Mel, ligasse você mesmo, não é? – Micael falou e Chay ficou de tromba com um biscoito inteiro na boca.
- E por que você ligou? – Arthur perguntou tentando parecer desinteressado.
- Queria saber da Lua. Fiquei até preocupado com o que ela disse.
- O que foi?
- Primeiro Melanie contou que ela saiu ontem à noite.
- Hum... mas, ela...
- Sim, ela assistiu! Estava num pub. Mel contou que na hora que você terminou de falar...
- Espera Micael, não sei se quero saber dela.
- Ele quer xim, Micael! Voxê prexija ver como ele decorou o quarto, ficou uma gaxinha! – Chay, pra variar, de boca cheia. Arthur abaixou o olhar.
- Se é pra dizer que ela está de malas prontas pra viajar daqui a pouco não precisa nem falar Micael, eu sei reconhecer quando um jogo acabou e tudo o que eu preciso fazer é...
- Que droga Aguiar! Quer calar a boquinha, huh? – Arthur então parou de falar e olhou pra Micael – Ela ia até lá, cara! Só que Delilah a impediu.
- Delilah? O que ela fez? – Arthur perguntou depois de quase ter engasgado. Acabou de lembrar que viu no jornal que a Delilah estava morta. Isso ainda soava tão surreal.
- Parece que a Delilah teve ajuda de alguns amigos e acabou dando uma surra na Lu.
- Surra?! Como ela ta? Acha que eu devo ligar? Ir até lá?
- Ah, liga aí... – Micael pôs um biscoito na boca, enquanto Arthur encarava o mármore do balcão.


- Eii Lu! A Melanie acabou de me contar o que você contou pra ela! Desculpa, a gente nem imaginava o que você estava passando! – Rayana disparou a falar assim que viu Lua entrar no quarto.
- Ah, sobre a Delilah... – Lua deu uns passos arrastados até a cama e se jogou. Ela sentiu uma pontada na barriga e levou a mão até o local imediatamente.
- O que você tem? – Mel percebeu o jeito que Lu estava.
- São umas pontadas. Acho que a Delilah acertou alguma coisa aqui, eu tive essas dores à noite toda. Mas não se preocupem, já passou.
- Argh! Aquela barafonga! Barafonga mijona!
- Ray... não fica inventando xingamentos, usa os que já existem, flor!
- Não enche Melanie, eu to daquele jeito! Se eu cato aquela lá, não sei nem o que eu faço!
- É, eu também... Mas o que acontece agora, Lu? Se ela te bateu porque não queria que você fosse atrás do Arthur, então você não vai mesmo falar mais com ele?
- Não sei.
- Eu acho que ele merece que você enfrente a Delilah! Ela não vai te bater de novo, a sua mãe logo vai chegar e você tem a gente também pra te dar uma força! Eu acho que vocês dois merecem uma chance! – Ray terminou de falar entrelaçando os dedos perto do pescoço e curvando o rosto numa pose fofa.
- Eu acredito nele e no que ele disse... O problema é que eu tenho medo porque a Delilah não ameaçou apenas a mim!
- Como assim? Hey, você vai viajar ainda? – Mel lembrou de repente da viagem.
- Não sei também. – Lua encarava os desenhos no lençol como se as florzinhas fossem uma pintura muito surreal.
- Lu...
- Hum?
- Ele ficou esperando você ligar. – Ray falou e Lu sentiu um aperto no peito.
- Eu quis ligar. Eu quis ir... mas eu tinha coisas pra pensar antes de tomar essa decisão. Acho que escolhi o caminho errado ignorando a ameaça da Delilah.
- Ah, mas e daí? Ela te pegou, te deu uns soquinhos e você ta inteirona! Eu nem vejo machucados no seu rosto! – Melanie comentou de um jeito otimista.
- É que o foco dela não era o meu rosto. – Lua afirmou séria e as duas olharam pra ela meio desconfiadas. Enquanto olhavam, o quarto só não ficou em silêncio por causa das pessoas lá fora. O grupo de fãs já estava saindo porque alguns guardas apareceram, pois estavam congestionando o trânsito. Elas deixaram umas faixas no chão em frente à porta. O coitado do Pedro ainda estava sendo usado e abusado para tirar fotos.
- E aí, você vai explicar ou vai deixar a gente aqui nessa tensão?
- Err... ela queria acertar minha barriga.
- OMG! Será que ela quer que você fique mal do fígado? – Mel perguntou com uma cara assustada. Ray olhou atravessado pra ela e achou melhor nem comentar sobre o efeito que Chay estava fazendo nela. É uma treva essa mafagafização, pensou ela.
- Não, Mel... Meu fígado ta ótimo. Na verdade ela pensa em outra coisa.
- O que?
- É que talvez eu... esteja só um pouquinho, err... grávida.
- O QUÊ? OMG!
- P-pensando bem eu não sei, é que eu estou atrasada, sabe.
- OMG! – esse veio de Rayana. E foi um grito potente.
- E a minha ‘incomodação’ não é de atrasar!
- OMG! – esse de Melanie.
- Querem parar de falar My God e me dizer algo de útil?!
- OMG! Você tem certeza? Quer dizer... existe essa possibilidade?
- É, Mel. E a coisa ta tensa.
- Você disse que vocês dois não tinham... – Rayana movimentava uma das mãos antes de falar o verbo adequado.
- É, mas fizemos na praia.
- FIZERAM NA PRAIA?! O... – Lua tampou a boca dela quando ela ia dizer ‘oh my god’ de novo.
- Assim vocês estão me deixando mais nervosa! Eu nem sei se o que eu to falando é verdade, cara! De repente a minha ‘incomodação’ pode ter se tornado irregular de uma hora pra outra, isso não acontece?
- Acho que depende da menina, mas e aí?! Digo... vocês não se protegeram? – Rayana com um olhar zangado.
- Aham.
- Ah, então ta...
- É que eu acho que ela estourou.
- QUÊ? – as duas se surpreenderam.
- Só pode ser, né?! Eu até pensei nisso durante... bom, aquela hora!
- E você não disse nada? – Melanie se acabando de rir.
- Dizer o que? Ninguém imagina uma coisa dessas, numa hora como aquela! Eu não quis parar tudo por causa disso, achei que fosse impossível... E depois ele ia ficar nervoso, ia saltar pra longe de mim, perguntar se eu tenho tomado remédio e eu ia ter que dizer que não porque esqueci em casa!
- Então você não estava tomando?
- Não, né Ray! Eu tinha acabado de sair de um namoro traumático, o cara me chutou bonito, eu tava com a cabeça avoada, esqueci a caixa aqui em casa. E outra, não estava com ânimo, nem disposição, nem vontade de ter relações nem tão cedo, então relaxei mesmo!
- É, mas é bom sempre carregar essas ‘coisas’, porque a gente nunca sabe quando vai encontrar um parceiro de foda! Principalmente ao passar um mês na casa do primo bonitão... – Melanie comentou enrolando uma mexa de cabelo.
- Eii, o que você ta insinuando? Eu não to mais te reconhecendo, o que você fez com a Melanie? Cospe ela agora! – Lua sacudiu a amiga pelos ombros.
- Nada, me solta! – ela pediu rindo e ajeitando a alça da blusinha, que despencou na brincadeira – É que você e o Micael tiveram lá seus momentos também, né?
- Você está, por acaso, querendo perguntar se pode ser dele?
- Ah, foi você mesma quem fez a pergunta! Mas e aí? Pode ser?
- CLARO QUE NÃO! Imagina só, ele acabou de se acertar com a Soph! Isso ia acabar com todo mundo... Definitivamente não existe essa possibilidade, nós dois não chegamos à esse ponto!
- Ufa, ainda bem então...
- É! Olha, eu só trepei com dois caras nessa vida, o Pete e mais recentemente o Arthur. Então eu não sou o que se pode chamar de uma garota rodada. Se eu estiver mesmo, ah... você sabe o que, só pode ser dele, ok?
- Ok, desculpa aí, mas e agora?
- Agora eu vou torcer pra não ter acontecido nada depois da surra. A viagem vai depender de vários fatores, então talvez eu viaje, principalmente se a Delilah continuar botando meu filho em perigo. – ela fez uma pausa após dizer meu filho, não estava preparada pra isso. – Mas se eu viajar, com certeza vai ser outro dia. Hoje nem dá mais. Tenho que ligar pro Matt pra avisar! Preciso ir ao médico pra ver...
O toque do telefone interrompeu o que ela dizia.
- Melanie, atende aí? Você ta mais perto.
- Hm... Lu, eu acho que é o Arthur.
- Por quê? Como assim?
- É que eu falei com o Micael enquanto você estava lá fora.
Lua ficou pálida. O coração acelerado. Ao mesmo tempo que queria falar com Arthur, também queria pular essa parte.
- Contei que você assistiu o programa num pub e não foi ao parque porque a Delilah te impediu. A essa hora ele já deve ter ido fofocar com Arthur e só pode ser ele agora, todo preocupado! – Mel terminou de falar com um sorrisinho e Lua mordeu a própria boca. E o telefone tocando... De repente ele parou e Lua quis rir, imaginando um Arthur confuso, se arrependendo de ter ligado. Melanie e Rayana ficaram quietas por um tempo, esperando tocar de novo.
- Você já o perdoou mesmo? – Ray perguntou levantando-se da cama.
- Eu perdoei sim... – ela suspirou e pegou um travesseiro pra abraçar – E faz um tempo que penso nisso. Pegá-lo com a Delilah foi mais que tenso, foi traumatizante! Mas desde então ele tem feito de tudo pra corrigir. E eu acredito que ele não sente nada por ela, então por que não dar um voto?
- Ontem eu te vi com seu ex-namorado! Acho que você já se vingou dele. – Melanie apontou pra ela com um sorrisinho.
- Ah, aquilo foi diferente! Eu tava bêbada e ele se aproveitou. 
- Nessas horas, o comportamento dos homens é equivalente ao das mulheres quando bêbadas, já parou pra pensar nisso? – Mel perguntou e Lua gargalhou.
- Você gosta de soltar pérolas, né? Filosofou agora...
Mal Lu terminou de falar e o telefone tocou de novo. Rayana deixou o telefone tocar menos dessa vez e entregou logo pra Lua. Ela respirou fundo, observando as meninas saírem e fecharem a porta. Depois atendeu.
- Alô – e ouviu uma respiração do outro lado.
- Err... Lua?
- Oi Arthur.
- Tudo bem com você? Me disseram que os amigos da Delilah bateram em você, é verdade?
- Os amigos me seguraram, quem bateu foi ela.
- Que seja, mas você está inteira? Por que ela fez isso? Que diabos! 
- Eu to bem agora Arthur, não se preocupe. Ela queria que eu me mudasse...
Arthur ficou em silêncio porque a pergunta estava engasgada, ele tinha medo de fazê-la.
- E... você vai?
- Depende de algumas coisas.
- De que?
- De umas coisas aí...
- Porra, de que coisas?! Sou eu? O que você quer que eu faça?
- Não é você Arthur! Isso tem a ver com a Delilah!
- Lu, a Delilah está morta...
- Como é? – Lua nem acreditou no que estava ouvindo. Primeiro ficou feliz com a notícia e depois castigou-se mentalmente por ficar feliz com a morte de um ser humano.
- Eu vi no jornal hoje de manhã. Ela causou uma bagunça pela cidade e devia estar drogada, então teve um treco. Você não estava com ela?
- Sim, mas na hora em que ela estava comigo parecia normal. Bom, eu espero que ela descanse em paz.
- É.
Lua ainda digeria a morte da Delilah e as conseqüências disso. Perguntava a si mesma se o plano da viagem poderia ser adiado agora... Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos que pareceram eternidades. Esse silêncio estava corroendo feito ácido até que Arthur precisou falar o que estava preso.
- O Peter soube cuidar bem de você? Por isso ele mereceu ter uma despedida?
- Peter? Despedida?
- Não finja que não sabe!
- O que? O Peter me encontrou naquela situação e me trouxe pra casa, só isso. Agora esse negócio de despedida que você ta dizendo aí eu não sei.
- Ah ta, ele te encontrou lá... Muito conveniente, né? Primeiro ele te salvou da Delilah e depois mereceu uma recompensa? POR QUE ELE PRECISOU IR ATÉ O SEU QUARTO, HEIN LUA? POR QUE A MELANIE NEM DEIXOU QUE EU O VISSE? Ela deve ter pego vocês em alguma situação bem comprometedora... num é? Será que ele estava sem roupa?
- Que perguntas são essas? Agora é você desconfiando de mim? Cadê aquele cara que tava no programa ontem? Ele sumiu depois que você tomou banho?
- Ele sumiu depois que o bilhete do Peter se confirmou.
- Você não ta falando coisa com coisa. E essa agora de bilhete?
- Ele me deixou um bilhete, o próprio Peter! Dizendo que você não iria até lá porque preferiu ficar com ele. Como você quer que eu fique depois disso? Eu venho aqui e vejo o filho da puta saindo da sua casa! Porra! – Arthur estava se exaltando e dava pra ouvir a respiração fora de ritmo. Sem nenhuma explicação lógica, os olhos de Lua voltaram a ficar aguados com esses gritos, não queria brigar com ele. Respondeu com a voz firme, porém calma e sem gritos.
- Não sei nada de bilhete. Só sei o que já disse, ele me trouxe e eu não estava bem. Cheguei a ver que a Melanie estava parada na porta e apaguei. Peter deve ter me segurado pra não cair no chão. Depois disso eu nem vi a hora que ele foi embora. Não vou me chatear se você não acreditar em mim. Eu também não acreditei em você e olha no que deu...
- Lua, hm... tudo bem vai. Eu não quis gritar. Me desculpe, foi diferente. Eu não tinha bebido aquele dia, não tinha apanhado! Deixei que ela me agarrasse... eu sei que fui patético. Não te culpo por não querer me ver mais.
- Então a questão Pete já foi resolvida?
- Só preciso saber o que é que você sente por ele. Diz a verdade!
- Gosto dele. – Lua sentia-se como se estivesse transpirando, mas passou a mão pela testa e estava seco.
- Gosta? – de repente ele se sentiu meio sem chão.
- Gosto, ou pelo menos não odeio... Quer dizer, eu me acostumei com a companhia dele e tal, mas era uma coisa que não me completava. Existe um grande espaço vazio dentro da gente, assim como nos computadores... Tudo que a gente guarda na nossa memória ocupa um espaço. Peter era como um aplicativo leve que não ocupava quase nada desse espaço e agora que você falou essa coisa de bilhete ficou tudo tão confuso que eu acho que acabo de mandá-lo pra lixeira.
Arthur riu da comparação com um computador e sentiu o clima da conversa aliviar. Não tinha mais dúvidas, pra ele já estava tudo certo.
- O que eu seria?
- Acho que você é um dos arquivos mais pesados. Levaria um tempo pra te transportar pra lixeira!
- Tipo um Photoshop CS1500? – um jeito infantil e divertido invadiu a voz dele. Lua sempre se derrete quando isso acontece.
- Tipo uns dez desses.
- Eu também não poderia te apagar nem que quisesse. E olha que eu já quis... mas já ta confirmado que eu não consigo viver sem você e uma tigela de brigadeiro! Me dá outra chance de consertar meus erros. Vou me comportar da melhor forma, prometo!
- Agora que você já bateu no meu ex e eu já bati na sua ex, ficaria até feio se nós não ficássemos mais juntos! – ela falou e deu uma risada meio desengonçada por causa da falta de ar que estava sentindo.
- Yep! Vem pra cá! Tenho uma surpresa, quando chegar no meu apartamento pode entrar, depois fecha a porta e vai direto no meu quarto. De que flor você mais gosta? Vou comprar! – Arthur falou tudo meio rápido, com um entusiasmo à mil.
- Imagina! Não precisa disso!
- Diz aí mulher!
- Ah, eu gosto de todas, mas você sabe que eu tenho uma queda por dentes-de-leão! Acho irresistíveis aquelas sementinhas voando de pára-quedas!
- Hum, ta bom então. Só não garanto que vou achar isso aí!
- São sementes que se espalham, Arthur! Você acha em qualquer lugar... Ah, saiba que eu só vou até aí porque me pediram ta! – Lua estava rindo, mas de uma hora pra outra sua respiração estava ficando cada vez mais difícil.
- Ah é! Quem?
- Esquece... deixa pra lá, quando eu chegar aí te conto isso e outras coisas mais importantes! – ela pegou um impulso pra levantar da cama, uma dor estranha queimava na barriga e aquela tontura aumentava como se ela estivesse bêbada. Ao ficar de pé e olhar pra cama viu uma mancha de sangue e se assustou – Ai droga! – ela falou meio ofegante ao telefone sentindo as pernas fraquejarem e pontadas no pé da barriga.
- Que foi Lu? O que ta acontecendo aí?
- Não... não sei que porra é essa! – ela respondeu com a voz fraca porque já estava sem fôlego pra falar e completamente assustada. Estava se apoiando no criado mudo porque suas pernas pareciam não agüentar totalmente seu peso e no momento em que sentiu as forças abandonando seu corpo, ela caiu arrastando junto vários objetos que estavam em cima do criado mudo. O telefone caiu da mão dela e escorregou pra baixo da cama. O barulho das coisas caindo foi notável e Melanie logo chegou ao quarto. Depois de vários surtos ela pegou Lua pelos braços e começou a arrastá-la em direção à porta. Quando viu que a garota estava deixando um pequeno rastro de sangue, se assustou ainda mais. Arthur gritava por Lua ao telefone, mas viu que ninguém ia responder nada e desligou. Começou a andar de um lado pro outro sem saber como agir.


Pedro finalmente havia conseguido entrar na casa. Uma das fãs que estava lá fora enquanto ele tirava algumas fotos ouviu o estômago do pobre garoto e passou na padaria para comprar uma esfiha.
- Puxa Pedro! Finalmente você conseguiu sair do meio daquelas meninas que querem te roubar de mim! – Rayana abriu a porta pra ele e o observou sentar no sofá com um finalzinho de esfiha na mão. Ela segurava um pão com peito de peru.
- Se continuarem me dando esfihas assim, vão me roubar mesmo!
- Hein?! Como é que é a história aí?
- Você me deixaria morrer de fome! Elas vão me roubar pelo estômago... – Pedro cruzou os braços e se fez de triste.
- Tudo bem, o estômago não é o órgão mais importante do seu corpo pra mim, elas podem ficar com ele. – Rayana começou a cutucá-lo fazendo cócegas e foram interrompidos por um grito de Melanie.
- RAY, PEDRO ALGUÉM ME AJUDA AQUI!
Os dois ficaram se olhando com as testas franzidas, meio assustados. Melanie não demorou a aparecer na escada.
- O que foi Mel? Que cara é essa?
- Vem que você vai ver! – ela puxou Pedro pela mão quando ele se aproximou e Ray foi atrás dos dois sem entender nada.
- LU! O que aconteceu com ela? – Pedro se assustou ao chegar na porta do quarto.
- Aaaa! Tem sangue! Que porra é essa? – Rayana escondeu o rosto no braço de Pedro.
- Eu não sei, mas precisamos levar pro hospital!
- Vamos logo então! – Pedro foi até Lua e a carregou no colo até a sala. Rayana tentava não observar a mancha vermelha na calça dela, era fraca pra ver sangue.


- ACONTECEU ALGUMA COISA COM A LU! – Arthur segurava o telefone numa mão e o celular na outra. Entrou gritando no apartamento de Micael, que jogava video game com Chay.
- Porra Arthur! Me fez perder com essa gritaria! – Micael jogou o controle no sofá enquanto Chay gargalhava da cara dele.
- Mas é que é sério! Aconteceu alguma coisa e eu não sei o que é!
- O que foi cara? Ligou pra ela ou não? – Micael levantou enquanto Chay ainda tomava ar.
- Liguei, a gente tava conversando numa boa e do nada ela começou a ficar estranha! Depois um barulho enorme como se o telefone tivesse caído no chão e ela ficou quieta...
- Ficou quieta?!
- Ficou quieta!
- Tipo... quieta?
- ÉÉ, CALADA, MUDA! VOCÊ QUER UM DESENHO DE UMA PESSOA QUIETA?!
- Calma cara! Perdeu a linha? Já ligou pro celular dela?
- Já, ninguém atende...
- Liga pro celular da Melanie, ela deve saber te explicar o que aconteceu! – Chay chegava da cozinha com uma latinha de coca-cola.
- É! Boa idéia! – Arthur começou a procurar por Mel na agenda do celular.
- Oi Arthur! Ouvi você falar da Lua ou foi impressão minha? – Sophia veio do quarto com uma toalha secando os cabelos e vestindo uma blusa de Micael que ficava no joelho dela.
- Soph, goiabinha... Não é por nada não, mas o condomínio inteiro ouviu o Arthur falar da Lu agora! – Chay passou um braço pelos ombros dela sorrindo. Sophia movimentou o corpo pra tirar o braço de cima.
- É sim, é porque eu tava falando com ela e acho que aconteceu alguma coisa, mas to ligando pra Melanie pra saber.
- Tomara que seja alguma bobagem... – Micael cruzou os braços. Não ouviu o barulho que Arthur descreveu, mas estava começando a ficar preocupado também. 


Depois que Pedro, Rayana e Melanie chegaram ao hospital, tiveram que ficar numa salinha de espera enquanto Lua foi levada por uma enfermeira. Ela foi colocada numa maca e levada às pressas, desacordada. Os três esperavam curiosos pra saber o que ela tinha.
- Você chegou no quarto e ela já tava lá caída? – Rayana perguntou.
- Não, eu que dei uma facada nela... – Mel sorriu irônica – Mas claro, né Ray, ela tava lá no chão. Aliás, ela estava ao telefone com Arthur, talvez ele saiba o que aconteceu! – ela lembrou de Arthur e começou a procurar o celular nos bolsos da roupa. Ligou o aparelho e viu que Arthur já tinha mandado algumas mensagens pra ela.
- É... pelo jeito ele sabe menos do que a gente! – Melanie sorriu nervosa após ler os torpedos e resolveu ligar pra ele.


- Ah! Oi Mel! Eu tentei te ligar! O que aconteceu aí?
- Olha, eu nem sei viu... Só sei que cheguei no quarto e a Lu tava caída lá!
- Então ela só apagou? É a pressão? O que é?
- Hey, eu não sou a médica! Sim, ela apagou e caiu, só que deve ter se ferido na queda e...
- E...?
- E... – Melanie não sabia como dizer ‘estava ensangüentada’ sem parecer assustador – deve ter se cortado em algum objeto pontiagudo.
- ESTÁ PERDENDO SANGUE?
- Calma muleque! Ela ta sendo atendida.
- Ahn... estão no hospital?
- Sim, você pode vir, estamos no St. Thomas.
- Por que vocês escolheram um hospital do outro lado do mundo? Puta que pariu!
- Não é tão longe assim! É mais perto da nossa casa. Você sabe vir, né?
- Sei.
- Ah, Arthur...
- Hum?
- Ainda está chateado comigo?
- Ah, não sei... acho que só vou te perdoar quando você fizer cookies pra gente de novo!
- Mas que interesseiro!
- Não, é sério agora, você é uma ótima amiga pra mim e pra Lu. Eu seria um otário ficando chateado com você!
- Obrigada – Melanie abriu um sorriso grande – Agora pára de ficar falando no celular e dirige pra cá!
- É! To indo! – Arthur se despediu com uma agitação notável na voz e desligou o aparelho. – Está no hospital, to indo lá!
- LU NO HOSPITAL? CARALHO! Eu vou me vestir e vocês vão primeiro que eu vou depois! – Sophia se levantou do sofá ainda vestida com roupas de Micael.
- Então eu vou com você e Sophia e Micael vão depois. – Chay se levantou e acompanhou Arthur até a porta. Micael também foi se vestir, pois estava apenas de bermuda.
No hospital nenhum dos médicos havia aparecido ainda pra dar satisfações. Enquanto isso, o carro de Arthur corria a uma super velocidade de 10km/h.
- Eu não acredito que tem um caminhão tombado lá na frente. MAS QUE MERDA! – Arthur acertou um soco de esquerda no volante. Se ele fosse uma pessoa ficaria roxo.
- Se controla, cara! Mais cedo ou mais tarde a gente chega.
- MAS EU QUERIA CHEGAR ONTEM!
- TA CERTO ENTÃO PASSA POR CIMA DE TODO MUNDO, SR. ATRASADINHO! – Chay zoou um pouco e viu que o amigo tinha o olhar fixo em alguém que passava na calçada. Ele virou o pescoço pra ver o que Arthur estava olhando e tentar adivinhar a maluquice na qual estaria pensando.
- Hey, por que você ta com essa cara?
- Chay, você fica no carro.
- Você vai sair? Ficou maluco?
- Maluquice é ficar aqui! E não discute! – Arthur apontou o dedo pra ele erguendo suas sobrancelhas. Chay pulou pro banco do motorista depois que o amigo saiu. Ficou observando-o passar à frente do carro e abordar uma senhora na calçada.
- Mas que diabos? – Chay sussurrava consigo mesmo observando a cena.
A senhora devia ter entre 50 e 60 anos. Andava de bicicleta com uma menina que parecia ter 7 anos ao lado. Provavelmente a neta...
- Oi moça! Pode me emprestar sua bicicleta? Obrigado! – Arthur foi tomando a posse da bicicleta, aproveitando que a senhora ainda não estava acreditando que foi chamada de moça. E por Arthur Aguiar! Suas filhas e a neta provavelmente ficariam loucas... Já montado na bicicleta, ele deixou um dinheiro na mão dela. A "moça" permaneceu observando-o se distanciar boquiaberta.
Ele pedalou forte na bicicleta e teve sensação de liberdade com aqueles ventos no rosto. Segurou-se para não rir dos motoristas otários presos em seus carros.


***
- Olá, boa tarde. Vocês são parentes de Lua Blanco?
- Erm, somos irmãs dela. – Rayana se levantou da cadeirinha onde estava sentada. Melanie levantou em seguida e Pedro estava chegando do banheiro.
- Eu sou o Dr. Burtton – ele estendeu a mão e cumprimentou os três – Podem voltar a sentar-se. A Lua chegou aqui num estágio avançado e, bom... eu sinto muito, não teve como salvar.


Arthur’s point of view ON


Eu cheguei ao bendito hospital de bicicleta mesmo. Vivo e sem atropelar ninguém! Isso é um fato a se comemorar...
Logo eu vi o Pedro fumando próximo à entrada. Ele só fuma quando está muito (muito, muito, muito) nervoso! Mau sinal?
- Hey cara, o que faz aqui fora?
- Uau, que bicicleta é essa? – eu percebi a intenção de desconversar e fui direto ao assunto.
- Comprei. Cadê a Lua? O médico já deu notícia?
- Olha, cara... eu não sei dizer isso, é que...
- Ta... Me diz então o número do quarto!
- 1209.
Mal ele terminou de falar e eu já estava praticamente lá. Por que diabos ele se embananou pra me responder? Eu não to gostando disso!


- Oi... me disseram que é aqui o quarto da Lua. – cheguei num quarto onde uma enfermeira estava ao lado de uma cama, cobrindo o rosto de uma pessoa com o lençol. A cama ao lado estava vazia. Eu já ia dar meia-volta porque certamente não era esse o quarto, mas a enfermeira falou comigo.
- Ohh, você é parente? – ela veio até mim e me olhou com uma cara de pena que não entendi.
- Sou namorado, quer dizer, vou pedir quando ela sair do hospital! – dei meu melhor sorriso e a enfermeira apertou a mão contra o próprio peito fazendo mais cara de dó ainda. O que há de errado com meu sorriso? Por acaso tem uma alface gigante nele? Eu uso fio dental, viu?
- Sinto muito senhor...
- Sente? Pelo quê? 
- Fizemos... fizemos o que podíamos, mas infelizmente, ela... err...
- FALA LOGO – porra, eu to perdendo a paciência!
- Acaba de falecer. Se o senhor tivesse chegado quinze minutos antes ainda dava tempo de vê-la. – ela disse finalmente e eu acho que não ouvi direito. Fiquei parado. Que porra é essa, alguém pode me dizer?! Acabei de falar com ela no telefone caraí... os anéis castanhos de meus olhos assustados corriam pelas paredes beges do quarto. Elas pareciam estar se aproximando de mim, pra me deixar trancado pra sempre.
- Como assim? Aaah, você ta brincando comigo! Cadê a câmera escondida? É algum programa de tv pregando peça, não é?
- Por Deus! Nós não brincaríamos com uma coisa dessas! Aceite o fato senhor, está doendo em mim dizer isso também, mas ela não está mais entre nós. – a mulher se aproximou, pôs uma das mãos no meu ombro e falou olhando firmemente nos meus olhos. Em seguida abaixou o olhar e caminhou em direção à porta do quarto. Antes de sair virou pra trás e olhou de novo pra mim, eu permanecia imóvel como um armário. – Eu vou te deixar ficar uns minutos a sós com ela. Avise aos outros familiares sim...


[n/a: pode tocar a música *-*]
A enfermeira saiu e eu só lembrei que sou um ser vivo quando precisei piscar os olhos. Estava tenso demais e passei a mão levantando os cabelos da testa. Depois esfreguei todo o rosto pra ver se eu poderia me fazer o favor de acordar do pesadelo. Eu ainda não podia acreditar!
Fui me aproximando da cabeceira da cama com passos lentos. Toquei de leve a ponta do nariz dela por cima do lençol. Meu coração estava disparado como se eu pudesse vomitá-lo a qualquer momento... Peguei a borda do lençol no topo da cabeça dela, mas estava sem coragem de descobri-la. Minhas mãos estavam suando frio e às vezes eu apertava os olhos, tentando acordar. Não é possível que eu não esteja dormindo!


Arthur’s point of view OFF


Arthur não conseguia abaixar nem um milímetro do lençol branco. Era como se o tecido estivesse queimando em sua mão e ele não conseguia sequer tocá-lo.
- Levante a porra do lençol, covarde filho da puta! – Arthur falou pra ele mesmo e se afastou do leito com as mãos na cabeça. Os olhos estavam tomados por um vermelho-melancia, e cheios de água.
- Como você pôde perder a mesma mulher tantas vezes Arthur? Você é um bosta. Eu sou um bosta! Era pra eu estar aí! Eu!
Arthur deixou o quarto sem conseguir olhar a pessoa por baixo do lençol.
Ele passou pelo corredor com passos rápidos, queria se esconder de todos e dele mesmo. Abriu a primeira porta que percebeu ser diferente das portas dos quartos. Deu de cara com uma escada e começou a subir sem pensar onde ela daria.
Não demorou muito pra chegar ao terraço. Ele diminuiu o ritmo dos passos e foi andando enquanto tomava um fôlego. O vento frio parecia nem fazer efeito na pele do rosto quente. Ele parou de caminhar antes de ficar muito perto da beirada. Percebeu que apenas as partes mais altas da cidade ainda recebiam a luz pálida do sol, como os terraços dos prédios, por exemplo. Se Lua estava mesmo morta, ele gostaria de ficar ali. Mais perto do céu.
Arthur estava com o rosto virado pra cima e olhos fechados. Algumas lágrimas escorregavam pelas laterais. Foi quando ele sentiu uma cócega na bochecha. Abriu os olhos e pegou uma coisinha branca em seu rosto, era uma semente de dente-de-leão. Observou que havia um pouco dessas flores plantadas num pequeno canteiro. Lembrou-se que Lua sempre achou os pára-quedas das sementes umas coisinhas mágicas. Então pegou uma delas, parecia um cabo com uma bola de pelos em cima. Ele assoprou e logo vários flocos brancos flutuavam ao redor dele com leveza.
Distraiu-se tanto com isso que não percebeu a presença de alguém. A porta enferrujada que dá acesso ao terraço fez o mesmo rangido de quando ele a abriu. Lua estava próxima à porta. Chinelos brancos, a camisola branca de hospital, cabelos soltos. Até sua pele vestia branco, estava um pouco pálida.
Ela o observou por um tempo de costas. Fascinado, assoprando dentes-de-leão.
Com pequenos passos, ela se aproximou um pouco mais e retirou do pulso a única coisa que não era branca em seu visual, uma pulseira. Pulseira que Arthur conhecia bem. Arremessou o objeto num lance rasteiro. A pulseira voou baixo até chegar perto dos pés de Arthur. Ele não viu logo, pois estava olhando pra cima, acompanhando com o olhar cada sementinha que voava. Porém uma delas não quis voar pra cima e foi caindo. Arthur tentou pegá-la antes que caísse no chão, mas foi tarde demais, ela caiu bem no meio da circunferência que a pulseira fazia no chão. Ao se dar conta, só faltou ter um treco! As pernas ficaram moles e as mãos tremiam também.
Ele se abaixou lentamente para pegar. Sentia o coração bater como se alguém estivesse dançando rebolation dentro dele. Lua assistiu tudo sem falar nada e apenas sorriu quando Arthur virou pra trás e olhou pra ela.
Ele começou a soluçar, Lua pôde notar a metros de distância. Arthur deu o primeiro passo como se estivesse em cima de uma corda bamba, ele sentia que suas pernas pareciam gelatina. Depois do primeiro passo foi mais fácil, ele começou a andar cada vez mais depressa e largou o cabinho da planta que segurava com uma das mãos, ficando apenas com a pulseira na outra.
Lua também caminhava na direção dele, mas se sentia fraca demais pra andar muito rápido. A maior distância foi percorrida por ele, que logo chegou e a abraçou. Ela ficou com o queixo apoiado em seu ombro, sentindo o perfume dele fazer festa dentro dos pulmões. Não estava chorando, ao contrário dele, que se acabava.
- Lua! Lu! – Arthur espalmou cada mão em uma bochecha da garota e movimentava o rosto dela formando caretas.
- Paa ji tefomar meu roxto, Arthur!
- É que eu preciso saber se você é de carne e osso! Isso aqui não é nenhum encontro espírita não, né?
- E você ta me achando com cara de quem desce em qualquer mesa branca? – ela brincou e logo ficou séria. Pegou a pulseira do pulso dele e colocou em seu braço de volta. – Mas falando sério agora Arthur... O que deu em você?
- O que quer que seja, agora eu não quero lembrar!
Lua viu os olhos castanhos de Arthur mirando seus lábios e agora sim eram realmente os olhos dele. O beijo aconteceu calmo pra ela e desesperado por parte dele. Arthur podia quase escutar o barulho dos cacos de seu coração sendo lindamente colados e recolocados no lugar enquanto ia tocando a boca dela.








Aviso Galera a Web ta acabando amanhã posto o seu ultimo capitulo esperem que gostem da sua substituta. 

2 comentários:

  1. posta mais por favor!!!!! coloca a Lua e o Arthur juntos por favor,NÃO MATA ELA!!!!!!!!

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    1. Calma aii vc e todos os outros leitores vão se surpreender.

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